De acordo com o dicionário, a palavra inteira significa sem restrição; absoluto; viver em inteira liberdade. Esse é o estado em que Nina Maia se encontra. Compondo desde os 12 anos, a jovem cantora transborda sentimentos em Inteira (Seloki Records), seu primeiro disco. Com letras compostas durante os anos, o álbum evoca dois conceitos simultaneamente: é o primeiro álbum cheio dela, seu cartão de visitas dentro de uma cena autoral brasileira contemporânea, e também sua colcha de retalhos mais íntima até aqui, uma vez que cada canção reverbera momentos distintos do início da juventude.
Com o rosto estampado em Inteira, Nina deseja conversar com todo mundo, afinal, suas canções abordam sua trajetória que é parecida com de outras pessoas. "Esse disco traz uma eu-lírica-personagem que vive uma jornada. Começa trancada, questionando a si mesma e o mundo ao redor. Aos poucos ela passa a entender o que aconteceu dentro de si e o que a deixou nesse lugar", completa Nina. "É a partir daí que ela busca se revelar, vai ganhando coragem e encara tudo isso, com amor e perdão. No final ela se liberta, depois de juntar todos os cacos e se refazer. Ganha força e vai pro mundo, inteira", ela declara.
Quando a palavra inteira é separada, torna-se três sílabas, imitando os três atos da artista: o primeiro aconteceu com a audição do álbum; enquanto o segundo foi realizado no Sesc Paulista como show de lançamento do disco; por fim, um breve diálogo com este site.
Leia também:
Ato I de Nina Maia: IN
No dia 25 de outubro, Nina Maia apresentou o seu álbum para um público diverso no Cineclube Cortina, em São Paulo. Antes de apresentá-lo, a cantora esteve no palco com o músico e produtor de Inteira, Yann Dardenne, para conversar sobre o processo de criação com Monique Dardenne, co-fundadora e diretora do Women's Music Event. Durante o encontro, Nina falou sobre sua trajetória, o crescimento, além da oportunidade de iniciar Inteira ao vivo, ou seja, foi através dos shows que descobriu quais seriam as músicas que estariam no seu primeiro disco.
Foi rápido entrar no mundo de Nina. Com o público sentado e atento, "CARICATURA" começou a tocar. Mas foi com o clipe de "SUA" que os primeiros gritos surgiram. Ao final, a jovem foi ovacionada. Inteira tocou todos.
Ato II de Nina Maia: TEI
Após o lançamento do disco, Nina levou Inteira ao Sesc Avenida Paulista. Com ingressos esgotados, a cantora subiu ao palco acompanhada de Thalin (bateria), Valentim Frateschi (baixo), Francisca Barreto (cello) e Thales Hashiguti (viola e violino), entregando um show energético e único. A apresentação de "AMARGO" e "MENININHA" foram o ápice do espetáculo.
Os vídeos em P&B no telão deram o contraste nas poucas luzes no ambiente. Por fim, Thalin foi à frente do palco para apresentar "Todo Tempo do Mundo", canção do disco Maria Esmeralda, que conta com a participação do baterista, Cravinhos, VCR Slim, Pirlo e iloveyoulangelo. A emoção de Nina Maia estava estampada nos rostos do público: em alguns momentos, os espectadores comentavam sobre o talento da jovem que se mostrava por inteira. Sob aplausos e gritos, o show de Inteira foi um sucesso.
Ato III de Nina Maia: RA
Sua carreira solo começou em 2021. Foi neste ano, durante a pandemia, que você se sentiu preparada para se apresentar ao mundo?
Na verdade, o que sentia naquela época era bastante medo. As incertezas da pandemia e a incapacidade de sair para conhecer o mundo e a mim mesma me impactaram muito. “De Dentro” saiu sem eu me sentir preparada. Mas olho hoje e vejo esse primeiro passo como um ato necessário e de muita coragem e força. E sou muito grata.
Como foi o processo de se conhecer, se estruturar, para, em seguida, tornar-se inteira e compartilhar sua história com outras pessoas?
Foi uma jornada que vivi de olhos e coração aberto. Tendo o sonho de lançar um álbum desde sempre, entendi, ao longo do processo, que não conseguiria terminar e colocar no mundo algo que não fosse realmente feito e vivido por mim. Então tive que aprender a tomar as rédeas e encarar a condução do projeto. Juntei minhas composições mais pessoais e me permiti colocar a voz em primeiro plano, sem medo. Além disso, me entender como produtora e diretora musical desse projeto foi fundamental para que ele pudesse caminhar de verdade.
Seu disco é composto por canções escritas na adolescência. Como tem sido revisita-las para cantar?
Tem sido bonito! Elas ainda ressoam comigo. Muitas das reflexões, histórias e sonoridades que estão ali sinto que realmente são partes de mim. Mesmo que muitas das músicas retratem momentos de distância, de se sentir perdida, ou emocionalmente trancada (coisas que não sinto mais), consigo acessar o sentimento e me sinto feliz de propagá-lo de novo.
Em “SUA” você canta: “Eu quero sair desse mundo / Onde me afoga a maré” Fiquei pensando como seria o mundo ideal para nos afundarmos inteiramente. Você consegue imaginá-lo?
Que bonito isso! Em “SUA”, acho que a maré que afoga é uma maré alheia, que vem do outro, não de si mesma. Por isso a necessidade de sair, por isso a sensação de desgosto. Acho que o mundo é belíssimo e hostil, o que me faz pensar que o melhor mergulho que podemos fazer é, primeiro, para dentro de nós mesmos. Procurando empatia, amor e compreensão pela pessoa que fomos e podemos ser hoje. Nascer de novo, a cada dia. Recentemente você deu voz à Inteira, na íntegra, com formação completa, no Sesc.
Como foi a sensação de ter esgotado os ingressos e um público super participativo?
Eu fiquei tão grata e realizada! Fiquei muito emocionada. O público realmente foi especial, muito atento, participativo, carinhoso. Houve troca de energia de verdade entre nós - banda e equipe - e quem estava assistindo. Aliás, ter a formação completa da banda ali foi maravilhoso! Estar ao lado do Thalin, Valentim Frateschi, Thales Hash e Francisca Barreto, que além de músicos excepcionais, são meus grandes amigos, foi um presente pra essa noite de lançamento!
Comments