Não é possível chegar a lugar nenhum sem alguém do lado, apoiando e incentivando. Para dar os primeiros passos, nos apoiamos em outras pessoas, então, quando estamos prontos, conseguimos voar para novas experiências. É através deste ciclo que Paulo Franco apresenta suas canções em Quem Me Trouxe Até Aqui, seu primeiro álbum solo, lançado no ano passado.
A capa do disco traz um pequeno Paulo acompanhado de sua mãe, que está ao seu lado, com os braços estendidos e pronto para pegar o filho se ele cair. A partir da imagem, entendemos o título e as letras que compõem o projeto. "A maioria das canções tendem a refletir sobre a busca por mudança, mas também falam de amor, outras de dor. A faixa que dá nome ao disco é uma homenagem à minha mãe, que já partiu. É ela a moça de sorriso bonito que me acompanha criança na foto da capa do disco. Foi ela que me trouxe até aqui", comenta.
Entre saudade, solidão, amor, sorte e os demais sentimentos que carrega dentro de si, Paulo Franco revela sua intimidade e a necessidade de voar durante a queda - e nós embarcamos juntos, porque também sentimos.
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Quando você sentiu a necessidade de iniciar sua carreira solo?
Na Gato Negro [banda que faz parte], eu me sinto bem confortável. Somos três compositores, a produção de canções é grande e rapidinho a gente junta as melhores para fazer um disco. E eu amo tocar com eles. Mas, de uns cinco anos para cá, comecei a pensar em gravar umas ideias e lançar um trabalho solo. Daí, quando surgiu a lei de incentivo à cultura Aldir Blanc, vi a possibilidade de gravar um álbum. Me inscrevi no edital, fui selecionado e investi boa parte em equipamentos de gravação e instrumentos. Melhorei meu home studio e mergulhei no processo de compor e gravar.
Suas canções carregam sentimentos avassaladores. Como foi compartilhar sua intimidade?
É, as minhas canções, principalmente as desse disco, surgiram num momento mais caótico para todos nós, que foi a pandemia, um período de muita ansiedade e reflexões que, quando não me paralisava, me deixava inspirado. O disco permeia esse universo meu com minha mãe, meus filhos, minha companheira e comigo mesmo e minhas questões.
O título do álbum conversa muito bem com a capa do disco. Pode-se dizer que Quem Me Trouxe Até Aqui é uma celebração para aqueles que estavam e/ou continuam ao seu lado?
Sim, quis fazer do disco um presente para minha mãe, ela é "quem me trouxe até aqui". Disco é um agradecimento, uma homenagem. Escolhemos juntos a foto da capa, compus a música "Naná" em sua homenagem. Ela foi a primeira ouvinte da maioria das músicas desse disco. Infelizmente, ela não pode ver o disco finalizado, mas participou e influenciou muito no processo. Depois que o álbum estava quase finalizado, fiz mais uma música pra ela, a última faixa que dá nome ao disco.
Em "Medrança" você diz que vê a beleza pura. Você continua vendo beleza por onde anda?
Eu tento [risos]. A busca da beleza pura que sugiro é interna, a busca do nosso eu, das descobertas… É quando a vida te convida pra uma nova fase, momento de mudança e crescimento, de mais consciência de si e do todo. "Medrança" é o ato de medrar, que significa fazer crescer, aparecer, evoluir. Gostei da palavra medrança que vi em um livro. Anotei e adorei o significado quando descobri. Viajei nela e fiz a música.
"Quero Voar" aborda as diferentes perspectivas de mundos. Qual a sua perspectiva sobre o presente e o futuro?
Na música, reflito sobre a impermanência das certezas, reconhecendo a própria ignorância. Sabendo que o que sei ainda é pouco, e a busca é a chave, onde está o grande prazer da coisa. Quanto à minha perspectiva sobre o presente e o futuro, é que estamos em um momento de mudanças rápidas e desafios complexos: os avanços tecnológicos, as mudanças climáticas e a desigualdade social. No presente, temos que nos atentar para isso enquanto buscamos soluções sustentáveis e inclusivas. Quanto ao futuro, espero que haja colaboração global pelo bem comum e progresso da mentalidade humana. O que eu acho difícil.
Após cantar sobre quem te trouxe até aqui, quais são os seus planos?
Esse ano, agora em março, estarei indo morar um período na Alemanha. Pretendo me conectar com alguns músicos que circulam na Europa e abrir novos caminhos, quero apresentar meu disco por lá e também tocar muita música brasileira.
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