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  • Foto do escritorMichele Costa

Show: Homem Mulher Cavalo Cobra

"Bem-vindas e bem-vindos ao show de lançamento do álbum "Homem Mulher Cavalo Cobra", que foi lançado em 2020 e só agora, dois anos depois, conseguimos fazer o show de lançamento", diz Morris ao microfone, olhando para o público sentado no teatro do Sesc 24 de Maio, no último domingo. Cantando para pessoas devidamente mascaradas e distantes, o músico compartilhou as pedras que (também estão dentro de si) compõem seu álbum.


Coincidência ou não, o show foi marcado para o dia 13 (lembre-se que outubro está chegando!), primeiro dia da Semana da Arte Moderna. Cem anos atrás, artistas e intelectuais se juntaram em busca de uma nova forma estética, com o objetivo de mostrar a arte brasileira - se estivessem vivos, aposto que Oswald, Mário, Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Yan de Almeida Prado e John Graz estariam de pé no teatro aplaudindo Morris, pois sua arte é o reflexo do Brasil de hoje: alegria e dor.


Aproveitando os espaços entre as músicas, o artista comentou sobre o processo de criação do álbum e o impacto da exposição do artista chinês Ai Weiwei em sua arte. Nesse momento, lembro de sua resposta, via e-mail, sobre retratar questões humanas em suas canções: "A inquietação com os retrocessos que vivíamos desde 2013 era muito grande e asfixiante. Vendo as obras e as ideias de Weiwei, percebi que era possível e necessário elaborar um projeto artístico para trazer, à minha maneira, as ideias e sensações que estavam pulsando. A partir dali foi muito natural a chegada das canções".



Acompanhado por Marcelo Cabral, Rodrigo Campos, Allen Alencar, Igor Caracas e Felipe Roseno, o músico segue inconformado com a situação brasileira. O modo de tocar seu violão lembra de um escudo: tenta se proteger contra os ataques diários de um presidente fascista que sente prazer pela morte. Assim como os demais humanos que sentem e sofrem (infelizmente não são todos), a angústia de Morris aumenta com o desmatamento e a crueldade diária que as minorias sofrem todos os dias. Em "Pátria Bipolar", esses sentimentos explodem - "Onde estão os naturais da terra?".


Com duração de um pouco mais de 90 minutos, o show de "Homem Mulher Cavalo Cobra" foi potente, emocionante e esperançoso, mostrando que ainda tem uma luz no fim do túnel. As 13 canções do álbum ganharam outra dimensão com a guitarra alta de Alencar e a bateria de Felipe. Cabral e Rodrigo, mais uma vez, mostraram que não existe limite para o baixo e o cavaquinho; enquanto o percussionista exaltava as emoções do disco. O ápice chegou com a interpretação de César Lacerda e Anna Vis para "Alguma Algum Ninguém". Ao lado de Romulo Fróes, Morris homenageou o escritor e jornalista Murilo Rubião, condutor do seu próximo trabalho.



Sob os gritos e aplausos do público, a banda retorna ao palco para o bis. No final, a iluminação explode o local, enquanto as pessoas se levantam para aplaudir mais uma vez. Os músicos agradecem e se despedem do palco, o lugar sagrado. O domingo estava ensolarado, tornando-se um belo dia para morrer, no entanto, ali, naquele teatro, o público se recusava, porque sobreviver é a melhor vingança. Valeu esperar por tanto tempo para um show impactante.

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