Twilight Override
- Michele Costa

- há 24 horas
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Poucos álbuns extensos, com mais de vinte canções, se destacam pela excelência. The White Album (1968), dos Beatles, e Emancipation (1996), de Prince, são exceções que confirmam a regra: transformar excesso em relevância exige ambição, fôlego criativo e rigor artístico. Mais de cinquenta anos após o primeiro desses lançamentos, há um novo título a ser adicionado à lista: Twilight Override (dBpm, 2025), de Jeff Tweedy.
Não é novidade que Jeff Tweedy seja um compositor inquieto - tanto em sua carreira solo quanto à frente de suas bandas. Em Twilight Override, porém, essa inquietação se transforma em método. Ao longo de 1h51 de duração, o ouvinte é atravessado por canções que tensionam o cotidiano contemporâneo. Há músicas que abordam a solidão digital, outras que observam a ansiedade generalizada, além de reflexões interessantes e humor refinado (presente em "Lou Reed Was My Babysitter"). Tweedy se vale de fragmentos, personagens e diálogos internos para compor um mosaico que convida à observação do presente sem filtros.
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Apesar de retratar a realidade de forma direta, o disco está longe de ser panfletário. Pelo contrário: o compositor expõe contradições humanas com delicadeza, humor seco e, em muitos momentos, desconforto. Tweedy prefere a pergunta à resposta, o detalhe à palavra de ordem - e é justamente aí que o álbum ganha densidade.

Sem uma estrutura organizacional rígida, cada um dos três discos segue direções distintas. Assim, é possível encontrar de tudo - característica recorrente nos trabalhos de Tweedy. Portanto, Twilight Override se assemelha a um caderno de anotações aberto, no qual sinceridade, complexidade e humor caminham lado a lado.
Ao se lançar em um projeto com 30 músicas, Jeff Tweedy reafirma algo raro na música contemporânea: a recusa em simplificar a experiência humana. Assim como os grandes discos extensos que entraram para a história, Twilight Override não busca agradar pela economia, mas pela profundidade.




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