O cenário da peça "Sra Klein" é composto por dezoito cadeiras, acomodadas em duas fileiras, e alguns objetos - duas bandejas com xícaras e bule, cadernos, lápis e papéis. À primeira vista, o ambiente lembra a casa de uma mãe, isto é, organizada e simples. No entanto, a atmosfera se transforma quando a jovem Paula (Kika Kalache) e a psicanalista Melanie Klein (Ana Beatriz Nogueira) entram em cena.
Os temores do luto de Melanie, que acaba de perder Hans, seu filho, são vistos em suas vestimentas pretas e nos movimentos frenéticos que são vistos nos primeiros segundos do espetáculo: a mulher come com avidez os biscoitos que Paulo deu e se comunica constantemente. Ao sentar ao lado da jovem, relata que passou por períodos neuróticos e depressivos, sensações fora da sua realidade, visto que são seus pacientes que passam por esses momentos. Descobrimos que a protagonista está neste estado porque precisa ir ao enterro do filho. Assim como meros humanos, psicanalistas também sofrem.
Paula é a responsável por mudar a primeira cadeira do lugar para realizar os pedidos da Sra Klein. A desorganização se inicia com a chegada de Melitta (Natália Lage), filha da matriarca.
Leia também:
Dessa maneira, as personagens e os utensílios ganham novos significados: Paula se torna uma voyeur, que serve como mediadora para os conflitos entre mãe e filha; Melitta, em alguns momentos, volta a ser uma criança e, por fim, Melanie dita os próximos passos, como se estivesse jogando xadrez com as mulheres. Tendo como recorte a perda precoce de Hans, mãe e filha iniciam um ajuste de contas desde o passado até o presente.
Por fim, as cadeiras estão espalhadas, decorrência da briga entre as personagens que não se suportam, mas ainda se amam, afinal, são mães e filhas.
A primeira versão de Sra Klein
O texto do dramaturgo britânico Nicholas Wright foi apresentado pela primeira vez em 1990, com a direção de Victor Garcia Peralta, em Buenos Aires, na Argentina. Por aqui, o espetáculo já foi encenado duas vezes, com Ana Lúcia Torre e Nathália Timberg. Mesmo com diferentes atuações, a essência de Melanie Klein continua presente no palco.
"Sra Klein" está em curta temporada no Sesc 24 de Maio, até o dia 23 de julho, com apresentações realizadas nas quintas, sextas, sábados e domingos.
A real Sra Klein
Segundo sua biografia, Melanie sofreu logo nos primeiros meses de existência, isto é, foi uma filha pouco desejada de um casal que não se entendia. Além disso, sua juventude foi marcada por uma série de lutos: aos quatro anos, sua irmã faleceu de tuberculose; o pai morreu quando tinha dezoito anos. Aos vinte, perdeu seu irmão Emmanuel, que a influenciara muito.
Quando se tornou mãe, sofreu com as intrusões da própria mãe, uma mulher tirânica, possessiva e destruidora. Provavelmente, seu comportamento e suas técnicas abordam as consequências de sua criação e vida.
Comments