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Conheça: Coisatorta

Conheça: Coisatorta

É possível encontrar coisas e objetos tortos na sociedade - no entanto, eles continuam funcionando. Desse mesmo modo funciona o ser humano: em decorrência da instabilidade emocional e do capitalismo, o indivíduo acaba tornando-se torto. Através dessa ideia, João Pedro Hecht criou o Coisatorta para retratar os temas espinhosos da realidade, como a vida é. O alter ego usa maquiagem, fazendo jus ao projeto Coisatorta. O seu som mistura violão, sintetizadores, percussão, contrabaixo e guitarras para dar o seu grito de liberdade. Em seu primeiro ep "Coisa Torta", o artista fala de suas vivências e crescimento, assim como festas, encontros, comemorações, dores, saudades e solidão. Enfim, são sentimentos verdadeiros que surgiram na adolescência e se afloram na vida adulta. Leia também: Show: Amar e Mudar as Coisas Conheça: SONZERIK Conheça: Felipe Quadros Composto por 6 músicas, o álbum busca superar antigos traumas através da arte. A canção "João Ninguém" é o melhor exemplo, já que ela aborda o processo de luta contra a depressão - além de trazer o seu nome e fazer uma crítica nas entrelinhas que a doença vai tirando muitas coisas do indivíduo. Já em "Bichos", Coisatorta traz uma letra poética, soando como uma música de ninar. A animação fica por conta de "Vai Ser Carnaval", que abre o ep. "Tudo veio do íntimo do meu próprio quarto, desde reflexões sobre como somos frágeis a ponto de sucumbir ("Bichos") até uma conversa que tive com meu gato quando ele quebrou a pata ("Macalé"). Ao fazer a capa não consegui pensar em outra coisa a não ser retratar esse ambiente em que me encontro na maior parte do tempo, tendo o contraste entre a vida e a morte, o sim e o não, o antes e o depois como tema principal para essa estética", conta o músico. "Já vivi, já morri, renasci e aqui estou eu, nessa nova vida trazendo essa bagagem como poesia", finaliza. Nunca é fácil encarar sua própria imagem, assim como os demônios que carregamos nas costas, mas com o passar do tempo é possível falar sobre, diminuindo as dores e aceitando-se do jeito que é.

Show: Amar e Mudar as Coisas

Show: Amar e Mudar as Coisas

Amar e mudar as coisas é um dos versos mais famosos da música brasileira. Aliás, a canção dá nome ao espetáculo que Marisa Orth, Karina Buhr e Taciana Barros apresentam há um bom tempo. Nele, as artistas intercalam entradas biográficas e literárias com os clássicos de Belchior, além dos trechos da biografia "Belchior: Apenas um Rapaz Latino-Americano" (Todavia, 2017), escrito por Jotabê Medeiros. O show surgiu para acompanhar o lançamento do livro, ou seja, não tinha intenção de viajar pelo Brasil. No início, "Amar e Mudar as Coisas" era composto por Taciana, Karina e Ana Cañas. Com a saída de Ana, Marisa entra no trio para substituí-la. Vestindo macacões jeans, as mulheres subiram ao palco do Bona no sábado, 9. Aplausos e gritos invadiram o local. Marisa olha para uma mesa e pede calma ao pessoal que está sentado (mais tarde, descobrimos que são suas fãs). Os músicos Igor Brasil (guitarra, violão de aço e nylon) e Zéli Silva (baixo acústico), que as acompanham, também estão vestindo macacões, mas na cor preta. Após se acomodarem, o show inicia. Marisa, responsável pelas músicas eternizadas na voz de Elis Regina , canta "Como Nossos Pais", passando emoção com sua voz potente. Em seguida, é a vez de Karina. Seu sotaque se mistura com sua graça, entregando uma linda apresentação de "A Palo Seco". Taciana é uma musicista de mão cheia, que intercala entre guitarra, piano e violão de aço. Não é preciso muito tempo para ver a combinação perfeita entre as três mulheres. Apresentando novos solos, rifles e detalhes marcantes, o trio dá uma nova roupagem às canções de Belchior, como é o caso de "Velha Roupa Colorida", "Divina Comédia Humana", "Apenas um Rapaz Latino-Americano" e "Paralelas". Assim como um espetáculo de teatro, Marisa, Karina e Taciana utilizam o palco por completo, indo além das cadeiras - mudando as coisas de lugares . Morto em 2017, o rapaz latino-americano continua vivo, inspirando diversas gerações. Dessa maneira, "Amar e Mudar as Coisas" é uma das mais variadas maneiras de manter o legado do trovador cearense.

IV Festival Cine Inclusão

IV Festival Cine Inclusão

Entre os dias 16 e 23 de setembro, acontece o IV Festival Cine Inclusão, maior evento cinematográfico dedicado às pessoas 60+, com programação gratuita. As sessões acontecem no Cine Marquise e no Cine Bijou, em São Paulo, e também no Cine Favela, em Heliópolis. Ao total, são 28 filmes nacionais, divididos em duas categorias: Mostra Competitiva com 15 curtas-metragens cujos temas convidam o espectador a refletir sobre o envelhecimento sob vários pontos de vista; e Mostra 60+ em Ação, com 8 filmes realizados por diretores com mais de 60 anos, traçando um panorama de artistas profissionais e amadores nesta faixa etária que se dedicam à produção audiovisual. Idealizado e dirigido pelo produtor Daniel Gaggini e com curadoria de Luciana Rossi e Ygor Kassab, a edição do Festival Cine Inclusão 2023 foi dividida em duas etapas. A primeira aconteceu entre os dias 3 de junho e 23 de julho, com realização de oficinas de cinema para moradores 60+ das regiões de Capão Redondo, Cidade Tiradentes, Heliópolis e Paraisópolis. Informações importantes sobre o Festival Cine Inclusão A abertura acontece no sábado, 16, no Cine Marquise. Em seguida, às 11h, ocorre um debate sobre a atuação do profissional maduro no audiovisual, com participação de Gilda Bandeira de Mello, Willen Dias, Wilson Cortez e mediação do jornalista e escritor Ygor Kassab. Na sequência, às 12h, tem exibição do longa “Capitão Astúcia”, de Filipe Gontijo, com Fernando Teixeira e Nívea Maria como protagonistas. Com o objetivo de atrair fãs do cinema, o Festival Cine Inclusão também oferece transporte gratuito de algumas regiões periféricas para todas as sessões, bem como para a sessão no Cine Favela. Os interessados devem consultar todos os detalhes na programação. Para mais informações, acesse o site da mostra .

A luta de Pexera HC

A luta de Pexera HC

No poema "Rondó da Liberdade", escrito no presídio de São Paulo em 1939, Carlos Marighella retrata a necessidade de enfrentar o medo para alcançar a independência. Seguindo a coragem do militante baiano, o trio Pexera HC apresenta canções que refletem o cotidiano e as dificuldades da periferia nas cidades, além das negligências dos últimos governos. Formado por Erison Silva, Magno Fox e Victor Max, a banda surgiu em 2022 no Alto José do Pinho, zona norte do Recife. Com letras potentes e elementos do punk, hardcore e metal, Pexera HC denuncia o retorno da extrema direita, fascismo e os desmandos do governo anterior em "Pexera" (2023), primeiro álbum do trio. Inclusive, os músicos retratam Marielle Franco e Marighella em "Vão Me Matar", canção política que não nos deixa esquecer dos assassinatos diários contra os brasileiros que lutam por um país justo. "A Pexera HC tem como iniciativa levar junto a poesia da periferia de onde vive. Esperamos que isso seja feito em todo novo disco que lançamos", comenta Magno, baixista do trio. Com letras do vocalista Erison, o álbum foi gravado entre o final de 2022 e início de 2023 no estúdio O Palco, por Daniel Farias. Leia também: A doçura de Flávia Bittencourt Lurdez da Luz celebra o poder feminino da mulher latino-americana AIUKÁ: o uivo dos dias de hoje Além do retorno do fascismo no Brasil, a pandemia impactou na criação do trio? Erison : Impactou de forma bem presente, pois a raiva, a revolta e até mesmo o ódio de ver um absurdo diferente todo dia no brasil fez com que eu pegasse a guitarra e começasse a trampar nas músicas, ou seja, foi uma forma de canalizar toda aquela revolta que sentia naquele momento, e com isso as letras começaram a ser feitas de formas rápidas e natural, pois o que tinha de inspiração naquele momento não era brincadeira. Magno: Isso também foi um fator importante para criação de uma banda com 3 componentes, a logística ficava bem melhor com poucos problemas e até as marcações dos ensaios ficaram melhores com esse número de componentes e com isso tentamos manter ao máximo o distanciamento. "Pexera" mistura diversos gêneros musicais para relatar o cotidiano da periferia das cidades, mostrando as dificuldades. Como foi o processo de escrita até o momento da gravação? Cantar a realidade é difícil? Erison : Como eu disse, vendo o atual momento do país em que ele se encontrava foi válvula de escape para as letras surgirem de forma rápida e natural, eu pensava numa frase e em seguida já vinha outra e outra, até que chegou o momento de eu escrever de forma muito fluida, podendo usar até o "speed flow" na hora de cantar, ou seja uma estrofe inteira de 3 ou 4 linhas cantado de uma vez só, sem parar.
Magno: Não se torna difícil falar do nosso cotidiano porque é aquilo que vivemos desde sempre, o que é difícil mesmo sempre foi arrumar grana pra tocar, comprar instrumentos que na maioria sempre foi emprestado, pagar os estúdio para ensaiar e poder até se deslocar para os shows, ainda bem que com a Pexera HC nós já somos adultos e com os seus empregos. Estamos em um novo cenário político, no entanto, poucas mudanças aconteceram. Pergunto: como vocês veem o futuro do país? Erison : Eu não vejo muitas mudanças num futuro próximo, mas tirar o Bolsonaro do governo já surtiu efeito como, melhoria de vida dos povos originários, melhoria de vida dos povos quilombolas, precisamos mais, muito mais, como melhoria de vida dos trabalhadores honestos, para as pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade e também a classe LGBTQIA+. Nos shows deixamos claro que não estamos aqui pela a figura de ninguém e por nenhum partido, e sim pela luta popular. Magno: Como em uma de nossas letras tem a indicação que não temos políticos de estimação, seguimos firme na oposição de todo e qualquer político que estiver no poder, é claro que nesse governo podemos combatê-lo dentro do campo democrático, enquanto que no anterior tínhamos claramente uma forma de fascismo à brasileira que se continuasse poderíamos virar uma Itália do início dos anos 40, acredito que estamos vendo os erros cometidos pelo grupo anterior e entendo que iremos evoluir a um ponto onde a desigualdade beire a não existir. Em "Vão me Matar", vocês evocam Marighella e Marielle, dois brasileiros assassinados. Como manter a cabeça erguida e não morrer em uma sociedade preconceituosa? Magno: Gritando e mostrando em nossas letras que estamos aqui, mesmo com o medo e o receio de ser calado de alguma forma, estaremos sempre tentando implantar a plantinha de uma sociedade mais justa para todos e sem níveis, classes ou raças, todos iguais em uma só forma.
Erison : Marighella amava o país e morreu por ele, apesar de não concordarmos com a luta armada o amor pelo o nosso país faz com que seguimos sua ideologia de vida, essa é a real essência: lutar pelo trabalhador honesto e suas melhorias. Marielle lutou diretamente contra o fascismo contemporâneo no Brasil, contra a milícia armada, gritar que vão me matar assim como mataram Marighella e Marielle é uma baita de uma péssima ideia, sabendo que seguidores do fascismo voltaram a se esconder nos seu altos prédios e condomínios de luxo, o fascismo é rico e manda pobre de extrema direita matar pobre. Tivemos um show marcado onde uma das bandas foi cancelada por seguir a extrema direita, confesso que fiquei com medo de tocar nesse show, de levar nossas bandeiras antifascistas e levar um tiro ou uma facada na trairagem, porque é isso que acontece, só atacam na trairagem. E no fascismo vem tudo num pacote só, racismo, homofobia, machismo e xenofobia, que deixou de ser apenas aversão ao estrangeiro, e passou a ser também aversão a quem é de outro estado, no qual eles dizem ser mais humildes, mais pobres e até mais burros.
O álbum termina com "Oco", poema de Jailson de Oliveira. Qual o impacto do poeta em vocês?
Magno: Aprendemos nas escolas públicas diversos tipos de arte como o teatro, a música, as artes plásticas e a poesia como um transformador de vidas e tendo Jailson como um dos principais poetas da cidade do recife, nada melhor que abrilhantar o nosso trabalho com a participação dele. Erison: Eu conheci Jailson em 1997 e desde então eu o sigo nas suas loucuras. Passei alguns anos sem frequentar o POESIS devido a trabalho e família, porém o POESIS sempre esteve presente nas atividades culturais do Alto José do Pinho. Infelizmente várias bandas do alto nunca o deram total crédito por sua dedicação à comunidade e é daí que vem a frase “As pessoas não são mais as pessoas” - que eu só vim entender treze anos depois que o conheci, e sabendo disso e sabendo que nenhuma outra banda do alto o teve em seus trabalhos, fez com que eu falasse com Victor Max e Magno Fox para ter uma faixa de um poema dele, só dele e com o nome dele. O centro cultural POESIS hoje é que está fazendo toda a movimentação do Alto José do Pinho desde de 1988 e hoje junto com nós da Pexera HC e que também formamos o coletivo Fervo estamos aqui para fazer com que as atividades nunca parem e que todas elas sejam dadas 100% de prestígio e valor a Jailson de Oliveira. O fogo da capa do álbum vai além de uma ilustração: Erison, Magno e Victor estão queimando, assim como tantas pessoas que não suportam conviver com fascistas - por isso, a letra de "Churrasco" ganha potência. No entanto, é com a palavra "cuidado", repetida diversas vezes por Jailson de Oliveira, professor, ator e criador do grupo Poesis, que trabalha com luta política pela comunidade local através da arte, em "Oco" - última canção do álbum - que relembramos que é preciso se organizar para virar o jogo. Os brasileiros resistem desde o descobrimento do país. Por isso, relembro a frase de Marighella: "Quero ser apenas um entre os milhões de brasileiros que resistem". As sementes foram criadas: de Chico Mendes a Nise da Silveira; de Padre Julio Lancellotti, a Mano Brown, passando pelas Mães de Maio até Pexera HC, que tem um único objetivo: nunca esquecer. "Tem aquele ditado que diz que o brasileiro tem a memória curta, pois estamos aqui pra lembrar a todos que tivemos um governo irresponsável, deixa de falar disso é passar pano pra fascista", comenta o vocalista.

A doçura de Flávia Bittencourt

A doçura de Flávia Bittencourt

Em "Sentido" (2005), seu primeiro álbum, Flávia Bittencourt apresentou suas raízes culturais. Com o passar dos anos, ela continua celebrando o Brasil com suas interpretações únicas folclóricas, típicas do Maranhão, o seu Estado. Além disso, a artista favorece o trabalho de grandes compositores, como Dominguinhos e Renato Braz. Nesse sentido, Flávia acaba de lançar "Só Ouvir" (2023), EP composto por canções de grandes sucessos da música popular brasileira, gravado ao vivo. Fazendo um medley com as canções "Por Causa de Você, Menina" / "Mar de Rosas", a cantora traz novos arranjos, conectando-se com as letras. No entanto, é em "Comentários a Respeito de John", do cearense Belchior, que Bittencourt eleva a emoção, sob os aplausos e gritos da plateia. Concebido durante a pandemia de Covid-19, "Só Ouvir" é o resultado das questões filosóficas de Flávia Bittencourt com o produtor João Simas. As letras escolhidas são resultados das reflexões: "Eu e João Simas nos questionamos muito em nossas conversas sobre tudo o que estava acontecendo na pandemia, e do porquê de estarmos neste planeta, porque tantas vidas ceifadas… Pensamos então em regravar uma trilha a partir dessa ideia, com músicas que trazem essa reflexão em suas letras também. Acho que era algo que perpassava a cabeça de todos naquele momento e além disso nosso ponto de partida foi a reflexão presente no trecho inicial de "Cajuína", do Caetano: "Existirmos a que será que se destina?", revela. Com o objetivo de compartilhar sua trajetória, a artista lançou as canções de "Só Ouvir", assim como outras faixas autorais, capturadas no Lightland, em São Luís do Maranhão, em dezembro de 2021. Assim, o ouvinte se aproxima da cantora que ilumina o palco. Leia também: O torvelinho do Anhangabahy As brincadeiras de Bel Carvalho Impressões: Ponto Final O EP “Só Ouvir” foi concebido durante a pandemia. Como foi o processo de criação durante o isolamento social? “Só Ouvir” foi uma espécie de catarse, uma válvula de escape que eu e o produtor e amigo João Simas, encontramos de liberarmos de alguma forma todo aquele tempo de isolamento e todos aqueles pensamentos acerca de tanto sofrimento. O repertório foi escolhido com esse intuito, de externar todos os sentimentos de angústia, tristeza e também de questionamentos humanos sobre o sentido da vida, a importância do acolhimento, os ciclos constantes de alegrias e tristezas presentes na vida de qualquer pessoa. Qual foi o significado das músicas durante o isolamento e agora, pós-vacinação? São músicas reflexivas sobre o sentido da vida, desde o nascimento de uma pessoa, propósito de vida, o olhar de cada um, no caso, de cada compositor sobre as nuances de momentos nas mais variadas situações como a chegada de um filho, como é o caso da música “Leve” [single lançado em 2020] ou a forma de como encaramos fechamento de ciclo de um relacionamento e ainda, os estereótipos sobre a mulher, como é o caso da composição “Bruxas” [lançado em 2021] e por aí vai. Então, gravamos músicas que falam da nossa estada aqui na terra e temas comuns entre nós, seres humanos. E sim, durante a pandemia o significado da vida foi bem mais intenso, acredito que pra todos nós. As músicas escolhidas são consequências das reflexões realizadas durante o período conturbado. Os pensamentos seguem os mesmos ou foram alterados? O show “Só Ouvir” foi lançado em EP e show ao vivo disponível no YouTube . O show ao vivo em vídeo, conta com mais faixas, inclusive as autorais e as pessoas entenderão melhor o contexto de cada escolha, percorreram conosco o início, meio e fim desta odisseia terrestre. Eu sempre escrevi sobre temas reflexivos, como a música “Vazio” [disponível em “Sentido”] , “Leve” e “No Movimento” [presente no álbum com o mesmo nome] que também estão neste show. Então, sim, os pensamentos e encantamento pelo sentido da vida já era muito intenso em mim e continua sendo, o olhar curioso, da busca pela tradução através da poesia, de acontecimentos no dia a dia, perdurou (antes) e depois da pandemia. Como foi dar voz a grandes sucessos da música brasileira? Construímos uma história através do repertório com começo, meio e fim. E o conteúdo da letra e a beleza da melodia foram primordiais para que pudéssemos contar essa história, desta forma. O questionamento do sentido da existência em “Cajuína”, se dá através da música belíssima de Caetano Veloso e que amo cantar, assim como a última canção “Eva”; além de todos os ciclos presentes na vida de todos que compõem esta nossa jornada aqui neste planeta terra. Em seus trabalhos, você sempre traz suas raízes maranhenses. Como foi dar esse tom, com novos arranjos em “Só Ouvir”? Eu e João trabalhamos para que fosse o mais intimista, até porque a pandemia tinha “cessado” recentemente, mas andávamos ainda apavorados, então a ideia era que fizéssemos um show só eu e ele, assim como um número bem restrito de público. Sendo assim, alguns ritmos se fazem presentes através das bases eletrônicas, mas a maioria das músicas se dá com pouquíssimos instrumentos que o João e eu tocamos, como podemos assistir no show ao vivo disponível em minha página no Youtube. A doçura de Flávia Bittencourt é entregue no sotaque nordestino e na rosa que carrega dentro de si, que desabrocha a cada apresentação.

Murilo Mendes, poeta crítico: o infinito íntimo

Murilo Mendes, poeta crítico: o infinito íntimo

Durante sua existência, Murilo Mendes (1901-1975) atuou como crítico de arte, colecionador, organizador de exposições e poeta, e influenciou toda uma geração de críticos e artistas. Suas facetas estarão em nova exposição do MAM São Paulo: "Murilo Mendes, poeta crítico: o infinito íntimo" , em cartaz de 5 de setembro a 28 de janeiro de 2024, na Sala Milú Villela. Com curadoria de Lorenzo Mammì, Maria Betânia Amoroso e Taisa Palhares, a mostra rememora a atividade crítica de Murilo Mendes por meio de obras de mais de 50 artistas cujas histórias se entrelaçam, de diferentes formas, com a do poeta. A mostra "Murilo Mendes, o poeta crítico: o infinito íntimo" traz ao público um conjunto significativo de obras, formado por trabalhos de Abraham Palatnik, Achille Perilli, Alberto da Veiga Guignard, Alberto Magnelli, Aldo Caló, Alexandre Eulalio, Alfredo Volpi, Almir Mavignier, Antonio Corpora, Arpad Szenes, Axl Leskoschek, Bruno Giorgi, Candido Portinari, Carla Accardi, Carlos Moskovics, Cícero Dias, Djanira da Motta e Silva, Ettore Colla, Fayga Ostrower, Flávio de Carvalho, Foto Feruzzi, Frans Krajcberg, Franz Weissmann, Gastone Biggi, George Rouault, George Braque, Geraldo de Barros, Gino Severini, Giorgio De Chirico, Giorgio Morandi, Giuseppe Capogrossi, Glauco Rodrigues, Hans Richter, Ione Saldanha, Ismael Nery, James Ensor, Jean Arp, Jesús Rafael Soto, Joan Miró, Jorge de Lima, José Medeiros, Lasar Segall, Lívio Abramo, Li Yuan-Chia, Lucio Fontana, Marcelo Grassmann, Maria Bonomi, Maria Helena Vieira da Silva, Maria Martins, Max Ernst, Michelangelo Conte, Milton Dacosta, Oswaldo Goeldi, Pablo Picasso, Piero Dorazio, Sophie Tauber-Arp e Victor Vasarely. Espalhados em jornais e revistas, em muitos poemas e prosas poéticas, o pensamento crítico de Murilo Mendes passou a ser organizado somente no fim de sua vida, quando ele compilou parte de seus textos críticos em um volume publicado postumamente, "A invenção do finito " . (Imagens: Divulgação/MAM) Murilo Mendes em três blocos A exposição é organizada em três blocos, começando por destacar o círculo de Murilo Mendes e Ismael Nery no Rio de Janeiro nas décadas de 1920 e 1930, com alguns desdobramentos na década seguinte. Nessa fase, Murilo conviveu com um conjunto de artistas como o próprio Nery, Cícero Dias, Alberto da Veiga Guignard e Jorge de Lima, que cultivam uma relação estreita entre artes plásticas e poesia, próximos das poéticas surrealistas e metafísicas, mas com divergências. Por outro lado, o crítico opõe-se às tendências dominantes na época, realistas e defensoras de uma volta ao métier , a serviço do nacionalismo e do engajamento social. É a fase “rebelde” de Murilo. O segundo bloco da exposição abrange desde meados da década de 1930 até sua mudança para a Itália em 1957, quando Murilo Mendes já é um poeta famoso e um crítico conhecido. Seu leque de interesses se amplia: Lasar Segall, Bruno Giorgi, Maria Martins, Alberto Magnelli. Começa a montar uma coleção de arte que reunia várias obras adquiridas em suas viagens à Europa. Esse recorte também retrata a relevante convivência com artistas que chegaram ao Rio de Janeiro vindos da Europa em fuga do nazismo, em particular o casal Maria Helena Vieira da Silva e Arpad Szenes. O círculo que se forma em volta desses artistas inclui Milton Dacosta, Djanira, Ione Saldanha, Almir Mavignier, Oswaldo Goeldi, Fayga Ostrower, entre outros. Murilo passa a se interessar por poéticas abstracionistas, mas não adere ao concretismo. O terceiro bloco contempla o período em que Murilo viveu em Roma, a partir de 1957, onde leciona literatura brasileira na universidade . Lá, ele se aproxima do crítico de arte Giulio Carlo Argan, com quem compartilha o interesse por artistas italianos que praticavam um abstracionismo não geométrico, sem aderir de todo ao informalismo. É quando se interessa, também, pela arte óptica e cinética e colabora com artistas como Alberto Magnelli, Lucio Fontana e Soto em mostras e publicações. Neste momento, “os convites para escrever sobre exposições se sucedem e estão registrados nos textos dos catálogos; o próprio Murilo organiza exposições na Casa do Brasil pertencente à Embaixada Brasileira”, conta a curadora Maria Betânia Amoroso . Nas exposições que organiza, inclui artistas brasileiros contemporâneos, como Volpi, Weissmann, Mavignier, dentre outros. Murilo Mendes, poeta crítico: o infinito íntimo Período expositivo: 6 de setembro de 2023 a 28 de janeiro de 2024 Local: Museu de Arte Moderna de São Paulo (Sala Milú Villela) | Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº - Portões 1 e 3) Horários: terça a domingo, das 10h às 18h (com a última entrada às 17h30) Ingressos: R$25,00 inteira e R$12,50 meia-entrada. Aos domingos, a entrada é gratuita e o visitante pode contribuir com o valor que quiser.

Conheça: SONZERIK

Conheça: SONZERIK

Após participar do Clube da Costura, programa voltado ao estudo da arte de samplear, em 2021, SONZERIK apresenta o seu mundo ao público. Inspirado nas brasilidades, groove e pela psicodelia, o artista leva o ouvinte para outra dimensão. Dessa maneira, o resultado dos ensinamentos estão em "Costura Beat Tape", compilação de alguns dos beats emergentes do processo criativo. Ao total, são 12 músicas, além do videoclipe de "Brasil", construído por Frederico Demin, utilizando recursos de IA. "Bashunan" abre o disco de SONZERIK. A música soa como um hino de igreja, no entanto, as guitarras e as falas, dão o tom sombrio. Duas canções se destacam: "Efeito Bolha" e "VoaNoite". A primeira conta com diferentes sonoridades adicionadas, assim, é possível lembrar os sons do dia a dia de uma rua movimentada com carros e buzinas. Já a última traz a brasilidade junto com elementos que remetem ao jogo de videogame. SONZERIK, pseudônimo de Erik Leyen, é multiartista que merece a atenção necessária, já que suas músicas são originais, íntimas e com diversas interpretações.

Show: Não me Espere na Estação

Show: Não me Espere na Estação

Aos 71 anos - e mais de cinquenta anos de carreira -, Lô Borges continua emocionando o público com suas canções. Na última sexta-feira, 18, o músico levou ao palco do Sesc Santo André as músicas do último álbum, "Não me Espere na Estação" (Deck, 2023). As canções que compõem o disco foram feitas em parceria com o músico e artista plástico César Maurício, portanto, a sonoridade são urbanas e cosmopolitas, ou seja, ideais para ouvir durante a viagem de carro, já que as guitarras trazem as imagens descritas nas letras. Mesmo que o show tenha sido em um lugar fechado, Lô Borges segue encantando, fazendo com que os seus fãs mergulhem no seu mundo poético. Acompanhado pelos músicos Henrique Matheus (guitarra e vocais), Renato Valente (baixo), Robinson Matos (bateria) e Felipe D’Ângelo (teclado e vocais), o músico mostra que é um verdadeiro camaleão ao relembrar o passado no presente. O show começou com "Constelação", primeiro single lançado do álbum. O músico sabe que o público deseja ouvir os clássicos do Clube da Esquina, por isso, dá continuidade à noite com "Um Girassol do Seu Cabelo". Borges passeia por outros discos seus e sorri ao contar sobre o processo de criação com outros músicos. Nesse sentido, comenta sobre a relação com o irmão, Márcio Borges, seu parceiro de anos - inclusive, é bonito ouvir as histórias dos dois. No final do espetáculo de "Não me Espere na Estação", o artista pede para que o público, que antes estavam sentados, levante e fique à frente do palco, o que fazem rapidamente. Lô Borges sorri e segue a última canção. Agradece e sai do palco, enquanto a plateia, acompanhada pela banda, continua cantando. Como diz o título do álbum: é possível encontrar o artista em todos os lugares, como uma constelação.

O torvelinho do Anhangabahy

O torvelinho do Anhangabahy

A cidade de pedra esconde em seu subsolo mais de 300 rios, córregos e riachos que carregam histórias, lendas e curiosidades. Mesmo modificada, industrializada e muito mais cinza do que colorida, São Paulo é inspiração para o trio Anhangabahy. Seguindo a mesma ideia de Mário de Andrade, o grupo constrói crônicas paulistanas a partir de observações da realidade. Formado por Hévelin Gonçalves, Rui Condeixa Gonçalves e Wady Issa Fernandes, o Anhangabahy atravessa (como os rios) pelo teatro e pela literatura para criarem canções que falam da loucura do tempo, da vida da metrópole, situação política e, claro, o amor. O nome faz referência ao rio que costumava cortar o vale do Anhangabaú, que era conhecido como "Córrego das Almas". Um ótimo nome para os dias atuais, já que o centro ficou/está esquecido pelos governantes. Leia também: A alma nua de Ana Carol Show: Portas Impressões: Ponto Final São Paulo realmente inspira vocês? Hévelin : Me inspira artisticamente muito! São tantas coisas para observar, até a tristeza inspira, não só a alegria. Às vezes, a gente olha pra São Paulo e é muito triste, muito dura, e às vezes é muito linda, mágico… E essa coisa dela ser tão gigante; são várias cidades dentro de uma. Você pode se deslocar do centro para qualquer lugar e você já tá em outro mundo. Rui: E às vezes até de forma direta. A gente tem a nossa cota de músicas que remete diretamente à cidade: uma das primeiras que a gente fez, chamada "Anhangabaú" que foi bem nessa onda das jornadas de junho [às manifestações que aconteceram em 2013] que tem um verso "Um olhar a menos não te deixa cego" [corte na gravação] e faz todo recorte ao "O Anhangabaú anda tão feio", faz toda essa coisa em volta da imagem da frase. Reformaram [o Anhangabaú] e continua feio. Lembro que a gente falava: 'Pô, vão reformar e a nossa música vai ficar pra trás", mas aquela reforma brutalista… A gente pode continuar. Tem uma música que fala da história do nome da banda, chamada "História do Centro", que também fala do Anhangabaú, onde tinha o ribeirão das almas… Em geral, quando eu componho, eu tô na rua. É mais raro de vir uma ideia de canção dentro de casa do que na rua. Será que em algum momento vai voltar a ser alegre? [leve pausa] Wady : Eu diria que depende da música [risos] , porque a música "Anhangabaú", que tem o nome dentro da música por conta do rio que está embaixo do Anhangabaú, fala que a gente tá plantando uma semente para as pessoas do futuro que serão melhores do que a gente. Então, tem essa esperança de que sim. Mas também às vezes aparece um outro lado de que isso não dê certo. Hévelin : "Torvelinho" também fala disso: "Como água brotando no chão". Nem eu tinha parado para pensar nisso agora, do quanto essa água que brota do chão também é a gente, porque o Anhangabahy é rio, que está abaixo do Anhangabaú, né. Eu acredito nessa força brotando pela água, a natureza… É muito forte como ela se espalha e sobrevive. Então, acho que a gente é parte disso, a gente pode ter uma florzinha e é uma sementinha… Rui : Mas tem uma coisa que reina no paradoxo que eu acho que tem a ver com isso que o Wady tá falando e que a Hévelin tá falando… São Paulo é alegre também, ela é horrorosa e linda também. Tem uma canção que eu tô compondo agora que o verso é: “Que delícia deslizar da Vergueiro até a Sé, da avenida Liberdade” que é um troço que eu faço muito esse caminho de bike - como diz a canção: “Longa descida suave” -; e um dia a Evelyn foi pegar esse caminho e falou: “vai se foder você, não tem nada de delícia” [risos] . Hévelin : Só passei raiva nesse caminho. Rui : Mas é essa coisa do terreno do paradoxo: um dia você pega o ângulo certo, a temperatura certa e você vai deslizando… São Paulo produz, como produz morte, também produz muita festa. Duvido que São Paulo vai ser corrigida, no sentido daquele plano lindo e maravilhoso que os urbanistas têm - eu não sou otimista o bastante para achar [que isso vai acontecer ]. Mas é bonito mesmo assim. Hévelin : Acho que o ser humano consegue dar uma transformada na realidade, um pouco, um dia. Não é fixo. Como a Santa Cecília, onde a gente mora, eu já vi uma tap lapse , vamos dizer assim, durante todos esses vinte e quatro anos que eu tô morando aqui, já vi a região ir ao baixo e subir e ir ao baixo e subir… Você vê o bairro respirando um pouco essas mudanças. Muitos lugares que não tocavam samba na rua hoje eu tô vendo que hoje eles estão tentando cantar. E dá vontade de parar e ficar - e eu paro! São tentativas e isso traz um pouco de felicidade. Qual é o papel do artista? E qual foi o papel durante os anos de pandemia? [pausa longa] Hévelin : Acho que o artista começa naturalmente, sem a preocupação do que vai ser, do que vai virar. São reflexões que você nem tem ainda formada. Fichas vão caindo no decorrer do tempo e a gente se molda em posicionamentos. Zé Celso [diretor, ator e dramaturgo do Teatro Oficina] foi um cara que não se dobrava para ser algo para alguém. Eu fico preocupada, às vezes tantas bandeiras caberem em mim e eu não atender bandeira nenhuma. Rui : Eu queria que o papel do artista fosse fazer arte, porque as pessoas precisam. Hévelin : A gente fica listando as bandeiras que a gente gosta e que não gosta, mas de fato, estar lutando pra cada bandeira daquela ou cada posicionamento fazer muito sentido… Eu não sei se fazer muito sentido pra nós é o papel do artista, sabe? Eu não tenho uma resposta correta para isso. Eu me envolvo com coisas que me comovem. Acho que o artista tem que tentar [mostrar] que as pessoas são livres, mas sem machucar ninguém. Wady : Eu entendo o ofício do artista dentro de uma perspectiva de entreter e questionar. Às vezes, questionar é uma crônica, não só no âmbito político e ao entreter e questionar, ajudar a dobrar-se sobre si - o pensamento que dobra-se sobre si para se entender, né. No sentido da pandemia, acho que não ganha mais do que no comum, não teve um “se tornou mais importante”, mas se tornou muito importante esse movimento da arte, do artístico, trazendo essa significação, trabalhando todos esses sentimentos represados. Eu lembro que teve incontáveis vídeos da galera tocando juntos, tentando buscar essa conexão que tinha sido quebrada, né. Então, todo esse movimento de se significar, da sociedade se entender, o artista performa isso, de uma forma ou de outra. Vocês misturam samba com o movimento carnavalesco e o bolero, trazendo as guitarras do rock. Como é feita essa mistura? Wady : A gente é influenciado pelos grandes medalhões da MPB, principalmente Caetano, mas todos esses grandes medalhões tem de [misturar] diversos ritmos, trazer coisas do rock, do reggae, do carimbó. A gente aprende com eles, nossos avós [risos] . Rui : Mas uma característica dos arranjos do Wady é essa coisa de quebrar no meio, né? Na mesma canção você tem uma virada… Wady : Eu gosto bastante de brincar assim. Dentro da mesma canção, utilizar esse recurso de misturar, de estar fazendo funkiado e misturar com marchinha, a gente fica dentro da brasilidade. As canções são crônicas que trazem questões históricas e sociais, do dia a dia. Como é feito o processo de criação? Rui : O processo de criação não é um processo de criação, as coisas caem do céu na minha cabeça e eu agradeço. Se é pra trabalhar é pra achar a harmonia dela, mas letra e melodia… Wady : Vem de estímulos da vida, né? Eu percebo que tem alguma coisa que te dá o estalo e daí esse estalo… Rui : Mas é muito aleatório, né. [Ao] andar de bicicleta sempre vem uma inspiração que surge, às vezes fica até temática… Wady : São inspirações cotidianas, acho que isso ajuda a ter esse caráter de crônica. Rui : Eu sou escritor em outras freguesias também. Eu sou dramaturgo e também escrevo literatura e é muito diferente cada uma, até a poesia tem a coisa do sentar para escrever, aí você fica dando volta, mexendo naquele verso… A canção vem muito mais pronta pra mim, por isso que eu falo que é um não processo. E também é um inferno porque às vezes ela fica incompleta por anos, né. Ao cantar, vocês também trazem o ar teatral e da literatura. Como é fazer essa brincadeira de misturar diversas coisas, como a performance e o modo de tocar? Hévelin : Muitas vezes eu queria combinar mais, ter um tempo maior de cuidar, vamos dizer assim. Wady : A gente tem esse cuidado de olhar como espetáculo, já que são corpos em um palco, com música e tudo. E tudo isso conta história, comunica coisas. Eu acho que a gente tá, justamente, em um processo de refinar ainda mais essas influências que vem naturalmente… A literatura vem porque o Rui é escritor, dramaturgo e dentro dessa lógica de crônica, as palavras… Ele até canta várias vezes em metalinguagem, de viver as palavras, de cantar as palavras. Hévelin : A gente sai do show e as pessoas perguntam: “Vocês fazem teatro?”. A gente ainda tá buscando uma linha de comunicação que pode juntar isso legal, porque pode forçar a barra, né. A gente projeta para o futuro sim, um show bem teatral, já estamos um pouco discutindo aqui um pouco sobre. É um desejo. Algumas pessoas falam: “Parece que você tá vivendo alguma coisa dentro daquela música”, e é gostoso [ouvir isso] porque a gente vê as imagens e a gente não trabalha com adereços a gente leva, né… Eu fico, muitas vezes, sem saber o que a gente fez para aquilo acontecer… Às vezes, a gente entra num jogo onde um fica de costas, o outro falar com aquelas costas, fazer um gesto com a mão que fica mais presente - aquilo já entra numa chave para as pessoas se envolverem com aquilo. O palco também dá essa liberdade, né? Hévelin : O palco é aquele momento que é tua casa também, né? É teu chão e tem que tá confortável com ele, né. Eu acho que quanto a gente tá [nele] e passa esse conforto, isso reverbera mesmo. Em "A Mais Bonita", vocês cantam: "É preciso abraçar a vida para ver o que ela tem para dar". Para vocês, o que a vida tem de mais bonita? [longa pausa] Rui : Putz, cara… [pausa] Vou fazer paralelo com outro verso, que é do “O Trabalho é a Maldição”: “A vida não é prisão, mas é fácil de virar”. A vida humana tem essa coisa, essa possibilidade de ser a coisa mais maravilhosa e o inferno mais horroroso. Inclusive, às vezes, algumas pessoas têm o azar de experimentar as duas coisas, né. A gente é artista e isso já é… [pausa breve] A arte, o amor e a beleza. Eu sou um defensor da beleza, como um valor humano superável - inclusive, falando de São Paulo, da cidade, né. A São Paulo que eu experimento, morando onde eu moro, andando por onde eu ando é muito mais bonita do que a São Paulo que outras pessoas experimentam morando onde elas moram e fazendo os caminhos que elas fazem. Mas eu acho assim: acredite na beleza, cara. É o clichê do clichê do clichê, mas é real. Olha pra fora, olha pro céu e para as flores, porque isso faz toda diferença. Recentemente, vocês lançaram "Torvelinho", uma canção bem produzida. Como foi fazê-la? Wady : A gente explora bastante o atenuo, o questionamento, o sentido da vida. A gente quis trazer isso de forma leve, por isso, trabalhamos com cores vibrantes nos ensaios fotográficos e na composição. Hévelin : Acho que musicalmente, você pode acrescentar que… Rui : Foi a primeira vez que a gente trabalhou com produtor musical. Hévelin : É, foi a primeira vez que a gente teve alguém coordenando a produção, que a gente sempre fez. Isso pesa muito! Rui : Quando é você que faz a coisa, o ouvido vicia. Evelyn : Quando você tem uma pessoa que deixa o ouvido livre para mapear aquilo bem legal e coordenar, o que foi que aconteceu. Foi corrido, na verdade, porque tudo é rápido [risos] . Musicalmente, eu fiquei muito feliz! O resto, as coisas das imagens, eu acho que tem muito a ver com a gente, no campo pessoal de como a gente quer enxergar o mundo mesmo. Rui : E com uma caveira [risos] . Hévelin : É, como não falar de morte também?! Porque falar de vida é falar de morte, não tem escapatória, as duas coisas caminham junto o tempo inteiro. E como a gente é viciado em desenho animado, a gente usou nossas referências de “mundo legal” [risos] e foi por aí que pintou o colorido da coisa toda e querer jogar um pouco de fantasia para não ser uma música… As palavras não baterem, apesar de toda musicalidade, a reflexão não bater de maneira: “pô, tão falando de morte”. A gente quis deixar tudo pra cima porque é a nossa vibe. No final das contas, a vida é realmente um torvelinho? Hévelin : Menina, eu não paro de falar nisso! É toda hora, porque toda hora passa um torvelinho. A arte é foda por causa disso, porque você começa uma coisa - qualquer coisa que você vai trabalhar -, o texto ou o teatro, você começou a falar sobre aquele assunto de só ver isso e não ver mais nada. Então, começou a falar de torvelinho… Meu pai me liga e a frase é: “É, a vida é um torvelinho”. [risos] Wady : Aquele ditado: “O mundo não dá voltas, ele capota”, né. Acho que a gente é surpreendido por essas coisas que a vida traz o tempo inteiro, né. Hévelin : Mais torvelinho do que o governo anterior! Como fugir desse torvelinho, baseado nas cores que dão vida? Rui : Acho que você não foge, cara. Você tem que ficar ali que nem a Dorothy [protagonista de “O Mágico de Oz”] . Viver dentro do torvelinho. Hévelin : É foda, a Dorothy encontra um mundo colorido, mas não é tão bom. Ela sai da sépia e entra naquele universo fantasioso, cheio de maldade e aprovações. Eu acho que, depois que passa o torvelinho, e você cai… Se você pensar, o mundo vai passar, você vai passar e o mundo vai continuar. [ Rui fala junto a última frase ] Não tem jeito, é viver e contar história. As músicas do Anhangabahy passeiam por um redemoinho, já que despertam diversas sensações, devido à realidade. Ao ouvir " Sonhar é a Solução ", disco gravado em 2018, lembro de “O Mágico de Oz”: os furacões acontecem diariamente e, por mais que tentamos sair daquele lugar, é necessário viver para aprender. Como citado no livro: "A verdadeira coragem está em enfrentar o perigo quando você está com medo." Sonhemos!

Conheça: Barroca

Conheça: Barroca

Pedro Barroca compartilha o seu sobrenome para o seu novo projeto musical. Barroca surgiu após o show Meus Inimigos Sempre têm uma Segunda Chance, realizado em São Carlos (SP), em 2018, ao lado de Brunno Fsc e Mateus Paludetti, o Palu. Assim, surgiu "Fogo Fátuo", single lançado no início do mês. Saindo pelo selo Interior Ressonante, de Descalvado (SP), a canção mistura diferentes ritmos e lendas urbanas, como é o caso do Boitatá, protetor das florestas. A vibe começa na capa, onde é possível verificar a arte que remete a natureza. Suas ondas relembram os sintetizadores, utilizados na música. A letra - “ Protege os amores passados e prepara o terreno para o novo ” - cai perfeitamente no som. Além disso, Barroca brinca com os diferentes tipos de arte, evocando imagens nas cabeças dos ouvintes. ""Fogo Fátuo" nasceu com uns acordes de violão, secos, mas desde o começo eu sabia que era uma música de sintetizadores. O single foi gravado todo durante a pandemia, o Palu na casa dele refinando e retrabalhando as bases e eu aqui repensando algumas guitarras e gravando tudo com i-ring pelo celular", explica Barroca. Fernando Parré também participou do processo, tocando e gravando as alfaias. A música ganhou um mix eletrônico produzido pelo DJ Neuroniohm, que está disponível na coletânea "Kick bass Brazil vol.6", com vários outros artistas, lançada pelo selo Elevation Records. Além de Barroca Pedro já passou por diversos projetos, como o Limbotrônico, a banda pop-experimental Lepipedo e The Bad Joke, grupo indie-rock que contava com músicos do Equador e da Colômbia.

O amor dançante de Felipe Quadros

O amor dançante de Felipe Quadros

Um relacionamento possui as perspectivas de duas pessoas. As histórias não são iguais, pelo contrário, são diferentes. Vivendo diferentes intensidades, um casal relata quem parte, quem fica, quem quer mais e quem não estará mais presente. É a partir deste ponto que Felipe Quadros apresenta "Não Esqueci Seu Nome", seu primeiro EP, que retrata as nuances de um romance embalado pela linha do tempo. Ao compartilhar seus amores, encontros românticos e as oscilações da vida amorosa, Felipe se conecta ao ouvinte, afinal, quem nunca sofreu de amor? Mas não é só isso: o cantor revive a estética do passado, aumentando nossa nostalgia. Sua voz doce, em conjunto com uma mistura de ritmos, faz com que lembremos de memórias que já passaram, mas continuam presentes, vivas. Leia também: Impressões: Não Me Pergunte Jamais As fases de lua de LAZÚLI A leveza de Duna Duo Quando você descobriu que gostaria de ser músico? Eu lembro de muito pequeno já estar em contato com a música e sonhar com isso de forma mais remota. Comecei a tocar violão quando tinha uns 7 anos, mas fui aprender de fato por volta dos 12. Até então, nunca tinha pensado em "como ser músico", até que, lá por 2013, em algumas aulas de literatura tive despertado mais interesse na leitura, mas, principalmente, na escrita, e comecei a escrever minhas primeiras letras. Em 2015, tive uma banda, chamada MOHO, lançamos um EP em 2018 e logo em 2019 paramos por desalinhamentos do momento. Mas em 2019, decidi iniciar a carreira solo, já com músicas que eu considerada mais maduras e alinhadas com o que eu queria expor pro mundo, surgindo meu primeiro lançamento, a sessão ao vivo "Oficina: Edredom / Copo de Plástico" (tem só no Youtube) seguida dos singles "Bailarino" e "Camélia". A sua primeira música foi criada em 2013. O seu processo de criação continua o mesmo? Mudou bastante. Eu comecei num processo muito cru, tentando amontoar palavras que tivessem algum sentido juntas e contassem algo que eu andava pensando. Não conseguia ter uma visão tão clara do que eu queria provocar nas pessoas ou como eu poderia melhorar, era só a vontade de ser músico tentando contar qualquer coisa que eu concordasse. Hoje, já consigo pensar no que quero provocar nas pessoas ouvintes, desde letra, até harmonia e melodia. Sigo aprendendo, mas com um processo mais pensado. Antes de iniciar sua carreira solo, você teve outras experiências e projetos. Eles te auxiliaram para os lançamentos das suas próprias canções? Sim, definitivamente. Aprendi o que dava certo e o que não dava, além de ter aprendido a trabalhar música em grupo. Isso é o processo mais difícil pra quem tem a primeira banda; entender como expor sua composição em harmonia com os desejos e referências do grupo. Foi uma grande escola a MOHO. "Bailarina" e "Cometa" foram suas primeiras músicas lançadas. Como foi apresentá-las? Foi muito gratificante, pois foram as primeiras músicas em que eu falava de mim ou de histórias pessoais. Quando as pessoas gostavam dessas músicas, eu sentia como se estivessem se conectando com uma parte de mim mesmo, o que tornava tudo mais emocionante. Além de que, no projeto solo, consegui ter mais liberdade de experimentar algumas ideias (errando e acertando também). Suas letras são simples e sempre são acompanhadas pelas misturas musicais. Como surgiu essa harmonia? Eu busco muito essa acessibilidade do que eu estou dizendo. Antes, sinto que tentava rebuscar demais, com palavras difíceis, ideias pouco claras, já hoje eu tento trazer coisas que vivo de maneira que as pessoas possam se conectar. Ritmicamente, também tento seguir nesse caminho, misturando estilos musicais que condizem com o que eu estou querendo contar. Você recentemente lançou o seu primeiro EP. Como está se sentindo? Como foi lançá-lo? Está sendo um processo muito legal! Apesar de já ter havido essa mudança da banda para o solo, com esse EP, trilhei alguns outros caminhos ainda. A mudança pra referências mais ao R&B do que ao indie rock e MPB foi um aspecto que mudou a impressão das pessoas sobre o que eu produzo. Tem sido esse novo caminho que quero experimentar, mas provavelmente não vou parar por aí. Estou ansioso pra apresentar ao vivo para o público no dia 12 de agosto, lá no Teatro de Arena. "Não Esqueci seu Nome" retrata as nuances de um romance. Qual o significado de amor para você e como foi tratar o tema no disco? O amor sempre foi um tema central na minha cabeça, mas sempre tive dificuldade de falar sobre. Acho que eu precisava viver mais pra começar a escrever e sinto que agora começam a sair da gaveta essas canções. Tentei trazer o amor de maneira mais cotidiana, pensando nos dates da vida, nos encontros em casa, na rua, nas vontades e pensamentos que temos diariamente sobre o tema. O que você espera despertar nos ouvintes? É uma boa pergunta, tenho pensado sobre isso. Mas, de primeira reflexão, acho que sentimentos de curiosidade e surpresa, mas também de conforto e satisfação, intercalando entre momentos e ideias inesperadas com outros onde eu entrego exatamente o que se estava esperando.

Destrações #76: O fã de bonequinho ataca novamente

Destrações #76: O fã de bonequinho ataca novamente

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