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Foto do escritorMichele Costa

Impressões: O Pai da Menina Morta

Como O Pai da Menina Morta continua vivo após enterrar sua filha? Afinal, a expectativa natural é que os filhos enterrem os pais, e não ao contrário. No entanto, a vida prega peças durante o caminho, alterando as expectativas - nossas, do pai, da mãe ou de uma criança de oito anos.


De acordo com a psicologia, o luto possui cinco estágios: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Em todas, a realidade do indivíduo é transformada, fazendo com que o consciente seja alterado, ou seja, uma nova narrativa é desenvolvida para suportar a perda - e é assim que a história de Tiago Ferro acontece. A narrativa é fragmentada, combinando entradas de diários, listas, e-mails, mensagens de WhatsApp, documentos, diálogos e breves contos protagonizados por Carlos Drummond de Andrade, Gilberto Gil e Eric Clapton, pais que também perderam seus filhos.


"Eu não quero ser O Pai da Menina Morta. Eu sempre serei O Pai da Menina Morta. Não estou procurando ou exigindo qualquer tipo de justiça. Eu simplesmente aceito a dor aguda na ausência. No vazio. Nós também somos feitos de espaços em branco. Nosso corpo não é uma massa densa. É preciso lembrar disso."

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No livro, ao perder sua filha, o Pai perde sua identidade, tornando-se O Pai da Menina Morta. ("Eu não quero ser O Pai da Menina Morta. Eu sempre serei O Pai da Menina Morta.") O narrador, que não tem nome, não aceita respostas fáceis sobre sua perda, por isso, busca saídas na "Professora de Yoga", na "Minha Outra Filha" e no "Terapeuta Budista". Aliás, só a Mãe possui um nome, Lina. Uma mulher que teve a dádiva de gerar e amar uma criança.


"Você vai continuar morando no mesmo apartamento?
Por que não?
Você vai continuar morrendo no mesmo apartamento?"

"[minhafilha.doc]
NÃO QUERO MORRER
4/2011 - Eu não quero morrer. Depois que a gente morre, pode voltar?"

A confusão do luto aparece logo no início da obra. Ela persiste até o final. Tiago é irônico e sincero ao falar sobre autoimagem, sexualidade e as memórias da infância e da adolescência. Mas não é uma autobiografia, é um livro de autoficção, já que "O Pai da Menina Morta" mistura variados estilos literários.


A obra não é fácil de ser lida, mas não traz remorso e nem culpa, mas um pai que tenta sobreviver e encontrar a felicidade nos pequenos momentos. Como escreveu: "Um dia essa tristeza vai virar outra coisa. Uma coisa sem nome. Uma coisa."


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