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É possível viver dias perfeitos no capitalismo? Com o massacre diário - privação de sono, transporte público lotado, salários inapropriados, falta de qualidade de vida e a correria do dia a dia - esquecemos, constantemente, que a existência vai além das preocupações e contas. Mas como encontrar motivos para sorrir e sentir prazer no dia a dia? Wim Wenders responde essa pergunta (e nos dá esperança) em Dias Perfeitos , lançado neste ano.  A sinopse do filme é simples: em mais de duas horas, acompanhamos Hirayama ( Kōji Yakusho ), um homem de meia idade que vive sua vida de forma modesta como limpador de banheiros em Tóquio. Admirador da simplicidade, ou seja, silêncio e natureza, essa característica está no filme todo: o seu lar não possui nenhum luxo, tudo é simples e organizado. Aliás, é através dos símbolos que conhecemos o protagonista: músicas, livros e fotografias são suas paixões e são elas que contribuem para que Hirayama continue vendo beleza enquanto existe.  Em Dias Perfeitos , Wenders critica o modelo de vida perfeita vendido pela mídia e apresentado nas redes sociais. Não é preciso ter muito e ser igual aos outros, pelo contrário, há beleza ao acordar sem despertador, conferir a paisagem através da janela, sentir o vento no rosto, ler um bom livro, aproveitar a solidão e limpar banheiros para ganhar o seu próprio dinheiro. Cada dia é diferente, dando a possibilidade de sermos diferentes, melhores.  Leia também: Um antídoto contra a solidão A leveza de Duna Duo As lições de Franz Kafka Encontrar um caminho (ou seria uma fuga?) na vida moderna é difícil, mas quando conseguimos encontrar uma maneira, aproveitamos o mundo melhor, sob novos olhares - de compreensão, amor e gratidão.  O filme ganha nova potência quando a sobrinha de Hirayama aparece de surpresa na casa do tio. Uma adolescente que veio por livre e espontânea vontade passar uns dias na casa do mais velho. Em pouco tempo descobrimos que existe um conflito familiar: enquanto o homem vive uma vida simples, a irmã é rodeada por riqueza. A sobrinha fugiu de casa por não aguentar mais o ritmo consumista e cansativo? Aliás, é necessário fugir das amarras da família para continuar vivendo dias perfeitos?  Para retratar os diferentes mundos, o diretor utiliza tonalidades que apresentam as variedades vertentes que a realidade possui: os tons claros reforça o esforço do protagonista em seguir uma vida correta; enquanto os tons mais escuros - cinza e preto - despertam a melancolia que persegue Hirayama.  A trilha sonora contribui para que o telespectador reflita sobre sua própria trajetória: quando toca “Perfect Days”, de Lou Reed , lembramos que vamos colher aquilo que plantamos, por isso, é necessário ser uma melhor versão de si mesmo todos os dias.  Lembremos da frase de Thoreau, em Walden: “o homem mais rico é aquele cujos prazeres são mais baratos”. É possível viver dias perfeitos.

Impressões: Dias Perfeitos
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