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  • Foto do escritorMichele Costa

Impressões: V



Para alguns historiadores, a década de 1960 pode ser dividida em duas etapas: a primeira, de 1960 a 1965, que carregava o ar da inocência da década passada e uma inquietação, enquanto a segunda parte, de 1966 a 1968. é marcada pela revolução sexual e protestos juvenis em diversos países, que causaram o endurecimento dos governos contra o enfurecimento. No Brasil, no dia 31 de março de 1964, as Forças Armadas realizaram um golpe de Estado, instaurando a ditadura civil-militar. Setenta e dois dias depois, na Inglaterra, os Beatles lançavam "A Hard Day’s Night", acompanhado de um filme homônimo, que trouxe camadas sobrepostas de vocais, velocidade e a mistura do pop e rock.


Cinquenta e anos depois, a efervescência dos anos 60 segue inspirando pessoas e bandas: em agosto deste ano, a Maglore lançou "V" (Difusa Fronteira), quinto álbum da banda, que homenageia os reis do iê-iê-iê (da capa a composições), passando pelo passado e presente, detalhando as incertezas, nostalgia e novas possibilidades em 13 canções.


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"A Vida é uma Aventura" abre o disco, reforçando a necessidade de celebrar a vida - após dois anos de isolamento e mais de 600 mil mortes, a canção relembra que viver é melhor do que sonhar (por mais difícil que seja). Como canta Teago: "A gente envelheceu / A gente superou / Cada momento em que / A vida foi mais dura / A história se escreveu / Em um final que não chegou". O pop retorna na dançante "Amor de Verão", cantada pelo baixista Lucas. Os trompetes e saxofone dão o tom em "Espírito Selvagem", canção que mistura e brinca com diversos instrumentos.


"Talvez" traz a influência explícita dos Beatles em uma letra com duas interpretações: uma relação entre casal e uma relação amorosa (por que não?) com drogas. Independentemente da resposta correta, o importante é a sinceridade da composição. Com guitarras que soam "Revolution", "Eles" traz os anos de chumbo, relembrando que, agora, este ano, os militares não terão chances de voltar ao poder (ótimo paralelo entre passado e presente). "Vira-Lata" não entrou em "Se Chover", primeiro álbum de Lucas, para ganhar uma nova interpretação de Teago. "Outra Vez" aborda os conflitos ao se apaixonar - "Não sei se é sorte ou maldição / Acho que me apaixonei / E justo quando eu não quero, não / Não fui eu que procurei / Eu já sofri um por isso demais / Agora tudo outra vez".


As teclas de piano tocadas por Lelo hipnotizam a canção existencial "Transicional". "Revés de Tudo" é nostálgica, pois relembra o início da Maglore. Já "Medianias" traz as incertezas da vida - "Tá cada vez mais difícil saber / Se eu tô descendo ou subindo andar". A nostalgia reaparece em "Amor Antigo", outra canção amorosa que ao misturar o violão, com o trompete e o coral, se transforma em uma bela canção.


"Maio, 1968" é uma das músicas mais bonitas do álbum: a banda faz um mergulho histórico, trazendo os piores momentos da ditadura: o assassinato do jovem Edson Luís, a Passeata dos Cem Mil, o Ato Institucional N° 5, a reunião clandestina da UNE e o fortalecimento da repressão, com o aval de Costa e Silva. A canção ganha força com a bateria de Felipe, que dá a potência necessária para os eventos ocorridos naquele ano. "Para Gil e Donato", fecha o disco, com uma belíssima homenagem aos gigantes da música brasileira, mostrando que são eternos.


Assim como os Beatles fizeram, a banda repete: os bastidores de "V" viram videoclipes, documentando o processo que foi feito em Belo Horizonte. Entre máscaras, guitarras, baixo, bateria e demais instrumentos, "V" é o melhor álbum da Maglore. É bom estar viva para acompanhar as mudanças e novas músicas de um dos melhores grupos da atualidade.



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