Desde 2020, Flávio Vasconcellos esteve inventando o seu mundo sobre as idealizações da vida e o despertar. Durante o processo, o multinstrumentista revisitou histórias e imaginou outras, imitando os processos da vida. O resultado dessa narrativa está em Tudo Que Eu Mesmo Inventei (ybmusic), o primeiro álbum do músico. "O álbum trata sobre o reconhecimento das idealizações que criamos no amor e na própria ideia da falsa linearidade da vida. É sobre saber admirar, enxergar a verdade e se expressar de maneira inventiva", conta.
Com direção artística de Romulo Fróes e participações especiais de Ná Ozzetti, Paulo Ohana e Pauline Hanot (FR), Tudo Que Eu Mesmo Inventei é um disco libertador, onde Flávio pode se expressar sem medo. A sonoridade passa pela influência orquestral presente no trabalho do artista, com arranjos de sopros e metais fluindo, ao mesmo tempo que evoca a MPB das décadas de 60 a 80.
"De 2020 A 2022 compus e gravei no meu estúdio na zona rural de Limeira. Eu mesmo fazia tudo e tocava todos os instrumentos. Ao notar esse processo DIY e a letra de uma das canções ("Tudo que eu mesmo inventei"), entendi que havia um disco que queria contar uma história", divide. Em 2023, as músicas foram apresentadas a Romulo Fróes, e encontros quinzenais foram lapidando o que se tornaria o repertório do disco. "Foi um trabalho produzido com muita calma, num tempo muito fluido", divide Flávio. As gravações contaram com grande elenco, com participação dos prestigiados músicos Biel Basile e Marcelo Cabral.
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Flávio, antes da gente falar do seu álbum, eu queria voltar um pouquinho no tempo com você e falar sobre o processo dele, porque ele foi iniciado em 2020, durante uma pandemia. Como foi construí-lo durante aquele momento de incertezas e lançá-lo em outra realidade?
Então, foi uma doideira tudo isso porque ele quase que já esteve pronto antes, né? Vou começar até pelo nome dele, né? O centro da temática de Tudo Que Eu Mesmo Inventei tem essa coisa das nossas idealizações, dessa... Naquele período da pandemia isso veio muito forte, né? Porque é um período que vimos coisas diferentes, horríveis, mudando totalmente a sociedade, mas alguns lapsos de esperança de uma mudança mais concreta, assim, que depois não se sustentou, né? Essa mudança não mudou nada efetivamente do que foi um pouco pensado e sonhado naquele momento; mais uma vez eu caí naquela das idealizações, eu me vi aquela pessoa que se apaixonava por alguém, mas na verdade estava idealizando a pessoa e não sacando exatamente quem era, e me vendo eu errando mesmo, né? Aí a pandemia concretizou, fez essa relação dessa coisa mais individual, pessoal, com a nossa própria visão da sociedade, do mundo, da esperança e até com essa própria não-linearidade da história e das coisas, né? Não é que eu comecei a sacar, assim, não é porque a gente está vindo daqui que a gente vai estar evoluindo para um lugar necessariamente, né? É tudo muito complexo… Daí eu comecei a ver que tinha um tema ali, uma coisa para ser, apesar de até parecer óbvio, tinha uma coisa para ser concretizada, para ser desenvolvida, né? E paralelamente a isso, tinha uma coisa do tudo que eu me inventei no sentido de eu comecei a gravar tudo sozinho em casa, eu tinha poucas coisas de estúdio, um home studio, e comecei a investir um pouco mais no que eu poderia e eu comecei a fazer tudo sozinho, gravar vários instrumentos, tocar vários instrumentos, fazer… Então eu cheguei a ter um álbum completo eu tocando tudo, sabe? Fazendo várias coisas, mas na hora que enfim [breve pausa], a gente olhou as músicas ali e falou "putz, isso merecia a gente dar mais um talento e fazer de um jeito um pouco mais", enfim, melhorar algumas coisas, não que estivessem ruins, mas pelas canções a gente achou que mereciam. O que eu quero dizer com isso é que ele chegou a ficar pronto, mas com outra versão dele. Essa coisa de ter começado naquele período e estar sendo lançado num outro mundo… Eu acho que é isso: até o álbum é outro, né, ele é já uma outra versão da mesma coisa, e [é essa versão] que eu decidi entregar pro mundo.
Qual é a sensação também de ter inventado um álbum sozinho e depois ter entrado outras pessoas? E hoje em dia, qual é a sua visão sobre a solidão do passado pro plural do disco, com Rômulo, com Cabral, com Ná e outras pessoas?
Eu aprendi muito nesse disco uma coisa que é que é valorizar muito as parcerias, as pessoas que vêm pra somar, mas também a escolhê-las bem, focar também a direção, né? Por exemplo, a direção artística do Romulo Fróes mudou muito a vibe do disco, porque eu meio que comecei a fazer com ele essas conversas, essas prosas que a gente ia mostrando as canções e a gente foi escolhendo o que ficava ou não e isso tudo era quase uma mentoria, onde eu senti que eu cresci muitos, muitos anos rapidamente, do que ficar sozinho pensando em tudo. Principalmente algumas decisões, alguns caminhos ambíguos, coisas que ambas são legais, mas, nossa, o olhar de alguém olhando de fora ajuda você muito - eu acho que ajuda muito a gente a ganhar tempo, passar de uma maneira mais forte, mais intensa, mas com mais sustentação e também mais rápido, né. Então, pra mim é isso, é muito importante a gente conseguir entender colaborações que façam isso, né? Mas eu também aprendi isso, de entender colaborações pontuais, porque eu sempre fui muito de... Nos outros trabalhos que eu tive, de parceria, outros álbuns que eu gravei, [eu era] muito de ficar pedindo muitas opiniões pra muita gente, e eu tenho... Eu acho que com esse eu não fiz isso, eu até mostrava algumas coisas pra alguns amigos, assim, mas eu não fazia nesse lugar de, "ah, o que você tá achando" agora foi "ó, ouça aqui, é o que eu tô fazendo." [risos] Não é sobre não se importar, mas é direcionar a energia para um, porque cada um acha uma coisa. Acho que é um pouco essa entrega mesmo, de confiar no que você tá fazendo, mas não descartando a necessidade de ter alguém olhando de fora. Por isso que eu entendi, de uma forma mais profunda, como é massa, como é importante ter uma pessoa, geralmente mais experiente que você, como é o caso do Romulo, que consegue olhar e te dar uns toques mesmo, né, te ajudar a crescer. É aquela coisa da sabedoria, né, que tem sido tão questionado no mundo de hoje, não sei porquê, mas que eu acho demais. Conversar com pessoas que já viveram uma coisa, que já passaram por processos para entender de maneira mais assertiva o que é… E acho que até isso se conecta, de certa forma, com o que eu quero falar ali, dessa coisa das idealizações, da gente tentar entender um pouco mais a realidade das coisas sem deixar de imaginar, sem deixar de sonhar, de fantasiar, mas fantasiar na fantasia, imaginar na imaginação e entender no que é substancial, importante e concreto. Nossa, cresceu demais! Tinha músicas que eu tinha feito algumas coisas, até percussivas, usando um sample, gravando umas coisas em casa, e daí depois eu chamei músicos experientes também pra gravar, que é outra sonoridade… O Gustavo Villas Boas, que é um parceiro meu há um tempo, fez alguns dos arranjos, destruiu em alguns arranjos maravilhosos, daí tem… Músicos têm muitas participações, não é um disco único, juntei três, quatro pessoas e gravei, tem algumas faixas gravadas por certas pessoas, depois outras… Resumindo, eu acho muito importante viver esse processo da solidão pra entender uma coisa, principalmente a nível de cancionista, de poesia e de música, de composição, tentar tirar algo mais seu, mais profundo, que tenha mais identidade, mas claro que depois, quando chega esse momento de "pô, vamos executar isso, vamos"... Eu acho que é isso, a gente precisa, precisamos uns dos outros, né?
Você já pensava em fazer um disco antes da pandemia ou ela foi o gás necessário para você sentar e começar?
Eu já pensava. Eu tenho vários discos que ficaram na cabeça e nunca foram pra fora e que hoje não fazem mais sentido, mas esse... Assim, eu fui descobrir ele meio nesse período que eu entendi que ia ter um disco aqui, mas tem até algumas músicas que foram feitas antes, a composição em si… Eu sempre fui um trabalhador da música e tenho outros discos de parceria e tal, eu sempre trabalhei com música e eu tava numa correria maluca antes da pandemia; a pandemia foi o primeiro momento, depois que eu já tava com uma carreira com coisas acontecendo, com bastante efervescência, que eu consegui dar uma parada mesmo, né? E nessa parada você olha mais profundo, acho que pra si, pro seu próprio trabalho e pras coisas que mais importam. Eu já tinha essa vontade, mas não tinha conseguido mesmo essa organização e talvez faltava, sei lá, uma certa maturidade para entender esse caminho mais sozinho… Eu perdi esses discos que eu não lancei, nunca consegui organizar, mas acho que eles foram só um caminho de aprendizado pra eu chegar num momento que eu tô mais seguro de falar "isso é meu trabalho, esse é meu trabalho, é isso que eu quero dizer".
Você falou mais cedo sobre idealizações e realmente é um disco que você traz muito isso, né. Como foi revisitar essas idealizações que você criou e aceitá-las que foi uma idealização sua, que a realidade é outra? E hoje em dia, você cantando essas canções, você diminuiu essas idealizações? Você consegue sonhar no âmbito de sonho sem ser afetado pela realidade?
Ah, consigo, consigo bastante, porque na verdade é isso o paralelo, né? É um disco totalmente cheio de imaginação, muitos timbres, muitas coisas diferentes, uma música meio diferente da outra, é uma coisa doideira [risos], nesse sentido mais livre, né? E que tem a ver, tem totalmente a ver com eu aceitar a realidade, porque tem totalmente a ver comigo. Eu sou muito entusiasta de diferentes cores, diferentes timbres, e eu tento, nesse momento, entender as idealizações que podem, sei lá, nos levar mais para baixo, que são mais uma armadilha do que uma algo - é uma coisa realmente pejorativa, ruim, que é meio, sei lá… A gente vê a sociedade e a nossa estrutura mundial, dentro do capitalismo, com os olhos "nossa, estamos super dando certo, estamos indo bem", mas não, peraí! Não é bem assim, sabe? Mas não é por conta disso que é tudo ruim, então eu acho que essa complexidade tem que ser vista de maneira mais verdadeira, acho que nesses pontos a gente tem que cair na real para poder realmente fazer algo, contribuir de alguma forma dentro das nossas poucas possibilidades de mudanças estruturais ou não. Eu acho que a outra parte, a imaginação, eu não perdi, e acho que não vou perder nunca, porque eu acho que é isso que nos sustenta. Eu acho que é isso também o papel das artes, da música, a gente conseguir ir além disso tudo. Acho que nesse cair da real, das idealizações que realmente nos fazem mal, que nos fazem sofrer, seja nesse âmbito mais pessoal do amor, que é um clássico, isso acho que a idealização no mundo romântico, na minha opinião, tanto do que eu mesmo vivi e fiz, quanto o que eu vejo nos outros, até nas pessoas ainda mais novas, reproduzindo coisas que até eu olho e falo "é isso".
Você usou a palavra liberdade e ela é uma ótima palavra para usar com disco, porque você trouxe todos os assuntos que você tem questões, mas com uma liberdade, você falou sobre absolutamente tudo da sua maneira muito livre. Você encontrou a liberdade que você queria para tratar essas questões? Essa liberdade mudou no decorrer da pandemia para cá?
Sim, eu acho que eu encontrei primeiro musicalmente, estritamente musicalmente. Eu acho que eu encontrei nessa coisa que eu até comentei, que eu gosto muito de muitos timbres diferentes, de ideias diferentes de como compor uma música, em certa canção, eu quero brincar com uma coisa, eu vou estudando ali, eu faço umas três… Eu estava falando nesse final de semana que a gente fez umas gravações de uns vídeos para o disco também, eu estava falando para a galera que foi tocar comigo, "ah, essas músicas têm músicas irmãs", então algumas eu faço umas três, quatro que têm alguma coisa em comum, mas lógico que ao invés de fazer um disco com essas quatro músicas, eu gosto de pegar uma delas, pegar uma da outra, porque eu acho que nesse sentido eu estou me encontrando mais com a minha própria apreciação da música. Eu gosto de ouvir uma coisa que me surpreende, eu gosto também desses discos mais fechados, que obviamente tem três pessoas ali que tocam o disco inteiro, mas eu sempre quis fazer essa proposta mais… Que eu estou chamando aqui de mais livre, de pensar só não, "ah, eu quero uma música assim, então vou buscar esse violino, essa coisa, na outra eu quero essa banda, essa bateria, essa coisa pesada." Ah, e como essas coisas se conectam? Muita gente vem com essa questão, isso junta com o trabalho que a gente fez com o Romulo, de escolher as músicas, de pensar no fio condutor também poético que existe ali e exercebar essa liberdade criativa musical, timbrística, essa coisa que é o que eu queria, nesse momento, em outro momento eu vou querer outra coisa, antes eu quis outra coisa… Eu já até em outros trabalhos mais coletivos, já me senti muito podado nessa questão, então foi também uma emancipação de, "ah, vou fazer meu primeiro solo, agora eu vou fazer essa doideira que já me disseram que não ia funcionar", entendeu?
Jura?
Ah, sim, mas é normal, é isso, cada um vê as coisas de uma maneira, faz sentido, e já ouvi várias vezes essa coisa de fazer um negócio que pode soar meio nada a ver, sabe? Tipo, um exemplo, numa música do meu disco, ela começa em espanhol, numa parceria minha com a Karina, depois eu convidei a Pauline Hanot, uma cantora francesa, não só para cantar, como ela fez também a letra desse verso instrumental que eu tinha, a gente canta uma música, então pode parecer, sei lá, nada a ver… No meio do disco aparece isso, tem tudo a ver com o que a gente estava construindo ali, ela entra de um jeito… E nesse processo da mudança da liberdade nesse lugar pandêmico até agora, nossa, foram tantas sensações vividas nesse momento até agora, que eu tenho até dificuldade de responder, porque eu acho que eu encontrei a liberdade maior. Acho que durante aquela doideira toda, eu vi que precisava daquela liberdade, era urgente eu me conectar com o meu ser artístico mais profundo e dar vazão a ele, não deixá-lo quietinho pelo mundo, pelo mercado, aquela coisa toda… Hoje em dia, penso muito no que é realmente sincero pra mim expressar musicalmente, porque eu acho que de um jeito ou de outro eu não vou saber jogar exatamente esse jogo, então eu vou tentar me comunicar de alguma forma, porque eu quero, obviamente, que as pessoas ouçam, mas eu não acho que eu não sei jogar esse jogo, talvez não seja a minha partida, então acho que eu encontrei essa liberdade de realmente entender isso e não ficar mais com essa mosquinha na orelha, né? Mas depois, no processo até aqui é essa própria não linearidade da vida, que eu gosto também de falar no disco. Depois também me senti menos liberto, tudo voltou, a gente volta pra labuta de tentar, enfim, trabalhar, encontrar coisas, modos, caminhos para realizar as coisas, então já me senti com menos liberdade também…
"Não tenho pretensão de fazer algo novo, eu só quero fazer a minha música."
A sua música brinca com o imaginário das pessoas: ao cantar uma determinada estrofe, você faz com que o ouvinte relembre de alguma memória esquecida e que se mistura com as suas. Dito isso: o que você espera despertar no ouvinte?
No fundo eu espero despertar um senso de admiração pela vida, pelas pequenas coisas… Respondendo com outras palavras - eu não gosto da palavra ensinar -, é como se eu quisesse despertar essa vontade de admirar o mundo e as pequenas coisas em si. O pequeno momento, uma pequena memória. Eu gosto muito da beleza nas coisas sutis e gosto da vibe da gente pensar que saber admirar é uma qualidade, é uma ferramenta que a gente pode desenvolver. Eu acho que a admiração - e eu digo pelo mundo - é trabalhável, ela é uma das chavinhas que se a gente conseguir virar, não tô falando que é fácil, tem muita complexidade de onde a gente vem pra onde a gente vai, a gente consegue entender… E isso pode ajudar muito, muita coisa. Apesar de ser meu quarto álbum e o meu primeiro solo, eu tô descobrindo o que as pessoas vão sentir; há essa intenção pairando…
Em "O Brasa", você celebra o cancioneiro e a cultura brasileira. O que a música significa para você e por que celebrá-los é importante?
Wow! Essa pergunta é… [risos] Olha, eu acho que a música, até é uma maneira um pouco mais difícil de dizer isso, foi muito uma maneira de entender as coisas, a vida. Acho que a música dá sentido para as coisas, a música é uma das comunicadoras mais potentes pra trazer o sentido e o sentimento nas coisas - e acho que ela é a mais direta. Você vê como ela transforma o momento muito rapidamente… Pra mim, é uma das coisas mais capaz de dar sentido para as coisas mesmo. Acho que essa é uma possível resposta.
Sua resposta diz muito sobre "Esperança Equilibrista", onde você canta: "temos muito o que buscar". O que você busca?
Acho que a própria pergunta está exposta nessa música, mas é bem isso: essa esperança equilibrista entre a gente sonhar, esperançar esse mundo novo, essa coisa que possivelmente vai chegar; contra entender que a gente errou, a gente perdeu e tá lascado. Esses dois sentimentos vagam em mim, mas o que me conforma neles é pensar que, talvez, a gente viva mesmo essa linha do tempo não linear, que a gente sempre vai tá indo e vindo… Essa idealização do mundo novo que eu trato na música. Eu escrevi essa música em uma viagem - houve uma época, acho que acontece com todo mundo, na minha juventude de imaginar um mundo novo transformador, a gente via até na internet uma ferramenta maravilhosa de expansão… Na hora que eu fui escrever essa música, fui lembrando disso, ainda na pandemia, [e escrevi] "já disseram que é mesmo o fim / tal como dez anos atrás, havia um mundo novo logo ali". Dez anos atrás havia um mundo novo, só que vai acontecendo tantas coisas… Pra ver a dificuldade em responder essa pergunta, eu respondo isso naquele verso "uns falam que basta amar / outros levam minutos para viver". Eu busco entender como a gente pode contribuir para uma mudança estrutural em todas as desigualdades e de um possível olhar mais atento para a natureza.
Em "Banho de Sol", você diz que precisa gritar, uma oscilação da vida. O que você grita e o que ele carrega?
[breve silêncio] Eu acho que eu grito por a gente se olhar e se olhar de uma maneira com mais compreensão, mais atenta, com maior empatia. Um "Banho de Sol" é isso: eu esperançando uma coisa que a gente pode entender como uma verdade absoluta, que é tão difícil entender verdades absolutas, mas a gente só vai conseguir fazer as coisas de uma maneira unida, de uma forma que a gente consiga se conectar. "Banho de Sol" traz essa ideia de que somos uma coisa, uma coisa que caminha junto. Eu grito pela imaginação, pela fantasia, no lugar delas para irmos além.
"Quis fazer um álbum livre, então permiti que sonoridades mais modernas entrassem no som de algumas baterias e synths, mas a música orgânica ainda é o grande centro."
Você regravou “Sei dos Caminhos”, música de Itamar Assumpção e Alice Ruiz. O que ela representa para você? Alias, qual caminho você deseja percorrer? Estar acompanhado de outras pessoas fica mais fácil?
Sim, sei dos caminhos. É uma das minhas canções preferidas, sou grande fã do Itamar e da Alice. Ela é um grande momento intimista quando eu estava pensando nesse álbum. Eu gravei todos os instrumentos naquele quarto em um tempo pandêmico, então, é uma música pandêmica - a letra já diz tudo, né? Acho que é o despertar da maturidade, tipo, [recita uma parte da música] "eu sei os caminhos, eu conheço como começa e como termina, só não sei como chegar" [risos] Acho muito bonito. Me conectei muito com a poeta nesse sentido de "que bom que as pessoas sentem isso". Os caminhos que eu pretendo chegar também se conectam bastante com a própria letra da canção. Eu tenho uma consciência, uma noção de que tem um largo processo pela frente para comunicar isso, sei que à princípio é muito difícil atingir grandes números, mas sei que vou conseguir dar um próximo passo para comunicar o trabalho de uma maneira diferente - o que já estou sentindo no pequeno público que eu tenho. Tô muito feliz em fazer uma obra íntegra pra mim no que eu quero expressar, isso já me basta, não me preocupa tanto com as outras coisas que são mais difíceis, só não sei como sair da bolha… Mas sei que o caminho é esse, me expressar dessa forma com esse som.
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