Sentimental Palace
- Michele Costa

- 5 de nov.
- 2 min de leitura
Em Sentimental Palace (Matraca Records/YB Music), Yma transforma o inconsciente em arquitetura e a emoção em um espaço habitável. O disco se ergue como um edifício de muitas portas, onde o realismo fantástico é a chave para acessar o que vive escondido: lembranças, afetos e inquietações. Cada canção é um quarto distinto, isto é, um território psíquico onde o som ganha forma de memória e a poesia se mistura ao sonho.

Não há calmaria logo no saguão. O ouvinte é recebido pela voz serena da cantora, que flutua entre o concreto e o etéreo antes de se misturar a um coro envolvente. As batidas eletrônicas e a voz translúcida de Yma guiam pelos corredores desse palácio sentimental, onde o tempo congela e o real se desmancha em névoa. Ao se apropriar do realismo fantástico, Yma faz dele um método para apresentar o inconsciente como cenário vivo - um lugar onde a razão se dilui e a emoção se ergue como estrutura.
Cada quarto revela uma face do íntimo: há cômodos iluminados por memórias afetivas e outros tomados por monstros e desejos densos, onde o som parece emanar das próprias paredes. A produção de Sentimental Palace age como o alicerce do edifício: sólida e sensível, sustentando o caos emocional que o habita.
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O hóspede é levado por essa atmosfera desde os primeiros minutos, misturando-se às confissões da cantora, ora sussurradas, ora gritadas. À medida que atravessa os andares, o ouvinte se sente parte daquele lugar, afinal, as letras exploram temas como relações amorosas, feminilidade, saúde mental, vida artística e reflexões sobre o mundo. As participações de Lucas Silveira, Jup do Bairro e Sophia Chablau intensificam as camadas emocionais que compõem Sentimental Palace.
A cada audição, o edifício se transforma - ora refúgio, ora ruína. Nesse hotel sonoro, a cantora é ao mesmo tempo arquiteta, hóspede e fantasma, habitando o espaço com delicadeza e coragem. E o ouvinte, ao final da estadia, também não é mais o mesmo: atravessar Sentimental Palace é deixar-se afetar por um sonho que continua ressoando mesmo depois do despertar.




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