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Vou te Dizer o que Penso

  • Foto do escritor: Michele Costa
    Michele Costa
  • 14 de nov.
  • 2 min de leitura

Em A Redoma de Vidro (Biblioteca Azul, 2019), a protagonista Esther Greenwood reafirma sua existência com a frase “eu sou, eu sou, eu sou”. Assim como ela, Joan Didion contemplou sua vida através das palavras, ou seja, foram elas - junto com suas observações detalhistas - que lhe deram corpo que a sustentou por mais de oito décadas. Em Vou te Dizer o que Penso (HarperCollins, 2023), a escritora debate diversos temas, sempre com a escrita como tema central. 


vou te dizer o que penso
(Créditos: Reprodução)

Os 12 ensaios de Vou te Dizer o que Penso foram escritos entre 1968 e 2000. Em 144 páginas, a americana revisita o começo na faculdade, o trabalho na Vogue, sua admiração por Ernest Hemingway e suas inseguranças pessoais. A coletânea oferece um panorama das formas como Didion encara cada assunto a partir de seu repertório particular e de sua percepção sempre atenta.


Por conter textos de diferentes fases da carreira de Joan, há diferentes personalidades de Didion: aquela que testemunha mudanças nos temas femininos; a que encontra beleza na precisão das palavras; e a que, mais tarde, relembra o seu passado com maturidade para narrar o medo de escrever contos. 




"(...) Descobrir qual o seu papel, aos dezessete anos, já é suficientemente difícil sem receber um roteiro de outra pessoa em mãos."

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A força de Vou te Dizer o que Penso está justamente na maneira como cada ensaio funciona como uma lente de aumento: a cada leitura, é possível enxergar novas camadas, novas inquietações. Didion não se apressa e nem se rende à conclusão fácil. Ela observa o que parece banal - uma sala, uma fotografia, uma cadeira - e transforma o detalhe em algo amplo, extremamente emocional. Ao mesmo tempo, não suaviza nada: o desencanto, o colapso e a fragilidade aparecem em plena luz.


"(...) Escrevo exclusivamente para descobrir o que estou pensando, o que estou observando, o que eu vejo e o que isso significa. O que eu quero e o que eu temo. Por que as refinarias de petróleo em torno de Carquinez Strait me parecem sinistras no verão de 1956? Por que as luzes noturnas do Bevatron ficaram queimando a minha cabeça por vinte anos? O que está acontecendo nessas imagens na minha cabeça?"

Em Por que escrevo, Joan inicia o texto explicando de onde surgiu o título: “Obviamente roubei de George Orwell. Um dos motivos para tê-lo roubado é que gosto do som dessas palavras: Why I Write, “por que escrevo”. Dessa maneira, o eu se impõe naturalmente às outras pessoas, convidando-as a escutar a escritora e sua lição. O ensaio figura entre os mais sensíveis de Didion, já que seu processo de criação influenciou - e ainda influencia - outras gerações.


Nem todos os textos alcançam o mesmo impacto, mas, por ser um livro feito de (e sobre) histórias, Vou te Dizer o que Penso é ideal para quem se envolve com as palavras e está disposto a aprender, recolher e se inspirar no olhar do outro. 


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