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Foto do escritorMichele Costa

As esquinas sonoras de Pluma

A história do quarteto começou nas salas da Bela Artes como um projeto de pesquisa. A pesquisa não ficou apenas na instituição: após conclusão, Diego Vargas, Guilherme Cunha, Lucas Teixeira e Marina Reis misturaram suas referências para formarem a Pluma, uma das novidades sonoras que surgiram durante a pandemia. O nome é curto, porém, a intensidade é entregue nas primeiras notas.


"Esquinas", primeiro single da banda, já mostrou a força de Pluma. Inspirada em "Clube da Esquina", a canção é uma balada romântica que reforça as imagens que são criadas na mente do ouvinte desde o início. "Escuto cada toque do tempo / Sinto o teu cheiro no ar / Mas você procura a vida tão longe", cantam Diego e Marina. Misturando gêneros musicais que variam entre neo jazz, indie, psicodélico e bossa-nova, a banda desperta sentimentos e sensações de quem os ouve.


As esquinas de cada um se encontraram e deram força ao EP "Mais Do Que Eu Sei Falar", lançado em 2020. Em quatro músicas, ouvimos a sensibilidade (e preocupação) da banda com a música. Já em "Revisitar" (Selo Rockambole, 2021), essas características estão amadurecidas, mas a individualidade de cada um ganha espaço - feito durante o isolamento social, o álbum traz a solidão de cada integrante que precisou encontrar uma maneira para continuar sobrevivendo - a vocalista explica melhor no papo abaixo.


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A banda surgiu na faculdade, a partir do TCC. Como foi o processo de transformar o objeto de estudo em uma banda? Como tem sido as coisas desde o lançamento?

O processo de transformar o objeto de estudo em uma banda foi bem interessante, porque a gente nunca tinha trabalhado os quatro juntos - no meu caso, foi também a minha primeira banda. Então, foi aquele processo de tirar do papel as referências de cada um e entender como isso ia funcionar na prática, como a gente ia juntar tudo isso… Como… Sei lá, ia dar o espaço para cada um botar o que queria na música. No começo foi bem despretensioso. A gente só foi se divertindo, vendo o que ia acontecendo, sem a pretensão de botar nada no mundo. Acho que isso até ajudou, porque não tinha muita pressão, a gente só foi se entendendo, se virando e criando uma relação entre os quatro - a gente sempre respeitou o espaço de cada um pra dar opinião… A gente nunca se limitou ao nosso próprio instrumento - os meninos sempre deram muitas opiniões nas letras e melodias, cada um opinando [sobre] o que queria; não tem esse negócio do ego de cada um fazer [a sua parte], se limitando ao próprio instrumento.

O lançamento foi durante a pandemia, depois que a gente já tinha se formado na faculdade. A gente já tinha as músicas prontas, a gente começou a cogitar a ideia de lançar, começamos a trabalhar com o Selo Rockambole que ajudou muito a gente a profissionalizar todo o processo. O lançamento foi completamente online, não tinha show, não tinha nada, nenhuma troca física com ninguém, o que foi meio doido, porque a gente se baseava completamente nos números, o que é um pouco estranho, por mais que tenha sido muito legal ver a galera escutando, repostando e comentando.


A banda passa por diversos gêneros musicais. Como foi o processo de chegar nesses estilos?

Em relação aos nossos gêneros musicais, acho que nem a gente sabe explicar bem o que é aquele som. Além de falar [sobre] as várias referências que inspiraram a gente, mas acho que foi um pouco do que falei antes: foi meio que a tentativa de colocar as referências, as influências de todo mundo nas músicas - e isso meio que acabou acontecendo naturalmente, né? Não acho que foi tão racional assim, foi um pouco mais intuitivo. Eu e o Lucas, além de escutarmos new soul jazz, indie, psicodélico brasileiro, a gente escuta muito pop. A Pluma tem esse lado um pouco mais digerível por conta disso. Já o Gui é o curador do Spotify, ele conhece todos os lados de todos os artistas e ele trouxe um pouco disso. Enfim, rolou essa mistura aqui, que acho que é da hora; por mais que a gente esteja descobrindo o som da Pluma, acho que uma das nossas características, que é um pouco a nossa essência, é tentar misturar coisas que geralmente não estão juntas e ver o que dá.


As canções remetem a paisagens - inventadas ou não, psicodélicas ou não. Gostaria de saber se, ao criar uma música, vocês também levam em conta no que querem despertar nos ouvintes.

Não sei… Acho que mais do que despertar algo nos ouvintes, é querer… Eu, pelo menos, tento despertar algo em mim mesma. O momento que eu realmente gosto daquilo que a gente fez é quando aquilo desperta algo em mim, mesmo que a letra, enfim, remete algo inventado ou não - acho que ela provoca algo em mim, porque independente de provocar alguma coisa nas pessoas, não vai ser a mesma coisa que será provocado em mim. Então, eu acho que a tentativa de provocar algo em específico nas pessoas é válido, mas a única coisa que a gente pode garantir é que a gente vai tá sentindo algo com aquilo - e se as pessoas vão sentir ou não, é uma consequência. Eu geralmente penso no que eu tô sentindo com aquela música, mas isso também pode mudar - querendo ou não, a gente tá compondo muito mais agora, temos poucas músicas, a gente é bem novo com isso e eu imagino que o processo de música vai mudando. As expectativas vão mudando e os propósitos também.


"Esquinas" foi o primeiro single de vocês e foi inspirado em "Clube da Esquina", certo? Quais outras inspirações?

"Esquinas" foi composição do Dizzy. Ele tem muitas referências (todos nós, mas ele é de BH e tem mais ainda) e uma delas é Clube da Esquina. Pra essa música em específico, eu acho que essa foi a grande referência que ele verbalizou pra gente, por mais que dentro dele tenha mais de um milhão de referências com certeza. Depois que ele apresentou a composição, o processo de pós-produção, eu não lembro da gente ter escolhido algumas referências pra trabalhar em cima da música - acho que foi um pouco de: a gente tava entrando na pandemia, foi a última música que a gente fez, então a gente se isolou e ficou lá, pirando nela um pouco - e saiu o que saiu. Foi bem espontâneo, foi a nossa baladinha romântica, né? Eu lembro de cada um pensando no arranjo das "cordas", naquele arranjo e no final cada um deu o seu input. Foi um processo bem diferente, a gente ficou completamente isolado, pirando, mas gostamos muito dela.



Falando em canções, como é o processo de criação da banda? Como acontecem as pesquisas sonoras para colocá-las em prática?

Em relação a pesquisa, sinto que a gente entra mais nessa parte no pós-produção, quando a gente tá pesquisando timbre e referências para enfim, timbrar a bateria, buscar um timbre… Aí eu sinto que a gente vai buscando novas referências. O processo de produção geralmente é bem orgânico: a toca tocando junto ou alguém trazendo uma composição. Não acho que a composição venha de uma pesquisa - pelo menos [é] o que rolou até agora, mas pode mudar. O processo de composição é geralmente um pouco mais espontâneo, vem de uma jam ou alguém trazendo alguma ideia e a gente desenvolvendo em si. O processo de pesquisa vem depois, a gente começa a mostrar timbres que a gente acha legal ou ideias para produzir a música - acaba sendo um equilíbrio legal.


"Mais Do Que Eu Sei Falar" foi lançado durante o isolamento social. Como foi lançar um EP e não poder tocá-lo ao vivo para o público?

É, eu até falei um pouco disso: foi muito estranho, porque se basear completamente nos números de lançamento (por mais que a gente não tivesse em uma pandemia, a gente também faria isso), mas não tinha nenhuma troca com o público, não tinha show, você não podia ver as pessoas cantando e ouvindo - era meio que o mundo das ideias, sabe? Você lê comentário, mas não tem nenhum físico, sabe? Parece que você realmente não tá vivendo aquilo, pelo menos foi essa a minha experiência. Isso é um pouco doido, não que tenha sido ruim, por a gente ter entrado naquele momento estranho que ninguém tinha vivido nada parecido, vê o lançamento rolando, as pessoas interagindo, mesmo que online, foi um negócio que salvou muito! E como tudo era internet nessa época, até que fazia sentido no contexto, sabe? Agora que os shows estão voltando é mais doido ainda, porque do nada - a gente teve um show na Casa Rockambole e ouvir tanta gente cantar de volta é muito estranho, porque nunca teve uma troca até então.


"É tão bom que chega a dar medo / Não saber onde vai dar", canta Mariana em "Mais Do Que Eu Sei Falar". Pergunto: dá medo pensar no futuro? Alias, já sabem qual caminho podem chegar?

Acho que é um pouco natural do ser humano pensar um pouco demais no futuro, às vezes dá um medo de pensar, principalmente quando as coisas estão boas. Rola aquela sensação de "se tá bom agora, acho que talvez piore", um pensamento meio pessimista, né? Eu pensava assim: não esperar muita coisa para não se decepcionar. Mas não tá certo, acho que tem que esperar bastante coisa mesmo e lutar por isso. E em relação [sobre] aonde a gente pode chegar… Não sei. Acho que agora a gente tá no momento bem esperançoso, pela primeira vez a gente tá vendo as coisas aconteceram na prática: shows, coisas acontecendo, vendo pessoas, tendo trocas com pessoas que gostam da música e com outros artistas que a gente admira, planos, futuro… É um momento que parece que as coisas vão acontecer e na prática, a gente tá animado para compor mais, pra rodar mais, pra fazer shows, lançar álbum, ter projetos, conhecer pessoas, trabalhar com artistas - mesmo não sabendo onde isso vai dar, só seguimos no embalo.


Em "Revisitar", vocês exploram novas texturas e camadas. Como surgiu o EP? O processo foi diferente do primeiro álbum que lançaram?

O processo de "Revisitar" foi bem diferente porque, primeiro, a gente tava isolado e só pensando nisso. Foi meio corrido porque a gente meio que ganhou umas diárias em um estúdio muito foda e a gente tinha que aproveitar essas diárias, e a gente só tinha um mês para ter as músicas prontas e uma das músicas a gente arranjou em um dia! "Transbordar" foi [feita] dois dias antes de ter a diária no estúdio. É aquele negócio: quando você tem mais tempo pra ouvir, pra pensar e reouvir, novas ideias surgem. Foi corrido! A gente gosta muito das músicas, mas foi corrido e isso influenciou bastante.

Essa primeira parte de composição e arranjo foi muito corrido, só que depois, a gente tinha um tempo infinito com as músicas - então, o processo de pós foi demorado até demais. A gente começou a fritar um pouco nas músicas, se perdeu um pouco também porque só estávamos nós quatro ali ouvindo e vendo aquilo e é perigoso ficar tempo demais com as músicas. Foi um processo bem intenso, mas serviu muito para gente entender até onde a gente consegue trabalhar sozinhos, até onde a gente precisa de outra pessoa para olhar um pouco de fora e dar uma quinta opinião, porque trabalhar em número par é difícil, às vezes fica muito empatado as opiniões e como a gente não empata? A gente se orgulha bastante, mas foi desafiador, então, tipo, a gente não gravou exatamente do jeito que a gente queria; a gente olha hoje pensa: "putz, se a gente tivesse mais tempo, se tivéssemos outros equipamentos e outras pessoas, poderia ser diferente" - mas é aquilo: reflete aquele momento e a gente gosta muito!


Agora, com vacinas tomadas, é possível ter o contato que não foi possível no passado. O "novo normal" influenciou de alguma maneira o modo de consumir arte para vocês? E pra fechar, quais os próximos passos da Pluma?

Nossa, nem se compara! Agora a gente tá tendo show! Além disso, a Casa Rockambole abriu, tá tendo show todo fim de semana e a gente é muito sortudo de fazer parte desse mundo. Tá tudo muito próximo: ver artistas que a gente admira, ter essa troca, ter essa troca com pessoas que admiram nosso trabalho - é um jeito de consumir arte que muda tudo. Você ouvir um lançamento no Spotify e ver um show e depois abraçar e dizer "você é foda, vamo trabalhar juntos" muda tudo! Acho que o jeito mais rico de consumir música é indo ao show, nem se compara!

Os próximos passos da PLUMA, talvez eu repita um pouco sobre o que eu já falei, mas é isso: a gente tá animado pra compor, tamo compondo bastante, tamo animado pra novos shows que virão e coisas que tão aparecendo que tão deixando a gente muito animado. Compor um álbum é o próximo passo, mesmo que esteja nas fases bem iniciais.


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