O Último Beat
- Michele Costa
- há 1 dia
- 2 min de leitura
Para muitos, Lawrence Ferlinghetti foi o ponto de partida da geração beat, ao publicar nomes como Allen Ginsberg, Jack Kerouac e Diane di Prima. Com sua livraria e editora City Lights Books, ele apresentou esses autores ao mundo, mas Ferlinghetti era muito mais do que o movimento que ajudou a moldar. Em O Último Beat (Ferdinando Orgnani, 2022), conhecemos o escritor de forma íntima: sua trajetória é narrada por ele próprio, por amigos e conhecidos, revelando o impacto de sua poesia e de sua generosidade.
Exibido na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o documentário acompanha a jornada do diretor, iniciada em 2007, quando conheceu o poeta. A partir desse encontro nasceu uma amizade duradoura e uma colaboração que atravessou Roma e São Francisco até 2021, ano da morte de Ferlinghetti.
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Antes da sessão de O Último Beat na Reserva Cultural, Ferdinando Orgnani conversou com o público sobre o filme e sobre os anos em que acompanhou o escritor. O diretor também destacou a participação de Amanda Plummer, Jack Hirschman, Joanna Cassidy e outros nomes que ajudam a revelar as múltiplas facetas de um autor que continua inspirando diferentes gerações.

Ainda me lembro da primeira vez que li “O mundo é um ótimo lugar” e do impacto daqueles versos no início da minha vida adulta. Hoje, doze anos depois, ao revisitá-los, percebo que sigo os passos de Orgnani: mantenho Ferlinghetti vivo dentro de mim, buscando formas de seguir adiante em tempos apocalípticos. Assim, O Último Beat é mais do que um documentário: é uma celebração do escritor e editor que permaneceu fiel às suas crenças até o último respiro.
Ao longo de seus 83 minutos, o filme percorre os caminhos de Lawrence Ferlinghetti pela Itália, França e Estados Unidos, narrando da infância à morte. É profundamente comovente ouvir os depoimentos de amigos e admiradores que tiveram suas vidas transformadas pelas palavras, imagens e conselhos de um homem que acreditava ser possível mudar o mundo através da poesia.
Ferlinghetti pode ter partido, mas sua voz ainda ecoa pelas ruas de São Francisco, entre prateleiras repletas de sonhos e versos que não envelhecem; assim como a árvore plantada em sua homenagem. Seu olhar permanece nas janelas de quem ousa imaginar um mundo mais livre, e suas palavras seguem acendendo pequenas rebeldias em corações jovens — e também naqueles que insistem em não desistir. Porque poetas não morrem: apenas mudam de forma, transformando-se em luz, em papel, em esperança.
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