De acordo com o dicionário de nomes - encontrado em uma prateleira com outras relíquias de minha família -, Pérola é de origem latina e está relacionada a joia que é formada dentro das conchas de alguns moluscos. A Pérola do dramaturgo Mauro Rasi segue o mesmo significado do livro amarelado, mas com uma diferença: o seu brilho fica mais intenso com o passar dos anos. A mulher desenvolvida por Rasi nos anos 90 acaba de ganhar uma nova versão para o cinema. Dirigido por Murilo Benício, "Pérola" conta a história da matriarca pelo olhar e memória do seu filho. Uma família comum, que briga, faz as pazes, comemora, chora, bebe caipirinhas e segue fazendo histórias. Amor, mágoas, respeito e (por que não?) ódio são alguns sentimentos que são compartilhados durante 91 minutos. O mar é a primeira imagem que surge na tela. Em seguida, sentenças que dão início a história: "Mamãe morreu. Seu enterro foi ontem. Esta é a primeira manhã sem ela". O telespectador descobre que Pérola (Drica Moraes), a mãe intensa de Mauro, faleceu. Como um filho sobrevive após a perda do seu primeiro amor? Penso nesta questão desde minha primeira infância. Como seria o meu luto quando minha mãe, minha Pérola , morresse? Leia também: A Cerimônia do Adeus Impressões: Sra Klein A granada existencial da DINGO Com personalidade forte e amante de festas, Pérola é uma mãe que sonha com uma vida perfeita para os filhos Mauro (Leonardo Fernandes) e Elisa (Valentina Bandeira), enquanto sonha com sua piscina - a primeira de Bauru. Enquanto as memórias se misturam com o processo de luto, acompanhamos o crescimento de cada personagem. O filho, que deveria ser advogado, torna-se escritor; a filha casa-se com um homem que não é aprovado pela mãe; e Vado (Rodolfo Vaz), continua apaixonado pela esposa. Mesmo com as preocupações diárias, como a mãe doente indo morar na casa da família ou a irmã ficando paraplégica, a matriarca vivia intensamente, ou seja, tinha o poder de transformar qualquer tragédia em uma visão positiva. A frente do seu tempo, Pérola tinha sede de viver, criar novas memórias e amar intensamente seus familiares, no entanto, dúvidas surgem no decorrer do filme: será que ela aceitava Mauro do jeito que era? Não julgava os vizinhos? Torcia para que a mãe, debilitada, morresse para construir sua casa dos sonhos? Essas questões são respondidas e percebemos a jóia que era. Quando somos crianças, acreditamos que nossos pais são heróis. Essa visão é alterada com o crescimento, já que as perspectivas são alteradas e um novo mundo se inicia. Lembro, por exemplo, a primeira vez que tive ódio da minha mãe - e hoje, duas décadas depois, revivo os mesmos sentimentos que Mauro Rasi colocou em sua peça. Nesse sentido, compreendemos nossos pais quando nos tornamos adultos. "Pérola" vai além do aperto no peito, o filme desperta risadas, tristezas e raiva, porém, termina cheio de vida - e é desse jeito que eu quero lembrar da mãe de Mauro e da minha própria mãe, que continua me emocionando e me amando intensamente.