Show: Sílvia Pérez Cruz & Salvador Sobral
- Michele Costa
- 19 de ago.
- 2 min de leitura
Cinco cadeiras, instrumentos e iluminação quente deixaram o palco do Sesc Vila Mariana acolhedor para receber Sílvia Pérez Cruz e Salvador Sobral. Mais do que um concerto, o espetáculo se apresentou como a extensão natural de uma amizade que, ao longo dos anos, vem amadurecendo até se transformar em música compartilhada — ora delicada, ora incendiária.
O repertório do show é baseado no disco Sílvia & Salvador (2025), com composições de Jorge Drexler, Luísa Sobral e Dora Morelenbaum, amigos da dupla, que serviu como fio condutor para uma apresentação que não se limitou a reafirmar fronteiras geográficas. Ao contrário: ao incorporar influências do fado, da canção catalã, do flamenco, do jazz e de tradições populares latino-americanas, o duo mostrou que a música pode ser um idioma comum capaz de aproximar culturas distintas.
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No palco, Sílvia Pérez Cruz e Salvador Sobral alternavam protagonismos sem esforço: ela, com a voz que oscila entre fragilidade e firmeza, carregando no timbre a densidade da memória coletiva; ele, com a interpretação sempre desconcertante, entre o improviso jazzístico e a entrega potente. O resultado foi um show-diálogo afetivo, em que cada canção se desenhava como uma conversa cúmplice.
Acompanhados de Dario Barroso (violão), Sebastià Gris (violão, banjo e bandolim) e Marta Roma, o espetáculo começou com "Recordante", canção que apresenta o universo do duo. Em seguida, Salvador conversou com a plateia, fazendo piadas e relembrando suas passagens pelo Brasil. Depois, Sílvia comentou que o país a ajudou a cantar melhor sua língua materna. Entre canções, risos e aplausos, Pérez Cruz e Sobral criaram uma narrativa envolvente e hipnotizante.
No repertório há canções em inglês, português, espanhol e francês; porém, foi com "Hoje já não é tarde" que a dupla alcançou o ápice. Antes de cantar "Tempus Fugit (Plor per Palestina)", Sílvia lembrou o genocídio em Gaza e dedicou a faixa ao povo palestino.
A amizade - motor desse projeto - não se restringe aos bastidores: transborda no olhar de um para o outro e na vulnerabilidade compartilhada no palco. Dessa maneira, o show vai além do concerto: é um testemunho de afeto convertido em música, um gesto ibérico-multicultural que reafirma a ideia de que a arte pode ser ponte, nunca fronteira.

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