top of page

Show: Oasis Live 25

  • Foto do escritor: Michele Costa
    Michele Costa
  • há 3 dias
  • 4 min de leitura

É engraçado ver o que uma banda pode fazer com os fãs. No último domingo (24), 70 mil pessoas se reuniram - sem ainda acreditar que aquilo estava prestes a acontecer - no Morumbis para celebrar o retorno do Oasis. Por muitos anos, eu e tantas outras pessoas tivemos certeza de que isso nunca aconteceria, já que os irmãos Gallagher se xingavam por qualquer motivo e pareciam determinados a eternizar o próprio fim. Mas ali, no meio daquela multidão do Oasis Live 25, percebi que algumas histórias simplesmente se recusam a fechar o capítulo final.


A atmosfera dos portões do estádio já dizia muito sobre aquele momento épico: adultos que um dia foram adolescentes nos anos 2000, jovens que descobriram a banda pelos pais, e curiosos que só conheciam os hits - todos dividindo o mesmo frenesi, como se assistissem ao retorno de algo que, na verdade, nunca tinha ido embora. 


Leia também: 


Assim que os portões foram abertos, já era possível ver fãs correndo, sorrindo e chorando em busca de um bom lugar. Não demorou para que cada setor se enchesse, aumentando a ansiedade coletiva. A sensação era de que algo histórico estava prestes a acontecer - e todos ali sabiam.


Após acompanhar a banda em alguns shows pela Europa, Richard Ashcroft assumiu a responsabilidade de abrir as apresentações no Brasil. Seu setlist intercalou canções da carreira solo com os clássicos do The Verve. Foi com “Lucky Man” que eu, assim como tantas outras pessoas, me emocionei e finalmente concretizei a ideia de que aquele reencontro realmente estava acontecendo. Mas ao cantar “Bitter Sweet Symphony” o estádio inteiro se transformou em um coral arrepiado. Parecia que o passado estava sendo cuidadosamente reaberto para que todos nós pudéssemos atravessá-lo juntos.


Quando as luzes se apagaram para a entrada do Oasis, senti meu coração acelerar como se eu tivesse voltado ao dia em que meu irmão me apresentou aos Gallagher. Ao meu redor, desconhecidos choravam, riam, se abraçavam. Todos pareciam atravessar o mesmo portal: um retorno que por tantos anos foi impossível e que agora se materializava diante dos nossos olhos.


oasis live 25

Em uma mão, Liam Gallagher - com sua parka vermelha e óculos escuros - segurava suas maracas; na outra, a mão do irmão Noel. O Oasis Live 25 realmente estava acontecendo. Sob gritos, aplausos e assovios, Bonehead, Gem, Andy e Joey Waronker caminharam para seus instrumentos, inaugurando o espetáculo com "Hello". O repertório foi cuidadosamente montado para tocar as "feridas boas" do passado sem ignorar a maturidade presente.


A maior parte das músicas veio dos dois primeiros álbuns — Definitely Maybe (1994) e (What’s the Story) Morning Glory? (1995) —, mas também surgiram joias menos óbvias: lados B da coletânea The Masterplan (1998) e faixas de discos posteriores, como Be Here Now (1997) e Heathen Chemistry (2002). Durante a apresentação, alguns momentos soaram como pequenas trocas íntimas entre irmãos: Liam deixou o palco para Noel cantar "Talk Tonight", dedicando a música "para as damas", segundo ele. O afeto, presente desde o início da turnê, parecia diluir qualquer lembrança das brigas do passado.


Já Noel, por sua vez, permitiu que parte do público assumisse os versos de "Stand by Me", num instante que me fez enxergar que aqueles microfones já não eram apenas deles, mas também nossos. Em "The Masterplan" e "Don’t Look Back in Anger", a voz do músico quase desapareceu diante da força da plateia, que cantava como se quisesse eternizar aquele reencontro. Mas foi em "Little by Little" que Noel me desmontou: chorei copiosamente. 


A despedida veio com Champagne Supernova, seus mais de sete minutos estendidos e uma queima de fogos capaz de emocionar até os mais contidos. E foi justamente ali, nos momentos finais, que Liam fez um agradecimento que levou o estádio ao delírio: "I obviously wanna thank our kid (Noel), Bonehead, Andy, Gem, Joey, Cristian! I wanna thank the management, I wanna thank all the crew, I wanna thank promoters, I wanna thank all the other people. But most of all, I wanna thank fuckin’ you lot man for putting this band back on the map."


Ouvir isso da boca do próprio Liam, depois de tantos anos de brigas, distâncias, provocações e ironias, deu um novo significado ao que estávamos vivendo. Não era apenas a banda agradecendo ao público - era a constatação de que nós, fãs, seguramos o Oasis vivo durante todo o tempo em que eles mesmos pareciam ter desistido.


oasis live 25

Quando o espetáculo terminou, alguns fãs se apressaram para sair; outros precisaram ficar parados, respirando fundo, tentando processar o que tinham acabado de viver.


E o que mais me comoveu foi a sensação de que nem tudo está perdido quando se fala dos irmãos Gallagher. A reconciliação é possível, mesmo entre duas personalidades explosivas. Os hits atemporais do passado ainda reverberam com força suficiente para emocionar tanto quem viveu a era original quanto quem chegou agora, encantado por melodias que parecem nunca envelhecer.


Saí do Morumbis com a certeza de que esse reencontro não foi para a imprensa nem para um registro histórico - foi para nós, fãs que durante anos acreditaram que isso jamais aconteceria. E, por mais que tenham se passado 16 anos, naquela noite eu tive certeza: o Oasis nunca se foi.

Comentários


©2020 por desalinho.

bottom of page