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O impacto eterno de Paêbirú: disco inspira Anjo Gabriel

  • Foto do escritor: Michele Costa
    Michele Costa
  • 23 de set.
  • 6 min de leitura

anjo gabriel
(Créditos: Leandro Lima)

Em 1975, Lula Côrtes e Zé Ramalho se uniram para lançarem o disco psicodélico pernambucano que revolucionou a música brasileira. Entre riffs de guitarra, experimentalismos sonoros e letras que misturam misticismo e crítica social, Paêbirú - O Caminho da Montanha do Sol atravessa décadas mantendo sua força e capacidade de inspirar novas gerações.


É nesse sopro de encantamento que Anjo Gabriel levará o álbum ao palco do Sesc 24 de Maio, nos dias 27 e 28 de setembro. Não se trata apenas de revisitar um clássico, mas de abrir novas veredas sonoras a partir dele. A banda promete reacender a chama da psicodelia nordestina em sua plenitude: texturas que se entrelaçam como rios subterrâneos e ritmos que oscilam entre o sertão e o cosmos. 


"Será um momento de celebração para reviver a magia do Caminho da Montanha do Sol", revela Nemo Côrtes, filho de Lula Côrtes e coordenador da Rede Lula Córtex, que há 10 anos desenvolve ações para preservação da memória e legado do artista a fim de projetar sua visibilidade. "O objetivo é unir gerações de músicos, musicistas, bandas e uma diversidade de pessoas que acompanharam Lula e, hoje, dividem a cena com artistas da nova geração que se inspiram em sua trajetória", completa. 


A apresentação do Anjo Gabriel integra o projeto 75/25 – Meio século de discos históricos, uma série de shows nos quais músicos contemporâneos revisitam o repertório de álbuns clássicos que completam 50 anos de lançamento neste ano, imprimindo seu estilo às canções consagradas. A produção do espetáculo é assinada pelo Selo Tunar.


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O que representa para vocês tocarem um álbum como Paêbirú, considerado uma das maiores joias do psicodelismo brasileiro? 

Representa tudo. É um “disco de cabeceira” pra gente. Está no nosso DNA desde o início da banda a 20 anos atrás. Inclusive nosso novo disco que estamos lançando coincidiu de ter uma altíssima conexão com o Paêbirú, por também ser dividido nos 4 elementos e trazer desenhos de Lula Côrtes na capa. Já estávamos em contato próximo com a família através da Rede Lula Córtex por causa desses desenhos na capa, quando fomos acionados para essa missão. Então a importância, a responsabilidade e a honra pra gente só aumentou pelo fato de ter sido uma demanda da própria família de Lula que fossemos nós a realizar esse tributo.


Qual foi o primeiro contato de vocês com esse disco e que impacto ele causou? 

No início do meu curso em História pela UFPE lá pelo final dos anos 90 escolho a temática do rock em Pernambuco nos anos 70 para um trabalho acadêmico sem ter a menor idéia de nada, apenas de que eu gostava de rock e que um coroa das antigas (Lula Côrtes) se apresentava toda terça feira com a banda Má Companhia na saudosa Soparia. Fui atrás dele para gravar um depoimento e acabei introduzido, somente no assunto, sobre aquela cena dos anos 70. Ele não tinha nenhum disco para me apresentar as gravações, mas me deu um release batido a máquina em que continha na discografia o título “Paêbirú - O Caminho da Montanha do Sol - Lula Côrtes e Zé Ramalho”. Eu prontamente arregalei o olho e soltei um “Poxa Zé Ramalho!”, ele então explicou a viagem do disco mas também que havia se desentendido com Zé. Isso tudo ainda em tempos de pré internet. Por conta do filme Durval Discos (2002, de Anna Muylaert) acabei expondo uns vinis pra vender nas sessões do filme aqui no cinema da Fundação Joaquim Nabuco, e lá apareceu a cineasta Luci Alcântara querendo vender sua cópia do Paêbirú que, na época, já custava a fortuna de 500 reais. Consegui um comprador mas condicionei que eu precisava inspecionar o disco através de uma audição completa, e assim se deu minha primeira lapada no juízo daquele som mágico. Algum tempo depois meu amigo Sidmar ao ir morar comigo coloca internet e baixa toda a discografia disponível no blog Brazilian Nuggets, o que muda a vida de todo mundo da banda a partir dali. Inclusive não só com o udigrudi, mas também com krautrock. Finalmente tínhamos acesso a toda aquela cena da qual só ouvíamos falar. 



Paêbirú é um disco “perdido e reencontrado” por toda sua história e raridade. Como essa aura de mistério reforça o peso da celebração de 50 anos? 

Alguns discos são raros e caros apenas por existirem poucas cópias. Paêbirú é um caso a parte em que a sonoridade do disco é tão importante quanto sua escassez, e influenciou toda uma geração que o descobriu a partir do início dos anos 2000 com a propagação da internet. Mesmo fenômeno ocorrido com a banda Ave Sangria porém não havia banda a ser reativada, o que tornava a possibilidade de se ter um espetáculo sobre isso algo distante pelo fato de não termos mais Lula e de que Zé - com todo o direito que lhe cabe e respeito que reconhecemos - não quer tocar no assunto quanto mais as músicas. Antes de aceitar a missão encomendada afinamos as expectativas e possibilidades de tratar o assunto. Não seria uma versão literal nota por nota o disco inteiro, até porque não foi nesse espírito que ele foi gravado, mas faríamos um misto que transitaria entre passagens bastante iguais às originais, arranjos nossos que já tocávamos ao longo de 20 anos e momentos de improvisações livres. Com esse foco acertado chegamos a um resultado que acreditamos estar compatível com o peso que essa celebração demanda. E pra deixar ainda mais pesado chamamos Jarbas Mariz para participar conosco, ele que esteve nas gravações originais do disco.


anjo gabriel
(Créditos: Allan Luna)

Vocês acreditam que “nenhum canto é mais triste que o final” como cantam em “Não Existe Molhado Igual ao Pranto-Ar?” 

Cantos finais costumam ser tristes. Nossa missão aqui é não deixar o canto de Lula ser final. Temos direito à memória e é ela que a Rede Lula Córtex mantém viva todo ano através do Festival Lula Côrtes, sempre na data de aniversário dele em maio. Esse ano o mote dos 50 anos do Paêbirú não poderia passar batido. E por causa disso entramos de forma ativa no bonde que promove a obra de Lula e não deixa que tenha um canto final. No que depender da gente vai ser só alegria, a tristeza fica a cargo de que o show acaba, mas aí todo mundo sai com o coração cheio de Lula Côrtes.


Depois dessa experiência, como esse mergulho musical muda a visão de vocês sobre a própria trajetória da banda? 

Pra gente muda a exposição e visibilidade que a importância do assunto trás. E coincidentemente bem na hora em que estamos lançando um disco que está filosoficamente conectado com o Paêbirú. Como mencionei anteriormente é uma obra que já está entranhada em nosso DNA, e já faz 20 anos que tocamos algumas músicas no show e nos influencia diretamente. Como começamos a jornada desse disco em 2020, e tivemos uma enorme pausa por causa da pandemia, essa coincidência foi presente do universo. Mas ao mesmo tempo nos trouxe uma mudança de trajetória no sentido de que o nosso próximo lançamento não será um trabalho autoral, mas a gravação desse espetáculo em sua primeira apresentação no Festival Lula Côrtes no palco centenário do Teatro do Parque. O qual registramos em 16 canais de fita magnética com a estação móvel de gravação analógica da gravadora/cooperariva Rozenbeat.


Se pudessem conversar com Lula e Zé sobre o disco ou a releitura, o que falariam? 

Obrigado pela obra maravilhosa que tanto significa para nossos corações, e brinda nossa existência com músicas que tocam profundamente nossas almas. Obrigado por nos mostrar o caminho da confiança em nossa realização artística mesmo que não seja o caminho mais fácil ditado pelo mercado. Obrigado por terem criado um som que nos influencia e nos completa até hoje. Essa gratidão é muito difícil de ser medida e expressa em palavras, por isso repetimos com imenso amor… Obrigado.


Anjo Gabriel interpreta o álbum Paêbirú, de Lula Côrtes e Zé Ramalho

Com participação especial de Jarbas Mariz

Local: Sesc 24 de Maio (Teatro - 1º subsolo) Rua 24 de Maio, 109, São Paulo

Datas: 27/09 às 20h | 28/09 às 18h

Valores: R$ 18,00 Credencial Plena | R$ 30,00 Meia entrada | R$ 60,00 Inteira

Ingressos: site do Sesc ou presencialmente nas unidades



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