"Língua é pensamento, língua é espírito, língua é uma forma de ver o mundo e apreciar a vida". É assim que a curadora Daiara Tukano descreve o ponto de partida de “ Nhe'ẽ Porã: Memória e Transformação ”, a nova exposição temporária do Museu da Língua Portuguesa . A mostra propõe ao público uma imersão em uma floresta cujas árvores representam dezenas de famílias linguísticas às quais pertencem as línguas faladas hoje pelos povos indígenas no Brasil - cada uma veicula formas diversas de expressar e compreender a existência humana. A exposição busca mostrar outros pontos de vista sobre os territórios materiais e imateriais, histórias, memórias e identidades desses povos, trazendo à tona suas trajetórias de luta e resistência, assim como os cantos e encantos de suas culturas milenares. Contando com a participação de cerca de 50 profissionais indígenas - entre cineastas, pesquisadores, influenciadores digitais e artistas visuais -, a mostra tem a consultoria especial de Luciana Storto, linguista especialista no estudo de línguas indígenas, e coordenação de pesquisa e assistência curatorial da antropóloga Majoí Gongora, em diálogo com a curadora especial do Museu da Língua Portuguesa, Isa Grinspum Ferraz. A abertura da exposição marca, no Brasil, o lançamento da Década Internacional das Línguas Indígenas (2002 - 2032), instituída pela ONU e coordenada pela UNESCO em todo o mundo. O convite para conhecer as línguas faladas pelos povos indígenas e as transformações decorrentes da invasão colonial é também um chamado para experimentar outras concepções de mundo, e começa no próprio nome da exposição que vem da língua Guarani Mbya, composto a partir de duas palavras: Nhe'ẽ significa espírito, sopro, vida, palavra, fala; e Porã quer dizer belo, bom. Juntos, os dois significam "belas palavras", "boas palavras". A exposição tem uma lógica circular, não importando onde é o começo ou o fim. Atravessando todo o espaço, o visitante encontrará um rio de palavras grafadas em diversas línguas indígenas, criando um fluxo que conectará as salas em um ciclo contínuo. Num dos possíveis pontos de partida da mostra, o visitante se depara com uma floresta de línguas indígenas representando a grande diversidade existente hoje no Brasil. Nessa floresta, o público poderá conhecer a sonoridade de várias delas. A sala do lado, "Língua é Memória", traz à tona históricos de contato, violência e conflito decorrentes da invasão dos territórios indígenas desde o século XVI até a contemporaneidade, problematizando o processo colonial que se autodeclara "civilizatório". Neste ambiente, outras histórias serão contadas por meio de objetos arqueológicos, obras de artistas indígenas, registros documentais, mapas e conteúdos audiovisuais e multimídia. As transformações das línguas indígenas são tratadas em conteúdos que exploram a resiliência, a riqueza e a multiplicidade das formas de expressão dos povos indígenas. O ambiente apresenta também outras formas de comunicação entre os povos indígenas, como o monumental trocano - um tambor feito a partir de uma tora única e cedido pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. Este instrumento pertence aos povos do Alto Rio Negro, e na exposição será acompanhado por outros objetos cerimoniais originários da mesma região, onde nasceu o pai da curadora. Devido às proibições de práticas rituais e à violência decorrentes da presença missionária salesiana no Alto Rio Negro, as línguas e culturas desses povos foram afetadas enormemente. Em um jogo de contrapontos, esta sala exibe também uma palmatória utilizada em escolas religiosas para castigar crianças indígenas que insistissem em falar suas línguas em vez do português. A peça é feita de Pau-Brasil, árvore considerada símbolo nacional. Na sala "Palavra tem Poder", o público conhecerá a pluralidade das ações e criações indígenas contemporâneas a partir de seu protagonismo em diferentes espaços da sociedade, a exemplo de sua atuação no ensino, na pesquisa e nas linguagens artísticas. Ao acompanhar o percurso do rio, os visitantes alcançam um quarto ambiente, noturno, uma atmosfera onírica introspectiva que permite o contato com a força presente nos cantos de mestres e mestras das belas palavras. O rio que percorria o chão da exposição, agora sobe a parede como uma grande cobra até se transformar em nuvens de palavras - preparando a chuva que voltará a correr sobre o próprio rio, dando continuidade ao ciclo. O projeto conta com a articulação e o patrocínio máster do Instituto Cultural Vale, o patrocínio do Grupo Volvo e da Petrobras e o apoio de Mattos Filho - todos por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Conta, ainda, com a cooperação da UNESCO - no contexto da Década Internacional das Línguas Indígenas - e das seguintes instituições: Instituto Socioambiental, Museu da Arqueologia e Etnologia da USP, Museu do Índio da Funai e Museu Paraense Emílio Goeldi. Serviço - Nhe'ẽ Porã: Memória e Transformação Data: de 12 de outubro a 23 de abril de 2023 Local: Museu da Língua Portuguesa - Praça da Luz s/n - Luz, São Paulo
Horário de funcionamento: terça a domingo, das 9 às 16h30 Ingressos : R$ 20 (inteira) | R$ 10 (meia) | Grátis para crianças até 7 anos | Grátis aos sábados