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A Verdadeira Dor

  • Foto do escritor: Michele Costa
    Michele Costa
  • 1 de abr.
  • 3 min de leitura

Nossas dores são legitimadas nos dias atuais? Somos verdadeiros com nossos sentimentos? Essas questões ecoam ao final de A Verdadeira Dor (2024), escrito, dirigido e protagonizado por Jesse Eisenberg. Com doses de humor, o filme mergulha na complexidade dos laços familiares através do luto, tendo a Polônia como antagonista dessa história. 


A trama acompanha David (Jesse Eisenberg) e Benji (Kieran Culkin), dois primos opostos, em uma jornada emocional para homenagear sua falecida avó. David é tímido, prolixo e socialmente desconfortável, enquanto Benji é expansivo, irreverente e carismático. Suas personalidades entram em conflito ao longo do filme, mas, paradoxalmente, também se complementam. O que deveria ser uma simples viagem se transforma em um verdadeiro retiro de luto, onde os personagens confrontam suas próprias angústias na tentativa de reencontrar um caminho de volta à vida — seja lá o que isso signifique.


A Verdadeira Dor reflete sobre a sociedade contemporânea e sua dificuldade em lidar com o sofrimento. Em um mundo moldado pela modernidade, pelo capitalismo tardio e pela globalização, o diálogo sincero sobre nossas dores parece cada vez mais raro. Preferimos empurrar o incômodo para debaixo do tapete, pois a vulnerabilidade não é bem-vista em um contexto onde fingir estar bem se tornou normal. 


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(Créditos: Reprodução/Divulgação)

O filme começa com Benji no aeroporto, observando as pessoas ao redor, até que David surge ao telefone, relembrando-o da viagem. Esse momento inicial já sugere a distância entre os primos, que cresceram juntos, mas perderam de vista as mudanças um do outro. Para David, Benji sempre será o irresponsável de sempre. No entanto, conforme a história avança, novas camadas surgem. Em uma das cenas, os protagonistas se unem a um grupo de turistas para visitar locais históricos relacionados à trajetória de seus antepassados durante a Segunda Guerra Mundial. Nesse contexto, Benji se emociona ao compartilhar sua história e ouvir as dos demais, revelando seu sofrimento. O roteiro de Eisenberg, contudo, evita didatismos, deixando espaço para que o público interprete a origem das angústias do personagem — que podem estar ligadas à perda da avó, ao distanciamento do primo e à dureza da realidade.


Cada personagem é transformado pelos lugares por onde passa, mas é Benji, com sua maneira irreverente e provocadora, quem rompe as zonas de conforto e altera a dinâmica da viagem. Suas pequenas atitudes fazem com que David tente compreender a dor do primo. O ploft twist de A Verdadeira Dor acontece no restaurante quando David, tomado pela emoção, explode sobre a necessidade de entender o motivo de Benji ter tentado tirar a própria vida. A partir desse momento, o filme evidencia que cada personagem carrega seu próprio luto de maneiras diferentes. No fim, a obra reafirma uma verdade inevitável: não há como fugir da dor — ela sempre nos alcança.


Apesar das atuações repetidas (Kieran e Jesse seguem fazendo o mesmo papel há anos), A Verdadeira Dor tira boas risadas ao mesmo tempo que emociona o telespectador com locações e diálogos bem escritos. Inclusive, a cena dos primos no telhado do hotel, após conhecerem suas raízes, é o ápice do filme. 


Qual o próximo passo após sermos sinceros e colocar os sentimentos para fora? O filme sugere que, mesmo diante do desespero, seguimos adiante com pequenos passos diários. Afinal, sobreviver é um processo contínuo.




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