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Foto do escritorMichele Costa

Literatura: As Meninas de Lygia Telles continuam atuais

Atualizado: 12 de jul. de 2021

Publicado em 1973, em plena ditadura militar civil, “As Meninas” de Lygia Fagundes Telles conta a história de Lorena, Ana Clara e Lia, jovens que vivem em um pensionato de freiras. Com diferentes personalidades, podemos dizer que o livro está entre os mais ousados da literatura brasileira, já que o mesmo discute a tortura - principalmente no governo do ditador Médici - e a homossexualidade, em segundo plano, quase nas entrelinhas.


Lorena Vaz Leme é estudante de direito, romântica e feminina. Lia de Melo Schultz é militante de esquerda que estuda ciências sociais; enquanto Ana Clara Conceição é estudante de psicologia, assombrada pelos abusos sexuais na infância que encontra “paz” nas drogas, ao lado do seu namorado. Além das três protagonistas, o livro conta com um quarto narrador que alinha o discurso das três, unindo pensamentos e momentos, deixando o leitor ciente, afinal, com muitas protagonistas, as vozes se misturam.


“(...) - Não quero ser rude, mãezinha, mas acho completamente absurdo se preocupar com isso. A senhora falou em crueldade mental. Olha aí a crueldade máxima, a mãe fica se preocupando se o filho ou filha é homossexual. Entendo que se aflija com droga e etcétera, mas com o sexo do próximo? Cuide próprio e já faz muito, me desculpe, mas fico uma vara com qualquer intromissão na zona sul do outro, Lorena chama de zona sul. A norte já é tão atingida, tão bombardeada, mas por que as pessoas não se libertam e deixam as outras livres? Um preconceito tão odiento quanto o racial ou religioso. A gente que ama o próximo como ele é e não como gostaríamos que ele fosse.”

Mais de quarenta anos se passaram desde o lançamento. E muita coisa ainda não mudou. Não estamos vivendo mais em uma democracia (acabaram com o restinho dela), por isso, as meninas continuam atuais: elas desejam liberdade, algo que nunca aconteceu ao sexo feminino (ainda mais nos anos de chumbo). Elas só serão livres quando o Estado aceitar (de uma vez por todas) que é a mulher que dá a última palavra.

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