The End of the Tour
- Michele Costa
- há 3 horas
- 2 min de leitura
Qualquer fã de David Foster Wallace gostaria de ter passado alguns dias ao lado do escritor para tentar compreender sua mente e ouvir suas reflexões. Familiares, amigos e alunos tiveram essa oportunidade, e o jornalista americano David Lipsky também. O encontro de cinco dias, ocorrido em 1996 logo após o lançamento de A Graça Infinita, foi recriado no filme The End of the Tour, dirigido por James Ponsoldt.
Baseado no livro Although of Course You End Up Becoming Yourself (Crown, 2010), escrito por Lipsky, o longa não é exatamente uma biografia. Em vez disso, acompanha o processo pelo qual o repórter - interpretado por Jesse Eisenberg - conheceu David Foster Wallace (Jason Segel). Tudo começa com a leitura da obra. Impressionado com o romance, Lipsky, então jornalista da Rolling Stone, pede ao editor para perfilar o escritor: afinal, como um professor tão jovem havia conseguido escrever um livro tão vasto e intenso? Com o aval da revista, ele embarca para encontrar o autor.
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Quando Segel surge na tela, o impacto é imediato. O ator, conhecido pelo papel de Marshall Eriksen em How I Met Your Mother, entrega uma composição surpreendentemente próxima de Wallace. Ele aposta na contenção para revelar um escritor que convive com três frentes simultâneas: o autor celebrado pela crÃtica, o intelectual inquieto que questiona a superfÃcie da cultura americana e o homem vulnerável, dividido entre o medo da exposição e o pavor do isolamento. O filme evidencia essas facetas com paciência, deixando que a figura pública e a figura privada se friccionam a todo instante.

Alguns elementos do longa merecem destaque: a inveja de Lipsky, que admira e ao mesmo tempo deseja escrever como Wallace; a depressão e o pânico que assombram o jovem professor, sempre receoso de ser desvendado por qualquer frase; o afeto que nutre por seus cachorros; e a curiosa relação entre ambos, que nasce torta, marcada por ruÃdos, mas evolui para uma admiração mútua.
The End of the Tour não tenta canonizar Wallace, tampouco explicar suas motivações mais Ãntimas. O que faz é reconhecer uma sensibilidade profunda que parecia deslocada no mundo pós-moderno. Lipsky - como muitos leitores - percebe que essa intensidade emocional podia ser tanto um dom quanto um fardo. Wallace tirou sua vida em 2008, e o filme, sem sensacionalismo, respeita essa ausência.
Alguns fãs e familiares não aprovaram a obra; é compreensÃvel, afinal cada um tenta preservar o Wallace que conheceu. Ainda assim, vale lembrar que o filme ultrapassa a figura do escritor. É também uma história sobre o encontro entre duas pessoas muito distintas que, apesar das diferenças, formam uma conexão improvável, ou seja, uma amizade que, de certa forma, segue acompanhando Lipsky até hoje.
