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Uma viagem musical pela infância com Diego Guerro

  • Foto do escritor: Michele Costa
    Michele Costa
  • 25 de abr.
  • 4 min de leitura

Dominguinhos foi o principal sanfoneiro do Brasil. Com uma técnica refinada e um estilo versátil, Dominguinhos levou o acordeon para outros níveis, misturando-se com MPB, jazz e música erudita. Dessa maneira, o músico provou que o instrumento tem espaço em diferentes contextos musicais. Diego Guerro seguiu esse caminho: após gravar com inúmeros artistas, fazer turnês e ganhar prêmios, Guerro lança Afon, álbum que apresenta releituras instrumentais de clássicos infantis imersos em arranjos orquestrais. 


diego guerro
(Créditos: Jacaranda Fotografia)

O disco é fruto da vivência da paternidade e nasce do olhar de Diego Guerro sobre a música infantil. Afon surgiu do desejo de oferecer uma experiência sonora que respeitasse a inteligência e a imaginação da infância, mas que também despertasse o interesse dos adultos. No entanto, o disco vai além: ele mexe com o inconsciente dos adultos, trazendo a nostalgia do passado para o presente. 


Afon é resultado da parceria com o produtor Maycon Ananias, que também colabora tocando cravo. Além da Saint Petersburg Recording Orchestra, da Rússia, o trabalho conta com participações da cantora Vanessa Moreno e do pianista Davi Sartori. 


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Por mais que Afon seja um disco infantil, ele encanta adultos pela nostalgia dos clássicos. Como foi trabalhar para um público e alcançar outro? 

Fico muito feliz com esse alcance, porque esse processo refletiu exatamente o que vivi. Essas músicas marcaram a minha infância e a minha trajetória, e de certa forma, este álbum foi uma forma de revisitá-las — de reencontrar aquela criança que fui. São canções que nos encantam pela simplicidade e, ao mesmo tempo, pela profundidade que carregam. Por isso, alcançar esse objetivo — tão desafiador — é algo realmente especial. 


Como foi feita a escolha dos clássicos infantis? 

A escolha do repertório foi pautada por diversos critérios: a diversidade musical, a profundidade das composições e a importância de cada canção dentro do cancioneiro popular. Nosso grande objetivo é oferecer um álbum plural, que desperte uma variedade de sentimentos nas crianças — assim como desperta em nós.


"Ao ser pai de dois filhos, percebi que existe evidente preocupação com a educação, a alimentação e os brinquedos das crianças, mas com a música, elemento fundamental na formação infantil, não. A qualidade musical de muitas coisas que são oferecidas para as crianças fica em segundo plano."

O disco surgiu a partir da sua vivência com a paternidade. Como seus filhos receberam Afon e o que espera despertar nas crianças? 

Meus dois filhos adoraram o Afon. Eles participaram de todo o processo criativo e foi uma alegria enorme, pra eles, ver o projeto pronto. Cada um já tem suas músicas preferidas — e o mais bonito é que essas preferências vão mudando com o tempo. Em cada fase, uma nova canção ganha destaque e eles pedem pra ouvir. Isso é muito gratificante. O que eu mais desejo é despertar, nas crianças, esse olhar mais atento para a música. Que elas possam absorver tudo o que a música tem a oferecer, sem preconceitos, e estejam sempre abertas a ouvir coisas diferentes.


Afon conta com participações especiais. Como foi trabalhar com eles? 

As participações do Davi e da Vanessa foram muito especiais. O Davi enviou um piano lindíssimo para "Se Essa Rua Fosse Minha", que inclusive inspirou todo o arranjo a partir dele. Já a Vanessa trouxe sua alegria e ludicidade para "O Balaio", com a virtuosidade que é tão característica dela — e um solo belíssimo. Espero que seja uma satisfação para todos ouvirem essas participações, assim como foi para nós ter a alegria de colaborar com eles.


Você acha que Afon vai despertar o interesse dos pequenos no acordeon? Caso isso aconteça, você tem alguma dica para iniciantes neste instrumento? 

Essa pergunta é muito interessante — e, na verdade, o interesse das crianças pelo acordeon foi o primeiro grande motivador do projeto Afon. Minha dica para quem está começando nesse instrumento é simples: continue, persista. Tocar acordeon é extremamente gratificante. Se já é bom ouvir, tocar é ainda melhor.


As canções de Afon, de Diego Guerros 


diego guerro
(Créditos: ilustração de Lalan Bessoni e design de Patrick Souza)

"Brilha, Brilha, Estrelinha": é com esse clássico infantil que o disco começa, porém, sob uma nova perspectiva. 

"Alecrim Dourado": derivada da canção portuguesa "Alecrim aos Molhos", a canção ganha uma releitura em que acordeon e orquestra dançam juntos. 

"Peixe Vivo": canção que ficou conhecida por ser uma das músicas favoritas do ex-presidente JK, ganha uma nova camada por conta do clarinete que imita um peixe nadando contra a correnteza, misturando com ritmos brasileiros. 

"Afon": a faixa-título, foi composta por Diego Guerro em homenagem ao filho Miguel, que chamava o acordeon de "afon" ao imitar o "fon fon fon" da sanfona. A música carrega um ritmo ternário típico do chamamé, que transita pelo sul do Brasil e Argentina, em especial a região de Corrientes. 

"Peixinhos do Mar": sob influência do afoxé, a canção incorpora elementos da literatura portuguesa, cantigas de guerra e influências africanas.

"Marinheiro Só": conhecida pela linda versão de Clementina de Jesus, a música dá continuidade aos temas das águas, carregando influências do Norte e do Nordeste do Brasil. 

"Balaio": Vanessa Moreno utiliza sua voz como instrumento, solfejando e improvisando sobre a melodia.

"Se Essa Rua Fosse Minha": canção mais melancólica do álbum, é carregada de nostalgia, pois está no inconsciente dos adultos. 

"Caranguejo": a faixa explora a ideia de adultos compondo para crianças, assim como Mozart compôs para os adultos quando ainda era criança.

"Ciranda, Cirandinha": é como um encontro imaginário entre Leonard Bernstein e Hermeto Pascoal, e o resultado é um arranjo cheio de brasilidade. A faixa tem participação especial de Miguel, filho de Diego, declamando um poema de Cecília Meireles.

"Cai, Cai, Balão": melodia festiva que se transforma em uma tela sonora colorida que sintetiza a essência do álbum.

"O Cravo Brigou com a Rosa": a introdução é marcada por pizzicatos nas cordas. O cravo, instrumento que foi muito utilizado por Bach, aparece como um trocadilho, se misturando ao acordeon. 



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