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  • Foto do escritorMichele Costa

Numezu: o terror de Jorge Alexandre Moreira que conquistou o público

"Uma história que envolve, contada por uma voz autêntica", comenta Oscar Nestarez, pesquisador e escritor, sobre "Numezu", o último lançamento de Jorge Alexandre Moreira. As críticas ao livro de terror, vencedor do Prêmio ABERST 2020 e um dos 10 finalistas do Jabuti na categoria "Romance e Entretenimento" (único terror da lista!) não param e conquistam até aqueles que não gostam de terror.


Nos últimos anos, o suspense e terror ganharam espaço na literatura e na televisão. Por aqui, autores brasileiros foram (re)descobertos e estão sendo premiados - como é o caso de Jorge. Segundo ele, tanto o prêmio da ABERST quanto constar na lista de finalistas do Jabuti, ajuda a abrir portas para um gênero que ainda é considerado, de certa forma, marginalizado. "A voz da literatura de terror está sendo ouvida e nós temos muito a dizer", explica.


Jorge aprendeu a ler muito cedo com a ajuda de sua mãe. A partir daí, desenvolveu amor pelas palavras, tornando-se um leitor voraz. Em 2003, lançou seu primeiro livro, "Escuridão", de forma independente, que foi considerado por diversos sites como um dos melhores livros do gênero já publicados no Brasil. Mais tarde, lançou "Parada Rápida" e "Altitude de Cruzeiro".


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Como a literatura surgiu em sua vida? Inclusive, como e quando você começou a escrever literatura?

Aprendi a ler muito cedo, com minha mãe, em casa. Tínhamos uma situação econômica bastante complicada, mas ela fazia o possível para comprar os livros que eu pedia. Além disso, eu frequentava várias bibliotecas. Então, lia muito, uma coisa absurda. Então, como leitor, desde que me lembro, a literatura estava lá. E eu rabiscava algumas coisas, tentei histórias em quadrinhos, pois gostava de desenhar. Até que aos 12 anos comecei a escrever contos de terror. Nunca mais parei.


Suas inspirações vão do terror de Stephen King ao realismo social de Jorge Amado. Como esses autores impactaram sua formação de leitor e escritor?

King, Amado (e dois outros de que sou fã, que você não mencionou, Clive Barker e Rubem Fonseca) têm uma característica que considero fascinante: são profundos conhecedores da alma humana. Todos escrevem sobre horrores essencialmente humanos, mesmo quando, no caso de King e Barker, há uma componente sobrenatural.


O que te levou a escrever terror?

Escrever terror, assim como ler terror, não foi fruto de uma escolha consciente. Eu fui atraído para o terror, creio, porque era lá que estavam as emoções mais fortes, os mistérios mais profundos, os segredos mais perversos.


Você já escreveu diversos livros. Como encontra inspiração para um novo enredo, que prenda o leitor do início ao fim? Aliás, você tem algum processo de criação?

Meu processo de criação é caótico e intuitivo. Na verdade, um dos meus objetivos para 2021 é colocar um pouco mais de método no meu caos criativo.


Seu primeiro livro, "Escuridão", foi lançado em 2003, época em que o terror nacional era desconhecido. De lá para cá, muita coisa mudou e hoje, o gênero literário é reconhecido e já tem público. Quais foram as mudanças que o gênero literário passou?

Logo após esse período de desconhecimento, a que você se referiu, acredito que tenhamos tido um momento em que algumas pessoas se deram conta de que havia brasileiros escrevendo terror e que era possível escrever terror no Brasil. Então, tivemos um segundo momento em que uma quantidade absurda de escritores, nem todos produzindo material de boa qualidade, inundaram o mercado. Esse período coincidiu com a facilidade de publicar de forma independente. Acho que esse período está acabando e que temos alguns nomes se destacando para formar uma literatura de terror forte no Brasil.


"Numezu" traz a história de um casal em crise, isolado num barco, que encontra uma antiga estatueta que manipula as fragilidades humanas para conseguir a liberdade. Fantasmas do passado ressurgem, desejos íntimos e disputas de poder invadem a vida do casal. Até que ponto o ser humano suporta o terror?



Seu último livro, "Numezu", traz um casal em crise que aposta em uma viagem para resgatar o amor, mas uma força sobrenatural surge, alterando o plano de Laura e Raoul. Como você chegou a esse enredo psicológico? Como foi o processo de escrita da obra?

"Numezu" começou como várias de minhas histórias: olho para algo ou alguém e me vem uma pergunta. "E se?". No caso, eu estava olhando o mar do alto de um penhasco e vi um veleiro, distante, em meio ao azul. Era uma cena belíssima, mas a pergunta que me veio foi se não poderia lá haver alguém em apuros, lá, naquele momento, naquele lugar maravilhoso. O processo de escrita pediu a maior quantidade de pesquisa que já fiz para um livro em minha vida. Eu não sabia nada sobre barcos, então tive que pesquisar muito. Foi um livro bom de escrever, apesar disso. E coloquei muita alma nele.


"Numezu" foi um grande sucesso, ganhando o prêmio ABERST 2020 e finalista do prêmio Jabuti, na área de Romance e Entretenimento, único terror da lista. Como foi ter essas conquistas? Além de já ter um público, acredita que com o prêmio e a indicação, o terror deva crescer no futuro?

Tenho certeza disso. Temos alguns nomes fortes ganhando a atenção do público, como Marcio Benjamim, Cesar Bravo, Oscar Nestarez. Acho que teremos muita coisa boa no futuro.


“É a primeira vez que um livro de terror é finalista do Jabuti. Isso reflete uma valorização da literatura de entretenimento, inclusive, com a criação dessa categoria no prêmio. É maravilhoso estar entre os finalistas e ver a literatura de entretenimento, particularmente, a de terror, que sempre foi tão marginalizada e que, ao mesmo tempo, é apreciada por tanta gente no Brasil e no mundo, começando a ter seu justo lugar reconhecido”

Falando sobre futuro, como você vê o futuro do mercado literário do Brasil? Acredita que pode melhorar?

Pode melhorar muito. O brasileiro precisa voltar a ler ficção. O brasileiro que lê, hoje em dia, lê majoritariamente livros técnicos, autoajuda e biografias. A ficção pode ser maravilhosa. Ela é um entretenimento que transmuta o espírito. Além disso, o leitor brasileiro precisa dar valor ao trabalho do escritor e parar de ler livros piratas em pdf. Além de haver e-books baratíssimos, muita gente lê livros piratas não por não ter condições, mas porque prefere gastar seu dinheiro com outras coisas. Essa mentalidade tem que acabar ou, pelo menos, diminuir.


Quais os livros que você indica para iniciar leitura no terror?

Algumas sugestões, dependendo do estilo do leitor, seriam O Iluminado e Salem’s Lot, de Stephen King. Hellraiser, de Clive Barker. E embora seja conhecido de muita gente, mesmo que apenas por filme, O Exorcista, de William Peter Blatty.


Para finalizar, quais são os seus planos para esse ano?

Escrever mais e de forma sadia. No ano passado, cuidei muito de minhas redes sociais e de divulgação. É algo inevitável em nossos dias, mas, no meu caso, consome uma quantidade absurda de tempo e de energia mental. Quero dedicar-me a produzir, pois há uma fila interminável de projetos na minha cabeça.


Para conhecer o autor e seus livros, acesse seu site oficial: https://www.jorgealexandremoreira.com.br/

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