Na música “Um Tom”, Caetano Veloso canta sobre dez tipos de tons, mas existem outras sonoridades. Pedro Bezerra, por exemplo, quando está acompanhado de seu piano desenvolve novos tons que despertam sensações em quem o ouve.
Inspirado em Tom Jobim, Pedro segue os passos do ídolo, ou seja, quando está tocando, o seu corpo se funde com o instrumento, transformando-os em apenas um. Os timbres estão presentes em Tons Vizinhos, EP de estreia do compositor, que traz quatro canções que sintetizam as referências da MPB, do samba e da bossa nova.
"Ele [o piano] precede a letra, a voz, tudo nasce dele. Qualquer ideia de música que tenho corro para o piano e tento ver se encontro alguma coisa ali. Sinto como se esse instrumento maravilhoso fosse parte do meu corpo, então ele não poderia faltar. Todas as canções nasceram no piano, por mais que de vez em quando eu pegue o violão também pra ter alguma ideia diferente, o piano mesmo que é o berço de tudo", explica sobre a sua relação com o piano.
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Tons Vizinhos contém quatro canções. Ao ouvi-lás, o ouvinte consegue conhecer você?
Quem ouve as canções pode conhecer partes de mim, ou então conhecer a maneira como eu vejo o mundo, o que é importante pra mim a ponto de ser retratado numa canção. Mas tenho pra mim que depois que a música nasce, quando ela sai do estado de composição nua e crua, ganha uma roupa na produção e depois vai pro mundo, ela ganha vida própria. Acho que o ouvinte pode se conhecer também através dessas músicas.
O piano é um dos protagonistas do EP - ele é responsável por interligar as músicas com o público. Como funciona o processo de composição com esse instrumento?
O piano é essencial pra mim, é o meu símbolo máximo de transformação nessa vida. Ao longo dos anos explorando essas teclas sinto que o piano se tornou uma língua mesmo, talvez uma que eu fale melhor que o português inclusive! Então compor uma música ao piano é como contar uma história com notas, que às vezes dura dias, semanas, e às vezes vem numa tarde.
Tom Jobim é uma referência que está presente em suas canções. O que ele representa para você e como é mantê-lo vivo?
A importância de Tom Jobim é gigante pra mim. A musicalidade gigante e ao mesmo tempo tão fácil de ouvir me encanta, e o piano quase sempre presente me traz uma identificação nesse ponto. Eu já sonhei diversas vezes com ele, inclusive. Tom Jobim é sinônimo de natureza, de Brasil. Então, pra mim, trazer um pouco da característica de Tom Jobim nas minhas canções é também manter a música brasileira e a cultura brasileira, que são tão ricas, com suas chamas sempre acesas.
O violinista Natan Marques, que acompanhou por muitos anos Elis Regina, participou de Tons Vizinhos. Como esse convite surgiu e como foi trabalhar com ele?
Quando mostrei as músicas para o Wilson Levy, produtor musical do EP, ele imediatamente foi imaginando quais instrumentos e quais instrumentistas participariam de cada faixa. E quando ele disse que convidaria o Natan Marques para gravar o violão no samba fiquei feliz da vida, e ainda mais quando recebemos a resposta positiva dele. E trabalhar com alguém como o Natan é uma maravilha. Tem uma musicalidade absurda, além de ser uma pessoa também extraordinária e generosa. Contribuiu com várias ideias de produção, harmonias e até com vozes, além do violão claro. Foi uma grande honra poder contar e aprender com ele nesse projeto. E não só ele, mas também com outros grandes e experientes músicos como Márcio Werneck, Edu Nali, Vinicius Marques e o próprio Wilson Levy também. Poder contar com eles fez toda a diferença na qualidade do EP.
O EP aborda diversos sentimentos que estão presentes no dia a dia. Como foi trazê-los para suas músicas?
O dia a dia, a rotina são fundamentais pra mim. Sinto que só assim consigo perceber a beleza da vida, das coisas ao redor. Então quando vem algum sentimento novo que talvez possa "destoar" por assim dizer da rotina, logo vira poesia na minha cabeça, e daí vai pro piano e vira música. Um exemplo é "Pra Quando Você Chegar", onde a impaciência ao esperar minha esposa voltar do trabalho gerou a canção. Acho que a beleza está nas coisas mais simples da vida.
O amor está presente intensamente nas canções, de diversas maneiras - seja positiva ou uma desilusão. É mais fácil escrever sobre este sentimento do que os demais?
Não sei se é mais fácil escrever sobre o amor, mas acho que a força que ele tem acaba empurrado pra questão da composição. Acho que a êxtase de estar com o coração cheio ou então o vazio de uma desilusão, ambos precisam de um lugar para repousar sua energia, e no meu caso, acabo compondo. Uma vez minha eterna professora, Silvia Góes, me disse durante uma aula que canções de amor nunca ficam fora de moda. Nunca me esqueci disso. E até hoje concordo!
O que você espera despertar nos ouvintes?
Vontade de ouvir mais! Esse meu primeiro EP tem a importância de ser uma apresentação minha para o mundo. Quero que os ouvintes sejam apresentados ao tipo de música que eu faço, aos temas que escolho e a maneira que o piano, as vozes e os outros instrumentos se combinam para mim. Então nesse momento meu objetivo é esse, de me apresentar. E quem sabe talvez despertar em quem ouve a vontade de continuar ouvindo e acompanhando meu trabalho!
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