Oasis: definitivamente sim
- Gustavo Geraldo

- há 2 dias
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“This is history! This is history! Right here, right now!”
Essas foram as primeiras palavras ditas por Noel Gallagher antes de emendar o riff de “Columbia” em Knebworth, que reuniu mais de 300 mil pessoas em dois shows em agosto de 1996. Os irmãos Gallagher sempre foram conhecidos pela arrogância e pelos superlativos usados para definir a própria banda, mas aquela declaração não era um exagero.

Era o auge do britpop. O ápice da cool britannia. O grunge fora enterrado e a terra da Rainha tirava a terra do Tio Sam dos holofotes. O protagonismo havia cruzado o Oceano pela primeira vez em décadas e o Oasis estava no topo do mundo. O problema é que, quando você está no topo, a queda é só uma questão de tempo. Nas três décadas seguintes, muita coisa aconteceu. O britpop também foi enterrado, o Oasis chegou ao fim, a Grã-Bretanha entrou em crise; o Partido Trabalhista saiu do poder, o Brexit foi aprovado, a indústria musical como a gente conhecia morreu e as guitarras com pilhas de amplificadores Marshall e Orange saíram de moda. Mas aí uma coisa aconteceu.
27 de agosto de 2024. Praticamente exatos 15 anos depois de um fim que parecia definitivo, o Oasis voltou à vida. De repente, tudo o que aconteceu desde agosto de 2009 parecia irrelevante. A política externa da Inglaterra não importava, assim como o fracasso do Brexit. As constantes crises do capitalismo não importavam. Mas a devoção àqueles dois irmãos de Manchester importava, e continuava viva. Talvez o refrão “You and I are gonna love forever” fosse uma profecia que se mostrava realizável.
Ainda em “Live Forever”, Noel escreveu que “nós vemos coisas que eles nunca verão”. Fica a critério do freguês escolher quem são “eles”, mas se eu puder dar uma dica, esse verso foi escrito no começo dos anos 90, em uma Inglaterra pós-Thatcher, brutalmente destruída pelo neoliberalismo, por um cara da classe trabalhadora em uma cidade que viu seu complexo industrial perder força.
A cidade em questão é Manchester. Um lugar cinza, chuvoso e com um destino certo na esteira de produção em alguma fábrica para a esmagadora maioria da população. Entretanto, a música era o ticket premiado para uma realidade diferente, como provam as bandas que saíram de lá: Joy Division, New Order, The Smiths, The Stone Roses, Happy Mondays e por aí vai. O que não se podia imaginar no começo dos anos 90 era que uma banda formada por dois irmãos seria maior do que tudo que havia saído de Manchester até então.
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A banda era uma mistura do que a Inglaterra havia produzido de melhor nos últimos 30 anos: melodias à la Lennon & McCartney, riffs inspirados no T-Rex de Marc Bolan (às vezes, inspirados até demais), guitarras distorcidas que pareciam a versão adulta das guitarras dos irmãos Davies no The Kinks, um pouco de Bowie e The Kinks, uma pitada de Slade e, claro, a atitude do Sex Pistols. Se o som do Blur se aproximava mais das aspirações dos estudantes de artes de Londres, o som do Oasis refletia a raiva e a falta de perspectiva de uma juventude vivendo na decadência pós-industrial de Manchester.
Quando a raiva desses jovens se mistura com talento, arrogância e hedonismo, o resultado é Definitely Maybe (1994), o disco de estreia mais vendido na história do Reino Unido (até aquele momento). Ao dar play no álbum, a primeira música que se ouve é "Rock N’ Roll Star". Para qualquer outra banda, essa letra seria a confissão de um sonho praticamente inalcançável. Para o Oasis, era uma profecia. Com as outras 10 músicas, que incluíam os clássicos instantâneos "Supersonic” e "Cigarettes & Alcohol", além da já citada "Live Forever", o disco formava uma declaração muito coesa de uma banda que aspirava dominar o mundo.
A estreia do Oasis mirava o topo, mas foi o segundo disco que colocou a banda lá. (What's the Story) Morning Glory? (1995) é praticamente uma coletânea de hinos para serem cantados em estádios. Aqui, todos os superlativos do mundo não pareciam o suficiente para definir o álbum. "Wonderwall", "Don't Look Back in Anger", "Some Might Say” e "Champagne Supernova”, tudo no mesmo disco. Como se não fosse o bastante, ainda tem pérolas subestimadas como "She's Electric” e "Hey Now!”. Se Definitely Maybe era a declaração de uma banda que almejava o estrelato, Morning Glory era a confirmação de que eles chegaram lá.
Daí pra frente, as coisas começam a ficar estranhas. Muito dinheiro, muitas drogas, muitos excessos e pouca coisa relevante para dizer, e Be Here Now, de 1997, é reflexo disso. Mesmo com o sucesso de "Don't Go Away” e "Stand by Me", o disco não tinha o brilhantismo de seus predecessores. Os anos foram passando, o Oasis continuou lançando discos, mas as coisas mudaram. O britpop virou passado, os irmãos Gallagher continuaram em pé de guerra por mais uma década, até aquela fatídica noite em Paris, em 2009.

Quinze anos depois, parece que o tempo foi capaz de cicatrizar algumas feridas. Noel e Liam fizeram as pazes, ficaram menos cínicos, e o clima nos almoços da família Gallagher devem ter melhorado consideravelmente.
Uma das frases mais famosas da Dona Thatcher é a de que não existe o conceito de sociedade, apenas indivíduos. Vendo vídeos de uma legião de pessoas se abraçando, chorando e cantando cada verso a plenos pulmões, é a prova concreta de que a música é sempre uma experiência coletiva, nunca individual. Ainda bem que ela está a sete palmos do chão, incapaz de ver o retorno triunfal daqueles garotos de Manchester. E ainda bem que nós estamos aqui, vivos, prontos para chorar com uma banda que afirmou que nós vamos viver para sempre.
Oasis no Brasil
A turnê Oasis Live ‘25 chega ao país em novembro, no Estádio Morumbis. Com ingressos esgotados, os shows celebram a trajetória de uma das bandas mais importantes do mundo. Após o sucesso das lojas oficiais Oasis Live ‘25 que acompanharam os shows da banda no Reino Unido e na Irlanda, São Paulo também receberá uma fan store, antecedendo a próxima etapa da turnê mundial que passa pela América do Sul.
A loja abre a partir do dia 20 de novembro, das 10h às 20h, na Projeto 2005 (Martim Carrasco, 66, no Largo da Batata, em Pinheiros - São Paulo/SP). Saiba mais aqui.




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