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  • Foto do escritorMateus Lombardi

Impressões: Carnage

Atualizado: 12 de jul. de 2021

Depois de "Ghosteen" (2019), álbum que aborda a morte de seu filho Arthur e do músico Conway Savage, integrante do The Bad Seeds, Nick Cave, juntamente a Warren Ellis, seu parceiro há mais de uma década, continuaram seguindo a linha do existencialismo, em uma pandemia mundial, para criar um novo projeto. Cave, em resposta a uma fã, relata que "Carnage" (2021) foi realizado através de um bloqueio pessoal, durante o isolamento social. Em um dos momentos das sessões de ensaio, Cave pediu para ouvi-los novamente e, então, em uma ideia transcendental, surgiu o álbum.


Segundo um texto escrito pelos músicos e enviado pela gravadora, o álbum surgiu de uma vez: "Foi um processo acelerado de intensa criatividade. As oito músicas surgiram de um modo ou de outro durante os primeiros dois dias e meio e depois foi: 'Vamos fazer um disco!'. Não ocorreu nada muito premeditado a respeito", conta Ellis.


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O álbum conta com 8 canções, abrindo com "Hand of God", com um astral de ópera; as batidas em um estilo new waze acompanham os instrumentos merecidamente e a voz de Cave se destaca como em um conto. "Old Time", canção que vem em seguida, se destaca pela bateria e o piano, entregando uma sonoridade misteriosa, longe do convencional. Já com essas duas canções, conseguimos visualizar um show em um grande teatro, seguido (por que não?) a montagem de "O Fantasma da Ópera" de Gaston Leroux.


A faixa título, "Carnage" é um relato de despedida em tom poético. A canção ganha um toque de melancolia por conta dos belos backvocals. É aqui, com essa música, que percebemos nitidamente o ritmo do álbum.



Logo depois, é a vez de "White Elephant", a obra-prima do álbum. A canção ditada com um pouco mais de velocidade, traz as reflexões dos músicos sobre o cenário político, a força policial, violência e sexo. "Albuquerque", é uma linda canção tocada no piano - podemos imaginar facilmente ela sendo tocada por Nick Cave em um show com a luz pairando em si.


"Lavander Fields" têm um toque especial de órgãos, seguindo o ritmo da solidão e despedida que está na história. Em "Shattered Ground", vemos até que ponto a voz de Nick Cave chega. É um álbum de isolamento, onde diversos sentimentos e o luto estão guardados nos músicos. O disco se encerra com "Balcony Man", um perfeito encerramento que combina voz, melancolia e os instrumentos.


"Carnage" mostra a parceria perfeita entre Cave e Ellis. Juntando a genialidade de dois poetas, a dupla entrega um excelente álbum para ser ouvido durante o caos em que vivemos: uma pandemia mundial, crise sanitária e econômica, a continuidade da força policial que mata sem pedir os documentos e o desgoverno daqueles que deveriam proteger a população do vírus.


Em um primeiro momento, ouça de olhos fechados, no seu quarto e deixe que todos os sentimentos te contamine. Depois, compartilhe com os outros os medos e emoções de Nick Cave e Warren Ellis - afinal, estamos todos no mesmo barco.

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