De Las Nieves: um filme sonoro de Antonio Neves
- Michele Costa
- 16 de mai.
- 14 min de leitura
Atualizado: 16 de mai.
Um homem latino-americano, parecido com Walt Whitman, órfão e de nacionalidade desconhecida, carregando um violão no ombro, estampa o novo álbum de Antonio Neves. De La Nieves narra a história deste personagem - encarnado pelo próprio músico - que foi criado em Sant’Ana do Livramento, fronteira entre o Brasil e Uruguai. Em 11 faixas, conhecemos a trajetória deste senhor que teve o seu primeiro contato com a música em um convento.
Diferente de seus álbuns anteriores - Pa 7 (2017), A Pegada Agora É Essa (2021) e Deixa Com a Gente (2024), presente na lista dos melhores álbuns de 2024 -, De Las Nieves é uma biografia cinematográfica, onde os elementos sonoros se unem com a cultura latino-americana. O disco surgiu no violão, instrumento que Neves conhece, mas segue timidamente dedilhando-o. A produção é de Antonio e Paulo Emmery.
"O lance com o violão veio do meu pai (o renomado maestro e instrumentista Eduardo Neves), que me incentivou a tocar o instrumento despretensiosamente desde garoto. Então tem músicas antigas no disco, coisa de memória mesmo. Tem também composições inéditas, tem faixas que contam com participações de artistas muito interessantes, como Dora Morelenbaum, Davi Moraes, Bebe Kramer, Jayme Vignoli, Joana Queiroz, Rui Alvim, Domenico Lancellotti e Frederico Heliodoro. É um disco que veio da vontade de realizar algo que eu não faria sozinho, por isso criei um personagem como um álibi para que pudesse realizar o desejo de lançar essas músicas. De certa forma, desconstrói a minha história pessoal e a transforma em ficção: como a arte faz com a vida mesmo", revela.
Não existem outras informações sobre De Las Nieves, por isso, utilizamos os recursos para imaginá-lo além da história, torcendo para tenha encontrado amores e felicidades no seu percurso.
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O que te levou a fazer De Las Nieves? É tudo muito diferente do que você já fez, né?
Sim. Por mais que muita gente me fale: "ah, você tem que fazer uma coisa na pegada do A Pegada Agora É Essa", eu gosto justamente de fazer coisas bem diferentes umas das outras. E tem uma referência boa que eu tava ouvindo outro dia até, que é o Luiz Caldas, sabe? Se você vê a discografia dele, é inacreditável: ele tem um disco de rock'n'roll, que ele fala palavrão, um disco de chorinho, tem um disco de bossa nova, tem um disco de lambada, tem um disco de axé. Então, assim, eu acho que isso é o grande, uma coisa legal de você se colocar em um universo que você nunca se colocou antes de alguma forma e ver o que que sai disso. Mas também vou confessar que tem muita música antiga nesse disco, pô, [composições] com 17 ou 18 anos. Me veio na cabeça: "cara, se eu não gravar essas músicas, ninguém vai gravar essas músicas que eu tenho", sabe? Tipo, quem vai gravar uma música instrumental? A maioria do disco é instrumental, né, quem vai gravar uma música instrumental minha, assim, do nada? Quem vai me perguntar por isso: será que você tem alguma música antiga que você nunca gravou? [gesticula os braços e aponta para câmera] Aí eu peguei e gravei - foi um dos motivos, também. A pandemia tinha acabado de acabar... Aí eu entrei no método de fazer uma coisa nova e resgatar essas músicas antigas e botar umas outras novas também - o disco não é só de música antiga, mas tem música bastante antiga, música de quando eu tinha 17 anos mesmo, sacou?
Eu criei uma história do De La Nieves na minha cabeça, que é um sujeito que foi deixado em um convento, ele não tem pai e nem mãe. É um cara meio que... Como ele mora numa cidade de fronteira, ninguém sabe em qual lado da rua ele nasceu, que é Uruguai ou Brasil. E é uma coisa que, se você conversar com qualquer pessoa de outro país, não que eu tenha visitado tantos países da América Latina, mas, tipo, eles sempre sentem que o Brasil é meio deslocado; não só pela língua ser diferente, mas ele não se coloca como latino-americano e vice-versa. Eles veem isso da gente e a gente também não se comunica tanto com coisas que vêm da Colômbia, por exemplo. Eu não conheço nenhum artista da Guiana, por exemplo, da Venezuela, nenhuma coisa antiga e nem atual. Simplesmente não vem pra cá, só se você pesquisar muito. Aí foi também uma vontade de tentar unir um pouco mais da mesma perspectiva com a cultura da América do Sul. E criei essa história na minha cabeça, que eu gostaria que a minha ideia inicial era fazer um clipe, quer dizer, um filme de meia hora, de 34 minutos, que é a duração do disco - eu ainda acho que isso vai vir mais pra frente, quando tiver recurso, porque cinema é uma brincadeira um pouco mais cara - narrando os acontecimentos da vida dele.

De alguma maneira esse personagem tem alguma característica sua? Ele é um alter ego?
É, com certeza. Na verdade, eu tenho mais um alter ego além desse também, que é o Snow Tony - que é um próximo trabalho que eu já estou até em fase, já dei início -, um gringo, na verdade. Mas aí já é outra coisa. Eu gosto de brincar com essa coisa, de encenar - incorporar não é a palavra - [olha para o lado e pensa] de ficar mais fácil de você entrar nesse universo não se chamando o Antonio Neves [que está] fazendo um disco de salsa, entendeu? Acho que fica meio estranho pra mim. Mas, com certeza, é um lance meio alter ego. Inclusive, no caso do Snow Tony, eu já faço shows aqui em uns buracos aqui no Rio de Janeiro, uma cena mais underground, com esse nome que é uma coisa mais rock'n'roll. E o De Las Nieves é o cara mais velho, já coroa, que tem tudo a ver com essas músicas antigas. Acabou que esses motivos todos foram se unindo, cada um na sua hora e aí foi isso. Eu resolvi lançar também sem single, porque eu acredito que pra mim não faria sentido lançar uma música nem a primeira, que é uma introdução, nem uma música do meio, que a pessoa não passou pela música que chega nela, entendeu? Aí eu resolvi fazer dessa forma. Mas, com certeza, tem um pouco a ver comigo. Eu não sou órfão, eu sou carioca, mas… Pra me desligar um pouco da minha vida, porque senão acaba que... Sei lá, eu lancei meus primeiros trabalhos e era tudo uma coisa do jazz, do não sei o quê, e eu queria um pouco sair dessas instâncias. Você acaba sendo colocado. Isso acontece com todo artista, mas eu queria dar um jeito de fugir um pouco disso.
Esses alter egos te ajudam a encontrar liberdade pra fazer o que você quiser para fugir dessa caixa que te colocaram?
Sim, com certeza. Você tira a responsabilidade do Antonio Neves, que é o arranjador, que faz arranjo de corda, que faz arranjo de sopros, que tem um disco de samba, que tem um disco de jazz, mas você consegue... Pra mim é uma coisa pessoal, né? Fica mais fácil de entrar num outro... Isso do meu ponto de vista mesmo. Fica mais fácil de entrar num outro personagem mesmo, musical, um outro universo, sabe? Uma coisa que talvez o Antonio Neves não faria, entende?
É mais fácil fazer músicas com o seu nome ou com os alter egos?
[silêncio] Para o meu próximo trabalho de Snow Tony é mais fácil, mas o De Las Nieves, como essas músicas são velhas e quando eu fiz a última música não tinha essa história do Nieves ainda na cabeça, então, era tudo Antonio Neves mesmo. Eu não sei mais quantos alter egos eu vou ficar inventando na vida, mas acho que ajuda a sair da caixinha e olhar, de alguma forma, as coisas com outras perspectivas que não é a sua - apesar de ser você. É difícil, mas acaba ao mesmo tempo que tudo sou eu… Não sei, cara, depende do quanto você beber [risos], mas eu acho que é legal. Não acho que seja mais fácil ou mais difícil por essa questão de ter música nova e música velha, música que eu pensei em fazer para De Las Nieves… Mas a maioria das músicas saíram de deitar e tocar o violão.
"Eu fiz A Pegada Agora É Essa e Pa 7, instrumentais, mas eu tenho uma coisa [comigo]: fazer uma coisa imagética para o ouvinte se conectar mais, porque as pessoas não se abrem muito para ouvir música instrumental hoje em dia. É muito difícil uma pessoa jovem ouvir e isso é uma forma de tentar colocar alguma coisa que vai te prender de outra forma, não só pela música em si."

Eu senti que esse disco, assim como os outros, principalmente o A Pegada Agora É Essa, ele traz algumas paisagens e atmosferas muito presentes, né? Eu queria saber como você cria todo esse rolê e se nesse último disco teve a mesma criação ou a mesma inspiração dos outros que você lançou também.
Não, esse disco eu quis fazer se você... O disco é praticamente um plano sequência, ele tem um corte ou outro no disco inteiro. Eu quis fazer exatamente isso: uma coisa emendada, que tivesse sentido do início ao fim. Você pode não saber da história ainda, sei lá, da vida do cara, mas pra mim existe uma história. O A Pegada Agora É Essa eu uso alguns sons de algumas coisas, tipo um cara acendendo um cigarro com um isqueiro, são coisas bem pontuais, pequenas - esse aí não! Praticamente entre uma música e outra você ouve o barulho do caminhão, o som de praia, de fogueira mais presentes do que os outros. Eu sempre gostei de brincar com essa coisa… Pra mim sempre teve ligada a música com essa imagem. Até mesmo o meu primeiro disco, Pa 7 - ele ficou um tempão fora das redes, mas ele voltou -, não tem essa jogada com barulhos incidentais, mas, de alguma forma, tem essa coisa de imaginar, de ter uma imagem das coisas. Até o último, o de samba, eu faço as coisas pensando, de alguma forma, numa imagem. Mas esse, com certeza, veio muito mais, essa ideia - isso é a trilha para um filme.
É um disco que tem músicas do passado e também do presente. Como foi misturar dois diferentes tempos em uma narrativa?
Cara, foi assim... Eu não acredito muito nisso, mas foi tipo sorte, sabe? De alguma forma. A última música é a mais velha. A música de quando ele já tá sumindo, pegando o caminhãozinho dele e dando uma assumida. [breve silêncio] Foi uma questão que as coisas foram fazendo sentido meio que do nada, sabe? Não foi muito pensado. Inclusive, a ordem do disco, eu não fiz sozinho, quem me ajudou foi o Eduardo Santana que cantou "Donde Está Mi Jefe" comigo. Na verdade, ele fez isso com todos os meus discos, ele me ajudou a fazer a ordem. E eu ouvindo a ordem, a história que eu já tinha na cabeça, ela vai... Ah, então agora essa música é parte disso! É uma coisa que foi indo durante o processo. Não foi tão arquitetado isso da mistura das músicas novas com as antigas. Eu acho que elas se... Muitas vezes as músicas têm algo em comum. Três músicas ali tem uma coisa meio chorinho, mas duas ali tem uma coisa mais assim, e acabou que a gente arrumou essa forma de organizar isso com uma narrativa. Eu já tinha uma ideia de que a primeira ia ser a primeira e a última ia ser a última. É sempre assim, na verdade: eu sei quais são as duas primeiras e as duas últimas. E a meiuca ali, o Eduardo, ele me ajuda. Durante a gravação de todos os meus discos, muitas ideias vão vindo durante o processo e até de discos que eu já produzi de outras pessoas.
Como foi ouvir a sua primeira música quando você tinha 17 anos e a sua mais recente? Passa um filme na cabeça sobre "o que eu fui antes e o que sou agora"?
Passa pra caramba porque você lembra dessa época que você compôs aquilo com 17 anos. Eu tava no Colégio Pedro II, eu tinha uma namorada, eu andava com aquela galera x e com a galera y que nunca mais vi… Obviamente que eu já virei outra pessoa e quando você joga [a música] no mundo, vira uma coisa imortal. Essa última música, "Sol Mayor", um amigo meu me mandou mensagem [falando]: "caraca bicho, eu ouvi aquela música e lembrei da gente tocando na Lapa em 2009", entendeu? A música é isso: você ouve uma parada que você nem lembrava, você ouve e ela te leva para aquele lugar que você ouviu; você sente aquele cheiro da casa que você ouvia, lembra da tua avó e do teu avô, de um namorado ou namorada, de um amigo - e isso que é o legal da música, essa coisa que mexe com o tempo. Você não vê nada, você não toca em nada, mas aquilo, de olhos fechados, você sinestesia.
Esse disco te ajuda, de alguma maneira, a ver o futuro, quando você envelhecer?
Cara, me leva para essa reflexão, mas sou uma pessoa que vai muito na onda do momento, do deixa a vida me levar. Eu nunca imaginei que fosse tocar trombone, eu nunca pensei que fosse escrever arranjo, eu nunca pensei que eu ia tocar com a Marisa Monte e conhecer os Estados Unidos e 20 cidades dos Estados Unidos, nunca imaginei que isso fosse acontecer comigo, entendeu? Aconteceu só porque eu me permiti fazer as coisas. É uma coisa muito de momento, não fico planejando muito não. [silêncio] Esses dias eu tava até pensando… Não desistir da música, mas pensar "caraca, vai ser isso pra sempre?" Eu fui fazer uma gig, levando bateria, coisa pra caramba, dei aquela olhada pra cima e pensei: "porra, vai ser assim?", sabe? Vem essas reflexões, mas tenho coisa pra caramba pra fazer!
Você acha que o pessoal que tava acostumado com você no Deixa Com a Gente vai estranhar bastante De Las Nieves?
Olha, a galera já estranhou quando eu lancei Deixa Com a Gente porque eu tava cantando samba e, tipo, acho que [agora] vai ser só mais um "ele é maluco mesmo".
Jura?
É, não foi uma parada que a galera não entendeu nada. Era muito instrumental, aí quando eu fiz um disco de samba, cantando, foi uma surpresa. Acho que a galera que curte o meu trabalho, já aprendeu que é melhor não esperar nada - é esperar o inesperado. E vou surpreender mais ainda! [risos] Os próximos vão ser muito mais bizarros. [risos]
"Estudio Nadie" me lembrou muito a atmosfera de "Noite Tropical", de A Pegada Agora É Essa, porque possui um lamento, assim como "Dolores" e "Réquiem del Pescador". Como é trabalhar sonoramente essa questão da melancolia no passado, em 2021, e no presente, em 2025?
Engraçado, porque quando eu lancei o primeiro disco, todas as matérias que saíram dele tinham: mistura de melancolia, melancolia com não sei o que… Eu gosto de tocar música em tom menor, sabe? Eu gosto dessa coisa meio melancólica, meio triste, uma coisa mais solitária… Até a última música [“Sol Mayor”], apesar de ser em tom maior, ela tem uma coisa de, sei lá, eu tenho uma afinidade com isso. Eu faço músicas em tom maior com essa melodia que te traz uma espécie de melancolia de um dia não como esse [faz sol e calor no Rio de Janeiro], mas nublado e chuvoso - gosto muito de dias chuvosos, apesar de ser do Rio de Janeiro. Pra mim é muito natural, se eu sentar agora no piano ou pegar o violão vai sair naturalmente assim e eu não acho que é uma coisa porque estou mal [dá ênfase na palavra] ou estou triste, entendeu? Não tem nada a ver com isso, eu consigo ver uma beleza nisso, na verdade, me deixa feliz tocar esse tipo de música. É uma coisa natural que eu faço, como te falei, desde o meu primeiro disco. Inclusive, A Pegada Agora É Essa foi uma forma de fazer uma coisa mais aaa [gesticula a mão esquerda para cima], mas tem a sua melancolia e na hora de fazer o samba foi o meu filme de comédia, vamos dizer assim; uma parada pra divertir e não ter o sentimento do instrumental cabeça melancólico, entendeu? Esse disco não, a história do De Las Nieves é triste pra caralho. Não sei se respondi sua pergunta, mas essa coisa da música melancólica é uma coisa natural, eu boto um disco pra ouvir… [sai e volta com o vinil do Lee Morgan, Search For The New Land (1964)] Esse disco aqui é um disco que tem várias músicas - seis músicas - que são mais suingadas, mas a primeira te leva para uma melancolia, vamos dizer assim, e eu realmente gosto disso! Tem um disco aqui que eu tenho também que é uma trilha de um filme francês [Des Femmes Disparaissent (Édouard Molinaro, 1959)] que foi feito pelo Art Blakey, um cara do jazz, que é super sombria, é uma parada que eu realmente curto ouvir.
É por isso que o pessoal estranha?
Acho que sim, porque ao mesmo tempo eu sou uma pessoa que… Eu tomo um trago aqui contigo e talvez não pareça, pela primeira impressão, que eu goste de ouvir esse tipo de música. Esse negócio de fazer um disco diferente do outro também deixa a galera meio sem entender, mas pra mim tá tudo meio ligado, eu não acho um disco tão diferente do outro, claro, fica claro [pra mim] porque sou eu que tô fazendo, essas coisas estão dentro da minha cabeça. Eu tenho uma afinidade desde pequeno, porque eu ouvia aquela música lamento, é uma coisa que eu vejo uma beleza, uma felicidade na parada. Aí a música acaba e [com a mão, faz o gesto de dando play] você coloca de novo [risos].
"E panela, cara, nada mais é do que a tua rapaziada, a tua galera. Você vai chamar quem pra trabalhar? Acho que panela é uma coisa assim... Quando eu era mais novo, a panelinha do fulano é foda, ninguém toca ali, é só aquela galera. Mas, no final das contas, cada um tem a sua, galera. Isso é uma coisa inevitável, eu acho. E aí foi isso."
Você acha que quando o ouvinte tá ouvindo De Las Nieves, ele consegue entrar nessa narrativa e participar dessa história?
Eu acho que consegue. A capa tem aquela figura do velho, a primeira música tem um bebê nascendo, então, fica nítido - pelo menos pra mim - que uma história está sendo contada. Acho que dá pra ambientar o ouvinte; ele pode criar a história na cabeça dele com uns ganchos que são bons. "Réquiem del Pescador", por exemplo, eu consigo perceber que tá de noite… Claro que cada pessoa vai interpretar ou criar uma própria história… [breve silêncio] Pra mim, a história tá tão na minha cabeça, mas acho que qualquer pessoa que ouve se liga que existe algo a mais do que um tema, um chorinho sendo tocado ou uma salsa ali - o lance da salsa, que é uma pseudo-salsa, começa num bar, a mulher falando… Acho que dá para o ouvinte, sem saber da história, perceber que não se trata apenas de músicas.
Agora que De Las Nieves está no ar, onde você acha que ele está neste momento que estamos nos falando?
Ah! Na história ele gravou o disco e nunca mais foi visto. Eu não tenho certeza se ele voltou para Sant'Ana do Livramento ou se ele pegou sentido Colômbia, que é onde ele passou um certo tempo, em Bogotá… Realmente não sei. Não sei mesmo porque a história termina assim. Ele grava o disco no Rio de Janeiro porque ele conheceu o Paulo [Emmery, produtor do disco] e ele pega carona em um caminhão e vai embora.
Ele não fica pra ver o resultado?
Não, ele não fica pra ver.
Pra mim, Nieves é uma mistura do meu avô, com João Donato e Belchior, além de uma pitada de charlatanismo. Imagino-o no interior de Minas Gerais, talvez em Lavras, olhando para o celular e vendo que suas músicas estão por aí - no final, ele conseguiu. Já Antonio Neves tem uma visão diferente: "Eu acho que de repente, um dia, ele vai ouvir, em uma radiozinha, numa beira de estrada a música dele de fundo para venda de negócios de construção, entendeu? Ele vai ficar puto porque não chegou nenhuma carta, nenhum dinheiro e nem porra nenhuma."
As duas hipóteses são boas, no entanto, consigo visualizá-lo tirando o chapéu e repetindo as palavras de Neves "já deu a minha hora vou me embora e digo que eu não posso mais ficar" e saindo de fininho, sem despedidas. Independentemente de onde estiver, De Las Nieves marcou o seu espaço no mundo.
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