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  • Foto do escritorMichele Costa

A montanha rústica de Léo Ramos

"Não, não, não dá pra fugir / Quando o universo inteiro / Te procura, espalha fotos / Posters com a tua cara por aí", canta Reolamos em "Gangue de Robôs Frentistas Mercenários". No clipe, lançado no mês passado, animado por Lucas Kozuki, o cantor enfrenta máquinas distópicas para encontrar uma saída para continuar existindo. "Muitos anos longe de casa / É um corte a laser no coração", complementa.


Reolamos é o pseudônimo utilizado pelo multiartista Léo Ramos. Conhecido pelos vocais em Supercombo e Scatlove, o cantor iniciou sua carreira solo em um workshop que realizou no BTG Studios ao lado do produtor musical e amigo Zeca Leme: "A necessidade de lançar um trabalho solo, na real, apareceu, quando eu fiz um workshop no BTG Studios com uma turma de 10 pessoas e eu fiz uma música na frente das pessoas" - mesmo sem planejamento, o Reolamos surgiu em 2019 e no ano seguinte, lançou o seu primeiro single, "Sozinho no Frio que me Queima".


Após a criação da primeira música, outras novas vieram. Seu processo de criação, acompanhado pelo público, foi alterado em 2020 com a pandemia. Foi através da tecnologia, universo que Léo é fã, que deu continuidade ao contato com o público - através de lives, surgiu "Montanha Rústica", seu primeiro álbum, lançado no ano passado. Em 6 músicas, conhecemos um pouquinho o mundo sincero de Léo.


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Você é um multiartista. As vivências que teve nos diversos setores artísticos te ajudaram e/ou moldaram na construção do Reolamos? Aliás, quando foi o momento que você descobriu a necessidade de se lançar solo?

Então, a minha vivência nesse mundo da música me faz conseguir ser um pouco mais certeiro nas minhas decisões em relação à minha carreira artística e com certeza, tudo que já vivi com a Supercombo e a Scatlove. Me ajudou muito em saber o que fazer - na hora de fazer um orçamento, na hora de planejar um show e tudo mais -, onde meu público tá mais concentrado; como que eu consigo me lançar, né. E a necessidade de lançar um trabalho solo, na real, ela apareceu, eu acho que foi quando eu fiz um workshop no Estúdios BTG com uma turma de 10 pessoas e eu fiz uma música na frente das pessoas, que era um workshop de produção musical, de composição, mix e master e ali que eu vi, que porra, música era legal e não tinha porque não lançar e não ficar perdida no mundo - acho que foi ali que senti "vou fazer essa parada rolar".


Em 2020, você lançou o seu primeiro single solo: "Sozinho no Frio que me Queima". A canção me fez questionar se ela traz elementos de sua vivência misturada com o frio de Genebra. Como foi o processo da canção até o compartilhamento com o público?

"Sozinho no Frio que me Queima", na verdade, foi criada em 2019 no workshop que eu dei lá na BTG, um estúdio aqui em São Paulo, para uma turma de 10 pessoas, e foi muito massa, porque foi ali que pude mostrar para as pessoas o meu estilo de composição, como crio música, como que escrevo, e a gente foi meio que criando a música na hora, na frente da galera - e óbvio, essas coisas de sensações, de já ter morado em um país frio já ajuda muito como inspiração na hora de escrever esse tipo de letra - gelo, neve, polos árticos e muito mais [risos].


Dois anos se passaram desde a sua estreia solo. O que mudou em você?

O que mudou em mim depois que eu lancei [minhas músicas] nesses dois anos… Acho que no início, eu me sentia um pouco assustado, porque como eu sempre vivi e toquei em banda ou em grupos… É muito foda, tu tá sozinho ali, no escuro, voo solo - é meio assustador a sensação. Não tem ninguém ali do seu lado te dando, sei lá, qualquer tipo de opinião, qualquer coisa que poderia mudar, dar uma guinada no seu projeto; só tem você - e a responsabilidade cai direto em cima de você, então é um pouco assustador. Acho que no início, fiquei meio bolado com isso, mas agora acho que tô mais tranquilo, mais confiante… Isso tem me ajudado bastante até no sentido de composição, de conseguir enxergar melhor o meu estilo de compor dentro de cada projeto, cada banda que eu tenho.


Suas canções retratam seus sentimentos que também conversam com os sentimentos dos ouvintes - é fácil se enxergar nas canções. Fazer música é um processo terapêutico? Você também procura ajudar quem está te ouvindo?

Cara, eu sempre gostei de escrever coisas que de certa forma conta alguma história ou é de alguma forma imagética, que você consegue visualizar alguma cena enquanto você escuta a música. Eu sempre tento trazer essa coisa pro subconsciente humano, sei lá, questões mentais, talvez… Minha vida é isso, tem muito dessas coisas… Eu não necessariamente penso em alguma outra pessoa, em algum outro ouvinte enquanto estou escrevendo a música, na verdade, eu escrevo o que eu tenho na cabeça naquele momento, tento transformar algum sentimento em uma história, em alguma coisa até meio fictícia assim, pra meio que tentar passar a ideia que eu quero; a sensação que eu quero, através de alguma metáfora, de alguma outra coisa. Mas com certeza me enxergo muito nas canções - e acho que talvez, na hora que eu tô escrevendo, eu não me enxergo tanto, mas quando eu do um tempo e paro para ouvir, quando eu esqueço da música e volto para escutar, algum tempo depois, um mês ou dois meses depois, acho que a música faz mais sentido pra mim do que quando escrevi - se isso faz algum sentido.



Ano passado, você lançou o seu primeiro EP, "Montanha Rústica". Gostaria que você comentasse um pouco sobre o processo dele.

"Montanha Rústica" surgiu de uma série de lives que eu fiz na Twitch, no meu canal, e nessas lives, eu fazia música do zero, do mesmo estilo que fiz no BTG em 2019, que saiu "Sozinho no Frio que me Queima". Fiz várias coisas ali, várias músicas… Às vezes, eu só mixava, às vezes eu começava a composição, às vezes eu só escrevia uma letra… Então, vários processos foram mostrados nesse período de lives - e o "Montanha Rústica" saiu dali. Mas a tentativa mesmo foi de recriar o que a gente fez no BTG em 2019 só que ao vivo e óbvio, em um momento de pandemia, tentando fazer isso de casa, com a galera assistindo e comentando ao vivo. Foi um processo muito massa! Deu pra mostrar o conceito para a galera, deu para… Enfim, mostrar um pouquinho o lance das letras, o lance das mixes, tudo que faço e do jeito que faço. Foi um processo muito gratificante, ainda mais depois que consegui lançar.


Jogos, tecnologias e desenhos estão presentes em seu trabalho. O single "Gangue de Robôs Frentistas Mercenários" mostra bastante isso. Como surgiram essas paixões e como foi aplicá-las em seu trabalho?

É, cara, eu sempre gostei muito de jogo, anime, desenho e tudo que tenha a ver com cultura pop. O single "Gangue de Robôs Frentistas Mercenários" eu vi uma oportunidade de, tanto na música, quanto no clipe, fazer uma coisa mais lúdica, um pouco mais… Sei lá, criar um universo fantástico que não existe. Eu lembro muito bem dessa letra, a gente foi fazendo em live e eu falando pra galera: "ó, vamos imaginar uma historinha, coisa assim, assado…" e a gente foi meio que escrevendo essa música ao vivo, ali, com a galera. Como eu sempre tive essas paixões, essas coisas, pra mim sempre foi uma coisa lógica de misturar isso com música, sabe? O próprio nome da minha outra banda, Supercombo, vem muito desses termos usados nos jogos antigos e tudo mais. Acho que continuar com essa história no meu projeto solo faz muito sentido.


Em "Mofo", você canta: "Você não vai morrer / também não vai viver / se não aprender". O que você aprendeu durante sua caminhada e que pode compartilhar com a gente?

Pra mim, na minha caminhada e que eu posso compartilhar com a galera, é que a constância é a melhor coisa que você pode ter - principalmente quando você tá começando um projeto, porque todo mundo espera alguma coisa de alguém, sabe? Se você consegue manter uma constância de entrega, uma constância artística, eu acho que isso ajuda a fortalecer a marca, a cara do projeto, a imagem, o som… Às vezes, as pessoas começam um projeto e elas desistem porque elas acham que aquilo não vai dar certo, perdem a constância, vão para outra coisa só para recomeçar esse processo, sabe? Óbvio que algumas coisas são mais fáceis, tem mais cara de que vai dar certo que outras, mas acredito que qualquer coisa, se você manter a constância, você meio que consegue chegar em algum lugar - esse é recado que eu tenho que dar pra galera [dá ênfase na última frase].


No clipe de "Gangue de Robôs Frentistas Mercenários", Léo consegue dar um fim as máquinas distópicas que o perseguem, colocando um ponto final em seus medos. A constância, mencionada acima, continua com ele - agora, é o nosso dever de juntar com o artista para dar continuidade em nossa existência, essa montanha russa que é a vida.

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