top of page

My Items

I'm a title. ​Click here to edit me.

Show: DEUS EX MACHINA

Show: DEUS EX MACHINA

Em 2022, pós pandemia, Jup do Bairro subiu ao palco do Studio SP , acompanhada de sua banda, para fazer um show xamânico de CORPO SEM JUÍZO  (2020). Três anos depois, ela retorna, dessa vez no Sesc Pompeia, com uma nova formação: DJ Fuso, Mulambo e performers Ymoirá Micall e Trindade. Sob direção visual de Gabe Lima, DEUS EX MACHINA faz referência ao single de mesmo nome, lançado no ano passado, com participação da deputada federal Erika Hilton e Urias.  DEUS EX MACHINA norteia a narrativa de Jup ao navegar por suas músicas. O corpo, antes sem juízo, se reinventa com as faixas de in.corpo.ração  (2024) - eleito o melhor EP na lista de melhores de 2024 -, mostrando que existem diversas possibilidades a partir dos subgêneros da música eletrônica brasileira, como techno, house e funk, tendo sempre o rap como base. Jup conduz o espetáculo que provoca, empolga e desafia.  Leia também:  O Dia que Te Conheci Show: TRAGO Impressões: Elã Diante de um público animado e entregue à dança, o show oscilou por diversos sentimentos, mostrando as emoções da cantora que transitaram entre a nostalgia, euforia e a alta libido. Dessa maneira, a audiência deu atenção aos próprios corpos que são transformados diariamente por momentos, necessidades e imposições. Jup revisita o passado, mas sem permitir que ele a limite: ela se despe do que já não lhe serve. A presença de Ymoirá Micall e Trindade amplifica a potência do espetáculo. Seus corpos, em movimentos livres pelo palco, respondem visualmente à provocação da faixa "sinfonia do corpo (in.corpo.ração)". O auge da performances ficaram com "lave sua boca (suja) quando for falar de mim" e "O CORRE", faixas que incendiaram a plateia. Em um momento do show, Jup interrompe o show para deixar claro: aquilo não era um simples show, mas um baile punk de favela . Em seguida, ela desce do palco e abre uma roda no público para cantar "Máscara", clássico de Pitty que resgata a energia dos anos 2000. Na sequência, engata um medley de outras faixas enquanto seus fãs sobem ao palco para dançar, celebrando coletivamente a catarse daquele momento, causado por Jup e Mulambo. Mais do que um show, DEUS EX MACHINA é um rito de afirmação, resiliência e libertação — um espetáculo que ecoa no corpo por muito tempo.

Dia Mundial da Poesia: 10 indicações de livros

Dia Mundial da Poesia: 10 indicações de livros

O Dia Mundial da Poesia é celebrado anualmente, data instituída pela UNESCO em 1999 para reconhecer a importância dessa arte na cultura e na expressão humana. Carlos Drummond de Andrade definia a poesia como "encontrar a palavra exata para a emoção exata", já Pablo Neruda acreditava que "a poesia é um ato de paz. A poesia é um dos meios mais pacíficos que o ser humano tem de se expressar." Dito isso, confira a lista com 10 ótimas opções para celebrar a data.  A Queda da América - Allen Ginsberg (L&PM)  Publicado em 1972, A Queda da América é uma coletânea de poemas de Allen Ginsberg que documenta suas viagens pelos Estados Unidos durante a segunda metade da década de 1960 e início dos anos 1970. O livro reflete o espírito da época, abordando temas como a Guerra do Vietnã, a crise política e social, o colapso do sonho americano e a alienação da sociedade moderna. Os poemas misturam visões apocalípticas, referências políticas, espirituais e pessoais, muitas vezes com um tom profético e de denúncia.  Folhas de Relva - Walt Whitman (Iluminuras) Ao longo de sua vida, Whitman revisou e expandiu a obra várias vezes, transformando-a em uma coleção de poemas que exaltam a democracia, a natureza, o corpo humano, a espiritualidade e a experiência americana. Não Sou Poeta: Poeta Reunida - Victor Heringer (Companhia das Letras)  O livro, lançado em 2024, reúne a produção poética de Victor Heringer , um dos nomes mais celebrados da literatura contemporânea brasileira. Sua escrita reflete uma mente inquieta e brilhante, capaz de contemplar desde a vastidão do cosmos até detalhes cotidianos, como sapatos gastos.  O Casamento do Céu e do Inferno - William Black (L&PM) Nesta antologia, encontram-se reunidos alguns de seus textos mais célebres, como O casamento do céu e do inferno (publicado em 1794), que imita o tom profético da Bíblia mas expressa a visão personalíssima, revolucionária e romântica que o livre-pensador Blake tinha da vida e do homem.  Ariel - Sylvia Plath (Versus Editora) Antes de falecer, Sylvia Plath deixou organizado o seu livro de poesia que o deixaria conhecida. Uma obra visceral e única, escancarando seus medos, amores, rejeições e tristezas.  A Teus Pés - Ana Cristina César (Companhia das Letras)   É o único livro de poesia publicado em vida por Ana Cristina Cesar , uma das vozes mais marcantes da poesia marginal brasileira. A obra reúne poemas e trechos de prosa poética que exploram temas como amor, desejo, solidão, melancolia e a busca por identidade. O Sentimento do Mundo (Carlos Drummond de Andrade)  A obra reflete as inquietações do poeta diante de um mundo em crise, especialmente no contexto da Segunda Guerra Mundial e das transformações políticas e sociais no Brasil e no exterior. Os poemas apresentam um tom melancólico e reflexivo, abordando temas como a solidão, o sofrimento coletivo, a passagem do tempo e a fragilidade humana. Holograma - Mariana Godoy (Círculo de Poemas)  Em Holograma , Mariana Godoy busca elaborar o luto pela morte do pai por meio de uma forte imersão na vida. Jóquei - Matilde Campilho (Editora 34)  A obra reúne poemas que transitam entre o verso livre e a prosa poética, explorando temas como amor, viagens, cotidiano e a busca por sentido na vida contemporânea. Com uma linguagem coloquial e vibrante, Campilho mescla referências culturais luso-brasileiras, criando uma ponte entre Lisboa e o Rio de Janeiro. Seus textos capturam momentos efêmeros e sentimentos universais, convidando o leitor a uma jornada íntima e sensorial. Poema Sujo - Ferreira Gullar (Companhia das Letras) Escrito durante o exílio, Poema Sujo transformou a paisagem da poesia brasileira com sua torrente arrebatadora de versos, expressão máxima de uma subjetividade convulsa pela atmosfera sufocante da ditadura.

The Beach Boys

The Beach Boys

Como um sonho de família conseguiu alcançar o sucesso nos anos 60, distanciar seus integrantes alguns anos depois e, em 2020, ser redescoberto por uma nova geração? As respostas estão em The Beach Boys , documentário dirigido por Frank Marshall e Thom Zimny, disponível no Disney+. Ao longo de 1h53, o filme percorre a trajetória da icônica banda, explorando a genialidade de Brian Wilson, a rivalidade com os Beatles e o impacto do grupo na música, além de entrevistas com artistas influenciados por sua harmonia única. A história começa em 1957, quando os irmãos Brian, Carl e Dennis Wilson ensaiavam vocais sob influência do grupo The Four Freshmen, incentivados pelo pai, Murray, que tocava piano. O que era apenas um passatempo começou a tomar forma no ano seguinte, quando Brian ganhou um gravador e compôs as primeiras linhas vocais e a letra de “Surfin' USA”. Com a chegada do amigo Al Jardine e do primo Mike Love, a casa da família Wilson se tornou o berço do que, em 1961, se consolidaria como The Beach Boys, uma banda que personificava o sonho californiano. (Créditos: Disney+) Desde os primeiros anos, o grupo enfrentou desafios. O documentário destaca a pressão da indústria e as dificuldades de Brian em lidar com grandes multidões. Apesar de ser o cérebro criativo e a figura central da banda, Brian era introspectivo e solitário, além de sofrer com o temperamento agressivo do pai. O que começou como pequenos desentendimentos acabou se transformando em uma verdadeira batalha, culminando na saída de Murray da gestão do grupo. Aos poucos, a ideia de uma banda familiar foi se desfazendo. Leia também: The Beatles: Get Back Buena Vista Social Club This Much I Know To Be True Muitos documentários já foram produzidos sobre a banda, mas The Beach Boys  se destaca ao explorar a rivalidade com os garotos de Liverpool. Curiosamente, essa disputa foi impulsionada tanto pela mídia quanto pelos próprios músicos, criando um ambiente onde cada lançamento precisava superar o anterior - foi nesse contexto que nasceram Pet Sounds  (1966) e Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band  (1967). Em entrevista à CNN , Frank Marshall afirmou que os dois álbuns se complementam: “Não acho que haveria um sem o outro, pelo menos não com toda a grandiosidade que tiveram.” O documentário ainda traz Paul McCartney declarando que “God Only Knows” é a melhor música do grupo. Ao revisitar a trajetória da banda que marcou e revolucionou a música, os diretores expõem momentos polêmicos, como a venda das composições pelo pai enfurecido, a amizade de Dennis Wilson com Charles Manson; as mudanças na formação do grupo, as tentativas desesperadas de manter a união e, por fim, as disputas judiciais. Ao revelar os altos e baixos da banda, The Beach Boys  não apenas narra sua história, mas também celebra seu legado, que continua conquistando novas gerações.

Conheça: Neftara

Conheça: Neftara

Cantora, compositora e dançarina, Neftara iniciou sua carreira musical há pouco tempo: durante a pandemia escreveu diversas músicas, e foram apresentadas a uma amiga professora de canto. Dois meses depois, se apresentou no MANIFESTO, evento de música eletrônica em Salvador, à convite dos produtores. A partir dessas experiências, Neftara resolveu seguir a música profissionalmente. Desde o surgimento, em 2022, a cantora apresentou singles que mesclam pop com afro-pop, colocando todo mundo para dançar. "Entre Amigos" foi o seu debut e ganhou uma nova versão com a participação de Vittor Adél, cantor, ator e dançarino integrante do Afrobapapho. (Crédito: Euge Pennisi) Após o lançamento de três músicas - "Cadê?", "Latin Boys" e "Remexer" - Neftara retorna com "Agora é minha vez!", canção que mescla batidas dançantes para retratar um relacionamento frustrado. “A canção, que tem batidas dançantes com uma atmosfera introspectiva, fala sobre as adversidades nas relações afetivas, ciclos que se encerram e outros que recomeçam, no entanto, o mais importante é seguir em frente, sem perder o bom humor, a música traz uma mensagem de superação e novos começos.”, reflete. Gravada na cidade de La Planta, na Argentina, a ficha técnica é razoavelmente extensa e é composta exclusivamente por músicos argentinos. Os arranjos e a produção musical é assinada por Leandro Mellid (também gravou contrabaixo elétrico), masterização por Felipe Tichauer (redtraxxmastering), edição e mixagem por Pablo Formica e gravação realizada no Estúdio Mirifico, por Facundo Lizondo. O piano foi registrado por Libertad Centero, guitarra elétrica por Léo Cárceres, saxofone por Jero Canovil, bateria por José Pepe Galaz e os corais por Anita Canggianelli e Ivana Baysse. “Agora é minha vez!” está disponível em todos os streamings de música a partir desse 21 de fevereiro, sexta-feira. O single, contudo, é a primeira faixa a ser revelada do álbum de estreia de Neftara. Após o carnaval, ela lançará o clipe desse lançamento e mais uma música em abril, até o lançamento do álbum, ainda esse ano em 2025.

Conheça: Sagrados Anônimos

Conheça: Sagrados Anônimos

Em decorrência do isolamento social, Guilherme França se viu acompanhado apenas de sua guitarra e um computador. Foi o suficiente para que o músico (também guitarrista da Quasar) começasse a gravar suas músicas, fazendo com que o Sagrados Anônimos surgisse. (Créditos: Maria Luisa Tinoco) Flutuando entre o shoegaze, dream pop e o rock alternativo, a Sagrados Anônimos propõe reflexões sobre convivência, abordando temas como desencontros; como não conseguir se impor; ou sobre a incapacidade das pessoas de se botarem na posição de ouvinte. "É uma jornada para martelar de uma vez por todas que, mesmo contra nossa vontade, estamos todos Atrelados", define Guilherme. Leia também: Conheça: Apenas Juno Dezert Horse: experimentação em busca de um novo horizonte Conheça: Massoco Em Atrelados (2024), primeiro álbum, o projeto combina um instrumental de eletrônicos com timbres expansivos e ambientais, destacando as paredes de guitarras, baixos sólidos e baterias lo-fi, construindo essa base em looping para as frases marcantes nas letras de Guilherme - como é o caso de "Relógio de Pedras". Gravado em casa e no Red Star Estúdio, em Pinheiros, São Paulo, Atrelados tem a assinatura de Guilherme França na produção, captação de instrumentos, mix, master e identidade visual.

Johnny Panic e a bíblia de sonhos

Johnny Panic e a bíblia de sonhos

Quinze anos atrás, quando era adolescente, escrevi em meu diário: "ler Sylvia Plath é se afogar em ondas gigantescas. Está difícil sair (mas extremamente conhecedor)." Não sei se continuo me afogando em seus escritos, porém, sigo me surpreendendo com a potência da escritora, principalmente em Johnny Panic e a bíblia de sonhos  (Biblioteca Azul, 2020) que traz contos, textos jornalísticos e trechos de seus diários. O mundo plathiano foi desenvolvido a partir da definição freudiana de mal-estar na civilização, ou seja, em decorrência da Primeira Guerra Mundial, o indivíduo é reprimido em suas pulsões e vive o mal-estar. Dessa maneira, Sylvia escreve sobre sua realidade: depressão, suicídio, a falta e a procura da figura paterna, os eletrochoques, a solidão feminina, e a angústia de ser jovem em uma realidade pós-guerra. Como escreveu Ana Cecília Carvalho em A Poética do Suicídio em Sylvia Plath  (Editora UFMG, 2003): "a escrita de Plath exibe o conflito entre forças construtivas e destrutivas operando na cena da criação literária." Os textos que compõem Johnny Panic e a bíblia de sonhos  cobrem um período de 14 anos - os mais antigos são de quando a autora tinha 17 anos e o último, "Blitz de neve", detalha os últimos dias de Sylvia. A introdução, escrita pelo poeta Ted Hughes, ex-marido da escritora, ressalta o objetivo do livro: mostrar o processo de criação de Sylvia e como seu trabalho evoluiu durante os anos. No entanto, o lançamento da obra não estava nos planos da escritora, como escreve Hughes: "É certo que a própria Sylvia Plath renegou vários dos contos aqui reunidos, de forma que hoje são publicados contra sua vontade." A afirmação do poeta fez com que Margaret Atwood, que assina o ensaio "Prova de poeta" presente no livro, refletir sobre o lançamento póstumo: "Tenho que admitir logo de início que publicações como esta me deixam apreensiva, uma vez que sugerem que alguém escarafunchou gavetas de escrivaninha que a autora, se viva estivesse, sem dúvida manteria firmemente trancadas. Que escritora em sã consciência entregaria ao mundo, por vontade própria, seus contos da época da faculdade, suas anotações ressentidas sobre os comportamentos de vizinhos desagradáveis, suas tentativas constrangedoras de escrever ficção formulaica para revistas?" "(...) Meus poemas acabam não falando de Hiroshima, falam de um filho que se forma, dedo após dedo, na escuridão. Não falam dos horrores da extinção em massa, mas do brilho fraco da lua sobre a árvore do cemitério do bairro. Não falam dos testemunhos dos argelinos torturados, mas dos pensamentos noturnos de um cirurgião cansado." Leia também: Matt e Mara O Jogo da Amarelinha Vermelho Amargo Dividido em quatro partes, Johnny Panic e a bíblia de sonhos  tem o medo, definido na psicologia como "uma forma de emoção humana que nos alerta para o perigo, porém, muitas vezes os temores revelam um impulso recalcado que, por vergonha ou condenação moral, não podem ser aceitos e passam a ser temidos", como protagonista. Esse sentimento ganhou intensidade após a perda do pai e foi ressurgindo em outras circunstâncias como os episódios de depressão, o desespero de cuidar de dois filhos e o medo de ser abandonada pelo marido. "Seu amor é o salto de vinte andares, a corda no pescoço, a faca no coração", escreveu.  O conto que abre a obra, intitulado com o título do livro, traz a psicodelia da autora, isto é, o pânico que dominava a sociedade norte-americana no contexto pós-guerra: não estamos seguros por conta da presença desse sentimento, indicando o quanto somos vulneráveis. "A caixinha de desejos" segue a mesma linha, mas com um diferencial: o tom do conto é obscuro, pois, após conseguir sonhar, Agnes Higgins morre. Já em "Uma comparação" conhecemos um pouco a cabeça da escritora que se sentia não ser boa o suficiente em sua escrita.  Sua vida está presente em todo momento, no entanto, dois textos se destacam: "Oceano 1212-W" e "Dia de sucesso". No primeiro, Sylvia relembra sua infância na casa de praia dos avós ao lado de seu irmão; enquanto o segundo retrata a insegurança de ser casada com Ted após dar à luz. Nele, Plath escreve sobre o medo de ser trocada por outra mulher e, consequentemente, a vida que sempre sonhou ser alterada por ter um esposo famoso. (Talvez a escritora soubesse que a partir do momento que o marido ficasse famoso, ele teria diversos casos.)  "- É gozado, né? - Ben disse. - A gente pensa que uma pessoa morreu e que a gente se libertou, mas depois descobre que ela continua ali dentro, rindo da gente. Eu não sinto que o papai tenha morrido de verdade. Ele está em algum lugar lá no fundo, dentro de mim, olhando o que está acontecendo. E rindo sem parar." Nunca saberemos quem foi Sylvia Plath de verdade, no entanto, conseguimos compreendê-la após o término de Johnny Panic e a bíblia de sonhos . Enxergo agora que Johnny Panic segue nos visitando durante a noite.

Boston Manor chega ao Brasil em setembro

Boston Manor chega ao Brasil em setembro

Boston Manor, banda britânica de rock alternativo/pop punk formada em 2013 em Blackpool (Inglaterra), que ao longo de uma década moldaram sua sonoridade para conquistar cada vez mais fãs ao redor do globo, enfim faz sua estreia no Brasil em setembro de 2025. Será show único, dia 14 de setembro, no City Lights. A realização da turnê é da New Direction Productions, que já iniciou os trabalhos em 2025 com as turnês pela América Latina do Glitterer, Lionheart e Earth Crisis. Boston Manor ganhou destaque internacional por uma combinação de fatores que envolveram seu som único, parcerias estratégicas e presença em grandes eventos da cena alternativa. Inicialmente vistos como uma banda de pop punk, eles rapidamente evoluíram para um som mais alternativo, incorporando influências do rock alternativo, post-hardcore e até música eletrônica. Garanta o seu ingresso aqui . Boston Manor em São Paulo Data: 14 de setembro de 2025 Horário: 18h (portas) Local: City Lights | Rua Padre Garcia Velho, 61, São Paulo

Conheça: el escama

Conheça: el escama

Durante a pandemia de Covid-19, em 2021, el escama surgiu nas plataformas de música com o single "Mesma Rua". No mesmo ano, o músico lançou o primeiro álbum que contou com as participações de Carlos Maltz (Engenheiros do Hawaii) e a banda Cluster Sisters (do reality show Superstar). (Créditos: Divulgação/Reprodução) Três anos depois, el escama compartilhou com os ouvintes singles que estariam no seu próximo disco. Agora, o artista lança ESSE É MEU ÚLTIMO DISCO que conta com faixas inéditas, incluindo o single "Vale da Estranheza", um rock de refrão visceral que reflete sobre a era dos algoritmos e do sensacionalismo, onde, apesar da avalanche de estímulos, os debates seguem falando sobre nada. "Durante a pandemia todo mundo meio que se afundou no uso das redes sociais, cursos online, essas coisas. Eu voltei a estudar violão e, pra memorizar melhor as lições, procurei escrever uma música nova a cada aprendizado. Foi assim que nasceu grande parte do repertório deste meu segundo disco", conta el escama. Leia também: Conheça: Rés A estrada da Atalhos Conheça: Zaina Woz O título do álbum é interessante (e diz muito sobre a sociedade atual), pois faz referência à estratégica do bait, o maior caça-cliques nas redes sociais. Inclusive, el escama faz críticas ao digital com uma nova sonoridade que conta com teclados, programações eletrônicas e guitarras com pedais de efeito. "Na Esquina", segunda canção do disco, soa como um jogo virtual: el escama canta sobre a realidade que muitos esqueceram por conta de filtros. Já em "Estilhaços", o músico mostra sua inconformação com notícias rasas e pautadas pelas redes sociais.

A estrada da Atalhos

A estrada da Atalhos

Em um vídeo, o professor Franklin Leopoldo e Silva diz que o tempo é "a coisa mais importante que existe", porém, não refletimos sobre, afinal, temos pressa para viver. No entanto, mais tarde, questionamos a passagem do tempo a partir de memórias, reflexões e imagens, possibilitando (re)escrever histórias. Desde 2012, com o lançamento do primeiro disco, Em Busca do Tempo Perdido , Atalhos dialoga com o tempo a partir do existencialismo, lembrando que a existência é um processo.  Com mais de uma década de trajetória, a Atalhos, encabeçada por Gabriel Soares e Conrado Passarelli, segue a caminhada que começou em Birigui, interior de São Paulo. Com 4 álbuns lançados e passagens pelo mundo, a banda compartilha sua sonoridade com letras literárias e autobiográficas, fazendo com que o imaginário se confunda com o fantástico (como as histórias de Julio Cortázar), aproximando-se do ouvinte.  O tempo, esse espaço que não possui uma exata definição, foi essencial para que o grupo revisitasse o passado para trabalhar em novas canções. Enquanto "Más Lejos" retrata as últimas viagens e turnês pela América do Sul, já "Ondas de Calor", recém-lançada, resgata as raízes roqueiras da banda construindo uma paisagem sonora com flertes sedutores que vão desde o shoegaze e o noisy ao característico dream pop da banda.  "Onde estamos nós? / O tempo… ele é sempre cruel, não é?", canta Gabriel na nova música. É possível que não saibamos onde estamos e nem para onde vamos, mas "Quem desafia a distância entre dois pontos / Não morre nunca". Leia também:  As reflexões de cumbuca A história do caminhar Nozes foge do absurdo diário Quando você olha para trás, imaginava que Atalhos estaria no lugar que ocupa hoje?  Eu estou agora em Nova Iorque, a gente vai tocar aqui semana que vem. Apesar de ser um festival com várias bandas, existe um público nosso aqui, esperando ou querendo ouvir, mas querendo ou não, é uma vitória para a banda que nasceu no interior de São Paulo, em Birigui. A gente realmente não imaginava… Eu nunca imaginava estar vindo com a minha própria banda tocar em Nova Iorque, então, é uma vitória.  Mas ao mesmo tempo também tem várias frustrações no meio do caminho: gostaríamos de estar em outro patamar depois de tantos anos de carreira, mas é uma mistura de sensações. Vocês já rodaram o mundo inteiro, mas vocês nunca esqueceram as raízes, né?  A gente, por exemplo, nos últimos anos, tentamos expandir um pouco o som da Atalhos, fazer com que ele pudesse chegar em outros países, principalmente países latino-americanos, até por isso que começamos a fazer colaborações com artistas latinos. A gente lançou também uma música 100% escrita e cantada em espanhol [Más Lejos] , temos essa coisa de querer levar a música da Atalhos para outros lugares, mas ao mesmo tempo a gente não esquece, a gente não quer esquecer que a gente é uma banda brasileira, né? E a gente gosta muito de tocar no Brasil, gostaríamos de tocar mais, na verdade, mas algumas oportunidades começaram a pintar mais fora do que no Brasil, a gente não pode deixar de viajar e de pegar essas oportunidades, né?  (Créditos: Felipe Martins) A narrativa da Atalhos é inspirada na literatura. O que ela representa?  O lance da literatura sempre foi algo muito natural para mim e para o Conrado. Quando a gente começou a banda, a gente gostava muito de ler, começamos a ler mais ou menos juntos, na mesma época, quando a gente tinha 15, 16 anos, depois, a partir dos 20 anos, a gente se mudou para São Paulo, a gente morou junto em São Paulo, e foi um momento que a gente começou a ler muito mesmo e a gente se inspirava, a gente lia junto às coisas, sabe? Ele me mandava livros, eu mandava para ele… E os principais livros que a gente lia naquela época eram livros, assim, mais existencialistas, né? Lia romance do Sartre, lia umas coisas de filosofia da Simone, lia coisas do Camus, lia um monte de coisas do existencialismo francês do século passado. A gente começou a se inspirar muito pelas coisas que a gente tava lendo… Tem até uma música do Conrado, por exemplo, que a gente nunca lançou em nenhum disco, chama "Noites Brancas", que é uma música que o Conrado fez a letra e tal, aí eu coloquei esse título, porque é um livro do Dostoiévski, né? É um livro pequenininho do Dostoiévski. Aí eu falei para ele: "olha, eu vou contribuir dando um título aqui para essa música, porque eu achei que a letra tem a ver com esse livro que eu li." Aí, a partir daí, começou essa brincadeira da gente de vez em quando inserir títulos de livros que a gente lia, ou nomes de personagens.  Por exemplo, a primeira faixa que abre o nosso primeiro disco, de 2012, Em Busca do Tempo Perdido , é uma homenagem ao livro do Proust também. A primeira faixa chama "Mathieu 4 Ever" e o Mathieu é um personagem do livro Sartre, que abre a trilogia A Idade e a Razão . Então, sempre foi brincadeira, assim, que a gente gostou de fazer, de fazer homenagens, colocar o nome do personagem, o nome de... Mas também nos últimos tempos, especialmente no último disco que vamos lançar, a gente tem tido bastante cuidado para não criar essa imagem da banda, porque sempre falaram muito [sobre]  a banda e a literatura, para não se criar uma coisa, assim, meio superficial, ou que parecesse meio blasé, sabe? Ou que o som da Atalhos fosse alguma... Para as pessoas conseguirem se identificar com o som, teriam que ler os livros, mas que não tem nada a ver com isso. Então, a gente sempre quis fazer agora letras mais diretas, mais... Até simples, assim, sabe? Mas sem deixar essa coisa da literatura de lado, mas que não seja uma coisa meio blasé, sabe?  Então, é uma coisa que acho que a gente vai sempre colocar um pouco assim nas músicas. Não automaticamente em todas. Por exemplo, essa música que nós estamos lançando agora, "Ondas de Calor", não tem nenhuma referência direta, nem nada, nem um livro e tal, mas depois tem outras músicas no disco que vão sair que tem, sabe? Que tem coisas ali ligadas à literatura. Mas é uma coisa de paixão nossa mesmo. A gente gosta e a gente quer compartilhar esse entusiasmo das leituras que a gente faz.  Proust acreditava que as pessoas tinham potencial para serem artistas, visto que é possível transformar as experiências do dia a dia em arte. Você também pensa assim? Aliás, a Atalhos está fazendo isso conscientemente ou inconscientemente? Eu não sabia que ele tinha falado isso. Ou talvez ele tenha dito alguma coisa mas não lembrava. Mas eu concordo, sim. Eu acho que esse olhar artístico também, que ele deve estar falando, é mais ou menos sobre isso. Você pode pegar qualquer cena do cotidiano, qualquer coisa, você pode transformá-la em arte. A literatura possibilita isso e a música também. Eu acho que a música, em determinadas formas, você consegue falar com mais limitação ali, dependendo de cada coisa. A literatura é mais…  O David Foster Wallace , acho que chegava a falar sobre isso, que a literatura, você poderia realmente escrever. Ele era capaz, por exemplo, de escrever cem páginas sobre as coisas mais banais possíveis, mais toscas, mais nada a ver, que jamais alguém iria pensar que poderiam ser colocadas num livro ou em formato de literatura, mas ele conseguia. Então eu acho que a gente também se inspira assim por coisas de olhares do cotidiano, coisas simples também, que a gente tenta colocar e transformar isso em arte. No caso da Atalhos, especialmente em viagens, distâncias, porque eu gosto muito de dirigir tipo caminhoneirão mesmo, pegar e fazer viagens longas e longas, e são nesses momentos que eu também me inspiro pra criar as canções. Vou meio que pensando elas, depois quando eu vou sentar e começar a tocar, fazer um negócio, mesmo que inconscientemente tenha essas cenas gravadas do que passou de horas e horas dirigindo, entendeu? E eu acho que também tem a ver com isso que você falou, que são momentos ali, às vezes uma viagem inteirinha pode ser uma coisa meio que tediosa, mas às vezes essa simplicidade, coisas que vão passando pelo retrovisor, pela janela, de alguma forma ficam guardadas na cabeça e depois você consegue iluminar elas de outra forma, né? Meio que transformando em arte numa música, num refrão ou numa melodia, acho que é meio por aí. É mais fácil escrever uma música e cantá-la ou apenas escrever? Existe uma diferença também pra você?  Eu acho que é muito difícil, na verdade. É um processo meio estressante. Eu escrevo também literatura, eu tenho dois livros publicados, só que agora eu tô escrevendo um maior e tal, porque eu tô me dedicando a mais tempo, que é meio autobiográfico também e tal, e que mistura um pouco também ainda a minha vida com a música, a minha filosofia, as coisas que eu gosto e tal. Eu acho muito difícil também, é muito difícil você sentar e escrever, porque às vezes tem que reescrever e tal, mas eu acho que, fazendo uma comparação, na literatura é um pouco mais fácil, tem mais espaço ali pra… Você consegue meio que jogar num rolo compressor ali, às vezes vai meio que no automático. E na hora de fazer a música, tem toda a métrica ali, ela tem que encaixar na melodia, porque às vezes a primeira coisa assim, por exemplo, nesse último disco agora que nós vamos lançar, todas as faixas eu compus no ano passado, no comecinho mais ou menos nessa época do ano, só que no ano passado, né? E aí foi fazendo a pré-produção em casa e tal, mas é sempre mais a melodia primeiro, faz a música e depois é o que eu vim com a letra, né? Mas é muito mais difícil, é estressante, às vezes você tem que passar dias e dias pra tentar encontrar uma três, quatro palavras, ou às vezes uma palavra que se encaixa ali na métrica da música, entendeu? Que faça sentido ali, então eu acho mais difícil fazer a letra da música, na verdade, do que escrever a literatura. Ainda falando sobre Em Busca do Tempo Perdido , a música, que leva o mesmo nome do título do álbum, evoca uma viagem, né? Uma viagem do tempo. Inclusive o tempo também está muito presente nesse disco. Em um determinado momento, você fala sobre caminho e aí eu te pergunto: é fácil escolher um caminho?  [risos] Então, isso é legal porque… Não, fácil não, nunca é, mas a gente não pode escapar dessa condição, né? Aí a gente mistura um pouco… A gente tava falando antes do existencialismo que a gente lia na época desse primeiro disco, e ao mesmo tempo eu estava lendo, foi um ano que eu passei lendo Em Busca do Tempo Perdido , que era um livro… Eu cheguei nele, tipo, sabia que muita gente falava e que quase ninguém tinha lido, que era gigante, não sei o quê, e eu falei: "eu vou tomar o desafio de ler inteiro." Mas ao mesmo tempo, a gente estava na naquela coisa de ler literatura existencialista, né? Então, por exemplo, essa música, "Em Busca do Tempo Perdido", que fala também do tempo e tudo mais, tem essa parte que você tem que escolher os caminhos. Aí, nessa hora, não estava falando de Proust, estava falando muito mais de Sartre, mais do Camus, sobre responsabilidade existencial que você não pode escapar dessas tomadas de decisão, né, que você tem que ser responsável pela sua própria existência. Então, era meio que uma mistura das coisas que a gente estava sendo influenciado na época, mas que, de certa forma, continua até hoje. E você, junto com a Atalhos, já encontrou o caminho ou ainda está percorrendo esse caminho?  Eu acho que não tem caminho pra se encontrar, né? Porque, às vezes, as pessoas acham que tem um caminho que você tem que chegar e que vai ter o ponto final, e o ponto final até pra quem é mais existencialista, na verdade, é a morte só. Como disse o Heidegger, nós somos seres lançados para a morte desde o momento que a gente nasce. Então, acho que o final, o ponto de chegada é a morte. O mais interessante não é querer chegar - quanto mais tempo a gente demora pra chegar nessa chegada, é melhor. Então, a gente gosta de estar na travessia, entendeu? Flutuando, andando, caminhando pelos caminhos, encontrando outros, voltando. Muitas vezes, não é uma... A gente acha que é um caminho de linha reta, mas, na verdade, muitas vezes, você vai e volta pro mesmo lugar, depois da ponta e volta de novo. Então, é todo esse ir e vir e tal. Mas é isso. Eu acho que é... Acho que agora meio que perdi o fio da meada aqui que eu tava pensando… Também não é querer chegar... E aí, uma coisa que eu queria falar também é sobre caminhos, essas coisas e o nome da banda. Porque, muitas vezes, as pessoas perguntam: "vocês passaram por alguns atalhos? Conseguiram atalhos?" E atalhos, na verdade, foi tudo que a gente não conseguiu encontrar, até agora, nessa trajetória de banda, né? Porque a gente já tem 10 anos de carreira e a gente ainda tá meio que engatinhando no cenário independente, conseguindo nosso espaço ali, mas bem aos poucos… Então, a gente nunca conseguiu encontrar uma via principal, sabe? Uma autopista, assim, rápida pra gente chegar num lugar. Então, a gente meio que foi obrigado, talvez, a gostar do que eu tava te falando, de caminhos longos, mais tortuosos, às vezes nem asfaltados ali. Mas a gente nunca encontrou nenhum atalho que diminuísse o caminho pra gente chegar em tal lugar. Parece que a gente tá indo pelos caminhos mais longos, mas de uma certa forma, a gente aprendeu a gostar dessas distâncias e dos caminhos mais longos e mais difíceis também.  "Hoje em dia, você tem uma oferta muito maior de músicas sendo lançadas todos os dias. Por exemplo, durante a pandemia, especialmente, tive mais tempo pra pesquisar sons, então eu ampliei muito esse leque de música latina, principalmente, que eu queria expandir, então eu conheci muita banda nova, muita coisa legal de pessoas que estavam fazendo mais ou menos o mesmo tipo de som nosso, só que no Paraguai, no Chile, na Argentina, sabe? Então, isso foi muito legal também, ver que tem pessoas… Porque isso entusiasma, né? Ver que tem núcleos de cidades também não tão grandes, que não são das capitais também, mas fazendo essas coisas, e isso, na internet, ajuda." Saindo de Em Busca do Tempo Perdido , vocês mudaram muito, né? Onde A Gente Morre  traz Atalhos muito diferente. Como foi transitar naquele início no pop para depois virar folk com sintetizadores? Foi uma mudança que vocês necessitavam ou que vocês sentiram com o passar do tempo?  Com esse disco novo, a gente tá voltando mais pop de novo. Essa é uma briga com o pop, que tem muita coisa assim… A gente sempre se viu como roqueiro e tal, às vezes, no interior a gente tinha essa coisa meio... Simplesmente não ser o que você é, mas você falar que você é anti outras coisas. Então lá a gente era meio anti sertanejo, anti essas coisas, então a gente tinha que ser mais rock, mais... E também a gente tinha que soar como pop. Por exemplo, esse primeiro disco foi um disco… A gente se mudou pra São Paulo, foi a época que a gente não tava mais tocando lá no interior e quando a gente foi fazer faculdade aí em São Paulo, tivemos acesso aos primeiros estúdios com mais qualidade, coisas que não existiam no interior, né? A gente começou a ensaiar o primeiro disco no estúdio lá perto de casa onde a gente morava, em Moema, que a gente nem sabia, depois a gente foi descobrir que era o estúdio dos caras que a gente ficou amigo lá, que eram donos do estúdio, eram os caras da banda chamada Korzus, que é uma banda de thrash metal brasileira, muito famosa, e é thrash metal, entendeu? É coisa pesadona, né? Então quem produziu, na verdade, o nosso primeiro disco foi o [Marcello] Pompeu, que é vocalista da banda Korzus, nós somos amigos até hoje, só que não tinha nada a ver com o som que a gente escutava, porque a gente fazia mais cover quando a gente era em Birigui, era cover de coisa mais grunge, sabe? Eu escutava mais britpop também, grunge, mas a gente nunca foi de metal, então a gente também não sabia nada de produção no nosso primeiro disco… A gente sabia ensaiar, lá onde a gente ensaiava, fazia shows às vezes e tocava ao vivo, mas não sabia nada de produção, porque você tá no estúdio e é completamente outra coisa, é outra situação. Então foi uma experiência, esse primeiro disco foi meio uma salada geral, mas foi uma grande experiência pra gente. A gente começou a aprender o que é estar no estúdio e tal, e a produção tinha controle que a gente nem sabia, e acabou ficando aquela coisa de batera mais pesada, o rockão legal, assim, sabe, de forte, mas também foi 100% baseado aí na produção do pessoal do Korzus.  E aí no segundo disco, Onde A Gente Morre … Aconteceu que a gente começou a escutar esse disco [o primeiro]  e a gente já não gostava mais do disco, em um ano a gente não conseguia mais ouvir o disco, achavam que estava tudo uma merda, que as músicas estavam... Bateria estava muito forte, a caixa estava sempre uma pancada, tava uma coisa muito... Não era o que a gente queria passar, só que a gente não entendia também. Como que nós vamos fazer o som que a gente acha que nos representa, né? Então, Onde A Gente Morre  foi meio que um disco - como eu tava te falando antes - a gente falou: "ao invés de música pop de 3 minutos, aquela coisa com aquele formato mais radiofônico, que foi o primeiro disco que foi, nós vamos fazer músicas longas, então a gente quer música de 9 minutos, música de 7 minutos." Tanto que o primeiro single, "José Fiquei Sem Saída", tem quase oito minutos. A caixa da bateria, por exemplo, é como se uma lata, a gente inventou todo um negócio porque a gente queria um som completamente diferente. A gente experimentou bastante nesse disco. A música que abre o disco, "Sozinho Contra Todos", se você escutar a bateria - eu gravo a bateria, eu sou baterista, eu tive que vir pra frente meio que forçado, porque eu tocava bateria e cantava, mas em casas de shows pequenas ninguém me via cantando, então me falaram: "ó, tem que cantar lá na frente" - completamente torta, diferenciada, era uma forma de experimentar. Nos outros trabalhos a gente foi tentando também mudar, mas sempre dialogando com o anterior, uma forma de tentar superar eles, né, mas realmente tem muito folk no Onde A Gente Morre  porque a gente quis também… A gente criava as músicas sempre no violão e a gente escutou o primeiro disco e era só guitarra elétrica, um negócio muito forte - a gente tava entendendo. Então, a gente quis colocar mais o violão em evidência nesse segundo disco influenciados por Neil Young e Wilco. Lembro que a gente assistiu o documentário do Wilco [I Am Trying to Break Your Heart]  e eu lembro do Jeff Tweedy falando: "olha, eu tenho essas canções pops, mas o que a gente tá fazendo nesse disco é destruir elas." Acho que Onde A Gente Morre  tem essa ideia da desconstrução da música também. No Onde A Gente Morre  tem muito disso: desconstruir e inovar. Ao mesmo tempo foi a nossa melhor experiência em estúdio porque a gente começou a aprender a como tirar um som que a gente quer, a brincar, ter uma capacidade de explorar novos sons e experimentar mesmo - foi muito importante pra gente nesse sentido.  É curioso você falar sobre destruição porque o título dá sentido nessa ideia, ou seja, "estamos enterrando o que foi o passado para iniciar uma nova era"...  É, pode ser visto por esse lado, você ter que matar e destruir para renascer e reconstruir… Mas também tem o lance que a gente sempre foi baseado no existencialismo e morte, então… Não sei, a gente não é pessimista, muito pelo contrário, é o lado afirmativo da vida, das coisas e tal… Mas a gente sempre teve essa relação com a morte no sentido existencial, mantê-la presente e saber que ela é uma realidade, sabe? Acho que é por isso que tentamos fazer a melhor experiência possível na vida. Acho que também tem a ver com essa fissura que a gente tinha com a morte - não sei se eu tava lendo os ensaios do Montagne, tem uma parte que ele fala: "filosofar é aprender a morrer" e isso marcou muito a gente -, manter essa relação e ter uma relação saudável.  "Sozinho Contra Todos" tem uma estrofe que me chamou bastante atenção: “saio pela rua e ninguém se parece comigo”. Pensei muito nela no pós-pandemia e também na relação das pessoas com as redes sociais. Estamos sem saída, pessimistas em um mundo distante?  Se um carinha que é radical ou de extrema-direita escutar "Sozinho Contra Todos" hoje pode achar o máximo e querer fuder com todo mundo e não é [sobre]  o que a gente quis dizer na época, né. Essa música, assim como na literatura, foi feita a partir da criação de um personagem: um cara que é completamente anti social e meio que odeia todo mundo, sabe? Nessa época eu tava lendo muito Thomas Bernhard, que é um dos meus escritores preferidos, é um austríaco que é muito raivoso, mas ao mesmo não… É um cara que é muito polêmico nesse sentido… Eu vejo muito mais graça nele do que coisa negativa… Quem conviveu com ele dizia que ele era um cara insuportável, mas ele também era muito crítico e ranzinza nesse sentido de ser contra todos. Antes de ter a música, eu já tava pensando no clipe, inspirado nos filmes do Gaspar Noé [cineasta franco-argentino] , principalmente no primeiro filme dele chamado Sozinho Contra Todos . Sempre foi no sentido da brincadeira… Como eu tava te falando, a gente meio que tava odiando, a gente virou hater do nosso primeiro disco - hater de falar mal, não conseguir escutar e ter vergonha. Hoje em dia eu consigo escutar o primeiro disco e entender, até gosto do nosso primeiro disco.  Você falou sobre a criação de um personagem, pode ser considerado um alter ego? Acho que depende… Por exemplo, tem um autor argentino que eu gosto muito, o Ricardo Piglia, que tinha um alter ego chamado Emilio Renzi, então, na literatura, eu acho que é possível, mas pra mim, nessas músicas, são coisas tão curtas que acho que não pode ser chamado de alter ego, mas é uma forma de dizer coisas que a gente tem vergonha de dizer ou que não se anima a dizer dando as caras com o próprio nome. Acho que isso é interessante na arte: é um lugar que você pode romper barreiras, forçar limites, criar de uma forma mais livre até para falar coisas que você não deveria falar e vice-versa. Não vejo nada de alter ego na música, ao criar personagens é tentar ver perspectivas de outra maneira, fora de mim, muito influenciado pela literatura. A literatura tem isso, você ser forçado a uma empatia quase forçada mesmo, você tem que pensar pelos outros, então você sai um pouco de você e acho que esse transe, esse êxtase, sai de você e vai para os personagens e usei isso muito nas músicas por muito tempo. Hoje em dia, eu tô buscando coisas referenciais nas novas músicas.  Em "Onde Está Belchior" você canta: "eu tenho os olhos na estrada". O que você vê?  Belchior foi um artista que me influenciou demais, sempre gostei dele, mas não só das músicas, mais do que um cantor, ele foi um filósofo a moda antiga que a própria biografia dele era um exemplo dele, tinha a ver com a obra dele. "Onde Está Belchior" é a música que termina o disco Animais Feridos , que tem essa coisa de estrada e que ele também tem muito de estrada… Quando eu tava te falando que a vida dele como filósofo é um exemplo dele é que nos últimos 10, 15 anos antes de morrer, abandonou tudo e foi pegar a estrada para viver literalmente como nômade na América do Sul, a letra também trata disso; de você buscar a estrada, a liberdade da estrada e isso só foi segmentando essa coisa que eu já tinha com a própria estrada, com as viagens longas pela América do Sul e que casou perfeito.  O primeiro single do quarto disco, A Tentação do Fracasso , "Mesmo Coração", é uma homenagem também ao Belchior porque na música "Coração Selvagem", do disco Coração Selvagem  (1977), ele fala: "Sim, já é outra viagem / E o meu coração selvagem tem essa pressa de viver", ou seja, ele tá falando pra quem tá criticando ele porque ele vai viajar de novo, vai sair de novo, não consegue ficar parado - é o nomadismo, entendeu? Eu faço essa brincadeira no "Mesmo Coração", a letra faz referência a essa música, eu falo: "Vem amor o novo tempo corre nesta estrada / Pode ser, nossa última chance / E eu guardei pra você uma frase nessa canção / Em meu coração, continua selvagem sem você" indo para um lado mais pessoal, fazendo essa brincadeira com a estrada, mas sempre a estrada muito presente. Como eu viajo muito, dirigindo, são os momentos que fico mais inspirado… Penso em coisas, em músicas, sou impactado por muitas ideias durante o momento que tô dirigindo. Acho que a música da Atalhos tem essa influência. Lá na Argentina tem um termo pra isso: rutera. Acho que casa bem com o que Atalhos faz e também o estilo, na estética da música da Atalhos. Nos últimos tempos, principalmente, a gente se inspirou muito em Bruce Springsteen, The War on Drugs e que mudou completamente a estrutura que a Atalhos faz som, principalmente na questão da bateria. Se você pegar a bateria de "Sozinho Contra Todos" e pega a bateria de "Mesmo Coração" é totalmente outra coisa, é uma coisa mais reta, mais básica e que dá essa sensação de viagem, de estrada, você não fica tanto tempo concentrado nas viradas da bateria, é quase uma constante, uma reta de uma estrada. A estrada é a parte que vai tá sempre junto com as músicas da Atalhos. "Quando eu escutava Legião Urbana, eu gostava muito de várias referências ali que o Renato colocava nas letras. Por exemplo, tem uma música deles que se chama "A Montanha Mágica", e que foi a partir dessa música que eu quis ler o livro do Thomas Mann. Às vezes não tem quase nada a ver com a música em si, mas foi uma homenagem também que ele fez ali. Então, eu gosto disso, sabe? De que a música também não tem que se encerrar, que a experiência de quando você está escutando a música não se encerra na hora que a música acaba. Ela sempre deixa uma semente ali, alguma coisa que você pode depois buscar e se inspirar." A Tentação do Fracasso  saiu em 2022, cinco anos depois do último lançamento. Por que tanto tempo?  Esse negócio do tempo é interessante porque, a gente tava falando das músicas do Em Busca do Tempo Perdido , Sartre e tudo mais… Tem um autor que eu descobri agora que é Henri Bergson que foi um cara que escreveu sobre o tempo e que vai te ajudando a entender porque as pessoas que me influenciaram naquela época, que também foram influenciados por ele, o que tem a dizer sobre o tempo e o fato de que nós somos duração, de que as coisas vão acabando… Por exemplo, um conceito que eu coloco muito nas letras, nas coisas que eu ando escrevendo, é sobre a duração dos relacionamentos e a relação da morte com os relacionamentos. Quando você morre não tem mais nada, você não vai conseguir pensar, sofrer outra perda, você morreu e acabou; mas o que acontece nas relações é que muitas delas morrem e as pessoas que vivenciaram aquela relação sobrevivem a morte da própria relação. A memória dessa relação continua sobrevivendo como se ela tivesse existindo, mas ela não existe mais, ela existe apenas no tempo e na memória; e toda essa relação vai influenciando também a forma de pensar. Essa música nova que a gente lançou, a "Ayer Morí", tem um pouco a ver porque fala de estrada, do tempo, da memória e tem um pouco a ver com essa minha descoberta com o Bergson que me ajudou a compreender mais essas ideias existencialistas, compreender o efeito do tempo em cada um. A melhor forma de lidar com os efeitos do tempo é ir criando, favorecendo essa coisa da criação que me inspirou muito.   Eu fui muito longe da tua pergunta, mas demorou porque a gente demorou para lançar Animais Feridos , era pra ter saído antes. Quando a gente tava gravando o disco, eu fui convidado pelo meu amigo Eduardo Praça pra tocar bateria no ano inteiro na turnê do Quarto Negro, então já demorou aí Animais Feridos . Entre Animais Feridos  e A Tentação do Fracasso  também rolou dúvidas sobre se íamos lançar um novo disco ou não, porque os resultados… E a gente também tava querendo mudar o som. Animais Feridos  não representou uma mudança, a gente queria fazer uma coisa nova, tava parecido com Onde A Gente Morre , então, só valeria a pena fazer um novo disco se tivesse algo novo, porque ia ficar mais do mesmo, sabe? Então comecei a mudar: mudei a forma de compor, até então eu compunha só no violão, mas com A Tentação do Fracasso  eu comecei a fazer direto na guitarra e aí entra um novo estilo que a gente se encontrou mesmo. A gente conseguiu finalmente encontrar uma cara da Atalhos. Foi um disco que eu trabalhei com Ives Sepúlveda, do The Holydrug Couple, que criou umas camadas de sons que ficam lá atrás e que as pessoas não veem que estão ali. Foi um disco que a gente colocou muita textura, muitas camadas, muita massa sonora que mudou bastante e por isso que também demorou. E o principal foi a pandemia, porque o disco tava mais ou menos pronto e era pra ter sido lançado antes da pandemia e tudo isso demorou demais… Mas ao mesmo tempo a gente pode ir cantando esse disco aos poucos e foi bom por um lado.  "Ondas de Calor", o novo single da Atalhos A faixa sucede “Ayer Morí” e introduz mais um pouco do universo do próximo álbum da banda. Dessa maneira, "Ondas de Calor" é um chamado a sonhar com o amor. Colorindo a música, o videoclipe lo-fi mostra a banda, formada por Gabriel Soares, Conrado Passarelli, Fabiano Boldo e Nico Paoliello, em seu ambiente natural: fazendo som. O roteiro, assim como a edição, é assinado por Gabriel Soares. A direção é do Duo Cinza, direção de fotografia de Adriano Vanni, direção de arte de Tata Evagelidis, cor de Henrique Reganatti e finalização de Zumbi Post. A assistência de produção é de Gustavo Lot, assistência de fotografia é de Rafael Vieira e os stills são de Felipe Martins. ""Ondas de Calor" é uma balada em sol que fazia muitos anos que a gente não fazia e que a gente também gosta. Remete muito ao que a gente era, é um resgate no tempo, a redescoberta daquele tempo com novos elementos mais modernos que dialogam com os dias de hoje." Assim que a conversa termina, lembro dos escritores - Rebecca Solnit, René Descartes, Virginia Woolf e Walt Whitman - que caminhavam para continuarem existindo. No entanto, é Jack Kerouac que me desperta imagens. Em On The Road , escreveu: "Qual é a sua estrada homem? - a estrada do místico, a estrada do louco, a estrada do arco-íris, a estrada dos peixes, qualquer estrada... Há sempre uma estrada em qualquer lugar, para qualquer pessoa, em qualquer circunstância." O texto confirma o que a Atalhos tem abordado: fugir do absurdo é uma necessidade para prosseguir o processo de existência.

As reflexões de cumbuca

As reflexões de cumbuca

Uma banda não surge rapidamente, leva tempo. Antes da cumbuca se tornar um grupo autoral eram apenas quatro amigos se divertindo tocando Novos Baianos. Após jams, improvisações e conversas, Deco Gontijo (vocal, guitarra, violão e sintetizador), Henrique Borto (vocal, guitarra e sintetizador), Júlio Madella (bateria, vocal e percussão) e Toni Morais (baixo) se juntaram para apresentar suas próprias canções.  Formada em 2023, a cumbuca mescla inspirações, vivências e observações para entregar um estilo musical que passa por diversos gêneros. Mesmo com pouco tempo, a banda sabe se comunicar: em seu primeiro EP, gravado entre julho e setembro de 2024 no Inhame Studio, com produção de Rubens Adati e Bianca Godoy, o quarteto aborda questões existenciais e pessoais em suas letras, dialogando com os ouvintes de maneira sincera. "Pensamos em apresentar as nossas referências de forma mais crua e direta, o que faz sentido em uma estreia", explica Deco.  Em quatro canções - as primeiras composições do grupo - é possível perceber as influências da cumbuca: Clube da Esquina, The Cure, Pavement, Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo e Boogarins. Por mais que seja o começo, vale a pena acompanhá-los.  Leia também:  Celso e Pedro Viáfora: duas gerações em cena A estrada psicodélica da Ventilador de Teto O Dia que Te Conheci Foram os Novos Baianos que uniram vocês, né? Muitas pessoas que eu conheço começaram também tocando músicas dos Novos Baianos para, depois, iniciar uma banda autoral. Como foi iniciar com  "Mistério do Planeta" para uma banda autoral e totalmente diferente dos baianos?  Henrique:  A gente sempre se conheceu, porque a gente é da USP, né? Todo mundo. Então, a gente acabou todo mundo se conhecendo já antes da banda. E eu conheci o Antônio desde o início da faculdade. A gente já tocava junto em uma banda e tudo, mas uma banda de cover. A gente tocava mais pra curtir, pra brincar… Toni: É, era mais um grupo de amigos. A ideia era se reunir, tipo, depois tomar cerveja, né?  Henrique:  E aí, o Deco eu já conhecia também de outros rolês da USP e tudo, o Júlio eu conhecia, mas não conversava muito com ele. Aí, um dia eu acabei indo na casa do Deco pra gente fazer um som, dar uma brincada mesmo, porque a gente já tentava combinar isso fazia muito tempo… A gente foi lá e tiramos "Mistério do Planeta" juntos, ele no violão e eu na guitarra. Ele falou assim: "pô, vamos marcar de tocar aí com o pessoal e tal, fazer um som" e nesse mesmo dia a gente tinha postado em story aí o Júlio mandou: "ah, quero botar uma bateria nesse "Mistério do Planeta" aí" e aí, eu falei, "pô, conheço um baixista, o Antônio"... E aí, a gente marcou esse ensaio. A primeira música que a gente tirou foi "Mistério do Planeta", né? É uma música essencial da MPB e de toda a história da música brasileira, eu adoro essa música. Na verdade, os Novos Baianos são os meus artistas brasileiros favoritos. Eu acho que pra todo mundo da banda eles são muito referência. Eu acho que a gente começou muito nessa pegada, assim, de ser influenciado por eles… A gente acabou seguindo um caminho mais diverso, mas acho que sempre tem a influência deles lá. Influências não são coisas que você sabe, "nossa, tô sendo diretamente influenciado por isso", mas eu acho que tá lá até hoje.  Toni:  Acho que foi a coisa engraçada desse primeiro ensaio… Acho que todo mundo focou... A gente tinha selecionado umas seis músicas para tocar. Mas o pessoal focou tanto em aprender o "Mistério do Planeta" certinho que a primeira vez que a gente tocou, tipo, já fluiu e as outras não fluíram. Tinha músicas muito mais simples, que são de timbre, que são de acorde. Foi meio mágico. Henrique:  É, foi muito legal isso.   Toni:  Acho que todo mundo ficou a semana inteira meio que prestando atenção nessa música pra chegar lá e, tipo, desenrolar. Porque a gente não se conhecia tão bem também. Créditos: Tuty (@ottn_photograph) É curioso, porque vocês não se conheciam tão bem, mas ali tinha um elo pela música, né? A partir desse elo, como vocês deram um passo à frente?  Henrique:  Eu e o Antônio já éramos bem próximos antes, né, a gente já era bem amigos. Só que com os outros meninos, eu acho que realmente foi uma interação mesmo por causa da banda, né, que ao mesmo tempo que é de amizade, né? A gente tem que ter certas responsabilidades que em uma amizade, às vezes, você não precisa ter… Eu acho que, ao mesmo tempo, que a gente vai se conhecendo através de conversas no ensaio, também é uma forma de conhecer a outra pessoa por meio do que ela traz, né? Acho que a gente tem uma profundidade na conexão, mesmo através da música mesmo, de ter um entrosamento entre a gente quando a gente vai tocar. Acho que foi realmente criando isso por conta dos ensaios, né, que a gente veio tendo, já faz o quê?! Uns quase dois anos, acho que um ano e meio, né?  Toni: Quase dois anos. Já nesse primeiro ensaio que vocês tiveram, nesse primeiro encontro, em algum momento, vocês pensaram em ter uma banda? Teve aquele insight do tipo "isso pode se tornar outra coisa"? Henrique:  Uhum. Eu acho que, no início, a gente realmente não tinha ambição de fazer músicas autorais. Acho que todo mundo que toca, assim, algum instrumento, quando tá sozinho em casa, acaba compondo alguma coisa e tudo… Então, acho que todo mundo tinha umas composições. Mas a gente começou tipo “ah, vamos se divertir mesmo”, um negócio muito casual, acho que a gente nem pensou muito nisso. Teve uma hora que chegaram as composições mesmo, foi um negócio… Até tem um pouco de dificuldade de contar mesmo porque eu acho que foi muito do nada, assim, sabe? Tipo, foi de um ensaio pro outro, “ah, tô com essa música aqui, vamos tirar um som.” Aí foi indo, né? A gente começou com duas músicas que estão no EP, inclusive, foi “Resolução” e “Passear na Praia”. Aí, depois, já surgiram as outras duas que estão no EP, que foi “Descanse” e “Meus Problemas”. Hoje em dia, a gente já tá com 12 músicas aí, né? Junto com as do EP, que a gente toca nos ensaios, e ainda temos novas músicas pra tirar nos ensaios, que ainda nem conseguimos tirar.  Em que momento vocês perceberam que esses ensaios de covers poderia se transformar em algo autoral? O momento que vocês sentaram e decidiram montar uma banda, explorando as composições para, enfim, dar vontade ao sonho?  Toni:  Acho que uma coisa que sempre rolou nos ensaios foi fazer umas jams no meio. Então, “ah, sei lá, vamos aquecer. Faz alguma coisa aí no baixo, sei lá, na bateria, e a gente acompanha.” Ou mesmo quando tocávamos covers, a ideia era que se eu tivesse em algum momento algum solo, e a gente fosse pra alguma coisa minimamente diferente. Então, acho que essa parte da gente ter entrosado hoje, e ter algumas músicas nossas, dá pra ver que surgiram basicamente com jams, em algumas partes das músicas. Tipo, alguém tava improvisando ali e a gente juntou em cima. Isso foi uma coisa muito legal, assim, também. Ou mesmo, tipo, às vezes, dessas 12 músicas que o Henrique falou, tem algumas que já chegaram um pouco mais prontas, assim com os instrumentos, mas a maioria foi algum riff ou alguma letra mesmo, que a gente foi encaixando todo mundo. Dessas 12 músicas, o que a gente costuma fazer é ficar tocando umas 5 vezes todas as músicas para ter uma ideia de onde nós vamos ou se vai ter uma virada ali… Até com instrumento que vai tocar ou não, em que parte, a gente tem muito essa questão de fazer progressões nas músicas. A ideia é realmente criar um clímax ali pra quem tá ouvindo, né.  Henrique:  Eu acho que mesmo quando a gente já tem uma ideia mais concreta do que vai ser a música em si, a gente já pensou “nossa, a música vai ser desse jeito.” Acho que quando a gente chega pra tocar junto sempre acaba indo pra um lado diferente, né. Acho que a gente gosta muito de ter essa interação entre as ideias de todo mundo da banda, né. Sempre ter aberto essa possibilidade de que todo mundo pode contribuir pra uma música. Acho que é legal ver uma interação de influências, de mundos diferentes aí dentro de uma música.  A banda foi formada há pouquíssimo tempo, dois anos. E aí em dois anos vocês se juntaram, vocês se conheceram profundamente, vocês se descobriram uma banda autoral e já apresentaram um EP - é pouco tempo pra muita coisa. E agora que o EP foi lançado, como vocês estão se sentindo?  Henrique:   [risos]  É, eu acho que a gente tá muito satisfeito. A gente conseguiu divulgações, graças a Malu [assessora] , que fez um puta trabalho, na assessoria, e conseguiu muito espaço, mais do que a gente estava esperando. Muita gente tá gostando das nossas músicas. Acho que uma das coisas mais legais que tem é quando a gente vê alguém comentando no Instagram: “ah, tava no Spotify, apareceu [a cumbuca]  e gostei de todas as músicas e vim aqui seguir”, sabe? É meio doido, porque antes a gente só tinha nossos amigos que sabiam da banda e que curtiam o som… Isso dá uma animada, né. Mesmo estar aqui, fazendo uma entrevista, já acho que é um negócio muito divertido porque não é um negócio que costumava acontecer. Então é muito legal e acho que a gente só tá mais animado pro futuro da banda. Estamos ensaiando bastante agora, com todas as músicas que a gente tem, pra tocar ao vivo, entregando um show legal nos próximos meses. Acho que a ideia seria no fim do ano tentar começar a gravar o álbum para, possivelmente, lançar ele no ano que vem, né… Acho que isso ainda tá um pouco nublado, mas se tudo der certo… [risos]  Júlio:   Sempre foi meu sonho ter algo gravado e realizar isso com o Borto, Deco e Toni tem sido muito legal. São muitos gostos e referências que se complementam. O processo continua da mesma forma? Surgem a partir de ensaios e jams que vocês começam a fazer? Ou ainda não se sabe muito?  Henrique:  Então, eu acho que são muitas músicas que a gente ainda tem pra tirar, né, antes de fazer esse álbum. Mas toda vez, a forma de tirar a música, eu acho que é a mesma: a gente chega lá com uma ideia nova e todo mundo vai lá e tira a sua parte junto, dentro do ensaio, né. Mesmo que às vezes tem algumas coisas, assim, que já estão mais fechadas na música. Eu acho que a gente sempre acaba indo lá e tirando e descobrindo coisas novas sobre a música mesmo, né. Teve duas músicas que a gente tirou mais recentemente que chegaram de uma forma e hoje já estão de uma forma nova que era impossível da gente pensar. Eu acho que as próprias músicas do EP eram músicas que a gente via de uma forma e aí quando a gente foi gravar elas deram uma transformada também. Se o Antonio quiser falar um pouco mais sobre essa transformação… Toni:  Antes de começar a gravar, a gente teve uns quatro ensaios basicamente pra ficar tocando essas quatro músicas e tentando encontrar alguns pontos, sei lá, da guitarra no segundo verso e na terceira estrofe. A gente pensava em alguma coisa - e isso é uma coisa que sempre tem - dá pra gente ficar pensando mesmo sobre a música, em que momento eu posso colocar sei lá, algum dedilhado ali que ficaria legal?! Acho que as próprias influências, embora elas se convergem no final, você pega cada um dos integrantes que tem algumas coisas mais diferentes e acaba trazendo. Acho que um exemplo que é um pouquinho mais diferente é o Júlio, que é o baterista, ele tem uma influência muito grande de samba e de rap, que ele traz pra gente, geralmente comparado com a minha base, a do Boto tem muito mais um rockzão, toda a base de MPB e um gótico ali, tipo, sei lá… Escuto The Cure desde os quatro e não comparei muito pra algum rap samba, até, tipo, encontrar algumas referências um pouco mais velhas. Acho que o Júlio nasceu numa casa que tocava [rap e samba] o tempo inteiro, então às vezes tem alguns toques e algumas levadas que ele dá na bateria que muda bastante a música, pelo menos o jeito que você interpreta lá no começo comparado com o que a gente tinha. Uma coisa que foi bem bacana também foi ter uma outra experiência, né. Quando a gente foi gravar de fato, a gente escolheu um estúdio que alguns amigos tinham gravado que é o Inhame, a gente gravou com o Rubens, que tem um nome artístico nada parecido com isso [ Meu Nome Não É Portugas ] , e foi muito engraçado porque a gente conhecia ele por causa de uma música que ele fez com um artista que a gente achava legal, mas não conhecia direito o trabalho do cara fundo e quando fui ver, o cara é muito gênio, conversa muito com com o que a gente se propunha a fazer de música… Então uma das coisas que foi mais legal foi  gravar tudo no analógico e também queríamos uma pessoa que desse toques sobre as músicas e acho que isso ele fez bem os instrumentos, o cara sabe tocar tudo mas já começa ali [risos]  ele não pára não, ele toca literalmente todos os instrumentos do mundo.A Bianca também ajudou a gente, é uma super baterista… Henrique:  Toca tudo também  Toni:  Então é muito engraçado, porque no começo, ficávamos ouvindo a música aí ele parava “toca essa nota aqui em vez disso porque você não faz um slide agora”, aí você faz e ficava perfeito  [risos]  o cara sabe um pouco mais do que eu [risos] .  Isso mostra também o trabalho meticuloso que vocês têm porque é muito comum o primeiro trabalho de bandas estar um pouco cru, já que o orçamento é curto, as possibilidades são poucas e tal, mas a cumbuca já vem com os dois braços e as duas pernas na porta sem brincadeira. Inclusive, as composições do grupo abordam questões pessoais existenciais, ou seja, do mundo e etc, então tem todo esse cuidado.  Henrique:  Sim, eu acho que a gente tenta… Primeiro, obrigado pelo elogio [risos]  Acho que nem eu tinha pensado dessa forma. Acho que a gente tenta sempre tirar todas as possibilidades que existem em uma música… Acho que, às vezes, é mais difícil quando é uma música que tem inúmeras possibilidades. Você fala “nossa, dá pra fazer tal coisa” e aí você fica até meio perdido, mas tem músicas que a gente fala, “vamos dar uma simplificada”, “vamos deixar esse momento pra ser mais complexo e o resto mais simples”. Eu acho que o Rubens ajudou muito a gente ver todas essas questões, de quando tal instrumento tem que entrar na música… Acho que em “Passear na Praia”, por exemplo, foi fundamental isso. Acho que era uma música que quando a gente chegou lá pra gravar ela era uma música que não parava nunca tava toda hora pá, pá, pá [mexe as mãos no ritmo]  a música, sabe? Faltava um pouquinho de calma em alguns momentos pra dar uma estourada e o Rubens sacou isso muito bem também em termos de timbre dos instrumentos, ele fez um trabalho muito bom! Foi sensacional, esperamos poder trabalhar com ele novamente. Acho que sobre essa questão dos temas das músicas é uma coisa que a gente leva bastante a sério, a gente gosta desse tipo de letra que é bem pessoal mesmo. Pessoalmente pra mim quando eu vou escrever uma letra é mais uma forma de desabafar mesmo, sabe, tipo..  Toni:  Deixa baixo, deixa baixo… Henrique:   [risos]  Eu acho que é uma forma de… Tipo tô triste, sei lá vou escrever uma música feliz agora pra tentar dar uma lembrada de como é estar feliz e equilibra tudo. Eu gosto de escrever.  Então as composições surgem através de incômodos e/ou pelo momento também? Henrique:  Eu acho que as composições das músicas, no geral, são concebidas mesmo no ensaio. Mas eu acho que às vezes algum riff ou alguma estrutura de música, que eu tenho alguma ideia aqui em casa, uma letra… São coisas assim que eu faço aqui em casa, pego o violão e letra da mesma forma aqui em casa… Acho que principalmente essa parte da letra, que é algo muito pessoal de cada um, acho que é uma parte que não tem muito como a gente fazer junto dentro de um ensaio - é uma coisa que cada um tem que chegar em casa e tirar um tempo pra pensar na letra. As composições, além de ser um grande desabafo, tira também esse peso das costas, auxiliando o ouvinte que também passa por essas questões. Vocês mostram que todo mundo está no mesmo barco?  Henrique:  Eu espero que existam pessoas que consigam se relacionar com elas, acho que é um objetivo muito legal. O mais legal das letras é que elas permitem que cada pessoa possa ter uma interpretação a sua maneira. Eu pessoalmente não gosto, por exemplo, se alguém me perguntar sobre o que exatamente é tal música e eu não gosto de falar “é sobre tal coisa e acabou”.  Toni: Eu perguntei isso semana passada [risos]  Henrique: Eu acho que não dá pra um artista ficar falando “a música é sobre isso e acabou” porque depois que a música tá no mundo, ela é do mundo! Cada um faz o que quiser, em termos de interpretação… Eu acho que existem interpretações que podem ser erradas, mas também não existem interpretações certas, né? Sobre as letras, [tem vezes]  que você quer falar sobre um sentimento seu, como felicidade que é “Passear na Praia” ou um sentimento de dúvida como eu acho que é em “Resolução” ou um sentimento de melancolia como é em “Descanso”, existem diversas formas de como trabalhar isso. Você falou em “Meu Problemas” e eu separei uma estrofe que me chamou bastante atenção: “eu já consigo ver além”. Ela dá diversas interpretações. Dito isso: o que vocês enxergam quando olham o além?  Deco: “Meus Problemas” foi uma letra engraçada porque ela foi muito debatida, porque foi a letra mais em conjunto. A melodia e o acorde a gente já tinha há muito tempo, já tocava há muito tempo, mas a gente meio que enrolava muito na letra. Lembro que teve uma vez que a gente sentou na casa do Borto e a gente definiu uma primeira letra e depois disso, a gente foi revê-la durante a gravação também…. Acho que “Meus Problemas” foi mudando o significado ao longo do tempo, até pelo fato de que antes da gente começar a gravar, eu tava solteiro, e depois quando a gente começou a gravar eu tava num relacionamento - então, isso já mudou muita coisa também. Acho que “Meus Problemas” é justamente isso: estar em uma amarra meio que pessoal, do tipo de não se entregar, que acho que era algo que eu vivia bastante antes, e se deixar levar pelo mar que é essa pessoa. Acho que “ver além” é justamente ver o futuro, ver uma certa certeza quando você encontra uma pessoa que é do seu jeito. Júlio:  Acho que no curto prazo alguns shows, mas já estou ansioso para começar a gravar o próximo projeto. Vocês acham que os sentimentos que vocês possuem eles transbordam e por isso viram músicas?  Henrique:  Eu acho que acho que sim. Muitas das composições são resultados de momentos da vida, né? São sentimentos que você tá tendo em algum momento da sua vida. Algumas composições, falando musicalmente, sem contar com a letra, já são um pouco mais melancólicas, refletindo o momento da vida que você tá mais ansioso… Então, você acabou fazendo uma composição combinasse com aquele sentimento que você tava tendo em algum momento.  Além do imaginário, as letras carregam um pouco da autobiografia. Não dá medo de colocar muito de vocês e uma pessoa que conheça vocês profundamente perceba o que estão falando?   Henrique:  Acho que sim. No início eu tinha muito essa trava “não vou me expor muito nas letras porque meus pais vão ouvir e vão achar que eu tô triste”, sei lá, tem muitas coisas, né? Com o tempo você vai desamarrando porque acho que todo mundo acaba enfrentando problemas parecidos, né? Acho que não são coisas… O ser humano tem problemas coletivos, então, muitas pessoas acabam entendendo a letra. Deco:  Acho que tem outro ponto, pelo menos pra mim, quando eu vou escrever uma letra, eu não falo de mim, crio um personagem. Não necessariamente precisa falar de você, pode falar de outra pessoa, você pode falar como se fosse um diálogo com alguém ou com uma pessoa que você viu na rua… No final das contas não tem como diferenciar os sentimentos do cantor, de algo que ele queria falar, com o ouvinte.  Henrique:  O que o Deco falou é verdade. Existem letras que você realmente não viveu uma experiência, mas você fala dela… Eu penso “como eu me sentiria se tal coisa acontecesse?” Toni:  Que você consiga transmitir isso de alguma forma. Esse fim de semana a gente ensaiou umas cinco horas, deu pra ouvir bastante todas as músicas [risos]  e é um show bem sentimental no final do dia. Todas as músicas tentam evocar um sentimento mais claro.  Em “Passear na praia” vocês cantam: “muita coisa pra saber, muita coisa pra sentir” Os sentimentos de vocês transbordam e por isso viram músicas? Júlio:  Acho que é bem por aí. É característico do nosso som e da letra ter muito sentimento. Tudo é um pouco do que a gente vive e como cada um interpreta a vida. Até por isso são composições bem diferentes, com sentimentos diferentes. É um pouco do que a gente pensou pra esse EP. “Resolução” explora a ideia de novos começos. Agora que vocês concluíram e lançaram o EP, para onde desejam ir?  Henrique: A gente tem um plano muito concreto de fazer o álbum agora. Gostaríamos que fosse algo mais coeso, talvez que o EP, em termos estéticos ou temáticos, acho que mais temáticos seja mais difícil porque nossas músicas… São muitos temas que a gente tenta abordar, porque é resultado do que a gente tá sentindo no momento.  Júlio: Acho que agora é continuar focado no som, a gente tem ensaiado muito pra começar a fazer show, queremos trazer mais composições e uma apresentação que as pessoas se divirtam também. E já temos planos de começar a gravar um álbum, mas isso é um pouco mais pra frente. Sobre a capa de cumbuca Créditos: Marcela Gontijo Deco: A arte da capa do disco foi feita pela minha irmã, ela é artista visual e o nome dela é Marcela Gontijo. Sobre o processo: basicamente a gente mandou pra ela um punhado de referências de capas que a gente gosta e ela juntou isso e nos propôs algo. Gostamos muito do resultado! Eu acho que chama muita atenção esteticamente - é uma pintura impactante e bem interessante aos olhos.  Além disso, contém algumas das coisas que a gente queria: uma representação de São Paulo (no caso o Edifício Banespa) e uma espécie de colagem representando simbolicamente cada um dos integrantes da banda. Acho que tem também um sentido figurativo bem interessante: o Banespa (São Paulo) tá meio desfigurado e também e há uma indicação para ver (olho) e escutar (orelha) a cumbuca.

O Dia que Te Conheci

O Dia que Te Conheci

Em decorrência da correria do dia a dia - consequência do capitalismo tardio -, a classe trabalhadora não consegue enxergar o que está ao seu redor, impedindo de estar em contato com suas dores, incômodos e outras pessoas. Em O Dia que Te Conheci (2024), André Novais Oliveira traça um paralelo da realidade de um bibliotecário que luta para chegar ao trabalho na hora com a comédia e o romance. A trama aborda a história de Zeca (Renato Novais), funcionário de uma escola infantil de Betim, município de Belo Horizonte, que leva quase duas horas para chegar ao ofício todos os dias. Por conta de atrasos e consecutivas faltas, Zeca recebe a demissão por Luíza (Grace Passô), secretária da escola. Mesmo com a notícia negativa, ele se abre para a moça, falando sobre as medicações que toma. Dessa maneira, os dois se conectam a partir de um incômodo: os remédios para ansiedade. O breve contato abre espaço para que Luíza ofereça uma carona ao colega, iniciando um diálogo profundo sobre a vida. Assim que o carro dá partida, Zeca diz que se sente aliviado em sair daquele ambiente, definindo-o como escroto. Por mais que ele gostasse de trabalhar com as crianças a partir da literatura, o protagonista de O Dia que Te Conheci confessa que a escola era escrota - e Luíza concorda. A negatividade tem nome: racismo, visto que apenas duas pessoas pretas ocupam o espaço. Em seguida, os dois compartilham experiências, deixando os personagens (e telespectadores) curiosos para novas informações. Leia também: Matt e Mara Conheça: Salve Samuca Atravessando a pele de Venusto Créditos: Reprodução/Divulgação O Dia que Te Conheci conta com dois pontos importantes: 1) os protagonistas são pretos e gordos, reforçando a importância de representatividade no cinema; 2) a câmera segue, em alguns pontos, afastada de Zeca e Luíza, fazendo com que o espaço participe da história. Inclusive, é neste momento que vemos os mais belos momentos: a mãe de uma aluna confessa que a filha adora a biblioteca da escola e Zeca, um incentivador à leitura, diz que a vê como escritora, deixando a genitora orgulhosa. Logo depois, ele questiona se ela conhece as figuras que estão desenhadas na parede. Ela reconhece Michael Jackson, mas tem dificuldade para reconhecer Malcom X, assim , Zeca ajuda-a, falando sobre o ativista. A distância da câmera é quebrada quando Zeca e Luíza se beijam, eliminando o espaço entre eles. A troca de carícias é vista como um refúgio para ambos que são engolidos pelo capitalismo diariamente. O Dia que Te Conheci não é uma simples comédia romântica, pelo contrário, o filme provoca uma reflexão sobre a falta de representatividade negra na arte e na história; a saúde mental da população negra; além de mostrar a realidade do deslocamento do proletariado utilizando o transporte público.

Carnaval 2025: curta a folia em São Paulo em bloquinhos

Carnaval 2025: curta a folia em São Paulo em bloquinhos

Motivos não faltam para celebrar o carnaval de 2025: a denúncia que mostra a relação de Bolsonaro na tentativa de golpe, Fernanda Torres no Oscar, a subversão em um mundo capitalista, e muito mais. Antes de cair na folia, confira nossa lista com dicas de bloquinhos. Bom carnaval! Carnaval 2025: bloquinhos em São Paulo  22/02 - sábado  11h Bloco Forrozin por Mariana Aydar  Concentração: Parque Ibirapuera 11h Bloco Casa Comigo  Concentração: Rua Henrique Schaumman, 567 11h Acadêmicos da Ursal  Concentração: Rua Fortunato, 134 12h Bloco RitaLeena  Concentração: Praça Márcia Aliberti Mammana - Av. Sumaré  13h Besta é Tu  Concentração: Av. Faria Lima com Av. JK 23/02 - domingo  11h Sargento Pimenta  Concentração: Parque Ibirapuera 13h Acadêmicos do Baixa Augusta  Concentração: Rua da Consolação  13h Bloco Feminista  Concentração: Rua Conselheiro Brotero, 385 14h Gal Total  Concentração: Praça Elis Regina  14h Ilu Inã Oficial e Orquestra Negra de Rua  Concentração: Aparelha Luzia - Rua Apa, 78 01/03 - sábado  10h Bloco Urubó Concentração: Largo da Matriz 11h Siga La Pelota  Concentração: Praça Angel Ramires 13h Bloco 77 - Os originais do punk  Concentração: Rua Barra Funda, 1071 02/03 - domingo  11h Bloco BenJores  Concentração: Praça Rafael Saplenza 12h Bloco RitaLeena  Concentração: Av. Lineu de Paula Machado, 1263 03/03 - segunda-feira 9h A Espetacular Bloco da Charanga do França Concentração: Santa Cecília 13h Bloco Filhos de Gil  Concentração: Av. Hélio Pellegrino, 200 - Vila Nova Conceição  14h Bloco Eu Sou do Axé  Concentração: Rua Augusta

©2020 por desalinho.

bottom of page