Alan James e o novo despertar entre o sol e o sonho
- Michele Costa

- 7 de nov.
- 5 min de leitura
Quando lançou Despertar (2018), seu primeiro álbum, Alan James abriu uma janela para dentro de si. Depois de participar de outros projetos, o músico escolheu se reinventar em sua carreira solo com canções e percepções poéticas. Agora, ele retorna com Solar/Sonhar (Corredor 5 Records), álbum que nasce como uma extensão natural - ou melhor, como um novo despertar.

Enquanto o primeiro álbum trazia um olhar introspectivo, de descoberta, o novo trabalho expande o horizonte. As músicas apresentam um clima ensolarado e afetivo, refletindo a maturidade de um artista que aprendeu a encontrar beleza na passagem do tempo.
As referências continuam dialogando com Clube da Esquina, Beatles e os Beach Boys, mas ganham novas nuances, consequência do amadurecimento de Alan James. As harmonias delicadas e os arranjos luminosos revelam um compositor que transforma o cotidiano em poesia e o simples em transcendência.
Entre o despertar e o sonhar, Alan James constrói uma trilha que é ao mesmo tempo íntima e universal: uma viagem guiada pela luz que nasce toda vez que uma canção encontra o seu ouvinte.
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Você já participou de outros projetos, mas foi só em 2018, com Despertar, que lançou sua carreira solo. O tempo foi necessário para construir a narrativa?
Sem dúvida. Inclusive porque antes de sair em carreira solo eu tive um duo autoral que eram os Geminianos. Fizemos alguns discos, e eles foram como um balão de ensaio pro que eu viria a fazer depois. Sair em carreira solo foi um passo lógico tanto musical quanto particularmente, pois éramos um casal e havíamos nos separado. Aquele rompimento foi muito impotente pra mim, pois quando tomei a decisão foi a partir disso que comecei a compor a maioria das músicas que viriam fazer parte do Despertar. E nele pude consolidar minha visão musical e de vida, pois essa foi uma experiência chave e um dos marcos da minha vida, então o tempo foi benéfico pra mim pra construir a narrativa da minha vida que se entrelaça com a narrativa musical.

Durante esse álbum, você acha que despertou e/ou alcançou o despertar?
Com certeza. Foi o despertar pra uma nova fase da vida que se iniciava naquele momento. Pra mim foi a palavra que mais representava tudo que acontecia ali: o início de uma carreira solo (que já vinha sendo ensaiada desde 2004, mas que começou realmente a tomar forma em 2016 e por fim concretizada em 2018), o fim de um casamento e o despertar pro fato de que precisava mudar de vida, e de fato consegui alcançar esse objetivo. Por isso ele representa tanto pra mim: consegui concretizar o álbum e também a mudança de vida pela qual ansiava.
Em “Uma Estrada Melhor” você canta que “saberia o que é a vida e pra onde vou”. Hoje, você descobriu o significado da vida e para onde deseja ir?
Acho que ainda não consegui descobrir o sentido da vida como um todo. Na verdade, quando acho que descobri, acontece algo e me traz novas dúvidas, e aí começo a me questionar de novo o sentido de tudo. Depois que perdi o meu pai no fim de 2024, e justamente no ano em que completei 40 anos (uma idade simbólica), acho que agora sim começo a me dar conta do que poderia ser o sentido da vida: vivê-la ao máximo. Passado o luto, é hora de fechar essa conclusão e seguir nesse objetivo. Agora quanto a onde desejo ir, sem dúvida eu sei pra onde quero ir. E a resiliência me faz querer lutar e batalhar pra chegar lá.
Você segue sorrindo para sobreviver para alcançar uma nova esperança?
Sim! A vida é feita de ônus e bônus. Tive momentos incríveis nos últimos tempos, e mesmo com tudo o que passei nos últimos meses que tenham sido percalços, eu ainda sigo sorrindo, porque minha natureza é essa: quando estou em meio a luz, me banho dela. E quando estou na escuridão eu procuro enxergar um ponto de luz, e é nisso que reside a minha vontade de sorrir. Continuo tendo novas esperanças dia após dia, e espero sobreviver pra alcançá-las com um sorriso genuíno no rosto.
Alguns símbolos - como estrada, sol e sonho - estão em Despertar e são repetidos em Solar/Sonhar. O que eles representam para você e por que são importantes?
Acho que a vida é uma coleção de estradas que seguimos, e que a vida é feita de eras, mais do que por idades. Acho que cada era é uma longa estrada, e uma vez concluída, aquela estrada termina, vou pra outra e início uma era na minha vida seguindo numa nova estrada. O sol pra mim representa o calor que sinto quando penso no quanto quero viver, mas também representa o calor de um afeto, e eu sou uma pessoa muito afetuosa, então tem momentos que adoro sentir todo aquele calor de uma manhã ensolarada, bem como aquele quentinho de um fim de tarde com o sol se pondo. E o sonho porque acho lindo o poder da imaginação, de como nos sonhos você pode viver a vida que quiser se você viver sonhando acordado. E também como você pode viver histórias incríveis durante o sono. Mas acho que hoje eu prefiro tentar fazer da realidade um sonho, e que a realidade seja ainda melhor que os sonhos, mesmo com todos os dissabores inerentes à realidade.
"Solar é vida, pois precisamos da luz do sol pra viver e daquele quentinho no coração pra sobreviver. Sonhar é viver, porque nos sonhos vivemos e sonhamos pra sobreviver. Muitas vezes me perguntam que tipo de música eu faço: eu diria que é música solar sonhar. Solar porque é algo feito pra aquecer não só o corpo, mas a alma e as emoções. E pra mim todos os elementos iluminados pelo sol são parte de um sonho - lúdico, multicor, poético, com imagens, sons, cheiros, música, amor, luta, resignação, significado e propósito. E se tudo isso é sonhar, é também solar, porque ilumina a nossa existência e transforma a vida com cores reais sem que deixemos de enxergar os elementos do sonho."
No release, você diz que faz música solar que é parte de um sonho. Você quer que o ouvinte sonhe com o que?
Que sonhe em transformar a própria realidade em algo maior e melhor que os sonhos, lúcidos ou não.
Em “Não Se Prenda ao Medo”, há um desejo de orientar o outro a se encontrar, enquanto em “Por Que Isso Aconteceu Comigo?” você se volta para dentro, repetindo a pergunta que dá título à canção. É preciso se encontrar para poder se questionar — ou a dúvida é justamente parte desse processo?
Acho que é preciso se encontrar para poder se questionar, e também que nem toda certeza é inabalável. Eu penso que justamente quando estamos certos de que a nossa vida é X, vem o fator Y e aquilo mexe com tudo que você sente ao ponto de se questionar. É como por exemplo alguém que se diz um solteiro convicto, acaba conhecendo alguém que o faz repensar em tudo mesmo tendo certeza absoluta de que estava no controle da vida com o seu modelo atual e ideal de viver. Então sempre há tempo para se questionar sobre algo.
Quais os próximos passos para o futuro?
Buscar ao máximo viver plenamente uma vida que lá na frente me orgulhe de ter vivido, lutar pra que a próxima metade da minha vida seja melhor que a primeira, divulgar e muito esse trabalho (quem sabe até com alguns poucos shows), e começar uma imersão pra compor e planejar o meu terceiro disco, pro qual já tenho algumas coisas encaminhadas. Sou acima de tudo um compositor e amo criar, e tenho planejado com muito carinho e cuidado os temas que gostaria de falar nas próximas músicas. Ainda quero fazer muitas músicas e discos que toquem e inspirem as pessoas a serem uma versão melhor de si mesmas, e a viverem plenamente.




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