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50 anos de Born to Run

  • Foto do escritor: Michele Costa
    Michele Costa
  • 12 de set.
  • 3 min de leitura

Há discos que envelhecem como fotografias desbotadas, lembranças de um tempo que já não existe. No entanto, há aqueles que, mesmo meio século depois, continuam a pulsar como se tivessem acabado de ser gravados. Born to Run, lançado por Bruce Springsteen em 1975, é desses raros artefatos sonoros: mais do que um álbum, um manifesto de juventude, desejo e fuga.


Ainda lembro a primeira vez que ouvi “Born to Run” - a canção que inspirou uma geração -: eu era adolescente e fui impactada por um vídeo cover do McFly, uma das bandas que mais gostava na época. Não foi preciso terminar a música para compreender o impacto nas pessoas. Dessa maneira, corri para saber mais sobre Bruce (impossível não se emocionar com o sax de Clarence Clemons, eterno The Big Man) e me apaixonei pelo disco - compartilhando com amigos e familiares. 


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(Créditos: Columbia Records)

É curioso pensar que, em 1975, Bruce ainda era visto apenas como uma promessa cercada de incertezas. Com dois álbuns já lançados — Greetings from Asbury Park, N.J. (1973) e The Wild, the Innocent & The E Street Shuffle (1973) —, ele e a E Street Band ainda não haviam conquistado o sucesso esperado. Por isso, o músico de Nova Jersey optou por inovar: "Eu tinha ambições enormes; queria o maior disco de rock possível, que soasse gigantesco, que obrigasse você a sentir a vida", comentou Bruce em entrevista à Rolling Stone. Foi com esse desejo que surgiu Born to Run


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Aos 26 anos, Bruce Springsteen apresentou ao mundo oito faixas que transitam entre rock, soul e pop, com letras cinematográficas e arranjos exuberantes, o disco nasceu de um processo criativo intenso e meticuloso, marcado por três anos de ensaios, gravações e ajustes quase obsessivos no som de cada instrumento. "O que tornou o disco bom foi exatamente termos ido aos extremos, construindo-o como um tanque, indestrutível, com uma dose saudável de obsessão", relembrou em entrevista. Springsteen e o produtor Jon Landau buscavam um álbum que capturasse tanto a urgência emocional quanto a grandiosidade sonora, transformando cada faixa em um retrato épico da juventude americana em busca de liberdade e escape.


O impacto de Born to Run foi imediato: críticos celebraram o álbum como uma obra-prima da narrativa musical, capaz de transformar histórias de classe média baixa e pequenos subúrbios em experiências universais. A indústria da música, por sua vez, sentiu o efeito de sua ambição: o disco elevou o padrão de produção, influenciando gerações de artistas e consolidando Springsteen como uma voz potente. 


O álbum é uma colagem de personagens quebrados e esperançosos: amantes à beira da estrada, trabalhadores soterrados pela rotina, jovens que acreditam que a noite guarda uma chance de transcendência. É também a radiografia de um país à deriva, na ressaca do Vietnã e do sonho americano corroído. Bruce não oferece soluções fáceis, mas compõe trilhas sonoras para aqueles que se recusam a desistir.


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(Créditos: Columbia Records)

Cinco décadas depois, o legado do disco permanece vivo. Born to Run continua a atrair novos fãs, seja pelo poder atemporal de suas canções, seja pela energia das apresentações ao vivo do músico e de sua banda, que mantém a narrativa do álbum pulsando no presente. 


Ainda é impossível não sentir o impacto da faixa-título, com sua explosão de guitarras e aquele refrão que não pede licença — exige liberdade. "Tramps like us, baby we were born to run": vagabundos, marginais, almas comuns que encontram dignidade na corrida, não na chegada. Cada verso carrega a angústia de quem sabe que o amanhã é incerto, mas decide acelerar assim mesmo.



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