Formado por Nataly Martins e João Victor Santana, a trajetória de Pink Opala conta muitas histórias, afinal, são sete anos de estrada, enriquecidas por canções, visões e ensinamentos. Todos os momentos vividos estão em Sempre Nunca, primeiro disco da dupla, lançado este mês.
Juntos, a dupla coleciona um EP gravado em casa, participações com artistas e um EP colaborativo com o grupo Bambolla Bakers. Apesar do currículo extenso, o primeiro álbum da Pink Opala, gravado entre dezembro de 2023 e fevereiro de 2024, precisou de tempo para maturar e trazer tudo o que a dupla colecionou na carreira. Assim, Nataly e João compartilham todos os sentimentos que trazem dentro de si com os ouvintes, por mais de 40 minutos.
"É como um portal que criamos, uma base que nos traz possibilidades de caminhos que podemos tomar e que não nos restringe. É um começo, o momento de demonstrar quem somos. Tem muito sentido em todos os arranjos, letras e sonoridades. É um trabalho que traz a satisfação pessoal de ouvir e gostar. É a história desse momento registrada, mas que não foi produzida para o agora, e sim para nossa vida. É uma forma de tentarmos quebrar um pouco a maneira como tratamos o tempo em uma época em que tudo é tão efêmero", conta João.
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São sete anos de Pink Opala. Imagino que muitos aprendizados foram alcançados durante esse tempo. Nestes anos, foi possível amadurecer as ideias para chegar no som de hoje?
Com certeza. Ao longo desses anos criando juntos, nossa conexão como parceiros de composição e de palco evoluiu em muitos níveis, desde a concepção das ideias até a execução de tudo que envolve fazer música. Tudo flui e se encaixa melhor. Esse tempo foi muito importante pra gente identificar como poderíamos usar nossas inspirações e referências para criar nossa própria personalidade, sem tentar se encaixar em alguma "onda" do momento ou criar um projeto muito segmentado. Hoje mostramos que o Pink Opala pode trabalhar diversas paisagens e cenários sonoros sem perder a essência.
Pink Opala é uma dupla que trabalha com diversos artistas. Como tem sido essa experiência?
É muito gratificante. Fizemos bastante parcerias, mas até o momento todas elas com artistas muito próximos. Amigos, parceiros mesmo, e até membros da família, como é o caso do Dezert Horse. São pessoas que a gente convive e com quem trocamos figurinhas sobre sons, bandas e tudo mais. Acaba se tornando uma forma de deixarmos esses encontros registrados publicamente através das músicas.
Sempre Nunca é o primeiro álbum da dupla. Como foi o processo e em que momento vocês perceberam que precisavam de tempo para concluí-lo? Aliás, como foi a escolha do título?
Depois de lançar os EPs e os singles e depois de vários shows, a vontade de fazer o álbum veio muito forte após a pandemia. A gente queria uma obra mais sólida, mais completa e que mostrasse de uma forma mais ampla o que o Pink Opala é. Compomos muito, muito mesmo, e as músicas caminhavam para direções muito diferentes. A gente percebeu que levaria um tempo pra criar um elo que arrematasse tudo e ao todo foram dois anos trabalhando no álbum antes de lançar. Ficou muita música de fora, inclusive. Mas quando começamos a entender e decidir o conceito ficou mais fácil para concluir. Quando falamos em conceito, é engraçado porque parecia que era algo com vida própria, que se mostrava sozinho. Aí entra a questão do nome. Pra nós, tempo é a palavra chave do disco, o tal elo que conecta tudo. A gente queria um nome que transmitisse a dualidade que existe na ideia de tempo. Passa rápido - passa devagar. Ontem - amanhã. Passado - futuro. Sempre - nunca.
Sempre Nunca traz onze faixas reflexivas, fazendo com que o ouvinte se identifique com alguma música, pois retrata histórias do cotidiano. Como foi trabalhar com temas do dia a dia?
Todos os temas abordados nas letras trazem uma perspectiva muito pessoal e íntima, através de uma ótica mais metafórica e é muito interessante observar como essa abordagem chega para as outras pessoas. É muito legal ver a maneira como cada pessoa interpreta e ressignifica cada música, criando valores que evocam sentimentos distintos em cada um. As temáticas foram trabalhadas de uma forma sensível, quase terapêutica e foi libertador poder expressar um pouco do que pensamos sobre tantos assuntos como tecnologia, egoísmo, saúde mental, entre tantos outros.
“Construção” narra a revolução dentro de uma pessoa. Como é a construção dentro de vocês?
Somos construídos pela nossa verdade, nossos sonhos, desejos e vontades. Temos uma espécie de lealdade, tipo uma adoração à música. Somos curiosos para conhecer sons novos, coisas novas e curiosos com o que acontece ao nosso redor. Existe um pouco de revolta dentro da gente também. Todos esses elementos são organizados dentro de nós da maneira mais harmônica possível. Pelo menos é o que a gente tenta.
Já em “Falta Lógica”, Nataly canta: “O tempo é uma ilusão / Não me impede de dizer / O que eu quiser / Com minha voz”. Pergunto: o que vocês pretendem despertar no ouvinte? E como é utilizar a voz para abordar diversas questões?
Gostaríamos de despertar sentimentos mais coletivos como empatia, por exemplo. Mesmo o disco podendo ser um lugar de conforto e contemplação, queremos gerar algum incômodo, trazer reflexões importantes. A gente quer que as pessoas tenham no disco um momento de fuga e que tenham em mente a tentativa de não se deixar oprimir pelo imediatismo que nos é imposto. Poder utilizar nossa voz é um privilégio. Poder falar tanto pra quem quer que seja, é poderoso. Se você acredita que tem algo a acrescentar pro mundo, e sente que quer falar, tem que ser falado. Tem que botar as ideias para voarem por aí pelo universo. Uma hora ecoa.
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