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Massari Fest 2025

Massari Fest 2025

Com curadoria de Fábio Massari, um dos nomes mais célebres do jornalismo musical brasileiro eternizado pelos anos de VJ da MTV, o Massari Fest 2025 está de volta em setembro para comemorar os 61 anos do 'Reverendo', como o também crítico musical é respeitosamente conhecido. O evento acontecerá no dia 14 de setembro no Fradique Club, em São Paulo, e terá como atração principal a banda norte-americana A Place to Bury Strangers, além das nacionais Bufo Borealis e Retrato & Oruã. A realização é da Maraty. Massari comenta sobre a sua curadoria: "Critério básico para escolha das bandas: enquadrar-se no esquema "prediletas da casa" - simples e totalmente subjetivo! São bandas que acompanho com muita admiração; pelo som, pelas pessoas envolvidas e, claro, pelas graças alcançadas nas apresentações ao vivo". Já apelidada de 'a banda mais barulhenta de Nova Iorque', A Place To Bury Strangers, desde 2002 na ativa e cultuada por todo o globo, é uma mistura intensa de noise rock, shoegaze, post‑punk e space rock. O Bufo Borealis, criado pelo baixista Juninho Sangiorgio (Ratos de Porão) e o baterista Rodrigo Saldanha (Amigos Invisíveis), é outra das bandas do Massari Fest 2025. Retrato é uma banda brasileira de rock psicodélico, mas que também explora outras vertentes musicais dos anos 60 e 70 principalmente na cena nacional, sem perder sua contemporaneidade. Assim como no primeiro Massari Fest 2025, a edição deste ano terá uma feira de editoras independentes, com presença confirmada da Terreno Estranho vendendo, ente outros, os livros do Fábio Massari. Massari Fest 2025 Data: 14 de setembro de 2025 Horário: 18h (abertura da casa) Local: Fabrique Club (Rua Barra Funda, 1071 - Barra Funda, São Paulo/SP). Ingressos disponíveis aqui .

Virgin

Virgin

Após se arriscar em uma euforia pop ensolarada com Solar Power (Universal, 2021), seu terceiro disco, Lorde retorna com Virgin (Republic, 2025), seu trabalho mais íntimo, introspectivo e sensual. A neozelandesa volta a flertar com a melancolia — agora de forma menos intensa, porém mais crua — para escancarar fragilidades com uma honestidade desconcertante. A narrativa do álbum começa já pela capa: uma radiografia da pelve revelando ossos, metais e um DIU. O corpo, literalmente, está em exposição. Em Virgin , não há mais sol — só sombra, sangue e cicatrizes. Ainda assim, o passado ecoa nas 11 faixas que, embora inéditas, dialogam com os universos sonoros de Pure Heroine (Universal, 2013) e Melodrama (Lava/Republic, 2017). O disco se apresenta como um diário sonoro, em que, no lugar de páginas, Lorde sussurra confissões — às vezes desconfortáveis, mas sempre intensas. "Hammer" estabelece o tom desde o início: "Talvez eu tenha renascido, estou pronta para não ter respostas." Leia também: Flecha Caminhos Selvagens O grito de Janine Virgin é sobre reconstrução. Faixa após faixa, Lorde desmantela amarras, vícios emocionais e fantasmas do passado para, enfim, se refazer. Ao contrário de seus trabalhos anteriores, o álbum aposta em uma produção mais contida, com instrumentais econômicos e foco absoluto na voz — vulnerável, presente, humana. Isso revela uma artista menos interessada em agradar e mais empenhada em se mostrar por completo: não uma persona, mas a carne viva (com ossos) de sua experiência enquanto mulher, artista e figura pública. Faixas como "GRWN", "Broken Glass" e "David" escancaram esse processo com lirismo visceral. Não é um álbum feito para playlists ou baladas — embora "Favourite Daughter" e "If She Could See Me Now" flertem com a pista de dança em momentos pontuais. Virgin é um mergulho profundo no autoconhecimento, e embora o foco seja ela, o espelho também nos reflete. Não há refrões explosivos nem promessas de hits; há ecos, hesitações, respirações e dúvidas — exatamente como é a vida.

Conheça: Tereu

Conheça: Tereu

Há mais de uma década, Matheus Andrighi atua em diversas frentes da produção artística. Desde 2020, também integra o projeto de Potyguara Bardo, participando ativamente dos shows da artista. No entanto, foi só recentemente que decidiu mergulhar de vez na música com um projeto próprio. Assim nasceu Tereu, seu trabalho musical autoral, que se destaca por composições sensíveis e pela fluidez entre diferentes gêneros sonoros. (Crédito: Elisa Maciel) O primeiro lançamento, "Feito Besta", marcou sua estreia e deu início à divulgação do álbum Música Pra Enxergar de Novo , previsto para este ano. A faixa revela sua maturidade artística e um diálogo íntimo com a música brasileira. Na sequência, veio "Mais Forte Que o Medo", um single carregado de emoção, acompanhado por um clipe que retrata uma simbólica viagem de ônibus pelo interior do país — metáfora visual para os caminhos internos que o artista percorre em sua nova fase. Gravado com olhar documental, o clipe transforma o trajeto em paisagem emocional: campos, janelas, passageiros, paradas e despedidas compõem o cenário para a jornada interior do personagem. A câmera acompanha o tempo da estrada em sintonia com os versos que evocam Belchior e dialogam com as memórias coletivas de um Brasil profundo. "É uma forma simples de investigar esse sentimento sem nome que temos ao nos debruçarmos sobre a janela de um ônibus. Seja medo, saudade (esse termo tão brasileiro), seja esperança. Não acredito que exista um brasileiro que não possua uma relação particular com a saudade", conta o artista catarinense radicado em São Paulo.

Os amores de Juliano Costa

Os amores de Juliano Costa

Segundo o dicionário Aurélio, a palavra amor significa: "sentimento de dedicação absoluta de um ser a outro, ou a uma causa." O escritor C. S. Lewis definiu a emoção de uma maneira realista: "Amar é estar vulnerável. Ame qualquer coisa e seu coração estará apertado e possivelmente quebrado." A visão de Juliano Costa é diferente, para o músico "o amor é quando uma pessoa deixa de ser um conjunto de elementos visuais e vai além." É difícil definir este afeto, afinal, existem vários tipos de amor, por isso, é necessário vivê-lo para encontrar a melhor maneira de descrevê-lo. Após festejar em Vida Real (2024), Juliano apresenta sua faceta de compositor ficcional, se aproximando da literatura ao narrar a trajetória amorosa de um personagem em Chamar Alguém de Amor (2025). O título não é apenas uma escolha estética: é uma provocação afetiva. Em 11 faixas, o músico narra o começo da jornada amorosa, quando tudo flui e o encantamento se faz presente em cada momento. Vestindo um terno marrom, enquanto segura um pratinho de bolo, o intérprete olha para a mulher amada, idealizando uma vida juntos. "Apaixonamento total. Sabe? Quando alguém entra na nossa vida pra ficar e a gente quer a vida com esse alguém. Sol e lua debaixo do mesmo lençol do céu numa lua de mel dourada. Um amor louco. Ainda bem", explica. Com referências que passam por Rita Lee & Roberto de Carvalho, Roberto Carlos, Arnaldo Antunes e pagodes clássicos, Chamar Alguém de Amor celebra a paixão desse casal que vive um amor louco com uma sonoridade leve. O disco de Juliano Costa é para quem já amou, para quem ainda ama, ou para quem está tentando, com toda a fragilidade que isso exige, chamar alguém de amor. Leia também: O manifesto de MONCHMONCH no fim do mundo As esquinas de Carolina Zingler Omar and Cedric: If This Ever Gets Weird O amor apareceu em Vida Real  com "Todo Amor do Mundo". Ainda é possível respirar fundo todo amor do mundo, nos dias de hoje, com guerras, capitalismo e fim do mundo?  [breve silêncio]  Nossa, vou te falar que tá difícil ultimamente, eu tô bem [olha pra baixo]  de saco cheio - até por isso que eu fui pra uma coisa bem ficcional dessa vez, pra criar outros mundos mesmo, sabe? [movimenta as mãos]  Mas como exercício de meditação e de organização interna dos pensamentos, sim, acho que ainda se mantém uma busca por um estado consciente, mas não tomado pelas merdas exteriores. Não sei se dá pra entender, mas é um exercício de não se isolar da realidade, mas também de não se deixar ser totalmente engolido por ela, sabe? Então, tipo, eu acho que ainda existe, sim, pra caramba, lugar pra todos esses tipos de amor, mas principalmente hoje em dia nos micro e nos médios alcances [risos] , porque de maneira geral tá tudo bem fodido.  Será que um dia melhora? Não só respirar esse sentimento, mas também como ser humano…  Meu chute socialmente: socialmente só piora, mas individualmente é possível; as coisas vão se construindo pelos nossos... Primeiro pelas teiazinhas que a gente tece mais próximas e daí as coisas vão, sei lá, se transformando em outras; mas eu acho que como posturas individuais acho que dá pra melhorar pra caramba, um monte de coisa, assim, até jeito de olhar as coisas e tal, fazer o possível pra não ficar totalmente deprimido também, né? Então tem que ter umas estratégias, porque senão eu vou... Tem que ter umas estratégias psíquicas mesmo, sabe? Mas de maneira social - eu não entendo nada pra dar uma opinião, baseado em algo -, a minha impressão é de que nós somos fodidos pra caralho. [risos]  E só vai piorar. Já que a realidade é tão difícil, e você falou, escreveu e cantou sobre no disco anterior, como foi sair dessa perturbação e encontrar um acolhimento nesse sentimento tão bom? [olha pra cima, breve silêncio]  Foi um pouco estranho, pra falar a verdade, porque não teve acolhimento...  Talvez um acolhimento no sentido de sair dessa loucura que a gente vive, porque você se pega no outro sentimento pra só sumir mesmo... É, tem um pouco também. Eu acho que esse disco, eu acho que tem uma... Ele tem uma certa urgência [movimenta a mão esquerda, segurando uma caneta]  no meu processo de composição. Acho que eu entrei num clima meio do tipo "vamos viver o que há pra viver" [risos] , um negócio de "vamos nos permitir e vamos se apaixonar" para esse personagem que eu criei, nesse universo [movimenta as mãos] , nesse universo ficcional no qual tá existindo esse relacionamento e essas pessoas estão entrando de cabeça nesse relacionamento - é um começo e tudo é muito intenso e tal. Tem um pouco disso… Precisa viver isso, sabe? Eu acho que existe uma coisa um pouco catastrófica também nessa abordagem, sabe? Não é mais uma abordagem de contemplação da vida e de... Mesmo crítica positiva ou negativa, não é mais isso, é meio que estar vivendo no meio do furacão, o acontecimento que eu escolhi, a paixão, né? Mas tem uma coisa meio apressada nessa ficção que eu inventei do disco, tem uma coisa meio… Uma necessidade de intensidade, algo assim, sabe? Criar um mundo de verdade, viver coisas - parece meme, mas isso, sabe? Viver coisas, tem um pouco a ver com o negócio de estar acabando também, eu acho, tipo, vamos viver as coisas intensamente e foda-se, vai saber o que vai acontecer, sabe?  (Créditos:Millena Rosado e Victoria Andreoli) Ainda em Vida Real , você trouxe alguns símbolos que se repetem em Chamar Alguém de Amor , como o céu, estrelas e brilho. Esses signos reapareceram de forma orgânica e seguem com o mesmo significado?  Boa pergunta. [olha pra cima]  De bate pronto eu não saberia dizer, eu não tinha pensado sobre isso. Eu adoro usar esses símbolos de natureza, claro, é um recurso poético muito conhecido, mas eu adoro, sabe? Então eu sempre uso eles de uma maneira natural, não é uma coisa muito elaborada. Mas eu acho que, se for pensar nas vezes em que foi usado no Vida real, [breve silêncio]  acho tá colorido dessa vez. Como se tudo tivesse com um filtro de Instagram - não é nesse repertório de recursos que a gente tem agora [movimenta as mãos rindo ], mas tá com um filtro mais brilhante e com as cores mais estouradas, sabe? Igual quando a gente fala estrela, cada um imagina uma estrela, né, mas não dá pra imaginar uma estrela e tal… Então tem esses recursos do céu, de sol, de estrela, de mar e tudo. Acho que no Vida Real  ele era todo [em tom]  pastel, sabe? Na minha cabeça, na hora de fazer, agora, como cada um ouve, não tem controle. E agora não, agora tá aquelas cores estouradonas, saturado e meio brilhantes, meio psicodélico; a luz da lua é muito forte, a estrela tá… [movimenta a mão esquerda]  Aquelas nebulosas estrelas que a gente vê, sabe? Tá tudo mais intenso, sabe? Mas assim, tô pensando agora, eu teria que elaborar… Mas de bate pronto eu sinto que é um pouco isso, sabe? Minha sensação em relação a esses recursos usados no Vida Real  e nesse é um pouco essa diferença de ganhar intensidade.  Você sai da festa - aquela que não deixaria acabar - para o amor. No momento em que acaba, pode ser vista como uma consequência para retratar um novo capítulo, talvez um amor em consequência dessa badalação? Pode. Legal, daora isso. Eu acho que tem uma coisa assim que é... Assim, o tempo inteiro essa ideia também da festa como representação da vida, de medo de morrer mesmo e da festa acabar, e que seja também uma coisa da festa da vida ou que seja uma fase... Tipo, uma fase... O fim das coisas, assim, né? Acho que o fim da festa tem um pouco disso. E o negócio do Chamar Alguém de Amor  também é um pouco isso. É outro tipo de festa agora, sabe? É uma outra festa, mas ainda tem a ver com estar vivo, sabe? Só que dessa vez é um outro tipo de vida, mas... Acho que tá sempre relacionado com vida e morte isso que você falou da festa, sabe? Eu acho que sim, a festa continua. Só que ela tá em outro lugar agora - na minha cabeça ela tá mais num mundo inventado do que no mundo real.  Em "O Vazio" você canta sobre o vazio que foi deixado, mas em "Tudo Outra Vez", você traz a redescoberta da paixão. É a partir de um novo amor que se preenche esse vazio ou ele ficará ali para sempre?  Eu acho que o vazio vai ficar pra sempre. Acho que é um amigo que vai ser levado - um amigo imaginário que vai ser levado junto [risos]  rolando nesse novo amor, sabe? Acho que também é uma coisa que pode representar cicatrizes, traumas e lembranças também, mesmo que não sejam coisas ruins, né? Eu acho que a memória é uma coisa importante nessas abordagens que eu tenho feito, tá sempre presente a memória, porque tem a ver um pouco com vida e morte. Quando a memória ainda continua lá, ainda é uma coisa que tem a ver com algo que está vivo ainda, mesmo que na memória, sabe? Então eu acho que essa relação do vazio com o Chamar Alguém de Amor , essa outra fase, o vazio permanece; mas uma coisa que eu acho que tem a ver com o que você tá perguntando é que eu acho que simbolicamente… Tudo que tá no Vida Real  representado [faz um retângulo com as mãos]  ele resiste ao que for inventado no Chamar Alguém de Amor , sabe? Se alguém tiver que ganhar, o Vida Real  ganha no sentido de argumentação, porque ele é muito mais real, entendeu? O Chamar Alguém de Amor  é uma construção ficcional que tá tentando elaborar em cima do Vida Real  um novo mundo: o vazio continua, a vontade da festa não acabar continua, são coisas que se sobrepõem. Eu não sinto que nada nas ideias e conceitos do Vida Real  foram superados com esse disco, sabe? Foram outras camadas que foram acrescentadas, mas não foi aquela coisa de uma resposta ao que estava sendo elaborado antes, sabe? Foi meio que uma camadinha, uma cobertura do bolo em si, mas o recheio mantém-se, sabe?  É como se fosse ressignificar o luto, não?! É, tem a ver. Eu acho que sim, eu acho que é uma parte meio da fantasia, de fantasiar, de imaginar outras possibilidades e tal. É verdade, tem a ver. Tem a ver, o luto tem a ver mesmo.  É mais fácil viver em um mundo real ou num mundo fictício?  Eu acho que é mais importante o mundo real, mas a gente tem que temperar com o ficcional no meio, senão não aguenta. [risos] "Esse disco tem uma intenção, não sei se dá certo ou não, de uma certa exposição que é diferente da exposição do Vida Real , de não ser blasé, sabe? Porque isso atrapalha muito na comunicação de muitas coisas. Não é um disco cool , não é uma coisa descolada, ele é meio descarado, sem medo de ser feliz, sem medo de passar vergonha, se jogar - digo pelas composições." (Créditos: Millena Rosado e Victoria Andreoli) Chamar Alguém de Amor  é um disco que o compositor ganha espaço. Como foi focar nele? Então, eu tinha passado por essa fase do Vida Real  e senti que… Já no processo do Vida Real  eu já tava fazendo outras composições e tal e me veio um incômodo de ter sempre meio que um recurso viciado de fazer música triste e que às vezes não são coisas que estavam exatamente necessárias, sabe? E eu comecei a sacar que tem um pouco disso também… Existe uma certa facilidade em compor ou de criar algumas coisas que tendem mais para a melancolia e tal - isso independentemente do que cada pessoa estiver sentindo, acho que de maneira geral é mais fácil, pelo menos para as pessoas que eu observo… Acho que a melancolia é mais fácil de ser expressada. E eu acho que existe muito também o medo ou uma insegurança de expressar alegria, seja ela sentida ou não, mas de um objeto artístico que mostre algum tipo de alegria que seja identificável… Claro, é lógico que existem muitas expressões de alegria na nossa cultura, mas acho que uma construção de narrativa assim, eu acho que é mais difícil e eu tenho essa dificuldade, né? Também tem uma coisa que eu passei muito tempo morando - não muito tempo, mas um tempo - com um amigo meu e ele me mostrou muitos pagodes que eu não conhecia e isso deu uma mudança de chave também, sabe? Incluir no meu repertório ferramentas em exaltar coisas boas em canções bonitas - era uma coisa que eu tinha pouco. Durante o Vida Real , eu tava compondo e eu saquei que tava indo de novo nesse vício de fazer umas lamentações, umas coisas que eu não estava mais afim de fazer… Aí foi meio que como um exercício mesmo de falar "beleza, eu vou tentar construir composições num contexto mais positivo, como exercício." E aí eu vi que tinha uma possibilidade de coisas ali, sabe? Eu vi que dava pra fazer. É uma coisa que, pra mim, é muito mais difícil, mas eu tava gostando do caminho. Aí eu resolvi criar esse negócio, falei "eu vou fazer um disco temático" - o Vida Real  é um disco temático, mas o tema dele é muito mais amplo, né? "Vou fazer um disco temático, chega de ficar me expondo, não vou ficar contando minhas coisas por aí" [risos]  Então, eu achei que foi uma boa saída. Eu inventei essa história de amor, desse começo de história de amor e fiquei me esforçando pra não fazer música de separação, música de corno, música de tristeza. [risos]  Aí foi se abrindo essa possibilidade, sabe? Quando eu vi que já tinha algumas, eu resolvi fazer um disco inteiro desse começo de uma história de amor, sabe? [enfatiza com as mãos]  Tá tudo bem aqui, só paixão - esse é o recorte. Depois acabei botando uns temperos de problema, porque também...  Falando sobre essa intensidade, sobre nos lembrar que existe vida além de todas essas merdas, guerras e problemas, como foi fazer esse exercício e lembrar, pra você mesmo, não tocar em feridas?  Ah, eu acho que... Elas foram tocadas, meio que não tem como também, sabe? Eu tava falando com o Renatinho [Renato Medeiros, produtor do álbum] [sobre o disco]  "Será que [o álbum]  não é meio estranho, mano? Tipo, eu não tô super feliz, eu não tô num relacionamento, eu não tô apaixonado. Será que não é meio estranho eu fazer esse disco?" E aí, ele falou um negócio que eu achei bom: "o disco é meio melancólico, mas não é o fim do poço." [risos]  Isso me deixou um pouco mais tranquilo. A peneira da composição não é tão eficaz, sabe? As coisas passam. Depois que ele falou, eu fiquei um pouco mais tranquilo de ver que o que tem que estar lá, está lá - mesmo que seja em camadas de subjetividade diferentes. Acho que existe uma verdade artística ali, mais do que uma verdade autobiográfica que é o que tá me importando, sabe? Acho que, por mais que eu estivesse contando, no geral, histórias felizes, diálogos ou passagens boas, acho que tá lá; os problemas estão ali também, sabe?  Chamar Alguém de Amor não é um disco pra nos lembrar de não focar somente em coisas ruins?  Pode ser também, viu? Como a gente comentou agora é bem isso, né? Eu compus já a parte dois, que é só separação e desgraça, vai ser a continuação desse disco. Eu tava até querendo lançar agora no segundo semestre, mas o Renatinho me aconselhou a lançar no começo do ano que vem. Lançar esse disco neste ano e no ano que vem lançar a parte dois, né. Mas, tipo, eu acho que tem até um pouco isso também, tem um pouco de levantar a bola das coisas, pra depois cortar, né? [risos]  Tem uma... Esse disco não é exatamente dançante, mas tem uma parte que é muito louca, tipo, quando a gente tá, sei lá, numa festa qualquer e tal, e aí começa a tocar uma música e tá tudo dançando e curtindo, sabe? Não é que eu tava procurando a pista de dança, mas eu tava procurando essa sensação um pouco também, de quando a gente se olha e vê que tá curtindo o momento, sabe? Essas coisas têm que ser muito valorizadas. É o que a gente tem, né? Então, acho que tem um pouco disso, de levantar o máximo também essas coisas, sem ficar totalmente irreal, né, mas de valorizar  coisas que são raras, mas que são muito boas, sabe? Bons momentos, independente de qual contexto, eles têm que ser valorizados, sabe? Por que o amor é importante?  [volta a segurar uma caneta e risca algo em silêncio]  Daqui a três meses eu faço uma canção e te respondo. [risos] Eu não faço ideia. Pra mim é um mistério - e que bom também!  "Me deu vontade de fazer um disco temático, que contasse uma história que não fosse necessariamente a minha. Meus álbuns anteriores foram experiências de juntar composições com temas e situações variadas. Dessa vez, explorei mais o lado ficcional do ofício de letrista, mergulhando na ficção e mostrando outros lados do meu trabalho." Existem canções que você enfatiza o contato físico, como olhar nos olhos, o toque da pele… Fiquei me perguntando se não é uma crítica ao modo que estamos vivendo hoje, ou seja, tudo é online, onde sentimentos viram memes ou pessoas que tiveram um relacionamento fracassado ou traumatizado não querem se relacionar novamente e esquecem que existem outras pessoas, outras possibilidades, etc. Serve também como uma crítica? Serve como uma autocrítica, acho que sim. [risos]  Acho que tem um pouco de um exercício meu também de me abrir mais pro mundo. Eu gosto de sair pra casa, eu saio bastante, sou zero a pessoa que fica em casa, mas acho que emocionalmente eu sou muito fechado, isso também tem a ver. Se for pra gente inventar um mundo ficcional, o que dá pra melhorar? Vai nesse sentido. É um disco de contato, do presencial. [breve silêncio]  Não foi de propósito esse negócio do olhar que depois apareceu tanto… Eu ainda penso muito sobre isso. [silêncio]  Eu acho que tem a coisa do não falado também, onde o olhar se expressa muito, acho que essa linguagem acabou sendo muito usada, é um jeito de tratar melhor a subjetividade.  Vida Real é um disco longo, com mais de 40 minutos, diferente de Chamar Alguém de Amor  que tem um pouco mais de 20 minutos. Tratar das coisas reais é muito mais difícil do que se abrir/imaginar um mundo cheio de amor?  Eu acho que tem uma coisa do Vida Real … Tem muitas músicas longas porque veio da vontade de mostrar, também com a duração das partes das músicas, que a vida real é menos emocionante porque ela é menos editada, tem partes de tédio na vida real, tem dias que demoram pra passar. No Chamar Alguém de Amor , eu quis ir pro lado da narrativa ficcional, de roteiro, manter a audição na sua narrativa; aqueles cortes curtos, cenas rápidas pra não desviar a atenção do espectador, uma coisa bem paradinha, sem sobrar nada - e o Vida Real  sobra tudo, porque tem menos edição; esse não, é um curta metragem, sabe? A ideia era essa: conversando com o Renatinho, a ideia era dele produzir e editar… Uma coisa que a gente conversou era não deixar nada sobrado, apresentar aquilo que é necessário para que a narrativa seja desenvolvida e ponto. Agora, o que é mais fácil eu não sei. No final das contas… Foi um processo muito mais complexo pra mim no Vida Real porque também tem essa parte que eu quis produzir tudo e ficar com aquelas falhas da vida real… Já no Chamar Alguém de Amor  eu queria uma coisa que ficasse bem acabado, com uma lapidada, deixar o negócio brilhante e tal, então, foi um processo muito mais fácil, mas eu não sei se é por causa do tema ou por conta das etapas que foram feitas. Pra compor foi muito mais divertido! Era história, tinha muito a coisa de ficar ouvindo outras músicas… Como é o tipo de música que eu não tava acostumado a compor, eu ficava ouvindo e sacando "foi por esse caminho, usou essa palavra", sabe? Teve essa novidade pra mim que foi divertido pra mim.  Juliano Costa celebra o amor entre amigos Embora Chamar Alguém de Amor seja um disco essencialmente romântico, Juliano vai além: ao lado de seus amigos, celebra também o amor que sustenta a amizade e fortalece a parceria. A colaboração com Renato Medeiros se repete; além de produzir o disco, é parceiro na composição "Brigar é Fácil". A vontade de registrar nos discos as pessoas que o acompanham em vida segue neste trabalho: Helena Aranha canta em quatro das faixas; Millena Rosado, que já estava à frente da identidade artística de Juliano, agora ao lado de Victoria Andreoli, aparece também como compositora em "Bagunça"; Gabriel Serapicos está presente na faixa "Tudo Outra Vez". "É legal porque existe uma turminha nossa, [composta por] Renato, o produtor, Gabriel Serapicos que canta "Tudo Outra Vez" e que produziu junto com Renato; a Helena que é uma super cantora e que tá com umas composições novas e que em algum momento vai lançar o trampo dela; a Millena é muito louco porque a gente tem trampos juntos e tal, mas ela tava sempre nas câmeras, fazendo clipes e fotos… Mas ela é mó compositora boa e canta pra caralho. A gente tá meio uma turminha que fica trocando o que cada um faz pra se complementar; tá um negócio prazeroso de trocar ideia e compor junto. É como se fosse uma banda, só que de várias carreiras solos, sabe? E tem a Victoria Andreoli fez toda a parte visual desse disco. Eu tô achando muito louco trabalhar em grupo - acho que tá todo mundo com carência de ter banda, a real é essa. Teve uma época que todo mundo tinha banda e acho que é o jeito que a gente tá lidando pra ter uma banda por enquanto. É mó daora fazer banda!", comenta sorrindo. O disco marca o início de uma trilogia que guia os próximos trabalhos de Juliano Costa. Neste primeiro capítulo, ele mergulha na paixão; o segundo abordará a separação, e o terceiro será dedicado às curtições — um ciclo afetivo que muitos já viveram.

Flecha

Flecha

Uma flecha é um projétil de madeira ou metálico, pontiagudo e disparado com um arco. É usado para caça, guerra, esporte e literatura. Em Flecha  (Editora 34, 2022), Matilde Campilho oferece uma bússola ao leitor ao escrever histórias, imagens e sentimentos a partir de observações silenciosas. Dessa maneira, o título alcança o seu alvo - embora não seja fixo -: o leitor.  Diferente de Jóquei  (Editora 34, 2015), Flecha  flui livremente entre o pop e o lírico, entre a cidade e o corpo, entre o afeto e a política. Há humor, há dor, há memória, mas acima de tudo há busca - assim como uma flecha que voa até alcançar o seu destino - por sentido, por beleza, por humanidade. Dessa maneira, a escritora encontra um novo estilo, com mais estrutura e reflexivo.  "Uma mulher, sem nenhum vestígio de medo no olhar, atira um punhado de pó seco sobre o corpo morto de seu irmão." (página 104)  Leia também: As memórias de Atalhos A travessia de Haroldo Bontempo Constelações Hipócritas Em entrevista à Quatro Cinco Um , Matilde diz que não escreve poesia há anos, no entanto, é possível ver a poética em histórias nascidas de outras histórias, de livros, crônicas de animais; histórias inventadas e histórias escutadas pela própria autora; microcontos, frases, memórias e pinturas na obra.  A narrativa da escritora portuguesa caminha pelo mundo: Olinda, São Petersburgo, o deserto da Califórnia e Porto - mostrando que seus versos têm o dom de encontrar leitores onde quer que estejam. Não por acaso, a obra conquistou leitores em diversos países e é celebrada em saraus, redes sociais e traduções. A flecha de Campilho, uma vez lançada, não para: ela continua a voar, atravessando idiomas e tocando pessoas que nem sempre sabiam que estavam esperando por ela. "Eram onze irmãos. Os seus pais, por sorte, morreram antes de qualquer um deles. Todos cresceram mais ou menos saudáveis, a maioria casou, teve filhos, teve netos. Nenhum dos onze esqueceu a infância alegre em Vila do Conde mas claro que com o tempo foram envelhecendo. E numa ordem meio aleatória foram também morrendo. Um por um, até sobrarem apenas duas raparigas: a quinta mais velha, agora com noventa e oito anos, e a mais nova, agora com oitenta e sete. Falavam todos os dias por telefone até ao dia em que o telefone da mais velha parou de tocar. Nesse dia todos os seus filhos e netos correram para a sua casa. Quando os viu chegar, ela, que passara toda a manhã em silêncio, chorou. Nenhum deles a tinha visto chorar antes. Choraram também. A sua neta do meio sentou-se a seu lado e ela disse-lhe que agora tinham ido todos. Que a irmã era a última da trupe de Vila do Conde e que agora só sobrava ela. Depois fez silêncio outra vez, para dar um espaço à lágrima. Quando a água lhe ia já lentamente a meio do rosto, recuperou o sopro e disse: Acostumamo-nos a tudo, menos à morte. É como um foguete que nos atinge e nos deixa quietos. E ficou quieta, de mão dada com a neta do meio, deixando cair as velhas pálpebras sobre dois grandes olhos azuis, agora cegos. Adormeceu enfim, sem saber que naquele segundo, quase um século depois de nascer, entregara um tesouro simples e fundamental a uma mulher de trinta e seis anos. Essa mulher leva agora a mão ao ventre, e sente remexer-se dentro uma memória vila-condense humana, viva, cheia de futuro."

O manifesto de MONCHMONCH no fim do mundo

O manifesto de MONCHMONCH no fim do mundo

Em meio ao colapso climático, ao desespero urbano e ao abismo entre ricos e pobres, MONCHMONCH apresenta MARTEMORTE  (Saliva Diva/Seloki Records, 2025), trilha sonora do fim do mundo. Visceral e caótico, o projeto une a força bruta do hardcore com uma crítica feroz ao capitalismo tardio e seus milionários insaciáveis. Gravado no Brasil e Portugal, o disco traz o grito de revolta diante de um planeta à beira do colapso.  (Créditos: Marina Mole) O projeto atravessou transformações sucessivas até emergir como um disco conceitual, construído entre dois continentes e múltiplas linguagens. O conceito em questão é o cenário que engloba o trabalho: bilionários colonizam Marte e, de lá, assistem — e contribuem — para o colapso da Terra. Absurdos do mundo pós-moderno são expostos com humor, ironia e um apego simbólico ao pão de queijo, transformado aqui em alegoria de desejo, poder e banalidade. Esse pano de fundo narrativo é sintetizado na faixa "JEFF BEZOS PAGA UM PÃO DE QUEIJO".  As faixas velozes de MARTEMORTE  acompanham uma HQ com interpretações dos nove temas que compõem o repertório, além do vinil do disco que conta com um lado B exclusivo. MONCHMONCH é um instrumento de resistência e desconforto.  Leia também:  As memórias da Atalhos O encantamento de Pobre Orfeu Hardcore 90 Como surgiram essas imagens que você expôs em MARTEMORTE ? Acho que é uma mistura entre o sonho e a realidade. É acordar e ir pensando o que eu quero, né? Porque este álbum tem muito esse lugar do surreal com a realidade, assim, desse mundo hiper capitalista, mas ao mesmo tempo parece que está um pouquinho no futuro, mas ao mesmo tempo parece atual… Esse espaço, com o hipocampo e o cérebro que não dá para distinguir o que é realidade e sonho - a construção ia muito disso. Eu ficava pensando ali com o olho fechado, já meio dormindo ou dormindo, aí acordava, ia já pensando outras coisas agora nesse outro estado da mente… E aí nesse dorme, acorda, dorme, acorda, chegou nesse conceito final que tá lançado. Você acha que é melhor viver no sonho ou nessa realidade absurda? [olha para baixo e demora para responder] Olha, eu tenho sonhos muito divertidos, eu sinto que às vezes até nos meus pesadelos eu me divirto, porque acho que, sei lá, eu sou o tipo de... Cada pessoa sonha de um jeito diferente, né? Mas normalmente ou eu não lembro dos meus sonhos ou eu lembro totalmente deles. Só que quando eu lembro totalmente deles é quase como se eu estivesse comendo uma pipoca no cinema, assistindo [o sonho], sabe? Então, sei lá, mesmo nos pesadelos é como se eu estivesse vendo um filme de terror, eu me divirto, sabe? Tem a música do álbum passado [GUARDILHA ESPANCA TATO (2023)] , "Netuno", foi totalmente de um sonho. Certamente, se eu pudesse escolher ficar um dia inteiro ali dentro da minha cabeça, sonhando com tudo que for possível seria muito divertido, mas essa realidade daqui é a realidade, é onde a coisa é brutal, mas o mundo está numa situação deplorável… Acho que esse álbum tem muito de tentar falar sobre essa catástrofe do mundo e tentar passar uma mensagem que é radical, de uma mudança mais radical, mas não coloca isso de uma maneira agressiva… Tanto que "JEFF BEZOS PAGA UM PÃO DE QUEIJO" é uma música extremamente anticapitalista, só que ela é, não sei, tem uma coisa palatável aí… O álbum inteiro tem essa coisa do cômico, então acho que esse lugar de o mundo tá acabando e botar essas ideias mais revolucionárias, tem essa carga revolucionária, mas de uma maneira que seja nesse lugar do sonho mesmo. O sonho, às vezes, é um pesadelo, mas mesmo assim você está prestando atenção, sabe? Então eu queria passar a mensagem sem ser tipo "olha aí, mais um falando do capitalismo", sabe? Eu queria que fosse tipo "Jeff Bezos para um pão de queijo há há há" e aí meio que a mensagem entra na pessoa sem ela saber quem trouxe, sabe? Como você se mantém fiel às suas ideias e ideais? Eu acho que tenho me permitido muito manter esse sonho ativo e muito foi o selo que eu tenho aqui em Portugal e o selo que eu tenho ali no Brasil - a Saliva Diva em Portugal e a Seloki - , eles tem me ajudado muito. É muito difícil a carreira de artista, principalmente o artista que não faz música convencional, experimenta… Acho que ambos me abriram muito sustento de poder estar mais solto, sabe? Pô, a Saliva Diva é isso: nasceu o meu vinil, eles marcaram os meus shows aqui em Portugal, tornou a coisa sustentável de receber pelo meu trabalho e pelo meu material lançado - essa organização, esse coletivo. No MONCHMONCH eu levo a cara, mas é um trabalho de muitas, muitas pessoas. No caso desse álbum, tanto a banda brasileira quanto a portuguesa, toda a equipe visual, o pessoal das histórias em quadrinhos também e o fato de estar todo mundo ali acreditando nessa ideia… Esse sonho com o coletivo de um mundo sem os bilionários [risos] , é todo mundo ali acreditando nesse sonho e possibilita muito. Todo mundo que vai nos shows também acredita vai lá comprando no bandcamp, paga os ingressos, curte, pula comigo, pula com a banda… Acho que isso é o que torna a chama acesa pra eu continuar criando e soltando essas coisas na função do delírio coletivo. Eu posso cantar pra um alemão, posso cantar pra um americano, eu posso cantar pra um brasileiro, pra um português, todo mundo ali se encontra na realidade de "JEFF BEZOS ME PAGA UM PÃO DE QUEIJO", porque tá todo mundo sob a mesma maldição. "O meu espaço de compor é estar com a cabeça enfiada debaixo de um travesseiro, de olho bem fechado. E aí eu faço muitas imagens, uma mistura de imagens com som." Suas músicas são eufóricas, mas seus shows têm uma camada a mais. Como você constrói essa experiência para o público? [risos] Eu sempre fui uma pessoa que tive muita dificuldade de dançar em público. A primeira vez que eu me soltei, no sentido corporal, foi uma vez que eu fui num show de rock e um amigo meu me empurrou para uma roda punk e aquilo foi muito bom, porque imediatamente… Não sei, eu costumo chamar - eu e outros artistas - de rock solar ou punk solar, não é aquela roda pra dar soco, mas é aquela roda pra pular junto, sabe? A minha primeira roda foi uma dessas e virei amigo de todo mundo que eu estava do lado… Deu uns 5 segundos, me levantaram, tavam levantando todo mundo - uma hora era uma pessoa, outra hora era outra pessoa [faz gestos com os braços] , aquela liberdade corporal e mental instantânea… Eu sempre penso nos shows em tentar libertar essas noias que a gente tem, sabe? "Eu não sei dançar, o meu corpo é feio, sei lá o que..." Mano, só pula aí um pouco e para de pensar um pouco, só pula! Nos meus shows eu sempre tento criar um ambiente - sou meio rígido, falo "gente, não se bate, é pra todo mundo pular junto e se eu ver algum soco eu vou parar essa porra aqui" - sou autoritário pra ser divertido, né. Ninguém vai se machucar! É [sobre] tentar quebrar essas normas, tem shows que eu mostro a minha bunda, entendeu? É um ambiente acolhedor. Já que não dá pra ser livre na sociedade, o teu show é o lugar para todos serem livres… Pode tudo, mas não pode qualquer coisa. Não tem espaço pra cuzão! É o amor. Tem rodas punks que são violentas, mas ali é tudo consensual. [risos] Já que é um espaço libertador, você, ali no palco, consegue ser você de verdade? Os shows são os lugares que eu sou mais verdadeiro. Eu sinto que quando a gente sonha é quando a gente tá no nosso mais real, quando a gente acorda estamos numa ilusão. Acho que, às vezes, a gente bota... Tipo, isso é o plano real, mas eu acho que a nossa consciência é mais real no sonho... Sei lá, eu acordo e tenho que ser sóbrio, né? A gente tem que trancar as coisas que a gente pensa, agir de tal maneira... Beber dois litros de água, tomar banho, passar desodorante, ganhar dinheiro... Essas banalidades que a gente precisa se calar na realidade. Acho que quando chega a hora do show, eu tô mais próximo do sonho e ali eu miro no meu eu de verdade, sabe? Qual é o pior momento da realidade? Acho que o fato da gente poder tá aqui, fazendo uma entrevista, fico até... Não sei, enquanto a gente faz a entrevista, tem pessoas que estão sendo bombardeadas. Nesse sentido, qualquer coisa ruim parece banal. Eu ainda tenho a possibilidade de fazer o meu sonho, ainda tenho a possibilidade de sonhar, falar sobre isso... Tem pessoas que não conseguem escapar disso. Acho que consigo responder essa pergunta na minha maneira, mas esse álbum é muito mais sobre o mundo do que a minha realidade. O meu sofrimento não importa. Você acha que existe uma maneira para melhorar? [breve silêncio] Eu falei sobre isso em uma entrevista anterior. Acho que no caso do Brasil - eu não sou cientista político e nem nada - mas aquele lance de opinião [risos] ... Acho que a gente tá numa situação... Indígenas morrendo, comunidade negra morrendo, políticos... O governo liberal... A estrutura do Brasil meio que torna essa única possibilidade. A gente precisa começar a enxergar que a esquerda só pode ser radical, tem que ser diferente do capitalismo. Se não for radical, o mundo acaba. Olha a questão ambiental, a gente não tempo mais! Como você muda um sistema onde o dono da bola domina o estádio, os jogadores e o juiz? Caso você veja o Jeff Bezos, você realmente pediria para ele um pão de queijo ou mandaria ele para o inferno? Eu arriscaria a minha vida... [risos] No final do álbum, assim como os quadrinhos, eu começo acreditar nas pombas e nos alienígenas, é um futuro para além do humano, porque é um buraco... Como a gente sai disso? Você vê a realidade e percebe que precisa ter algo mais radical. No álbum, eu coloquei um futuro para os bichos e para os alienígenas porque eu não sei pra onde vai esse buraco de minhoca... Eu não queria ter colocado esse final, obviamente eu quero outra coisa, mas é o mais real. Eu quero ver as comunidades crescendo e terem as luzes que merecem. "Eu quero mais é criar conexões, sabe? Chegar num show e uma pessoa falar "pô, eu me conectei muito com essa mensagem" e a gente conversar, tomar uma cerveja juntos. Ou daqui 20 anos, eu ver um vídeo meu tocando pros meus amigos, sabe? Chorar... É isso que importa, o coletivo." Você apresenta MARTEMORTE como "a trilha sonora do fim do mundo e os ecos de uma realidade interplanetária." Você acha que é possível adiar esse fim e se vingar dos bilionários?  Precisaria organizar muitas coisas [risos] . Quem sabe um dia eu estarei com uma espada e uma cabeça nas mãos? Acho [que é continuar] cantando o que dá pra ser cantado, tentar entrar nessa mesma sintonia com os outros... A melhor coisa que se tem pra fazer é se desenvolver nas suas respectivas comunidades, ficar amigo do seu vizinho e conversar com ele... Tá no lance muito do olho no olho, sabe? A galera foi demitida?! Então vamos fazer uma greve. Tá com problema de comida? Vamos tomar uma horta. Não acho que nasci pra começar a fazer isso, mas ajudar o próximo e determinar o inimigo certo é importante. Em "HOMEM MÁQUINA" você diz que o show tem que continuar, mas como é possível sendo que eles vão para marte e nós para morte, como canta em "JEFF BEZOS"? Ao longo do álbum, eu coloco nas mãos dos aliens. Eu realmente não tenho a mínima ideia, tudo que eu posso fazer é tentar conversar ou brigar, mas não fique com essa falsa democracia, porque não tá certo. MONCHMONCH em Portugal Após se apresentar no Brasil, MONCHMONCH segue com a turnê em Portugal, acompanhado por sua banda. Confira as datas: 05.07| Lúcia-Lima Associação Cultural – Cantanhede 06.07 | Bragança – Museu do Abade de Baçal 12.07 | Festival ROCKinBARCO – Guimarães  14.07 | TBA

As memórias da Atalhos

As memórias da Atalhos

Em A Força das Coisas  (1963), último volume de sua trilogia de memórias, Simone de Beauvoir revisita sua trajetória a partir da libertação de Paris. Nesse relato íntimo, a filósofa francesa compartilha lembranças de pessoas, amores, livros e filmes que marcaram sua vida. Sessenta e dois anos depois, sua voz ainda ressoa com intensidade: inspirada por seus escritos, a Atalhos lança um novo álbum de atmosfera autobiográfica, reflexiva e sonhadora.  (Créditos: Felipe Martins) Ao longo de suas oito faixas, A Força das Coisas  (Costa Futuro - ESP) traz imagens resgatadas da memória, unindo linguagens artísticas e mesclando línguas. O disco conta com canções em português e espanhol, além de reunir participações de artistas latino-americanos, caso de Franco Ocampo, do projeto paraguaio El Culto Casero, e Ives Sepúlveda, do duo chileno The Holydrug Couple, e da cantora chilena Antonia Navarro, que participa em "Anjo Mau". "Somos uma banda que se expande e incorpora os lugares por onde passa", comenta o vocalista, compositor e guitarrista Gabriel Soares.  Para esse disco, a banda - que conta com Conrado Passarelli e ao vivo se complementa com Nico Paoliello e Fabiano Boldo - incorporou novos elementos, relembrando os discos anteriores ( A Tentação do Fracasso  (2022), Animais Feridos  (2017), Onde a Gente Morre  (2014) e Em Busca do Tempo Perdido  (2012)). Assim, o grupo não esquece sua história.  Dialogando com o existencialismo e com a literatura, Atalhos segue buscando (e encontrando) caminhos em meio às ruínas do cotidiano, mostrando que "na força das coisas eu vou estar", como diz a canção "Desejos de uma Tempestade". Leia também: Scalene: nova fase, novos rumos A Verdadeira Dor O vazio obsceno de MADRE Na introdução de A Força das Coisas , Simone diz que nos dois livros anteriores, as pessoas apontaram alguns erros por conta da memória. Ela acreditava que um episódio tinha acontecido de uma forma e as pessoas falaram para ela que não era daquela forma. Aplicando essa ideia na construção do disco, você sentiu que isso também aconteceu de alguma forma?  É, eu acho que assim. Eu me dei conta de que quando você está criando, especialmente quando você vai criar uma canção ou, às vezes, escrever literatura, você usa material da sua própria vida, as experiência… Você nunca acaba falando 100% o que realmente aconteceu, mas isso não quer dizer que você está mentindo deliberadamente, né? Isso quer dizer que você tá criando ali e você entendeu o processo da memória como uma construção mesmo, que faz parte, que meio que se mistura, né, a lembrança e a imaginação, pra mim é um processo natural também, ver que essas memórias vão ganhando outras formas. E o lance da Simone, eu acho que é legal isso aí também, porque ela escreve muito sobre outras pessoas na época, né? Nesses livros autobiográficos dela as pessoas que liam falavam “não foi bem assim”, mas isso é a literatura, né? Mesmo a literatura autobiográfica nunca é 100% fiel à realidade, né? Ela está meio que construindo, imaginando de novo, inventando coisas, mas eu gosto muito desse título, eu acho que tem um peso muito forte, sabe? E é realmente também um livro que me marcou muito. A Tentação do Fracasso  também era um livro, eu fiz uma homenagem no título para os diários do Julio Ramón Ribeyro - dá pra ver que eu gosto muito de autobiografia. Eu leio muito autoficção, autobiografia, mas na parte da banda, mesmo com a Atalhos, eu nunca tinha feito algo assim mais direto; mas que ao mesmo tempo tem a frase da Simone - “É impossível lançar alguma luz sobre a própria vida sem iluminar, em algum ponto, a dos outros” [presente no livro A Força da Idade (1960)]  - , não é só um disco que vai falar sobre mim porque os sentimentos são universais. Ela escreve isso como uma resposta à crítica, porque tinha muitas pessoas na época que também criticavam ela por estar escrevendo autobiografia, né? Queriam que ela estivesse escrevendo só romance ou filosofia, né? Mas mesmo em Os Mandarins  (1954), romance que eu mais gosto dela, também é um romance autobiográfico, né? Porque ela só muda o nome dos personagens ali, mas ela conta muito a história dela com com Nelson Algreen, aquele americano que ela era completamente apaixonada por ele e tal. Dá pra ver que ela sempre teve uma uma paixão pra escrever sobre a própria vida, né? E tem pessoas que veem isso como se fosse um comportamento mais ególatra, eu não vejo assim. Eu gosto muito de ler, eu gosto também de falar sobre a minha própria vida, de pensar a minha própria vida, e de transformar, às vezes, momentos da minha própria vida em obra de arte - mas sempre sabendo que a gente vai iluminar outras pessoas, despertar alguma coisa nas pessoas que serão impactadas por essas canções.  Alguns escritores escrevem sobre suas próprias vidas e/ou inspiradas em pessoas que conviveram para não esquecerem, para mostrar que a vida não foi em vão. Você segue essa linha também?  Não sei se é pra não esquecer, porque tudo vai ser esquecido, né? E também tem muita parte da memória que é natural, não dá pra você conseguir guardar tudo, é um processo natural você também esquecer coisas, né? Porque seria impossível também seguir vivendo se a gente se lembrasse de tudo, absolutamente de tudo. Então também seria horrível isso aí. Mas eu acho que no caso de quem escreve ou de quem repensa e nesse caso meu também de fazer canções… Eu acho como se fosse um auxílio mesmo pra mim na hora, porque também não foi muito simples escrever esse novo disco, sabe? Foi um... Depois de muito tempo, você já adquire um método pra poder criar as canções. Eu sabia que a gente tinha que lançar um disco novo, eu queria escrever já um disco novo. Então foi um processo assim que eu tava de férias em Birigui e eu sentei lá tipo três semanas assim, mas não foi fácil não saíram rapidamente as canções. Então, meio que a memória veio em auxílio, sabe? Na hora de você buscar as inspirações pra construir eu meio que tava buscando acesso às experiências que eu tive, as memórias recentes, as mais antigas e tal, pra tentar encontrar os acordes, pra tentar encontrar o clima das próprias canções e tal. Acho que também tem canções ali… Por exemplo “Ondas de Calor" pra mim é muito muito específico, porque eu acho que não só a parte da letra que fala sobre memória e sobre relações antigas, mas a maneira que a música se formou, sabe? Meio que um formato mais pop e rock, classicão sabe? Uma balada em sol, algo que a gente não fazia há muito tempo e eu acho que também me lembrar de coisas de quando eu era adolescente também… Tem uma canção que fecha o disco que eu falo “fazia frio no meu quarto em 1999”, então eu busquei esses momentos na cabeça, momentos que ficaram encapsulados e que eu tentava mais ou menos me lembrar o que eu tava escutando na época ou o que eu tava gostando e sei lá, me ajudou a formar essas canções. Então no meu caso eu não sei se eu escrevi para não esquecer, mas eu acho que quem escreve autobiografia, especialmente na literatura, meio que ajuda você se conhecer melhor ao longo do tempo, do período que você tá vivendo.  No caso da música, "Força das Coisas", pra mim foi como se fosse um bauzinho ali que eu abri ele pra me ajudar, sabe? Como a pessoa que vai escrever alguma coisa, procura em outros livros ali algo pra se inspirar e pra fundamentar o que tá escrevendo… No caso desse disco novo nosso, eu meio que me auxiliei muito da memória também tô ficando mais velho, então você vai acumulando mais experiências aí então na hora H que eu precisei ali, da inspiração, foi uma inspiração buscada ali na memória mesmo.  Como foi revisitar essas memórias, relembrar a sua adolescência e não se afundar, talvez, em uma nostalgia?  Eu tô o tempo inteiro, na verdade, lembrando e pensando nessas coisas. Foi um momento específico onde eu escrevi e onde eu tentei criar algo junto , mas pensar na memória… Tá sempre junto com a memória, revisitando ela e reimaginando… Todos os dias eu faço isso também, é um exercício meio que diário. Eu não sinto essa coisa também de nostalgia e que poderia me dar até algum sentimento negativo no presente - como saudosismo. Na verdade, eu tento olhar pra trás com uma certa felicidade dos momentos que eu ainda consigo me lembrar e que gosto. Às vezes eu me pego escutando músicas que eu escutava na época, escuto hoje, sabe? Eu tô sempre em contato direto com essa memória, não é algo que me deixa saudosista ou nostálgico no sentido negativo. Ao mesmo tempo me dá um norte, um sentido de coerência com a minha própria existência; é como se fosse um traçado, onde você vê o ponto que você tá agora e de onde veio… Eu tento buscar ali também uma certa coerência, vou entendendo esse traçado que eu tenho feito aí, especialmente na música, há bastante tempo.  "Eu acho que o Força das Coisas é um disco de memória mesmo. Tem uma coisa do [Gaston] Bachelard [filósofo francês], que eu tava lendo mês passado, aquele livro, A Poética do Espaço, ele fala muito sobre daydream, sobre o sonhar acordado. Pra um artista que tá criando coisas, imaginando, eu acho que essa coisa do daydream, do sonhar acordado é muito importante." A Força das Coisas  é inspirado na obra de Simone de Beauvoir. Ela inicia-se na Paris da libertação, me fazendo lembrar de “Mathieu 4ever” que questiona sobre a liberdade. Hoje a liberdade segue te obrigando a escolher?  Sim, sim. É até legal você lembrar dessa música, do nosso primeiro disco, porque o Mathieu é personagem do livro do Sartre - eu e o Conrado gostamos muito. De certa forma, a primeira música da Atalhos, no nosso primeiro disco, tá falando de um personagem de um livro existencialista; agora, no quinto disco, a pessoa que a gente escolhe para homenagear é a Simone… Fala muito sobre como o existencialismo segue sendo uma grande inspiração pra gente, sabe? Desde o começo que a gente começou a ler essas coisas, marcou muito a gente e segue com a gente, dá uma certa coerência pra nossa trajetória, né? No começo, quando a gente começou a fazer essas músicas, nomes de personagens ou títulos de livros, virou uma certa impressão que a gente tava querendo forçar a barra, de falar que é meio intelectualóide, sabe? Depois de tanto tempo vai deixando claro que é uma paixão. Quando Sartre tava falando sobre a liberdade, ele meio que tava defendendo a ideia dele de que o ser humano precisa se engajar, principalmente nas lutas que estavam acontecendo no pós-guerra, que não existe liberdade que não fosse responsável pelo engajamento. A vida é muito louca nesse sentido, por mais que a gente não queira se comprometer com determinadas coisas, não tomar lado, não tomar posicionamentos, você acaba sendo obrigado a fazer isso, né? Também na nossa carreira, mas não só falando nisso, também na parte política ou na parte das coisas que a gente acredita, a gente sempre é obrigado a escolher determinados caminhos, não pode ficar parado no sinal, como diz essa música. A vida segue existindo, a gente é obrigado a escolher.  Vendo a carreira da banda, eu tô muito satisfeito comigo mesmo, com a banda e com os caminhos que a gente escolheu. A liberdade realmente obriga a gente escolher, mas eu tô satisfeito com as escolhas que a gente fez. A gente teve a liberdade de criar do jeito que quisermos, de produzir… O quinto disco é um disco que eu produzi 100%, eu aprendi muito nos últimos anos dentro do estúdio - muito diferente do que foi o primeiro álbum -; a liberdade te responsabiliza, você tem que tá responsável pelas coisas que você faz, mas ao mesmo tempo a gente gosta, sabe? Não sinto um peso nesse sentido, não. O sonho retorna em A Força das Coisas . Em “A Distância”, presente em Tentação do Fracasso , você canta que o sonho não acontece, mas em “Ondas de Calor” você diz que sonha sempre com o mesmo sonho. O que mudou de lá pra cá? Não só isso: por que sonhar - conscientemente ou não - é tão difícil?  Quando eu escrevi essas canções eu não tinha lido o livro do Bachelard que te falei, mas eu não consigo tirar esse conceito da cabeça, do daydream, do sonhar acordado. Quando você tá dormindo, você não tem controle dos seus sonhos, você é simplesmente invadido por essas imagens… Não que quando você tá disperso, você tenha total controle, mas você consegue meio que direcionar… É tipo uma atividade que eu sempre pratiquei, sempre sonhei acordado, né. Agora, com esse livro do Bachelard, eu fui entender também o que eu faço, porque é isso, você tá no dia a dia, numa situação normal, mas você tá imaginando coisas, meio que se inspirando, criando ideias, você já tá sonhando acordado. Quando eu tô fazendo as viagens, por exemplo, na estrada, quando tô dirigindo por horas - são momentos que eu me inspiro muito -, eu consegui identificar que naqueles momentos eu já tava sonhando acordado, já tava pirando, já tava criando coisas ali… Depois o que eu fiz foi sentar e organizar, como se tivesse escrito notas mentais [durante o trajeto] e elas ficaram naqueles momentos; depois o que eu fiz foi buscar essas notas e colocar num papel, sabe? Em “Ayer Morí” eu também falo isso… É um disco e canções que falam, que dão volta e dão esse retorno - a gente pode até brincar com o negócio do Nietzsche, porque ele fala “se você quer que a sua vida tenha valido a pena tem que viver ela da melhor maneira possível se fosse repetida pra sempre.” Viver uma vida potente, com força, coerente e afirmativa pra você ter orgulho da sua própria trajetória, como se você tivesse que vivê-la pra sempre. Esse disco da Atalhos tem esse eterno retorno a alguns temas chave que estão desde o primeiro disco: memória, estrada, viagens, fronteiras. Não é um caminho como se fosse uma linha reta que você vai chegar em algum lugar, entendeu? É mais um prazer pelo périplo em si. O prazer pela trajetória e não pela chegada. É o prazer de seguir caminhando mesmo que você esteja andando em círculos… Às vezes, especialmente em relações, bate esse negócio de “tô vivendo a mesma coisa que aconteceu aqui e vice-versa?” mas isso é a parte do ser humano, sabe? A última coisa que a gente precisaria fazer, na minha opinião, é desistir ou se fechar e não viver novas relações imaginando que elas devem durar para sempre ou porque terminaram elas não funcionaram. Eu não entendo dessa maneira, eu entendo que cada relação tem uma vida própria, tem um tempo e é o natural da coisa. Primeiro de tudo é admitir que as coisas terminam, que a vida é finita e que as relações são finitas e que você, provavelmente, vai sobreviver a um amor que vai morrer. Isso é um desafio, né? Se você morre junto com o amor, você já não lembra mais… É uma coisa que até o Epicuro fala, você não vai sentir, não tem que ter medo da morte… Só que o problema é quando coisas ou pessoas que você gosta morrem e você sobrevive - isso é muito mais difícil. Acho que as músicas desse disco também falam sobre isso, mas com um olhar afirmativo.  Ainda falando sobre a vida, em “Anjo Mau” você diz que a vida não tem nenhum sentido.  Exatamente, isso tem tudo a ver com o nosso primeiro disco, em aceitar o absurdo da vida, especialmente sobre o que Camus falava no Mito de Sísifo  (1942). A gente não cria fantasias de que exista uma coisa, que estamos predestinados a alguém ou que existe um destino já armado ou um anjo… Por isso que é “Anjo Mau”, é uma brincadeira que a gente faz porque a gente não acredita em um anjo, um protetor que tá cuidando da gente, a gente tá literalmente exposto a todas as contingências possíveis - a gente pode sair agora e ser morto, pode ter uma doença amanhã e desaparecer. Quando eu falo “vida não tem nenhum sentido, eu te dou a mão” é sobre tudo isso que a gente tava conversando: é sobre a gente aceitar, especialmente a inevitabilidade da morte e a contingência da vida, mas não ter uma resposta negativa ou nostálgica sobre a coisa - eu vou te dar a mão e a gente vai pular nesse abismo porque é esse o nosso caminho. Nietzsche fala sobre isso: “torna-te quem tu és” e amar o próprio destino. Amar a sua própria história, sua própria trajetória.  A afirmação tem relação com o amor, né? No final das contas: o amor é uma das salvações pra vida?  Eu não acredito em salvação. A vida não tem sentido e não tem salvação. O que eu gosto de fazer é dar valor à própria existência. Tem um autor que eu gosto, que eu tô lendo aqui [pega o livro Na Pista da Verdade (Todavia, 2025)] , ele é muito pessimista, mas é no sentido irônico e divertido. É um livro de várias entrevistas e ele fala: “só uma coisa é certa, a morte. Essa grelha na qual todos terminaremos assados, mas ninguém sabe ao certo no que ela consiste.” Ou seja, não tem salvação, o resultado final é a grelha, todo mundo vai ser assado. Mas enquanto essa grelha não chega, você pode tentar construir algo que dê valor para fazer você aguentar até chegar a grelha. A música, pra mim, tem esse sentido, vem como auxílio, algo que nos ajuda a enfrentar essa situação sem sentido da vida - não salva, mas consegue gerar um tipo de apaziguamento em vários momentos. Schopenhauer também falava sobre isso, que a vida era uma merda, mas tinha a arte e a arte era alguma coisa que não chegava a dar sentido, mas poderia torná-la um pouco mais suportável.  "As pessoas que escutam A Força das Coisas  conseguem fazer um link direto com o disco anterior, mas tem algumas coisas novas, e ao mesmo tempo têm um resgate também de coisas que a gente ouvia, e que a gente fazia há muito tempo atrás." Quando nos falamos, você comentou que parecia que a Atalhos está indo pelos caminhos mais longos, mas também que aprenderam a gostar dessas distâncias e dos caminhos longos. Em “Assim falou Zaratustra” e “Delirios en Paraguay” trazem a imagem do voo. Você acha que esse caminho pode mudar e vocês alcançarem uma nova altitude?  Às vezes dá uns rasantes, faz um voo cruzeiro [risos] . Outra coisa que tem bastante nas músicas da Atalhos é a palavra lejos. Por exemplo, em “Anjo Mau”, a participação da Antonia Navarro, uma amiga do Chile, ela mesma criou essa parte da letra que ela fala “llegaremos mas lejos”. Tem sempre essa coisa da distância, de ser longe e de chegar mais longe; ou de voar mais alto, de se expandir, sabe? Tudo que fala sobre isso nas nossas músicas não quer dizer no sentido ambicioso de sucesso ou de maior público ou de mais shows, adquirir um tamanho maior do que a gente é como banda - não é nesse sentido, mas é no sentido de expansão, sabe? O próprio fato que a gente tá criando canções em espanhol também é um processo natural nosso de querer se expandir, cruzar fronteiras, como tá na letra de “Delirios en Paraguay”. Acho que é um processo natural nosso como banda, né. A gente nasceu em Birigui, cidade pequena do interior de São Paulo, depois a gente se mudou pra São Paulo pra poder gravar nosso disco [Em Busca do Tempo Perdido] , depois fomos tocando em outros lugares… Acho que é também da nossa gênese, faz muito sentido essa questão de querer se expandir, não ficar preso em só um lugar. Todas essas coisas que se repetem e que tão no disco também reforçam essas ideias principais que a gente mantém.  Gabriel fala sobre a canção "Assim Falou Zaratustra" É um disco com muitas participações, assim como a trilogia da Simone que traz histórias de amigos, de conhecidos, de outras pessoas. Me perguntei se ao trazer outras pessoas, vocês fazem parte da narrativa da escritora, ou seja, com esses músicos, vocês contam a própria história e a visão deles sobre vocês. Além disso, pode ser considerado uma homenagem à Simone ou não faz sentido nenhum?  Não, sentido tem, sempre tem um link por mais que a gente não consiga reconhecer no momento que a gente tá fazendo, mas sempre tem um link que tá implícito ali. Mas não foi algo direto, trazer esses convidados para participar do disco não foi algo na Simone em si, mas eu entendo o link ali, porque ela tá contando a própria vida e suas experiências com outros, né? Ela tá o tempo inteiro falando sobre o outro. É impossível falar só de você, sem tá falando de alguém que compartilhou esses momentos com você… No caso dos artistas que a gente convidou é mais na parte estética e visual. O processo que eu adquiri durante a pandemia foi investigar muitos artistas latino-americanos que tavam fazendo mais ou menos o tipo de som da Atalhos… O El Culto Casero, por exemplo, é uma banda que eu conheci durante a pandemia e fiquei super fã! Quando eu fui para o Paraguai, acabei conhecendo o pessoal e ficamos amigos. Em março [deste ano] , tocamos em Nova York e o El Culto Casero também tocou no mesmo palco que a gente numa das noites; conversei com o Franco [Ocampo, vocalista da banda]  e contei pra ele que a gente ia lançar uma música que fala sobre o Paraguai, só comentei com ele, e ele [respondeu]  “por que você não me chama pra cantar? Pra gente lançar juntos” e [respondi]  “quem sabe a gente não faz um remix? A música já tá pronta”, mas disse que queria participar dela, então, quando ele voltou para o Paraguai, ele gravou a voz, me mandou uma ideia e eu falei “vai para o estúdio, não muda nada, grava e me manda.” Ele gravou, eu mandei para o estúdio em São Paulo, a gente abriu de novo a música e colocou a voz dele lá, masterizou de novo e acabou dando tempo de lançar junto! É uma colaboração totalmente genuína, sabe? E também contar com o acaso. [Sobre]  a Antonia, a gente tocou junto em um festival, tinha quatro bandas tocando, e o som que mais parecia com o nosso [era o dela] . Ouvimos as músicas dela e falei “quando a gente for lançar o disco novo, vou chamar ela”, guardei isso na memória e quando tinha essa música pronta eu falei “é essa música!” Falei com ela, ela aceitou, gravou as vozes… Acho que ela sacou bem a ideia… Foi como eu te falei, quando dei liberdade pra ela fazer a letra, ela colocou essa coisa expansiva, de llegaremos mas lejos… São duas participações do disco, que tem oito músicas, que falam sobre esse caminho que a gente quer seguir trilhando que é o caminho latino-americano.  Atalhos em Turnê Atalhos fará uma série de apresentações ao longo dos próximos meses, mostrando ao vivo A Força das Coisas e ampliando ainda mais seus percursos. As datas incluem shows no Brasil, Estados Unidos, Uruguai, Argentina, Chile, Reino Unido, França, Dinamarca e Alemanha. Acompanhe os passos da banda.

Conheça: Julieta Social

Conheça: Julieta Social

(Créditos: Edilson Tuttner) Julieta Social é mais do que uma banda — é um projeto coletivo que surge do encontro entre artistas em movimento. Formada pelo vocalista Rafael Bastos (SP), o guitarrista João Durão (ES) e o baterista Rodrigo Mattos (SP/RJ), o projeto propõe um novo modo de fazer música, convidando artistas da cena independente a participarem do processo criativo. Criada a partir da união de diferentes trajetórias musicais e experiências pessoais, a Julieta Social nasce com pilares bem definidos, mas sem amarras fixas: a ideia é promover a troca, o acolhimento e a criação coletiva como fundamentos de sua identidade artística. Dessa maneira, o coletivo apresenta "Caos de Colômbia", com letra inspirada na cultura latina e base harmônica minimalista formada por dois acordes, a faixa reflete sobre as confusões de novos momentos. Com produção de Rubens Adati e participação da artista Mariana Estol, a faixa reúne elementos do rock nacional, influências como Radiohead, Chico Buarque, Arctic Monkeys, The Doors e Cazuza. O single antecipa o espírito da série de lançamento que irá culminar no disco de estreia: uma obra atravessada por histórias de juventude, contradições, transformações e afetos — resultado de uma escuta ativa entre artistas em constante construção. "Essa música representa muito do que passamos como grupo, ao meu ver. O som mudou a gente, o som mudou tudo, ou melhor, ele próprio muda. Abrimos os ouvidos para essa mudança e aceitamos nossas contradições É uma canção que inspira estar ciente de algo que está por vir, seja bom, seja ruim", explica Rafael.

Scalene: nova fase, novos rumos

Scalene: nova fase, novos rumos

A palavra éter remete ao quinto elemento, isto é, algo grandioso, possível de preencher além da esfera terrestre. Albert Einstein derrubou essa ideia ao apresentar a teoria da relatividade, no entanto, essa força sublime segue até hoje: há exatamente dez anos, Scalene lançava Éter , álbum que conquistou o Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock em Língua Portuguesa em 2016. Com 12 faixas e uma sonoridade que passa pelo stoner rock e rock alternativo, a banda alcançou espaço na música brasileira.  Ao longo da década, Éter  se tornou um dos melhores trabalhos da banda, tanto pela sonoridade madura quanto pelas letras potentes e existenciais, que dialogam até hoje com os fãs - como é o caso de "Furacão" e "Loucure-se". Mas é com "Sublimação" que define o grupo: "Crie sua própria luz / O seu calor e sua missão / Infinitas chances vão surgir / Se permitir".  De lá para cá, a Scalene foi se forjando cada vez mais na estrada e nas referências múltiplas absorvidas por cada um de seus integrantes, ganhando corpo numa discografia que ainda viria ter Magnetite  (2017), Respiro  (2019), o EP Folêgo  (2020), indicado ao Grammy Latino daquele mesmo ano na categoria de Melhor Álbum de Rock em Língua Portuguesa, e Labirinto  (2022). De 2022 em diante a banda entrou num hiato, retornado somente em 2024 para uma apresentação única e especial em Brasília. Em 2025 eles decidem sair pelo Brasil celebrando toda essa trajetória a partir de um repertório baseado em Éter , mas que também inclui sucessos de outros momentos de sua discografia. Leia também:  Hardcore 90 Calvin Voichicoski: as canções que vem de dentro Pra me Lembrar de Insistir (Créditos: Yvã Santos) São quase duas décadas de estrada. Quando criaram a banda em Brasília, imaginaram que estariam no lugar alcançado hoje? Não exatamente, sempre olhávamos de uma forma passo a passo, em parte porque grandes conquistas pareciam muito longe. Mas tínhamos confiança que era possível.  Ao decidirem revistar Éter , as lembranças daquele tempo retornaram para vocês? Além disso, hoje esse quinto elemento preencheram vocês? Retornaram sim, mais em forma de sentimentos do que de lembranças específicas. Não sei se nos preencheu, provavelmente não [risos] , mas certamente estamos na melhor vibe entre nós que já tivemos.  O álbum marcou um momento de amadurecimento da banda. Vocês diriam que Éter  representou uma virada criativa? Representou uma concisão criativa. O Real/Surreal explora mil gêneros que conceituamos de forma que fizesse sentido e justificasse aquela maluquice. No mesmo disco ter músicas como "Amanheceu", "Silêncio", "Danse Macabre" e "Ilustres Desconhecidos" e etc. No Éter  já tínhamos uma maturidade maior e uma calma de que não precisava fazer tudo num mesmo disco.  A banda conta com fãs extremamente fiéis, ou seja, estão presentes desde o início. Como vocês veem a conexão dos fãs com o álbum hoje em comparação com 2015? Ainda estamos entendendo isso. Nos shows ficamos surpresos com uma música ou outra que não tocávamos há muito tempo, como a galera sabe a letra do começo ao fim. Tá rolando uma nostalgia e legal ver que estamos envelhecendo junto de parte do nosso público. Em tempos que o mundo muda rápido e o consumo do entretenimento não favorece longevidade, tem um valor bonito essa conexão. Como é para vocês ver uma nova geração descobrindo Scalene agora? É demais! Curioso pra entender a percepção da galera mais nova sobre o nosso trabalho. Acabamos de voltar, ainda precisa de mais tempo pra sacar como vem essa nova geração em relação ao nosso trabalho. Em "Sublimação" há uma estrofe que pode ser aplicada em diversas vertentes - “Tantos padrões, imposições afastam / De encontrar nossa própria essência”. Aplicando na trajetória da banda, pergunto: vocês encontraram a essência desejada? Acho que cada integrante responderia de uma forma diferente. Pessoalmente sinto que encontrei até, mas não necessariamente consigo atuar e viver conectado à ela. Talvez seja uma segunda etapa do processo que não mencionamos na letra [risos] .  Já em "Furacão" vocês se questionam sobre para que lado devem ir. Atualmente, existe uma direção que desejam ir?  Essa letra fala, em parte, sobre o caminho e o movimento serem a busca em si. Não existe destino. Quero paz e tranquilidade pra me expressar através da banda e me atentar ao equilíbrio da vida profissional com a vida pessoal. Talvez 10 anos depois eu não concorde 100% com a letra no sentido de ser "no furacão que surge a porta". Certamente faz sentido, mas acho que há outras formas de haver mudança e evolução. "Quimera", a nova música da Scalene  Monstro da mitologia grega, a quimera remete ao impossível. Lançada neste ano, o single dá continuidade ao éter, harmonizando os elementos. De acordo com Gustavo Bertoni, "Quimera" é resultado direto desta turnê comemorativa de Éter que está acontecendo este ano: "Acho que tocar as músicas do disco e entrar em contato com o que curtimos na época nos instigou a buscar nos HDs antigos alguma demo que acabou não entrando no álbum em 2015", ele diz. O esqueleto da canção estava ali e ainda segundo o vocalista e guitarrista, "foi divertido retrabalhá-la para alimentar criativamente esse momento entre nós, mas também como um presente aos fãs", completa Gustavo. "Ela vai bem no nosso âmago ali do post-hardcore, perpassa pelas brasilidades do Magnetite e soa meio soturna como o Labirinto . Contempla diferentes momentos nossos sem necessariamente apontar para uma futura sonoridade a ser explorada." "Quimera" dialoga com Éter - seja pela nostalgia ou mitologia. Como foi revisitar o passado para encaixar a canção neste momento de celebração? Foi bem natural. Nosso alinhamento acontece geralmente muito rápido. "Quimera" acabou sendo uma música com o espírito de 2015 com a produção de 2025. E é a primeira música produzida por nós mesmos, então ela vai ficar marcada na nossa discografia por esse significado. Composta por Gustavo Bertoni e Tomás Bertoni e com produção musical da própria Scalene em si - que também inclui Lucas Furtado no baixo -, "Quimera" traz Maick Souza na bateria, mix de Ricardo Ponte e master de Erwin Mass. Turnê comemorativa Após uma apresentação esgotada no Cine Joia, no último mês de abril, a banda dá continuidade a turnê de dez anos do segundo álbum. Scalene passará por Recife (28/06), Brasília (05/07), Juiz de Fora (23/08) e Rio de Janeiro (24/08). Garanta o seu ingresso aqui .

IMS libera mais de 5 mil gravações históricas e lança ebook sobre pioneiros da fonografia brasileira

IMS libera mais de 5 mil gravações históricas e lança ebook sobre pioneiros da fonografia brasileira

O Instituto Moreira Salles anunciou duas novidades no site Discografia Brasileira. Desde março deste ano, o público pode baixar gratuitamente mais de 5.900 gravações digitalizadas — parte do vasto acervo de cerca de 64 mil fonogramas captados em discos de 78 rotações, dos quais 47 mil já contam com áudio disponível. (Créditos: Reprodução/Divulgação) Além disso, foi lançado o primeiro volume da série de e‑books Discografia Brasileira – Os pioneiros, organizado pelo pesquisador Sandor Buys. O título inaugural explora a produção dos Discos Phoenix (1914‑1923), marcando o início de uma série que, em dez anos, deve abranger selos nacionais e internacionais da fase mecânica (1902‑1927). Segundo Bia Paes Leme, coordenadora de Música do IMS, o projeto é comparado a um “álbum de figurinhas”: muitos fonogramas já são conhecidos, mas ainda há lacunas a serem preenchidas — especialmente do acervo do colecionador Leon Barg, adquirido em 2017. Clique aqui para mais informações.

Conheça: Ovo Frito

Conheça: Ovo Frito

Ativa na região metropolitana de Porto Alegre desde 2021, Ovo Frito fez o seu debut dois anos depois com o single "Eu te Amo". Desde então, o quarteto formado por Tita (voz), Jô Freitas (baixo), Pedro Freitas (guitarra) e Régis Eric (bateria) nunca pararam. Em 2024, a banda apresentou o seu primeiro EP - Ovo Frito - com cinco canções que misturam e euforia do rock psicodélico com a apropriação urbana da MPB. (Créditos: Divulgação/Reprodução) Em uma nova formação e maduros, Ovo Frito apresenta Segunda Pra Ti . Produzo por Diogo Brochmann (guitarrista da banda DINGO ), o EP reflete um amadurecimento sonoro e emocional da banda em relação ao primeiro trabalho. As músicas tem temas inspirados em experiências universais da juventude — frustrações, arrependimentos, amores puros, ansiedades — com arranjos que transitam entre folk, funk, rock e MPB e apresentam uma sonoridade mais limpa, mantendo a conexão íntima com o público por meio de letras que exploram desde a saudade até a ansiedade moderna. Com uma produção delicada e composições que exploram os dilemas e as belezas da vida cotidiana — da saudade à autopreservação, da ansiedade ao humor irônico — Segunda Pra Ti , consolida a Ovo Frito como uma das vozes mais autênticas e maduras da cena independente gaúcha, oferecendo ao público uma experiência sonora que envolve em carinhos que a recebe.

Hardcore 90

Hardcore 90

Existem muitas lendas urbanas sobre o hardcore, principalmente no ABC. Já ouvi histórias sobre invasões em lugares privados para tocar, além de encontros inusitados. Por eu não ter vivido essa época, ouvia com atenção. Acreditava em algumas coisas, ria de outras e duvidava de outras. Até que o documentário Hardcore 90 , de Marcelo Fonseca e George Ferreira, sanou muitas dúvidas. Disponível na programação do In-Edit Brasil 2025 , Hardcore 90 não é apenas um filme sobre música — é uma viagem histórica intensa, ruidosa e necessária pelas entranhas da cena hardcore brasileira do final dos anos 1980 até os anos 2000. Dessa maneira, o longa costura memórias, contradições e cicatrizes de um movimento que foi resistência, refúgio e grito de liberdade para milhares de jovens. Leia também: Conheça: Resp Popload Festival 2025 Calvin Voichicoski: as canções que vem de dentro (Créditos: Divulgação/Reprodução) Logo de início, temos a informação de que o documentário foi filmado entre outubro de 2008 e agosto de 2018, resultando em mais de 100 entrevistas com pessoas que participaram ativamente da cena hardcore punk em São Paulo e outras cidades do Brasil na década de 90. Construído de maneira do it yourself - assim como os flyers, zines, divulgações dos shows e comunicação do hardcore - Hardcore 90 mescla registros antigos com depoimentos para narrar o contexto social e político que alimentava a fúria e a urgência das bandas. Um dos pontos fortes do documentário é ressaltar a união da cena independente, ou seja, os diretores enfatizam as cartas trocadas entre admiradores do gênero musical para apresentar as últimas novidades - em tempos de internet é impossível não se sentir nostálgico com essas imagens. Além disso, Fonseca e Ferreira focaram nos diferentes grupos do movimento, como os anarcopunks, os straight edge e os melódicos, para, em seguida, mostrar as brigas entre as vertentes do hardcore. Para quem viveu aquela época, Hardcore 90 é soco, abraço e catarse. Para quem não viveu, assim como eu, é uma aula sobre como cultura, política e resistência podem (e devem) caminhar juntas, mesmo quando tudo parece estar desmoronando.

©2020 por desalinho.

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