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  • Foto do escritorMichele Costa

Indicação: obras e artistas do movimento marginália

A frase "seja marginal, seja herói" estampa a bandeira de Hélio Oiticica, criada em 1968. Artur da Costa e Silva era o presidente do Brasil. O ano é marcado pela revolta estudantil durante a ditadura civil militar, as greves dos metalúrgicos de Osasco e em Contagem (região industrial da Grande Belo Horizonte). Durante as revoltas, sangues e prisões, Oiticica cria um movimento que é batizado de marginália, ou seja, artes marginais - algo que foge dos padrões.


O movimento marginal não só ficou nas artes: o conceito invade o cinema, jornais, revistas, literatura e música. O Pasquim, Presença e o Bondinho são criados e lidos diariamente por pessoas que desejavam o melhor ao país. Na literatura e na poesia, destacam-se Torquato Neto, Chacal, Ana Cristina César, Waly Salomão e Paulo Leminski. Já na música, compositores gigantes surgem como Luiz Melodia, Jards Macalé e Jorge Mautner.


"Marginal é quem escreve à margem, deixando branca a página para que a paisagem passe e deixe tudo claro à sua passagem. Marginal, escrever na entrelinha, sem nunca saber direito quem veio primeiro, o ovo ou a galinha" (Paulo Leminski)

Seguindo a religião marginal, os artistas substituem os meios tradicionais e encontram meios alternativos para divulgação de suas obras. É o início da produção poética "fora do sistema". Produzindo pequenas tiragens e em folhetos mimeografados, começam a vender suas artes a baixo custo em bares, praças, cinemas, universidades e todos os cantos que eram aceitos.


Obras e artistas para serem lembados, lidos, relidos, ouvidos, revisitados e celebrados


Ana Cristina César (1952 - 1983)

A única mulher da geração marginália que ganhou destaque. Para Ana, literatura e vida eram inseparáveis, como pensava o poeta americano Walt Whitman. Inquieta, introvertida e tentando se encontrar e ser aceita na sociedade, sua obra é marcada pelo ficcional e autobiográfico. "A Teus Pés", seu último livro de poesia, contém uma linguagem íntima e confessional. Cometeu suicídio aos trinta e um anos, atirando-se pela janela do apartamento dos pais em Copacabana.


Torquato Neto (1944 - 1972)

Nascido no Piauí, Torquato não se contentou apenas com uma arte: foi escritor, jornalista, cineasta, ator diretor e letrista. Amigo dos tropicalistas Caetano Veloso e Gilberto Gil, o artista destacou-se ao criar a canção-manifesto "Geléia Geral".

Durante dois anos, escrevia uma coluna para o jornal Última Hora. Intitulada "Geléia Geral", o mesmo nome do que a canção, usou as palavras para defender e lutar pelos direitos autorais, pedia atenção e respeito ao cinema marginal, combateu as ideias do Cinema Novo e do conservadorismo.


Cacaso (1944 - 1987)

Nunca era chamado pelo nome de batismo, Antônio Carlos de Brito. Ganhou o apelido de Casaco e, desde então, foi chamado assim. Desde pequeno chamou atenção pelo dom artístico - desenhava caricaturas de políticos. No entanto, foi no mundo das palavras que se encontrou. Em 1967 lança seu primeiro livro de poesia "A Palavra Cerzida" que é considerado pelos críticos como uma "espécie de preparação para o que escreveria na década de 70".

Para conhecer mais sobre sua vida e obra, assista o documentário "Cacaso - Na Corda Bamba", lançado em 2016.


Chacal (1951)

Escritor de "Boca Roxa", Chacal foi um dos primeiros poetas dos anos 70 a utilizar o mimeógrafo, marca registrada do movimento marginália. Após ler os primeiros livros do escritor, o leitor percebe o jogo de palavras que ele cria para ficar mais próximo de quem está lendo. Chacal continua na ativa, questionando, refletindo e escrevendo sobre tudo.


Jards Macalé (1943)

Jards Anet da Silva, conhecido como Macalé, é muito mais do que um compositor: é um artista brasileiro que não se contenta com o tratamento que o Brasil recebe. Desde que mergulhou de cabeça no mundo da música, nos anos 60, Macalé tem denunciado a censura, ditadura, o mundo horroroso e sombrio em seus álbuns. O álbum "Só Morto (Burning Night), lançado em 1970, demonstra a potência do artista.


Luiz Melodia (1951 - 2017)

Nos anos 70, Luiz Carlos dos Santos foi considerado um marginal por ter sido rejeitado pelas grandes gravadoras da época. Assim como os demais artistas, cria sua própria obra que luta contra o conservadorismo, tornando-se referência aos jovens e a cultura brasileira. Seu primeiro álbum "Pérola Negra" mostra a poesia e a compaixão que o marginal entrega aos ouvintes.


Após a grande revolução que fizeram no mundo artístico, o grupo de marginais se desfaz aos poucos. O ponto final do movimento aconteceu com o suicídio de Torquato Neto em 1972. Entretanto, com o passar do tempo, o movimento marginália continua inspirando aqueles que desejam mudar o país, lutando para que o passado não se repita.






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