Canções do Velho Mundo
- Michele Costa

- há 3 dias
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Em Canções do Velho Mundo (Meia Noite FM, 2025), Teago Oliveira não canta sobre o passado, mas sobre um presente que insiste em desacelerar. O título pode até sugerir saudade de outros tempos, mas o que o músico baiano propõe é outra coisa: um modo de existir em meio ao turbilhão contemporâneo, um respiro poético contra o ruído digital. Se há algo "velho" aqui, é apenas o tempo - aquele em que ainda era possível observar, sentir e viver sem a constante urgência das telas.
Gravado de forma analógica, em um home studio, e produzido entre Salvador e São Paulo, o álbum já nasce como um gesto de resistência. Teago escolheu o caminho da lentidão desde o primeiro acorde, optando por um processo artesanal em que cada som respira. Essa decisão estética — e ética — reforça a ideia de que a criação musical não precisa acompanhar o relógio das redes/lançamentos, mas pode seguir o compasso do humano.
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Assim como o personagem Hirayama, de Dias Perfeitos (Wim Wenders, 2023), que encontra sentido nas pequenas rotinas diárias, o músico transforma o cotidiano em poesia. As faixas convidam o ouvinte a redescobrir a beleza de estar presente, de viver sem pressa, de encontrar felicidade no intervalo entre um acorde e outro, como canta em "Eu Nasci Pra Você": "Viver pode ser sim tão diferente / E assustadoramente lindo." Em tempos de produtividade sem pausa, Canções do Velho Mundo soa como um manifesto suave pela vida simples e por uma escuta mais atenta.
Ao longo do disco, Teago amplia o diálogo com o ouvinte ao abordar temas que atravessam a experiência contemporânea: os relacionamentos incertos, a maturidade e os encontros. As doze faixas falam de afeto e autoconhecimento se entrelaçam com colaborações sensíveis, como as participações de Silvia Machete e Eric Slick, integrante da banda Dr. Dog, que acrescentam novas cores e nuances à narrativa musical.
Em Canções do Velho Mundo, Teago Oliveira reafirma seu lugar como um trovador moderno, ou seja, aquele que, em vez de lamentar o tempo perdido, nos lembra que ainda há tempo para sentir, amar e estar por inteiro. O álbum é um convite à presença e uma celebração daquilo que resiste: a vida vivida sem pressa, em busca da felicidade - "Felicidade é um caminho e não um lugar / Vou morrer tentando ser feliz."




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