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Foto do escritorMichele Costa

Bule está aqui para desagradar

A palavra "bule" ganhará um novo significado a partir de agora. "Bule", palavra que contém quatro letras, duas vogais e duas consoantes, vai muito além do que um simples recipiente que prepara e serve bebidas. Essa palavra curta, tão usada no cotidiano, e que fica na cabeça, também conta a história de Pedro Lião, Carlos Filioza, Daniel Ribeiro, Bernardo Coimbra e Kildare Nascimento. Bule, a banda pop psicodélica, filtra a essência do dia a dia para criar canções dançantes e também azucrinar, como cantam em "Desagradar".


Com sintetizadores e muita influência dos anos 80, o single retrata que o ato de desagradar é uma consequência de viver. "Há no meu discurso / De ambígua sanidade / Racionalidade / Mas peca em convencer", canta ironicamente Pedro. "Finalmente podemos encarar a realidade: desagradar faz parte da nossa essência como seres humanos", explica a banda.


Desagradar, amar, viver, sonhar e tantas outras coisas - foi para isso que o ser humano fora criado. Para suportar a vivência, Bule faz piada do cotidiano; fazendo com que os outros mortais, humanos que sentem, também dancem.


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Bule surgiu em 2017. Como foi?

Daniel: Acho que tava todo mundo naquela fase, início da juventude, e [chegou] aquela hora do "eu quero fazer uma banda mais séria" - aquela hora em pensar em ser profissional [ruído na gravação] - e meio que todo mundo se conhecia; estudei com Pedrinho no colégio, Berna eu conhecia porque a gente teve uma casa de campo no mesmo condomínio numa época, a gente se conheceu pirralho… Enfim, todo mundo da banda tinha uma ligação com o outro de alguma maneira. Tava todo mundo com esse desejo, ouvindo coisas bem parecidas na época… A Bule já surgiu sem música pronta, mas meio que já focada no que a gente queria fazer, saca? Acho que no meio do caminho, qualquer tipo de variação… Mas a gente pensou justamente nisso: fazer uma banda pop, com um som pop, dançante e brasileiro também. Aí a gente se juntou e aí surgiu - final de 2016 e 2017 inteiro, a gente passou compondo. Passamos 2017 nos reunindo toda semana, gravando, criando música e tal. Aí em 2018, a gente começa a fazer show e lançar. A banda sai da fase interna para fase externa em 2018. Foi mais ou menos assim, né Berna?

Bernardo: Exato. A gente teve essa fase embrionária bem marcante, a gente trabalhou muito em estúdio, ia pra casa de Pedrinho… Quando a gente tava compondo as músicas, a gente se juntava todo mundo no quarto e ficava lá dando ideia. A gente passou um tempo fazendo isso e depois desse período foi como Dan falou: a gente começou a rodar com a banda em 2018, fizemos o primeiro show em março de 2018 e acho que em setembro foi o mês que a gente fez o show de lançamento do "Cabe Mais Ainda" [primeiro álbum da banda], nosso primeiro trampo. Desde então a gente vem… Paramos agora por motivos óbvios. A vivência da banda, tocando em palco, começou aí mesmo.


Qual o significado do nome da banda?

Daniel: A gente uniu duas coisas. A gente tava procurando um nome e justamente nessas ondas de 2017… Tinha um lance que a gente já tinha decidido: um nome curto. Vou confessar que não lembro quem e como chegou à essa palavra…

Bernardo: Nem eu!

Daniel: Eu não lembro se a gente chutou um monte de nome e saiu falando… Acho que foi meio assim, sabe? Quando chegou no nome Bule, que eu realmente não lembro, a gente achou que, além de ser um nome curto, ele ficou bom porque justamente tem um significado: o bule é onde prepara a mistura e tal, o esquenta e o ferver… A gente usa isso alegando essa primeira fase da gente que foi dentro de um quarto, passando um ano compondo e matutando as músicas pra sair o resultado. Aí casou! Foram essas duas sacadas.

Bernardo: Não foi qualquer nome curto que a gente aceitou, tinha um motivo também, né. A gente percebeu que faria sentido.

Daniel: Com o nome curto tinha que convencer.

Bernardo: O nome curto pegou e tem um significado.

Faz sentido, já que ficaram em um quarto para alinhar as coisas, vocês passaram pelo filtro até chegar no Bule..

Daniel: Exato. E aquela coisa que você tava dizendo: por mais que quando a gente se juntou, quando teve as primeiras reuniões, a gente já tinha uma imagem do som que a gente ia fazer - esse primeiro ano foi cheio de muita… A gente já alinhou uma forma de trabalho, sabe? E na época tava todo mundo testando essa fórmula, compondo em grupo, compondo no computador… Ninguém tinha tido essa experiência ainda. A gente partiu de uma ideia diferente, "vamos partir da bateria?" "vamos fazer assim" e construía toda a música. A letra, inclusive, nesse processo das primeiras músicas da gente, as músicas sempre foram a última coisa a fechar - era um processo que eu não estava acostumado. Antigamente eu tinha a visão de que a galera chegava com a letra e a gente montava a música em cima, acho massa [deixar] a letra por último, porque não limita…

Agora, em 2022, o que mudou daquele momento, do início, para hoje?

Daniel: Falando da forma de trabalho da música, ela é semelhante, sendo que hoje já tem caminhos mais traçados, uma coisa mais direta quando a gente começa a compor, começa a ser mais objetivo. De 2017 a 2018, muita coisa partiu direto de Paulinho e Carlinhos, geralmente são eles que chegam com a primeira ideia e, juntos, construímos em cima. Como banda, acho que a gente foi aprendendo mais. Hoje, você tem uma sensação que na época você não percebe, porque você tá desbravando a parada e querendo aprender e como lidar com a música profissionalmente… Hoje, a gente percebe que a gente sabia muito pouco, sobre o funcionamento de banda, de fazer um show legal - e todo mundo melhorou musicalmente, é natural, né.


Vocês remetem ao brega romântico pernambucano. Como chegaram nessa estrutura?

Daniel: A estética da banda veio forrada nos anos 80, no pop dos anos 80, mas a sacada da gente é justamente misturar os outros ritmos. Aqui em Recife, o brega é muito forte! Tem outros gêneros de brega, por exemplo - tem um que a galera chama de “brega romântico” de Reginaldo Rossi; e tem bandas daqui que são muito pop, mas também é brega mais ou menos daquele estilo… Acho que o brega fica muito na guitarra e acho que Carlinhos, por exemplo, conhece muito as músicas e acha massa ter a guitarrinha do brega, um estilo bem massa de tocar, dançante. E aí também tem as influências: tem Siba que tem esse estilo, Cidadão Instigado que é rock - são bandas que a gente curte e que a gente entende, mesmo que não seja diretamente, a gente comunica com aquilo. O brega é pop, né.



As letras são feitas em tom irônico e cômico. Qual o processo de vocês?

Daniel: A gente começa pela música. Quando, geralmente, a música tá pronta… Lógico que ela pode mudar ainda, mas quando ela tá 80% ou 90% arranjada… Nesse meio do caminho, Pedrinho já fez uma melodia para o vocal, sem letra, pelo menos algumas foram [criadas] assim, não tem uma regra. E depois dessa melodia vocal, ele e Tony, que é um amigo da gente, fazem a letra. Eu diria que o processo da letra fica sempre por último. Agora, falando do significado, as músicas passam por muitas coisas - as músicas do "Cabe Mais Ainda" é muito sobre o cotidiano, essa coisa da semana. A gente pega uma coisinha que não vai ser o tema principal; durante o disco, quando você ouve, percebe que tem muito o cotidiano, o tempo, o dia a dia… Tem muito isso, mas não é o elemento principal, a gente vai construindo. Mas [nossas letras] tem de tudo: relacionamento, fim de ano, qualquer insegurança de juventude.


"Cabe Mais Ainda" foi o primeiro álbum de vocês, lançado em 2018, certo?

Daniel: Vou te falar um pouco mais sobre o processo que tem haver com aquela época [2017, quando estavam fazendo testes até chegar ao som final]. Quando a gente tava compondo as músicas, fizemos em torno de 15 músicas.. Aí no final de 2017, a gente chamou um produtor, alguém de fora pra dar aquela alinhada com a gente, ajudar a gravar e tal. Todo mundo tem esse conhecimento, até que hoje, depois desse tempo da banda, essa produção musical meio que fica com a gente mesmo. Em janeiro de 2018, a gente passou uma semana gravando no estúdio. Das 15 músicas, escolhemos cinco e aí o lançamento foi em novembro de 2018.


Agora, em 2022, cabe mais ainda em vocês?

Daniel: [risos] Uma boa pergunta. É engraçado porque tinha essa onda que a gente tinha lançado músicas e o "Cabe Mais Ainda" era onde cabia as músicas. Mas cabe, pô!

Bernardo: Tamo aí!

Daniel: Só não cabe mais esse governo, o resto dá pra levar.

Bernardo: Cabe mais shows, mais trabalhos, a gente faz tudo!


"Desagradar" foi lançado no ano passado e fala que desagradar é parte da essência do ser humano. O que mais faz parte do ser humano que é aplicado na Bule?

Daniel: "Desagradar" vem do verbo rabuscar, tem um pouco da influência da bossa nova que Pedrinho tava ouvindo no momento e aí quando chega no refrão, ele é simples. É uma frase desagradavelzinha que vai desagradar.

No final, vocês estão aqui para desagradar?

Daniel: [risos] A pergunta é… Na verdade, eu acho que o pensamento é: a gente vai desagradar mesmo sem querer, alguém.

Bernardo: É mais no sentido do inevitável, alguma hora vai acontecer…

Daniel: Vai dar merda.

É a consequência do ser humano, né?

Bernardo: É a consequência de se relacionar, né. Viver com desagradável.

Daniel: Tem o sacanear e o desagradar. Parece que as letras desse EP, de alguma maneira, tem uma coisa envolvida que nos leva para [corte na gravação] para o mesmo caminho, o caminho da experiência. Não é alegando para fazer merda, mas o certo [muda] - tem gente que diz que um certo nada vê.

E também tem aquela coisa: cada pessoa tem a sua interpretação.

Daniel: Sim! E tem aquela coisa também: quando você faz a música e joga ela no mundo, tem [a interpretação] de cada um.

"O EP foi essa coisa do momento: a gente passou o ano de 2020 e 2021 lançando singles, não estávamos fazendo shows… Aí tem duas coisas: a gente tá projetando um disco esse ano ainda. O EP começa em 2022, mas ele sela esse momento de 2021 e 2020. Lógico que a gente pretende, se puder, fazer shows; mas a gente já tá mirando em um disco que vai ter uma roupagem que tá dentro da gente, mas um pouco diferente. A gente considera bastante esse EP como um registro, uma coletânea dessa fase que a gente só pode fazer música, sem tocar. A gente meio que viveu 2021 para lançar música e gerar conteúdos na internet, era o que dava para fazer."

Desagradando ou não, Bule continua borbulhando, misturando gêneros musicais para criar novas canções dançantes. O EP "Sacanear" está disponível em todas as plataformas de streaming de músicas. Como diz o ditado: "bora debochar".


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