Os pequenos vídeos que Tulipa Ruiz gravou pelo celular foram o estopim para o álbum TRAGO (Selo Sesc, 2024). A cantora encontrou potencial nos sons dos vídeos, quando tocadas em loop. Rica Amabis converteu esses loops em programações e samples, enquanto Alexandre Orion adicionou beats da sua MPC e Gustavo Ruiz gravou baixos e guitarras. Com as bases prontas, Tulipa criou as melodias e letras, dando vida às imagens escolhidas.
As faixas de TRAGO partem do contexto urbano, mas ganham outro peso quando adicionam um elemento novo, seja ele uma palavra específica ou um símbolo ou até mesmo uma imagem que é estabelecida no imaginário dos indivíduos. "Dolores Prestes a Levantar" é um ótimo exemplo, pois conta sobre uma pessoa que, de tão livre, começa a voar, sem amarras - relembrando o caso do padre que voou com balões presos ao corpo.
Se o disco já impacta o ouvinte, além de despertar imagens, o primeiro show, realizado no Teatro Antunes FIlho, no Sesc Vila Mariana, no último sábado (9), aumenta o nível, deixando os telespectadores vidrados do início ao fim.
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Além dos instrumentos, o palco contou com quatro câmeras, filmando os integrantes. Com as imagens selecionadas durante o processo do disco projetadas no telão, Trago iniciou o show com “Porvir”, primeiro single que chegou nas plataformas, apresentando a banda. Seguindo a narrativa do álbum, o show foi interrompido na terceira faixa, onde o grupo cantaria “Dolores Prestes a Levantar”. Tulipa interrompeu o silêncio fazendo piadas sobre a teoria que a tecnologia roubaria o trabalho humano, além de contar um pouco mais sobre a música. O incidente não afetou o humor do público, pelo contrário, ouviam as histórias e esperavam ansiosamente o retorno.
Quando tudo voltou ao normal, o público - que lotou o espaço - mergulhou na atmosfera. Com poucas paradas para o diálogo, Trago seguiu com o espetáculo; só parando para convidar Ava Rocha - que apresentou Femme Frame #3, projeto que propõe imersão e experimentação sonora e visual com artistas do audiovisual, da cena eletrônica e instrumental, live-cinema e filme-ensaio, mais cedo na unidade - para um feat ruidoso.
Somente no final, Tulipa contou a história do quarteto: Trago surgiu em 2014, após o convite de Marcio Debellian para o projeto Palavras Cruzadas. Deste encontro surgiram as canções “Sisudo, Parrudo e Elegante”, “Chorume” e "Espiritualizadérrima", presentes no disco. A cantora também falou sobre o processo de criação das últimas músicas, além de explicar o nome da banda. Com um bis espetacular, levando a plateia para perto do palco, Trago fez uma ótima estreia.
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