
Em A Força das Coisas (1963), último volume de sua trilogia de memórias, Simone de Beauvoir revisita sua trajetória a partir da libertação de Paris. Nesse relato íntimo, a filósofa francesa compartilha lembranças de pessoas, amores, livros e filmes que marcaram sua vida. Sessenta e dois anos depois, sua voz ainda ressoa com intensidade: inspirada por seus escritos, a Atalhos lança um novo álbum de atmosfera autobiográfica, reflexiva e sonhadora. (Créditos: Felipe Martins) Ao longo de suas oito faixas, A Força das Coisas (Costa Futuro - ESP) traz imagens resgatadas da memória, unindo linguagens artísticas e mesclando línguas. O disco conta com canções em português e espanhol, além de reunir participações de artistas latino-americanos, caso de Franco Ocampo, do projeto paraguaio El Culto Casero, e Ives Sepúlveda, do duo chileno The Holydrug Couple, e da cantora chilena Antonia Navarro, que participa em "Anjo Mau". "Somos uma banda que se expande e incorpora os lugares por onde passa", comenta o vocalista, compositor e guitarrista Gabriel Soares. Para esse disco, a banda - que conta com Conrado Passarelli e ao vivo se complementa com Nico Paoliello e Fabiano Boldo - incorporou novos elementos, relembrando os discos anteriores ( A Tentação do Fracasso (2022), Animais Feridos (2017), Onde a Gente Morre (2014) e Em Busca do Tempo Perdido (2012)). Assim, o grupo não esquece sua história. Dialogando com o existencialismo e com a literatura, Atalhos segue buscando (e encontrando) caminhos em meio às ruínas do cotidiano, mostrando que "na força das coisas eu vou estar", como diz a canção "Desejos de uma Tempestade". Leia também: Scalene: nova fase, novos rumos A Verdadeira Dor O vazio obsceno de MADRE Na introdução de A Força das Coisas , Simone diz que nos dois livros anteriores, as pessoas apontaram alguns erros por conta da memória. Ela acreditava que um episódio tinha acontecido de uma forma e as pessoas falaram para ela que não era daquela forma. Aplicando essa ideia na construção do disco, você sentiu que isso também aconteceu de alguma forma? É, eu acho que assim. Eu me dei conta de que quando você está criando, especialmente quando você vai criar uma canção ou, às vezes, escrever literatura, você usa material da sua própria vida, as experiência… Você nunca acaba falando 100% o que realmente aconteceu, mas isso não quer dizer que você está mentindo deliberadamente, né? Isso quer dizer que você tá criando ali e você entendeu o processo da memória como uma construção mesmo, que faz parte, que meio que se mistura, né, a lembrança e a imaginação, pra mim é um processo natural também, ver que essas memórias vão ganhando outras formas. E o lance da Simone, eu acho que é legal isso aí também, porque ela escreve muito sobre outras pessoas na época, né? Nesses livros autobiográficos dela as pessoas que liam falavam “não foi bem assim”, mas isso é a literatura, né? Mesmo a literatura autobiográfica nunca é 100% fiel à realidade, né? Ela está meio que construindo, imaginando de novo, inventando coisas, mas eu gosto muito desse título, eu acho que tem um peso muito forte, sabe? E é realmente também um livro que me marcou muito. A Tentação do Fracasso também era um livro, eu fiz uma homenagem no título para os diários do Julio Ramón Ribeyro - dá pra ver que eu gosto muito de autobiografia. Eu leio muito autoficção, autobiografia, mas na parte da banda, mesmo com a Atalhos, eu nunca tinha feito algo assim mais direto; mas que ao mesmo tempo tem a frase da Simone - “É impossível lançar alguma luz sobre a própria vida sem iluminar, em algum ponto, a dos outros” [presente no livro A Força da Idade (1960)] - , não é só um disco que vai falar sobre mim porque os sentimentos são universais. Ela escreve isso como uma resposta à crítica, porque tinha muitas pessoas na época que também criticavam ela por estar escrevendo autobiografia, né? Queriam que ela estivesse escrevendo só romance ou filosofia, né? Mas mesmo em Os Mandarins (1954), romance que eu mais gosto dela, também é um romance autobiográfico, né? Porque ela só muda o nome dos personagens ali, mas ela conta muito a história dela com com Nelson Algreen, aquele americano que ela era completamente apaixonada por ele e tal. Dá pra ver que ela sempre teve uma uma paixão pra escrever sobre a própria vida, né? E tem pessoas que veem isso como se fosse um comportamento mais ególatra, eu não vejo assim. Eu gosto muito de ler, eu gosto também de falar sobre a minha própria vida, de pensar a minha própria vida, e de transformar, às vezes, momentos da minha própria vida em obra de arte - mas sempre sabendo que a gente vai iluminar outras pessoas, despertar alguma coisa nas pessoas que serão impactadas por essas canções. Alguns escritores escrevem sobre suas próprias vidas e/ou inspiradas em pessoas que conviveram para não esquecerem, para mostrar que a vida não foi em vão. Você segue essa linha também? Não sei se é pra não esquecer, porque tudo vai ser esquecido, né? E também tem muita parte da memória que é natural, não dá pra você conseguir guardar tudo, é um processo natural você também esquecer coisas, né? Porque seria impossível também seguir vivendo se a gente se lembrasse de tudo, absolutamente de tudo. Então também seria horrível isso aí. Mas eu acho que no caso de quem escreve ou de quem repensa e nesse caso meu também de fazer canções… Eu acho como se fosse um auxílio mesmo pra mim na hora, porque também não foi muito simples escrever esse novo disco, sabe? Foi um... Depois de muito tempo, você já adquire um método pra poder criar as canções. Eu sabia que a gente tinha que lançar um disco novo, eu queria escrever já um disco novo. Então foi um processo assim que eu tava de férias em Birigui e eu sentei lá tipo três semanas assim, mas não foi fácil não saíram rapidamente as canções. Então, meio que a memória veio em auxílio, sabe? Na hora de você buscar as inspirações pra construir eu meio que tava buscando acesso às experiências que eu tive, as memórias recentes, as mais antigas e tal, pra tentar encontrar os acordes, pra tentar encontrar o clima das próprias canções e tal. Acho que também tem canções ali… Por exemplo “Ondas de Calor" pra mim é muito muito específico, porque eu acho que não só a parte da letra que fala sobre memória e sobre relações antigas, mas a maneira que a música se formou, sabe? Meio que um formato mais pop e rock, classicão sabe? Uma balada em sol, algo que a gente não fazia há muito tempo e eu acho que também me lembrar de coisas de quando eu era adolescente também… Tem uma canção que fecha o disco que eu falo “fazia frio no meu quarto em 1999”, então eu busquei esses momentos na cabeça, momentos que ficaram encapsulados e que eu tentava mais ou menos me lembrar o que eu tava escutando na época ou o que eu tava gostando e sei lá, me ajudou a formar essas canções. Então no meu caso eu não sei se eu escrevi para não esquecer, mas eu acho que quem escreve autobiografia, especialmente na literatura, meio que ajuda você se conhecer melhor ao longo do tempo, do período que você tá vivendo. No caso da música, "Força das Coisas", pra mim foi como se fosse um bauzinho ali que eu abri ele pra me ajudar, sabe? Como a pessoa que vai escrever alguma coisa, procura em outros livros ali algo pra se inspirar e pra fundamentar o que tá escrevendo… No caso desse disco novo nosso, eu meio que me auxiliei muito da memória também tô ficando mais velho, então você vai acumulando mais experiências aí então na hora H que eu precisei ali, da inspiração, foi uma inspiração buscada ali na memória mesmo. Como foi revisitar essas memórias, relembrar a sua adolescência e não se afundar, talvez, em uma nostalgia? Eu tô o tempo inteiro, na verdade, lembrando e pensando nessas coisas. Foi um momento específico onde eu escrevi e onde eu tentei criar algo junto , mas pensar na memória… Tá sempre junto com a memória, revisitando ela e reimaginando… Todos os dias eu faço isso também, é um exercício meio que diário. Eu não sinto essa coisa também de nostalgia e que poderia me dar até algum sentimento negativo no presente - como saudosismo. Na verdade, eu tento olhar pra trás com uma certa felicidade dos momentos que eu ainda consigo me lembrar e que gosto. Às vezes eu me pego escutando músicas que eu escutava na época, escuto hoje, sabe? Eu tô sempre em contato direto com essa memória, não é algo que me deixa saudosista ou nostálgico no sentido negativo. Ao mesmo tempo me dá um norte, um sentido de coerência com a minha própria existência; é como se fosse um traçado, onde você vê o ponto que você tá agora e de onde veio… Eu tento buscar ali também uma certa coerência, vou entendendo esse traçado que eu tenho feito aí, especialmente na música, há bastante tempo. "Eu acho que o Força das Coisas é um disco de memória mesmo. Tem uma coisa do [Gaston] Bachelard [filósofo francês], que eu tava lendo mês passado, aquele livro, A Poética do Espaço, ele fala muito sobre daydream, sobre o sonhar acordado. Pra um artista que tá criando coisas, imaginando, eu acho que essa coisa do daydream, do sonhar acordado é muito importante." A Força das Coisas é inspirado na obra de Simone de Beauvoir. Ela inicia-se na Paris da libertação, me fazendo lembrar de “Mathieu 4ever” que questiona sobre a liberdade. Hoje a liberdade segue te obrigando a escolher? Sim, sim. É até legal você lembrar dessa música, do nosso primeiro disco, porque o Mathieu é personagem do livro do Sartre - eu e o Conrado gostamos muito. De certa forma, a primeira música da Atalhos, no nosso primeiro disco, tá falando de um personagem de um livro existencialista; agora, no quinto disco, a pessoa que a gente escolhe para homenagear é a Simone… Fala muito sobre como o existencialismo segue sendo uma grande inspiração pra gente, sabe? Desde o começo que a gente começou a ler essas coisas, marcou muito a gente e segue com a gente, dá uma certa coerência pra nossa trajetória, né? No começo, quando a gente começou a fazer essas músicas, nomes de personagens ou títulos de livros, virou uma certa impressão que a gente tava querendo forçar a barra, de falar que é meio intelectualóide, sabe? Depois de tanto tempo vai deixando claro que é uma paixão. Quando Sartre tava falando sobre a liberdade, ele meio que tava defendendo a ideia dele de que o ser humano precisa se engajar, principalmente nas lutas que estavam acontecendo no pós-guerra, que não existe liberdade que não fosse responsável pelo engajamento. A vida é muito louca nesse sentido, por mais que a gente não queira se comprometer com determinadas coisas, não tomar lado, não tomar posicionamentos, você acaba sendo obrigado a fazer isso, né? Também na nossa carreira, mas não só falando nisso, também na parte política ou na parte das coisas que a gente acredita, a gente sempre é obrigado a escolher determinados caminhos, não pode ficar parado no sinal, como diz essa música. A vida segue existindo, a gente é obrigado a escolher. Vendo a carreira da banda, eu tô muito satisfeito comigo mesmo, com a banda e com os caminhos que a gente escolheu. A liberdade realmente obriga a gente escolher, mas eu tô satisfeito com as escolhas que a gente fez. A gente teve a liberdade de criar do jeito que quisermos, de produzir… O quinto disco é um disco que eu produzi 100%, eu aprendi muito nos últimos anos dentro do estúdio - muito diferente do que foi o primeiro álbum -; a liberdade te responsabiliza, você tem que tá responsável pelas coisas que você faz, mas ao mesmo tempo a gente gosta, sabe? Não sinto um peso nesse sentido, não. O sonho retorna em A Força das Coisas . Em “A Distância”, presente em Tentação do Fracasso , você canta que o sonho não acontece, mas em “Ondas de Calor” você diz que sonha sempre com o mesmo sonho. O que mudou de lá pra cá? Não só isso: por que sonhar - conscientemente ou não - é tão difícil? Quando eu escrevi essas canções eu não tinha lido o livro do Bachelard que te falei, mas eu não consigo tirar esse conceito da cabeça, do daydream, do sonhar acordado. Quando você tá dormindo, você não tem controle dos seus sonhos, você é simplesmente invadido por essas imagens… Não que quando você tá disperso, você tenha total controle, mas você consegue meio que direcionar… É tipo uma atividade que eu sempre pratiquei, sempre sonhei acordado, né. Agora, com esse livro do Bachelard, eu fui entender também o que eu faço, porque é isso, você tá no dia a dia, numa situação normal, mas você tá imaginando coisas, meio que se inspirando, criando ideias, você já tá sonhando acordado. Quando eu tô fazendo as viagens, por exemplo, na estrada, quando tô dirigindo por horas - são momentos que eu me inspiro muito -, eu consegui identificar que naqueles momentos eu já tava sonhando acordado, já tava pirando, já tava criando coisas ali… Depois o que eu fiz foi sentar e organizar, como se tivesse escrito notas mentais [durante o trajeto] e elas ficaram naqueles momentos; depois o que eu fiz foi buscar essas notas e colocar num papel, sabe? Em “Ayer Morí” eu também falo isso… É um disco e canções que falam, que dão volta e dão esse retorno - a gente pode até brincar com o negócio do Nietzsche, porque ele fala “se você quer que a sua vida tenha valido a pena tem que viver ela da melhor maneira possível se fosse repetida pra sempre.” Viver uma vida potente, com força, coerente e afirmativa pra você ter orgulho da sua própria trajetória, como se você tivesse que vivê-la pra sempre. Esse disco da Atalhos tem esse eterno retorno a alguns temas chave que estão desde o primeiro disco: memória, estrada, viagens, fronteiras. Não é um caminho como se fosse uma linha reta que você vai chegar em algum lugar, entendeu? É mais um prazer pelo périplo em si. O prazer pela trajetória e não pela chegada. É o prazer de seguir caminhando mesmo que você esteja andando em círculos… Às vezes, especialmente em relações, bate esse negócio de “tô vivendo a mesma coisa que aconteceu aqui e vice-versa?” mas isso é a parte do ser humano, sabe? A última coisa que a gente precisaria fazer, na minha opinião, é desistir ou se fechar e não viver novas relações imaginando que elas devem durar para sempre ou porque terminaram elas não funcionaram. Eu não entendo dessa maneira, eu entendo que cada relação tem uma vida própria, tem um tempo e é o natural da coisa. Primeiro de tudo é admitir que as coisas terminam, que a vida é finita e que as relações são finitas e que você, provavelmente, vai sobreviver a um amor que vai morrer. Isso é um desafio, né? Se você morre junto com o amor, você já não lembra mais… É uma coisa que até o Epicuro fala, você não vai sentir, não tem que ter medo da morte… Só que o problema é quando coisas ou pessoas que você gosta morrem e você sobrevive - isso é muito mais difícil. Acho que as músicas desse disco também falam sobre isso, mas com um olhar afirmativo. Ainda falando sobre a vida, em “Anjo Mau” você diz que a vida não tem nenhum sentido. Exatamente, isso tem tudo a ver com o nosso primeiro disco, em aceitar o absurdo da vida, especialmente sobre o que Camus falava no Mito de Sísifo (1942). A gente não cria fantasias de que exista uma coisa, que estamos predestinados a alguém ou que existe um destino já armado ou um anjo… Por isso que é “Anjo Mau”, é uma brincadeira que a gente faz porque a gente não acredita em um anjo, um protetor que tá cuidando da gente, a gente tá literalmente exposto a todas as contingências possíveis - a gente pode sair agora e ser morto, pode ter uma doença amanhã e desaparecer. Quando eu falo “vida não tem nenhum sentido, eu te dou a mão” é sobre tudo isso que a gente tava conversando: é sobre a gente aceitar, especialmente a inevitabilidade da morte e a contingência da vida, mas não ter uma resposta negativa ou nostálgica sobre a coisa - eu vou te dar a mão e a gente vai pular nesse abismo porque é esse o nosso caminho. Nietzsche fala sobre isso: “torna-te quem tu és” e amar o próprio destino. Amar a sua própria história, sua própria trajetória. A afirmação tem relação com o amor, né? No final das contas: o amor é uma das salvações pra vida? Eu não acredito em salvação. A vida não tem sentido e não tem salvação. O que eu gosto de fazer é dar valor à própria existência. Tem um autor que eu gosto, que eu tô lendo aqui [pega o livro Na Pista da Verdade (Todavia, 2025)] , ele é muito pessimista, mas é no sentido irônico e divertido. É um livro de várias entrevistas e ele fala: “só uma coisa é certa, a morte. Essa grelha na qual todos terminaremos assados, mas ninguém sabe ao certo no que ela consiste.” Ou seja, não tem salvação, o resultado final é a grelha, todo mundo vai ser assado. Mas enquanto essa grelha não chega, você pode tentar construir algo que dê valor para fazer você aguentar até chegar a grelha. A música, pra mim, tem esse sentido, vem como auxílio, algo que nos ajuda a enfrentar essa situação sem sentido da vida - não salva, mas consegue gerar um tipo de apaziguamento em vários momentos. Schopenhauer também falava sobre isso, que a vida era uma merda, mas tinha a arte e a arte era alguma coisa que não chegava a dar sentido, mas poderia torná-la um pouco mais suportável. "As pessoas que escutam A Força das Coisas conseguem fazer um link direto com o disco anterior, mas tem algumas coisas novas, e ao mesmo tempo têm um resgate também de coisas que a gente ouvia, e que a gente fazia há muito tempo atrás." Quando nos falamos, você comentou que parecia que a Atalhos está indo pelos caminhos mais longos, mas também que aprenderam a gostar dessas distâncias e dos caminhos longos. Em “Assim falou Zaratustra” e “Delirios en Paraguay” trazem a imagem do voo. Você acha que esse caminho pode mudar e vocês alcançarem uma nova altitude? Às vezes dá uns rasantes, faz um voo cruzeiro [risos] . Outra coisa que tem bastante nas músicas da Atalhos é a palavra lejos. Por exemplo, em “Anjo Mau”, a participação da Antonia Navarro, uma amiga do Chile, ela mesma criou essa parte da letra que ela fala “llegaremos mas lejos”. Tem sempre essa coisa da distância, de ser longe e de chegar mais longe; ou de voar mais alto, de se expandir, sabe? Tudo que fala sobre isso nas nossas músicas não quer dizer no sentido ambicioso de sucesso ou de maior público ou de mais shows, adquirir um tamanho maior do que a gente é como banda - não é nesse sentido, mas é no sentido de expansão, sabe? O próprio fato que a gente tá criando canções em espanhol também é um processo natural nosso de querer se expandir, cruzar fronteiras, como tá na letra de “Delirios en Paraguay”. Acho que é um processo natural nosso como banda, né. A gente nasceu em Birigui, cidade pequena do interior de São Paulo, depois a gente se mudou pra São Paulo pra poder gravar nosso disco [Em Busca do Tempo Perdido] , depois fomos tocando em outros lugares… Acho que é também da nossa gênese, faz muito sentido essa questão de querer se expandir, não ficar preso em só um lugar. Todas essas coisas que se repetem e que tão no disco também reforçam essas ideias principais que a gente mantém. Gabriel fala sobre a canção "Assim Falou Zaratustra" É um disco com muitas participações, assim como a trilogia da Simone que traz histórias de amigos, de conhecidos, de outras pessoas. Me perguntei se ao trazer outras pessoas, vocês fazem parte da narrativa da escritora, ou seja, com esses músicos, vocês contam a própria história e a visão deles sobre vocês. Além disso, pode ser considerado uma homenagem à Simone ou não faz sentido nenhum? Não, sentido tem, sempre tem um link por mais que a gente não consiga reconhecer no momento que a gente tá fazendo, mas sempre tem um link que tá implícito ali. Mas não foi algo direto, trazer esses convidados para participar do disco não foi algo na Simone em si, mas eu entendo o link ali, porque ela tá contando a própria vida e suas experiências com outros, né? Ela tá o tempo inteiro falando sobre o outro. É impossível falar só de você, sem tá falando de alguém que compartilhou esses momentos com você… No caso dos artistas que a gente convidou é mais na parte estética e visual. O processo que eu adquiri durante a pandemia foi investigar muitos artistas latino-americanos que tavam fazendo mais ou menos o tipo de som da Atalhos… O El Culto Casero, por exemplo, é uma banda que eu conheci durante a pandemia e fiquei super fã! Quando eu fui para o Paraguai, acabei conhecendo o pessoal e ficamos amigos. Em março [deste ano] , tocamos em Nova York e o El Culto Casero também tocou no mesmo palco que a gente numa das noites; conversei com o Franco [Ocampo, vocalista da banda] e contei pra ele que a gente ia lançar uma música que fala sobre o Paraguai, só comentei com ele, e ele [respondeu] “por que você não me chama pra cantar? Pra gente lançar juntos” e [respondi] “quem sabe a gente não faz um remix? A música já tá pronta”, mas disse que queria participar dela, então, quando ele voltou para o Paraguai, ele gravou a voz, me mandou uma ideia e eu falei “vai para o estúdio, não muda nada, grava e me manda.” Ele gravou, eu mandei para o estúdio em São Paulo, a gente abriu de novo a música e colocou a voz dele lá, masterizou de novo e acabou dando tempo de lançar junto! É uma colaboração totalmente genuína, sabe? E também contar com o acaso. [Sobre] a Antonia, a gente tocou junto em um festival, tinha quatro bandas tocando, e o som que mais parecia com o nosso [era o dela] . Ouvimos as músicas dela e falei “quando a gente for lançar o disco novo, vou chamar ela”, guardei isso na memória e quando tinha essa música pronta eu falei “é essa música!” Falei com ela, ela aceitou, gravou as vozes… Acho que ela sacou bem a ideia… Foi como eu te falei, quando dei liberdade pra ela fazer a letra, ela colocou essa coisa expansiva, de llegaremos mas lejos… São duas participações do disco, que tem oito músicas, que falam sobre esse caminho que a gente quer seguir trilhando que é o caminho latino-americano. Atalhos em Turnê Atalhos fará uma série de apresentações ao longo dos próximos meses, mostrando ao vivo A Força das Coisas e ampliando ainda mais seus percursos. As datas incluem shows no Brasil, Estados Unidos, Uruguai, Argentina, Chile, Reino Unido, França, Dinamarca e Alemanha. Acompanhe os passos da banda.
