Pra me Lembrar de Insistir
- Michele Costa
- 23 de mai.
- 2 min de leitura
"Faz tempo que eu fico pensando sobre o que eu não fiz, mas podia escrever / Tem trechos que eu não deixo escapar" canta Gabriel Ventura em "Trovejar". A letra da canção diz muito sobre Pra me Lembrar de Insistir (Balaclava, 2025). Criado a partir de reflexões sobre o artístico, o músico se expressa poeticamente, devolvendo ao mundo tudo o que a música já lhe deu.
Conhecido por sua trajetória no Ventre e como colaborador em projetos marcantes da cena alternativa brasileira, Ventura optou por um caminho mais íntimo e emocional neste disco, fazendo com que o álbum soe como um diário: a vida segue enquanto as coisas acontecem. Dessa maneira, é possível ouvir um isqueiro tentando ser aceso, um espirro e um telefone analógico sendo discado.
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Liricamente, Pra Me Lembrar de Insistir se equilibra entre o existencial e o cotidiano. Há um tom confessional que não é apenas estético, mas ético: Ventura não canta de cima, mas de dentro. Na produção, arranjos minimalistas dialogam com a melancolia das letras, sem cair no óbvio ou no excesso. O uso inteligente dos silêncios e das texturas revela um compositor que entende que, às vezes, o que não se diz também se comunica.
Por mais que o disco tenha sido construído a partir de reflexões, o músico sabe muito bem para onde ir: Pra me Lembrar de Insistir tem uma narrativa com início, meio e fim. Todos os elementos adicionados levam o ouvinte para outros lugares, mais leves e sutis, indo contra a pressa dos dias atuais.
No fim, o que Gabriel Ventura oferece é mais que música: é um convite à resistência emocional num mundo que insiste em nos anestesiar. O disco é um lembrete de que insistir ainda é um ato de coragem — e Ventura, com sua sensibilidade, nos faz lembrar disso com elegância e verdade.
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