Há uma frase do jornalista Vlado Herzog que diz muito sobre o passado e o presente: "Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados". A frase foi usada durante a ditadura civil-militar, mas também pode ser usada nos dias de hoje, quando a população está morrendo pela falta de vacinação, fome e desemprego. Está no poder, um presidente genocida que sente prazer em ver pessoas morrendo - seguindo a linha do torturador Carlos Brilhante Ustra.
Desde o início do seu mandato, Jair Bolsonaro cria planos, teorias, colocando medo na população de um possível golpe militar. A ideia ganhou força este ano, durante a pandemia e com a anulação das condenações do ex-presidente do Lula, que estará elegível para 2022. Bolsonaro teme sair do poder para colocar o indivíduo que foi perseguido durante a ditadura. Os dias passam e o medo cresce - de um golpe, das variantes, da morte, da vida.
Hoje, o golpe de 64 está completando mais um ano. Passam-se anos e não tivemos a justiça merecedora, pessoas foram espionadas, presas, torturadas e mortas e os torturadores continuam livres. Morreram livres, sem medo da justiça. Para que o passado não se repita e que (re)lembremos daqueles que lutaram pela redemocratização, o Desalinho separou 10 obras para que a ditadura nunca mais se repita.
Batismo de Sangue (Helvécio Ratton, 2007)
Baseado no livro de Frei Betto, que leva o mesmo nome, o filme narra a história de cinco frades dominicanos que se engajaram na guerrilha contra a ditadura civil-militar. Os cinco homens foram espionados, presos, torturados e, mais tarde, exilados. Atuação maravilhosa de Caio Blat como Frei Tito.
Os Bispos Católicos e a Ditadura Militar Brasileira (Paulo César Gomes, Editora Record, 2013)
Aqueles que eram contra o regime militar e que ajudavam os "subversivos", ganhavam uma pastinha no Serviço Nacional de Informações (SNI). Em uma linha ou em diversas páginas, informações pessoais e inventadas eram escritas sobre indivíduos. O historiador Paulo César Gomes mostra neste livro, como uma rede de espionagem nacional vigiou os bispos católicos que faziam oposição aos desmandos dos governos militares no Brasil.
Brasil: Nunca Mais (Vários autores, Editora Vozes, 1985)
O projeto "Brasil: Nunca Mais" foi criado por Dom Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel, o pastor presbiteriano Jaime Wright e uma equipe. As pesquisas foram realizadas clandestinamente entre 1979 e 1985, gerando uma importante documentação sobre a história brasileira. Relatos de crianças, jovens, militantes e pais procurando seus filhos estão no livro. É difícil ler e não segurar a raiva e lágrimas.
Verdade 12.528 (Paula Sacchetta e Peu Robles, 2013)
O documentário de Paula Sacchetta e Peu Robles traz depoimentos de parentes de mortos e desaparecidos durante os 21 anos de ditadura e explica a importância da Comissão da Verdade para encontrar respostas para diversas perguntas que seguem sem respostas até hoje.
Ministério do Silêncio: A História do Serviço Secreto Brasileiro de Washington Luís a Lula (1927 - 2005) (Lucas Figueiredo, Editora Record, 2005)
Imagine a seguinte cena: documentos sigilosos sobre o Brasil são jogados, em diversas caixas, em uma rua, por uma pessoa que dirige um carro a toda velocidade. Ainda bem que esses documentos chegaram às mãos do jornalista Lucas Figueiredo, que retrata a primeira história do serviço secreto no Brasil, as mudanças que passou durante a ditadura, até os anos 2000, quando Lula torna-se presidente.
Chico Buarque (1978 - Pollygram)
Não demorou muito para que o cantor e compositor se tornar um dos mais barrados e odiados pela censura/ditadura. Desde os anos 60, Chico retratava as dificuldades no país. Com a ditadura, lançou duas canções que marcaram a época e que estão presentes no álbum Chico Buarque (1978): "Cálice" (participação de Milton Nascimento) e "Apesar de Você".
Leia também:
Tropicália (Marcelo Machado, 2012)
O Tropicalismo estourou no Brasil em 1960 e fez com que jovens encontrassem a liberdade de expressão que tanto desejavam, mesmo com a ditadura ficando mais dura. O documentário de Marcelo Machado traz um panorama sobre o movimento que deixava enojado os militares e a família tradicional brasileira
Narciso em Férias (Renato Terra e Ricardo Calil, 2020)
Assim como Chico, Caetano Veloso estava na mira dos militares desde o momento em que apareceu no setor musical. No documentário que foi lançado no ano passado, o músico lembra sua prisão em dezembro de 1968. No total, o músico ficou 54 dias em cárcere. Caetano fala sobre os dias na solitária, Beatles, o confinamento, a esperança e os depoimentos.
O Sequestro dos Uruguaios: Uma Reportagem dos Tempos da Ditadura (Luiz Cláudio Cunha, L&PM Pocket, 2008)
A história surgiu com um telefonema anônimo, dizendo que um casal uruguaio estava sendo sequestrado em Porto Alegre. A investigação, encabeçada por Cunha e Scalco, tomou páginas da revista Veja durante um bom tempo, até encontrar o desfecho necessário para Lilian Celiberti, seus dois filhos e Universindo Díaz. Além disso, foi descoberto a Operação Condor.
Soldados do Araguaia (Belisário Franca, 2018)
Quando dizemos que a ditadura civil-militar precisa responder diversas questões, estamos falando a verdade. Entre 1972 e 1975, o exército enviou milhares de soldados à selva amazônica para acabar com a Guerrilha do Araguaia. Quarenta anos mais tarde, os soldados contam as atrocidades vividas durante a guerrilha. Perdão é pouco para esses homens - o Estado precisa fazer mais!
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