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Antonio da Rosa está emocionado

  • Foto do escritor: Michele Costa
    Michele Costa
  • há 2 dias
  • 15 min de leitura

Em Sentimento do Mundo (1940), Carlos Drummond de Andrade reflete sobre a necessidade de acolher as próprias emoções, mesmo quando elas extravasam e nos expõem. Pessimista ou não, sentir é um ato de coragem diante da existência. A mesma lógica atravessa Emocionado (2025), novo álbum de Antonio da Rosa, que carrega todos os sentimentos que seu coração permite. O músico acredita que se emocionar é assumir os sentimentos e se apropriar deles. "Não é só transbordar aleatoriamente. É, na verdade, entender que somos mediados o tempo todo por questões emocionais", reflete.


Após nove anos se apresentando como Yo Soy Toño, Antonio colocou fim no projeto para iniciar um novo, propondo uma música intimista que permite o ouvinte se envolver com seus sentimentos, acreditando que o poder da canção é justamente e de traduzir aquilo que muitas vezes só falando não conseguimos expressar. Com forte influência dos anos 1970 e 1980, Emocionado foi construído com cuidado por uma pessoa que sabe que a emoção não precisa de volume, mas de verdades. 


Ao longo do álbum, Antonio da Rosa revela camadas de si mesmo, navegando entre lembranças, inquietações e momentos de pura expansão emocional. Com arranjos que mesclam sutileza, melancolia e intensidade, o alagoano desenha atmosferas que se alternam entre leveza e tempestade. É justamente nesse movimento - ora contido, ora expansivo - que o álbum encontra sua força. 


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antonio da rosa emocionado
(Créditos: Isadora Macedo)

Quando nos falamos, ainda na pandemia, você ainda se intitulava como Yo Soy Toño. Por que assumiu seu nome e fez essa mudança de roupagem?

Eu acho que o primeiro ponto principal foi uma mudança mais de um ponto de vista prático mesmo. Eu sentia que não tava realmente passando tudo aquilo que eu queria transmitir com o meu trabalho, com as coisas que eu tava fazendo e compondo de novas músicas, porque o Yo Soy Toño ainda era um projeto que tinha três guitarras, né? O filme musical que eu lancei tinha três guitarras, baixo e bateria, muito rock'n'roll ali que não era muito minha pegada.  Eu acho que as pessoas também não me enxergavam dessa forma, isso era engraçado porque eu tentava um pouco encaixar essa roupagem meio indie rock. O pessoal sempre me via com voz de violão, porque eu tocava muitas vezes voz de violão mesmo, por ser um artista solo, então esse é um recurso que vai ser muito utilizado. Tinha uma coisa que me incomodava muito, que era o fato de que muita gente não conseguia, às vezes, acertar o nome assim, sabe? Eu ficava meio que "cara, eu acho que eu tô dificultando a vida das pessoas", sabe? [risos] Então eu falava "cara, realmente tenho que fazer um nome mais simples para poder me conectar com as pessoas”, sabe? Eu acho que eu sempre chamei o Yo Soy Toño de Soy Toño, sabe? Tinha esse nome de banda e muita gente vinha falar comigo e perguntar coisas como se eu fosse uma banda, sabe? Tinha todos esses elementos que, para mim, me ajudaram a entender que era um pouco isso… Eu acho que eu criei a ideia do Yo Soy Toño um pouco no momento de transição, quando eu tava terminando a minha banda de adolescência e juventude… Eu acho que eu não queria ainda… Sofri muito nesse término da banda, porque era um término de relacionamento… Eu acho que eu não estava pronto para ter um projeto solo de fato - eu ia fazer um projeto solo, mas eu queria ter uma banda ainda. Acho que no começo no Yo Soy Toño, eu tentei formar essa banda e tal e acho que demorei para ter essa compreensão de que, sabe, era eu. Eu fiquei pensando muito nisso, resgatei uma coisa que lá no começo, antes mesmo de fazer o Yo Soy Toño, eu cheguei a conversar com um amigo sobre nome de projeto e eu falei “putz, eu acho que eu posso chamar o meu projeto só de Antonio”, porque tem Gil, Caetano, Belchior… Não querendo me comparar nem nada, mas sentia que tinha um rol com esses nomes fortes da MPB e eu achava que Antonio se encaixaria nisso - um nome meio antigo e ao mesmo tempo muito forte, muito brasileiro. Ao resgatar isso, eu entendi que precisava, que era o momento, de mudar o nome; tinham novas músicas vindo e eu resolvi fazer essa mudança por conta disso, pra ter um nome mais brasileiro, mais de acordo com o que eu tava querendo fazer, mas de acordo comigo mesmo, porque no fim das contas, sou eu. 

Essa vulnerabilidade que você mostra no álbum foi criada a partir de uma necessidade ou algo orgânico ao desenvolver sua carreira solo?

Pois é, engraçado isso, né? Eu acho que eu sempre pensei nessa ideia, já puxando um pouco até pro conceito do álbum e tudo mais, em relação a ser emocionado como um processo de ser alguém que também se vulnerabiliza, mas não de fato, é um processo de ser vulnerável. Eu acho que tem muitos elementos… Não foi tão pensado, mas realmente, né? Colocar o próprio nome à prova…No começo, eu diria, não foi algo planejado em colocar essa vulnerabilidade na frente, mas eu acho que é inegável que tem, desde a ideia do nome do disco ser Emocionado, que eu acho que é sobre essa questão de se abrir para o sentimento, se colocar como alguém que sente, embora eu tente desenvolver isso além da lógica do emocionado, enquanto a cultura talvez enxergue, né? [risos] Pessoas que [dizem] “ai, ele é emocionado”, mas também tem o lado de que ao usar o meu próprio nome é uma coisa muito forte. ai, é de emocionado, tal, não sei o quê. Mas também tem o lado de que eu acho que usar o meu próprio nome é uma coisa muito forte. Uma coisa engraçada, levei isso várias vezes pra terapia, é que eu sempre chamei o meu projeto de Yo Soy Toño e, agora, eu tenho que me policiar pra não chamar [o projeto] de Antonio da Rosa, sabe? Eu tenho que falar “sou eu”, sabe? Eu acho que isso é muito sobre se vulnerabilizar, porque enquanto você cria essa persona, você transfere um pouco de, sei lá, responsabilidades e frustrações e tudo que envolve construir uma carreira musical para esse outro ser. Outro elemento que acho que é muito vulnerável é o fato que eu parei de tocar, praticamente, no palco e eu tô adorando fazer isso! Eu tirei a guitarra da frente, que é uma proteção, né? Você coloca aquela guitarra ali na frente, você pode ficar parado na frente do microfone, você não precisa ficar andando, não precisa ficar... Então, agora, eu tô precisando dançar no palco, interpretar muito mais, cantar sem nenhum tipo de aparato que me proteja, sabe? É um negócio muito mais direto e eu tô adorando, mas é uma coisa que demorou para eu me adaptar, mas é mágico não precisar ficar me preocupando com tocar. 

É interessante você ter falado isso, porque você sai do nós para o eu, seja ele eu lírico ou o seu próprio. Mas ao mesmo tempo você está vulnerável no palco e é nesse momento que você se transforma em nós novamente. Você continua, de alguma maneira, tendo dificuldade para fazer esse distanciamento ou você tá preparado ao se envolver com o outro e se emocionarem juntos? 

Pô, excelente pergunta. [risos] Foi engraçado você falar, porque você falou “transformando o nós para o eu” e eu tava pensando “mas também é um eu que vira nós” [risos] As músicas anteriores que eu fiz no Mundo Inteiro (2020), como Yo Soy Toño, são músicas muito mais tristes e trazem outro tipo de lírica, de poética, que eu acho que nesse disco eu tento abranger um pouco mais... Como eu trato um pouco a forma de compor, né? Eu sinto que eu simplifiquei mais o processo de composição, mas, ao mesmo tempo, eu acho que eu trato de outros temas que são talvez bem mais universais, embora eu acho que as minhas letras anteriores se conectam bastante com todo mundo. Mas, sim, eu sinto que, pra mim, o grande ponto dessa relação, desse nós que vira eu e eu que vira nóis de novo, tá muito ligado com essa ideia do emocionado, porque eu sinto que eu defendo bem essa ideia de que ser emocionado é uma coisa boa e é um processo que leva a uma construção coletiva, sabe? Eu acho que a ideia do emocionado surgiu de uma análise de um discurso que eu vinha sentindo muito, a gente começou falando sobre pandemia, eu acho que na pandemia eu vi que tinha muito esse discurso, que era aquela vibe do tipo “você precisa se amar primeiro para depois amar os outros”, sabe? É um empreendimento de si, super neoliberal, né, que a gente precisava, tipo, se cuidar - e faz muito sentido também, se for a pandemia -, mas cresceu muito, né? Eu olhava para aquilo e falava “como assim?” Eu quero ter o direito de não estar bem e ser amado primeiro por outras pessoas! Eu quero poder amar outras pessoas antes de mim também, em alguns momentos. Não tem uma hierarquia, eu quero poder ter esses direitos, sabe? E é meio que essa coisa de sentir coisas boas e coisas ruins, sabe? E amar, sentir como um direito mesmo. E aí eu acho que esse processo é o que me aproxima de uma coletivização dessa individualidade. Eu acho que é um projeto de ser enquanto ser coletivo. Então, é isso que eu proponho um pouco de emocionado: sentir para aprender a sentir e se deixar sentir para aprender a sentir. E, a partir daí, poder se conectar enquanto pessoa no mundo, sabe? Quando a gente se fecha em nossos sentimentos, em amar a gente primeiro, em saber tudo da gente antes, a gente para de criar uma conexão e aprender a falar a língua dos sentimentos dos outros. Então, eu acho que a gente tem que aprender a nossa língua dos sentimentos, mas aprender também a falar essas várias línguas.

Aproveitando que você trouxe a parte do neoliberalismo, não sei se você teve essa impressão, mas saímos da pandemia um pouco complicados mentalmente, não saber se comunicar com o outro e etc. Eu não sei se você passou por isso, mas eu senti também que muitas pessoas tinham dificuldade de se expressar, de dizer o que sentiam. Você acha que, hoje, as pessoas estão com medo de demonstrar seus sentimentos e também pegar a conotação negativa em ser um emocionado? 

Começando pelo final, eu senti que essa ideia de ser emocionado cresceu enquanto algo bom. Eu não tenho nenhuma pretensão de ser alguém que levantou a bandeira do emocionado e falou “vocês todos estavam sem entender. E eu, Antônio da Rosa, entendi que ser emocionado…” Eu acho que veio uma tendência, eu surfei uma onda, eu entendi junto com outras pessoas… Como todos nós, eu fui também influenciado por um algoritmo que me fez começar a ver [sobre o tema], isso está sendo falado… E aí, fui formando essa ideia e percebendo também ao redor. Eu sinto que, de alguma maneira, tem mais pessoas falando sobre seus sentimentos e eu sinto que isso é uma reflexão muito grande quando eu lancei o nome do disco e lancei as músicas, tem muita gente falando “pô, isso aí é massa” e eu tento também me comunicar muito dessa forma… De ser muito efusivo nas respostas, eu sinto que as pessoas também acabam sendo muito. Eu sinto que está dando para ser mais emocionado. Quando você foi falando sobre essa questão de como a gente saiu da pandemia, como é que está sendo a situação, de como a gente está sentindo isso, a dificuldade de falar, foi engraçado porque você foi destravando coisas que eu não pensava há muito tempo. A pandemia foi muito intensa e pesada, mas, ao mesmo tempo, eu tive muita sorte, não perdi ninguém querido durante esse processo e tive como ficar bem protegido. Acho que a parte mais difícil da pandemia foi realmente o isolamento. Eu sinto que eu consegui, depois da pandemia, me recuperar bem, assim, acho que de alguma maneira. Mas eu sinto que sim, eu não lembrava disso, mas eu sinto que logo depois, assim que acabou, eu entrei, acho que, numa coisa meio efusiva, assim, né? Vamos curtir, vamos todo mundo viver, sair e tal. E depois vai ter um cansaço muito grande de não saber como é, de não querer falar com ninguém, de não querer ficar em casa. Eu sinto que agora, do último ano para cá, de 2024 para cá, pelo menos, ao meu redor, eu parei mais de falar de pandemia, sabe? Acho que esse assunto ficou um pouco para trás, o que me dá a impressão de que passou um pouco mais com aqueles efeitos. 

Eu fico muito feliz em saber que a pandemia ficou lá atrás, mas eu não posso deixar de te fazer uma última pergunta sobre o tema: você acha que a pandemia te deu armas para liberar todos os sentimentos e não ter vergonha deles? 

Ah, acho que sim, acho que sim. Acho que é impossível não ter o mínimo de sensibilidade, não ter sofrido na pandemia, não ter vivido nada sofrido, né? Mesmo no meu caso, que eu não perdi ninguém, poxa, era muito estranho - não só estranho, era muito revoltante ligar a TV e ver aqueles números de pessoas mortas todos os dias, saber quem a gente se conhecia estava perdendo parentes e ver como as coisas estavam sendo lidadas. Foi um processo e acho que cada um vive também o seu próprio processo, como eu vivi, né? Eu sinto que esse disco também é resultado de várias composições…. Eu vivi um momento muito prolífico mesmo de composição durante a pandemia e várias das músicas, acho que tem uma segunda metade desse disco que foi composto na pandemia, acho que tem umas três ou quatro músicas que saíram pós-pandemia e eu acho que são músicas muito importantes. Duas músicas que eu fiz pós-pandemia, não necessariamente tem a ver com a pandemia, mas eu sinto que tem… Acho que é fruto de um pouco dessa coisa de sentir demais… Essas duas únicas músicas que eu compus para o disco, pra fechar o disco, foi “Emocionado” e “Tudo em Canção” que eu sentia que faltava, porque as outras oito eu reuni com várias que não entraram e junto com o Thiago [Mata] e a Nayane [Ferreira], que são produtores do disco, a gente fez uma seleção. “Tudo em Canção” era a música mais lado B e é muito bonita porque ela fala justamente dessa liberação dos sentimentos. Ela fala muito sobre várias coisas que eu acho importante em termos conceituais para o meu trabalho, que é essa ideia de que a música pode traduzir sentimentos que, às vezes, a gente não consegue expressar só falando. Ela tem um momento que eu travo essa coisa que eu tava falando sobre a gente amar junto e não ter uma hierarquia na hora de sentir e na hora de se cuidar e cuidar dos outros. Você olha pro lado daquela pessoa [olha para o lado e imita, como se estivesse em um show] de olho fechado aqui e você tá ali cantando, se esgoelando, sabe? Então, assim, é uma coisa que eu acho que tem esse efeito e eu sinto que essas músicas trouxeram um pouco desse elemento de liberação sentimental, sabe? E eu acho que foi por conta também da pandemia.


"Eu precisava de uma música chamada "Emocionado" para poder justificar esse conceito do disco, porque as outras músicas sozinhas não explicavam."

Já que você é um emocionado que sente tudo, o que faz com esses sentimentos? Como não pirar? 

Pô, aí é... Fazer o que está fazendo, né? Não, não sei, não sei, eu não sei responder. Eu acho que eu gosto de fazer música um pouco para isso…. Pra poder colocar para fora essas reflexões e tudo mais. Eu não sei se faço isso também como algo terapêutico. Eu não vejo a música necessariamente como algo terapêutico, eu vejo a música como algo que faz parte da minha rotina. Pra não pirar? Não sei, não faço ideia. Sinceramente, não sei dar essa resposta. Eu vou dar uma resposta super tendenciosa se eu tentar falar. Mas, ao mesmo tempo, eu acho que ao sentir, seja coisas boas ou coisas ruins, é importante porque é vida.


antonio da rosa emocionado
(Capa: Nathalia Feitosa e Lenio Barbosa)

A canção “Emocionado” sintetiza o álbum e escancara o quão emocionado você é. Ao mesmo tempo que você diz que sente tudo que seu coração permitir, você relembra a advertência - “contenha esse sentimento, rapaz” - do outro para você se conter. Você já pensou na possibilidade de ouvir essa pessoa e conter os seus sentimentos? Se isso acontecesse, o que seria do Antonio hoje? 

Putz, não sei, não faço ideia. Essa frase foi [a maneira] de como apresentar como sou emocionado. É engraçado porque é uma parte forte, uma parte baixa que na segunda vez que repete tem esse “contenha esse sentimento, rapaz” [canta a estrofe]. Eu sempre fico imaginando um clipe, não sei se vou conseguir fazer, meio que parando tudo e chegando em um monte de gente e apontando [aponta para os dois lados], sabe? Seria legal, né?! Antes desse disco eu passei longos anos de gravação e longos anos de lançamentos de singles e nem todo single deu certo, foi uma grande frustração em alguns momentos e é uma coisa que eu fico pensando muito… Me veio uma coisa de “será que passou o meu momento? Será que eu devo continuar fazendo música?” Me veio muito essa sensação e eu não sei se hoje está bem resolvida, mas esse disco me deu uma energia danada porque quando eu o escuto, quando ele tá no mundão, a magia acontece - isso existe! E todo mundo veio [ouvir], diferente do que aconteceu nos singles. Isso me deu uma fé muito grande porque esse álbum é realmente muito poderoso, as pessoas realmente estão dando o valor. Às vezes eu fico pensando se não compusesse, não me expressasse pela música, talvez eu tivesse uma rotina mais relaxada… Mas essa não é a resposta… Acho que se eu me contivesse não sei quem eu seria porque eu não consigo imaginar. 


O álbum traz diversos sentimentos, mas o amor ganha destaque, porém, em nenhum momento você define o que é esse sentimento. Você tem alguma definição para o que você demonstra? 

Olha só, que bonito. Eu nunca tinha me dado conta que não digo o que é o amor em nenhum momento. É engraçado porque uma menina aqui de Maceió compartilhou o álbum no Instagram e eu repostei nos storys - ela me escuta desde o Toño e é super querida - e ela falou que [o álbum] é uma declaração de amor minha para as várias fases que eu vivi. Eu achei bem curioso porque é mesmo uma declaração de amor para as coisas. Por exemplo, acho que uma das músicas mais fortes do disco é “Pipa”, música sobre a minha infância e é uma declaração de amor para essa fase. Sinto que esse amor é um amor mais universal, desejar um mundo de amor. Eu sinto que o amor pra mim, hoje, tá no lugar de tranquilidade, sabe? Eu acho que esse é o resultado depois de você passar por um turbilhão de coisas. Talvez eu não tenha dito porque eu também não sei dizer, porque eu fico pensando que o amor é uma palavra que a gente cunha para um sentimento que não tem palavra para dizer, porque cada um sente o seu amor. Eu fico pensando que a palavra amor não dá conta para o que de fato é o amor. 

Por que precisamos tanto do amor? Por que quando encontramos um amor específico não damos conta desse amor e o perdemos? 

Nossa, Michele, hoje você tá que tá. [risos] Não sei… O amor é realmente uma coisa avassaladora, um sentimento que vai chegando… É mais um sentimento que a gente tem que aprender a lidar com ele, como falei no comecinho da nossa conversa. É um processo de longo prazo. 

Em "Mundo de Amor" você canta "Não adianta se fechar / Todo mundo se esquece". Mesmo se fechando, após uma relação - amorosa ou não - traumática, o amor reaparece? É impossível fugir do amor?

Não sei se é uma lógica de fugir e tal, mas acho que o amor bate à porta todos os dias e também é super justo se fechar e não querer saber daquele tipo de amor. Todo momento vivemos pequenos atos de amor e acho que esses pequenos atos são frutos da lógica coletiva, sabe? O tempo todo tem um pequeno ato de amor que faz a gente acordar e levantar para fazer as coisas. Essa ausência de amor, esse fechamento total, é uma depressão e aumenta a exclusão da partilha da vida.  


"Distância pra Terra" é uma canção antiga que traz sua mudança de Maceió para o Rio de Janeiro como foco. Nela, você diz que já decolou do chão para fazer sua história. Ao revisitar o passado e analisar o presente, você alcançou o voo que sonhou?

Nossa, não. [risos] Acho que essa decolagem é menos sobre o lugar que você vai tá, mas o processo de sair do chão, sabe? Eu sinto que essa música é muito querida porque ao longo do processo eu fui gostando mais de outras músicas e ela é uma música super legal que ganhou força no final… Esse disco é uma loucura porque ele tá pronto desde maio de 2025 ou há mais tempo, mas ele só saiu agora. Foi um longo período de construção. É engraçado porque eu tenho uma irmã mais nova e ela foi fazer faculdade no Rio e ela falou que gosta muito dessa música porque fala muito sobre o momento dela, sabe? Não estou no lugar que queria estar, mas na música, eu falo em um momento sobre não perceber, não ter dado conta, que eu saí do chão. 


"Tudo em Canção" é a música que você traduz tudo que você não conseguia falar. Nessa última canção, fechando a narrativa do disco, você conseguiu falar sobre tudo e se apresentando para o outro? 

Eu acho que sim. Modéstia à parte, o disco tem uma linha muito bem definida, ele começa bem, segue um ótimo caminho e termina muito bem. “Tudo em Canção”, pra mim, é uma música de final de disco, é quase como se fosse uma faixa bônus que fica cinco minutos em silêncio e vem ela, sabe? Ela é uma música super metalinguística também, é sobre uma música que fala sobre fazer música, gosto muito dessa música por isso, mas porque ela traz demais pontos que eu ia falar nesse disco que as outras músicas não falavam. Consegui, de alguma maneira, traduzir esses pontos, essas várias coisinhas que a gente conversou aqui também, nessa música. Deu pra concluir. 


"O disco me deu a oportunidade de lidar com vários sentimentos. Os vários momentos que eu travei, busquei colo e gente que me carregasse e quando não tinha, eu tive que me colocar nesse processo e dizer "eu estou aqui também.""


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