Este capítulo não foi concluído
- Desalinho
- 14 de fev.
- 2 min de leitura
Com o objetivo de preservar a memória política das resistências e da luta pela democracia no Brasil, o Memorial da Resistência recebe a instalação da obra Este capítulo não foi concluído (2024), de Rafael Pagatini.
A obra é composta a partir de páginas do projeto Brasil: Nunca Mais, iniciativa empreendida pela sociedade civil ainda durante a ditadura civil-militar, responsável por sistematizar e produzir cópias de mais de 1 milhão de páginas contidas em 707 processos do Superior Tribunal Militar (STM), revelando a extensão da repressão política do Brasil no período.
O painel de 14,2m x 4,5m dispõe 72 páginas dos processos sobrepostas por itens relacionados ao corpo humano, como roupas, calçados, adereços e objetos pessoais, materializando a presença das pessoas impactadas pelo período de repressão.

A obra comissionada para a exposição estabelece uma ligação direta entre o projeto e o romance O Processo, de Franz Kafka. No final do capítulo oito, o autor acrescenta uma nota indicando que “este capítulo não está concluído”. Essa sensação de inacabamento permeia todo o livro que, por si só, é uma obra inacabada, refletindo o processo legal labiríntico e trágico que Kafka narra, em que a conclusão e a justiça permanecem inalcançáveis.
A escolha do título não apenas evoca a ideia de inacabamento presente na obra literária, mas também reflete às histórias das pessoas perseguidas durante o governo civil-militar brasileiro. Muitas dessas trajetórias nunca tiveram o reconhecimento ou a justiça que mereciam, permanecendo como capítulos inacabados na narrativa do país. Ao escolher esse título, Pagatini buscou ressaltar a continuidade dessas lutas e a importância de manter vivas as memórias, as quais ainda aguardam por justiça e resolução.
O Memorial da Resistência fica aberto de quarta a segunda (fechado às terças), das 10h às 18h, na Santa Ifigênia. Entrada gratuita.
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