top of page

A História do Caminhar

  • Foto do escritor: Michele Costa
    Michele Costa
  • 13 de fev.
  • 3 min de leitura

Quando a caminhada começou a existir? Foi através do bipedalismo? Quando essa prática se tornou popular em diferentes épocas? Em A História do Caminhar (Martins Fontes, 2016), a jornalista e ativista Rebecca Solnit busca responder essa e demais perguntas em um livro que mistura pesquisa, ciência, atividades e vivências. 


Logo no início do livro Rebecca relembra o leitor que "a história do caminhar é secreta e jamais foi escrita", ou seja, por conta dos poucos registros, a jornalista não conseguirá fazer uma cronologia exata da atividade. No entanto, isso não é problema, pois a escritora encontra maneiras para relatar sobre peregrinações, marchas históricas, filosofia, modernização e a influência do exercício na arte com pintores, escritores e poetas. 


O ponto principal do livro é mostrar que o ato de caminhar muda a relação entre o corpo e mente, além de transformar as cidades que estão sendo projetadas para os carros. Como escreve: "(..) Ou seja, o objeto do caminhar é, em certo sentido, a maneira como investimos atos universais de significados particulares. Da mesma maneira que o comer ou o respirar, o caminhar pode ser investido de significados culturais absurdamente diferentes, do erótico ao espiritual, do revolucionário ao artístico." 


"(...) A cidade é um idioma, um repositório de possibilidades, e caminhar é o ato de falar esse idioma, de selecionar dentre essas possibilidades. (...)"

Leia também: 


a história do caminhar

O primeiro ponto levantado por Solnit é o significado de caminhar. Para ela, a caminhada vai além dos passos, é o momento em que o indivíduo conhece, identifica e se enxerga naquele ambiente, refletindo sobre os efeitos da industrialização e da tecnologia. Dessa maneira, caminhada não é um tempo desperdiçado, esse processo nos faz repensar sobre a vida. 


Tendo Jean-Jacques Rousseau e Henry David Thoreau como parâmetro para debater o tema, a escritora reforça que a caminhada estabelece um equilíbrio delicado entre o trabalho e o ócio, o ser e o fazer - indo contra as ideias do capitalismo tardio. 



"(...) Ou seja, caminhar é natural, ou melhor, é parte da história natural, mas optar por caminhar pela paisagem como uma experiência contemplativa, espiritual ou estética tem uma origem cultural específica. É essa a história que já havia se tornado natural para Thoreau e foi levando os andarilhos cada vez mais longe de casa, pois a volubilidade histórica do caminhar é inseparável da volubilidade do gosto nos lugares onde se caminha."

Dividido em quatro partes, A História do Caminhar aborda as mudanças no mundo, a passagem do jardim para o asfalto, os principais escritores e seus ideais, o impacto da revolução industrial nas cidades e como o capitalismo destruiu a ideia dessa prática milenar. Pensemos em São Paulo: as mortes de pedestres por atropelamento cresceram 18% em 2024. As mudanças são feitas visando a modernidade, não para os indivíduos. Por isso, Rebecca Solnit convoca a população para ocupar a rua, como fez Martin Luther King e Gandhi e tantos outros. 


Outro ponto interessante do livro é o momento que a autora escreve sobre os perigos da rua para as mulheres. Por um bom tempo, governantes estipularam um horário para elas, caso fossem pegas iam para a prisão, pois eram julgadas como prostitutas. Houve mudanças de lá pra cá, mas as ruas seguem perigosas para quem deseja existir. 


"Todas as cidades da revolução são cidades à moda antiga: as pedras e o cimento estão encharcados de significados, histórias, lembranças que fazem da cidade um palco no qual cada ato ecoa o passado e cria o futuro, e o poder ainda é visível no centro das coisas. São cidades pedestres onde os habitantes confiam em seus movimentos, estão familiarizados com a geografia crucial. Paris é todas essas coisas e foi palco de revoluções e insurreições importantes em 1789, 1830, 1848, 1871 e 1968, e, nos últimos tempos, de uma miríade de protestos e greves."

Comments


©2020 por desalinho.

bottom of page