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  • Foto do escritorMichele Costa

Desalinhando Luiz Melodia: a pérola negra do Brasil

Luiz Carlos dos Santos. Rio de Janeiro, 1951. Filho de Oswaldo e Eurídice, cresceu ouvindo seu pai, sambista e compositor, fazendo música em casa. Foi na infância que descobriu sua paixão. Em uma entrevista, anos mais tarde, o filho disse: "Fui pegando a viola dele, tirando uns acordes, observando. Ele não deixava eu pegar a viola de quatro cordas que era uma relíquia, muito bonita, onde eu aprendi a tocar umas coisas".


Dizem que o raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mas o ciclo familiar mostra que até os especialistas estão errados. Luiz Carlos acabou contrariando seu pai, que sonhava em vê-lo formado, um doutor. "Ele não apoiava, não adiantou coisíssima alguma, até porque as coisas foram acontecendo. Depois ele veio a curtir para caramba, quando ele faleceu, perdi um grande fã", revelou no futuro.


Além de seu pai influenciar em seu futuro, o bairro em que morava, Estácio, no Rio de Janeiro, continha músicos para todos os gostos. Inclusive, foi ali que Ismael Silva fundou a Deixa Falar, primeira escola de samba do Brasil. O samba, definitivamente, abriu as portas da criança que queria ser músico.


Foi aos 13 anos que começou sua carreira musical. Mesmo trabalhando como tipógrafo, vendedor e caixeiro, encontrou um tempo para cantar em bares noturnos ao lado de seu amigo Mizinho. No ano seguinte, formou Os Instantâneos, banda com os amigos Manoel, Nazareno e Mizinho. Não tinha mais jeito, sua vocação falava mais alto. Luiz abandonou a escola para se dedicar à música, compondo e tocando sucessos da jovem guarda e bossa nova. Assim, começa a surgir Luiz Melodia.


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As apresentações que fazia com sua banda em seu bairro começaram a chamar atenção dos frequentadores. Dois deles destacam-se na trajetória de Melodia: os poetas Wally Salomão e Torquato Neto. Não demorou muito para os três ficarem amigos e começarem a trabalhar juntos. No fim dos anos 60, os estilos musicais se misturavam, sem regra - e era justamente isso que Luiz Melodia fazia: misturava samba, com o iê-iê-iê dos Beatles e Jovem Guarda e a bossa nova. Através de suas palavras - poesia pura - e seus diferentes ritmos, escreve "Pérola Negra" que é cantada por Gal Costa em "Gal a Todo Vapor" (1972). Em seguida, era a vez de Maria Bethânia gravar "Estácio, Holly Estácio", canção que trata de seu bairro. Sem mais delongas, adora o Melodia que era usado pelo seu pai Oswaldo quando se apresentava, tornando-se Luiz Melodia.


Em 1973, aos 22 anos, lança seu primeiro disco "Peróla Negra", reformulando a música brasileira. Não demorou muito para cair na graça da população brasileira, no entanto, ganhou o rótulo de "maldito" por justamente fazer apenas o que acredita, não traindo sua ideologia musical. Fagner, Jards Macalé, Belchior e João Bosco também receberam o apelido carinhoso. A partir desse ponto surgiu uma questão: qual o papel do artista? Um artista é aquele que faz o que acredita ou que se "vende" em busca do sucesso? Após alguns anos, Melodia falou sobre a denominação que recebeu: "Não éramos pessoas que obedeciam. Burlávamos, pode-se dizer assim, todas as ordens da casa, da gravadora; rompíamos com situações que não nos convinham. Sempre acreditei naquilo que fiz e faço".



Número par: dez músicas gravadas em menos de 60 dias, durante o verão brasileiro de 1973. 28 minutos de mistura entre gêneros musicais e poesia. "Pérola Negra" entra na lista dos melhores discos nacionais. Impossível ouvir apenas uma vez, necessário ouvir diversas vezes essa obra-prima. Quase cinquenta anos depois, o disco continua emocionando. As músicas continuam sendo tocadas e cantadas por outros artistas.


Luiz Melodia nunca desistiu da música e nem abaixou a cabeça para a gravadora. Fazia o que acreditava. Tinha muito o que dizer, mostrar, mas nunca recebeu o verdadeiro sucesso. Não teve o reconhecimento necessário e hoje, três anos de sua morte, celebramos Melodia, a verdadeira pérola do Brasil.


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