Celso e Pedro Viáfora: duas gerações em cena
- Michele Costa
- 17 de fev.
- 7 min de leitura
Celso e Pedro Viáfora comprovam que o ditado popular "um raio não cai duas vezes no mesmo lugar" não existe. Pai e filho são músicos com longa trajetória e seguem sendo parceiros até hoje, dividindo canções, inspirações e palcos. Para celebrar as colaborações, os músicos se reúnem no espetáculo "Me deixa ser o seu parceiro", confirmado para os dias 18 e 19 de fevereiro às 19 horas, no Centro Cultural São Paulo.
A ideia desse show parte da vontade de pai e filho tocarem juntos, mas não só. Ao mesclar suas músicas num repertório especial, com arranjos novos elaborados para cada faixa, a dupla celebra um encontro de gerações baseado no poder da canção. Afinal, o tempo passa e as coisas mudam, mas viver a música segue sendo a direção motriz tanto para Celso quanto para Pedro Viáfora.
Acompanhados por um quinteto de cordas (2 violinos, 1 viola, 1 violoncello e 1 contrabaixo acústico) e 1 músico percussionista, Celso e Pedro irão revisitar grandes canções de ambas as trajetórias, aplicando sobre um repertório essencialmente de música popular arranjos de atmosfera erudita.
Leia também:

Não é sempre que os filhos seguem a mesma profissão dos pais. Como se sentem por viverem vidas e processos parecidos?
Pedro: Não é sempre que os filhos seguem a mesma profissão dos pais, mas é um clássico, a gente vê muito na arte os filhos seguindo os passos do pai. Não só, às vezes eu canso de ver médico que tem o filho médico, eu acho que isso é um reflexo de uma boa relação entre pais e filhos, que são referências. Na música especificamente, eu sinto que foi um privilégio para mim ter um pai músico, principalmente por me mostrar que a música é uma realidade, é uma profissão, é uma coisa a ser guiada. Não foi um negócio que eu precisei pensar, como muita gente às vezes tem que pensar. Às vezes a pessoa tem o dom, tem uma vocação, mas não tem referência. E aí descobre que quer ser músico mais velho, né? Eu sinto que na minha trajetória não foi assim porque justamente a música sempre foi uma realidade como profissão, porque eu via isso dentro da minha casa. E estar aqui poder fazer música com meu pai é maravilhoso, é uma emoção desde a primeira vez que eu fiz um show, acho que no meu primeiro show solo, meu pai já participou e é sempre muito legal.
Vocês trocam informações, dicas ou conselhos que contribuem para o crescimento pessoal e profissional?
Celso: A gente vive trocando informações, dicas ou conselhos. Algumas não servem para nada (risos). E as que servem a gente guarda. Agora, são conselhos e dicas não só de pai para filho, né? De filho para pai também.
Pedro: Absolutamente, eu costumo falar que meu pai é um grande batizador das minhas canções,na maioria das vezes ele é a primeira pessoa para quem eu mostro. Sempre foi assim, desde o começo, fazia uma canção nova, uma composição nova, então meu pai era a primeira pessoa para mostrar e durante muito tempo tinha algumas dicas que fizeram toda a diferença, alguma palavrinha a mais, se você fizer isso…se você for por ali. Acho que a medida que eu fui amadurecendo também como compositor, meio que introjetou essas ideias na minha cabeça, algumas coisas que ele me passou e até hoje ele continua sendo um dos maiores conselheiros para tudo que envolve a música na minha vida.
Quando surgiu a ideia de se juntarem para celebrar essa parceria?
Pedro: Bom, a ideia da gente estar junto no palco é muito antiga, né? Como eu falava anteriormente, acho que meu pai sempre participou, desde o primeiro show que eu fiz, que eu o chamei para participar, sempre topou, a gente sempre esteve junto, já tivemos inúmeras canções, parcerias e inúmeras participações, um nos shows dos outro. Enfim, essa coisa de estar junto no palco é um negócio antigo para a gente, é uma ideia que já vem ali desde os primeiros acordes do violão. Mas esse show, especificamente, é acompanhado por um quarteto de cordas que já toca com
meu pai há um tempo, né? Meu pai já tinha feito esse show, com as canções dele, essa formação, e a gente sempre com essa vontade de estar junto celebrando, não lembro exatamente quando, mas surgiu essa ideia de a gente juntar e fazer junto com quarteto. A maneira que a gente achou mais especial de celebrar esse encontro é juntando essa coisa mais erudita das canções e meu pai também como um grande arranjador descrevendo os arranjos para canções da nossa parceria.
Celso: Essa questão da gente se juntar no palco é uma coisa que vive rondando a nossa cabeça. Sempre que a gente pode, a gente faz. Já fizemos várias vezes, né? E essa questão de celebrar, o palco sempre é uma celebração! Você celebrar com um parceiro, com pessoas que você quer bem, já é legal; agora você celebrar com seu filho é uma emoção maravilhosa.
Mesmo com as transformações sonoras - do vinil para o CD até chegar ao streaming - existem obstáculos para o músico. Como se manter fiel nessa profissão?
Celso: A verdade é que a internet, os streamings, essas coisas, eu, na minha cabeça , vejo que praticamente extinguiu a profissão de compositor, aquele compositor que não canta e vive ou vivia de fazer músicas, ficou inviável economicamente.. Então, efetivamente, existem obstáculos cada vez maiores em relação a isso. Por outro lado, você está a um clique de qualquer música, né? Você também está a um passo de ser clicado por qualquer pessoa, desde o momento em que você publica. Enfim, são as coisas que vão se transformando e a gente tem que se adequar a isso, até porque fazer arte, fazer música é uma coisa fundamental para as nossas vidas.
Pedro: Bom, isso aí já é uma questão geracional em relação ao que eu penso, ao que meu pai pensa, porque eu venho já de uma época onde o CD e o vinil já eram raros e já não faziam muito sentido, né? Meu primeiro CD lançado profissionalmente foi ao vivo no Auditório Ibirapuera, do Cinco a Seco, e naquela época a gente, apesar de ter feito físico o disco, a gente disponibilizou de graça na internet. Ainda não tinha os streamings, o que era um problema, porque realmente a gente não conseguiu capitalizar esse investimento que a gente fez para gravar de volta, porque a gente disponibilizou de graça, mas ao mesmo tempo foi um movimento interessante para alcançar um monte de gente e vender mais shows e, a partir daí conseguir dar sequência na carreira. Eu acho que todas as profissões vão ter os seus obstáculos, né? Com esse avanço exponencial, com essa mudança da tecnologia. Eu acho que todo mundo sofre um pouco em algum lugar. Eu acho que vai tanto na música como em qualquer outra profissão, a gente tem que se adaptar. Ao mesmo tempo que o streaming chega virando tudo de cabeça pra baixo, onde você não precisa mais fazer um disco físico, também acontece tudo isso, nunca se escutou tanta música, todas as pessoas estão escutando mais músicas agora com o streaming do que escutavam antes. Eu sinto que talvez o maior obstáculo, aí particularmente falando, é essa necessidade que se tem um pouco do artista, ele ter que se colocar nas redes sociais, ter que abrir a vida, ter que ser uma espécie de um influencer também, porque isso vai engajar e, eu particularmente acho que o lugar do artista tá muito mais no silêncio, ou no estúdio, ou num palco, do que fazendo esse papel, né? Isso é uma dificuldade minha. Tem gente que faz muito bem e não tenho nada contra. Mas, é uma necessidade que se coloca nesse mundo moderno, assim, eu sinto muito mais isso como um obstáculo do que o streaming necessariamente. Acho que o streaming é bom, no fim das contas. Eu vejo isso como ouvinte, falo isso como ouvinte. O tanto de música que chega até mim e para quem tem vontade de pesquisar também, eu nunca escutaria se, em outros tempos, eu precisasse comprar um CD, comprar um vinil.
"Me deixa ser o seu parceiro" revisitam canções de ambas as trajetórias. Como foi feito a seleção das músicas?
Celso: A seleção das músicas de um show, na verdade, passa primeiro por aquelas que a gente está afim de tocar naquele momento. Nesse caso, a gente deu preferência às músicas que eu e Pedro temos em parceria, afinal celebramos o encontro nesse espetáculo. Eu dei preferência às músicas da parceria que não tem arranjo de cordas, e aí eu os escrevi. Então, a grande diferença desse show para os outros, além da questão dos músicos, de ter percussão, a gente está revisitando obras nossas e do Pedro, com a nova roupagem do quinteto. As outras são canções que a gente gosta de cantar mesmo.
Com 45 anos de carreira e uma discografia com 10 títulos lançados, Celso Viáfora é um artista inquieto. No seu álbum mais recente, A Vida É (2021), ele questiona a ausência de fichas técnicas dos álbuns que são comercializados somente via online e contribuiu para a discussão com a publicação de um livro do disco, no qual é possível absorver todas as informações que derivam do processo criativo por de trás de “A Vida É”.
Já Pedro Viáfora é um artista com 15 anos de trajetória. Conhecido por integrar o coletivo musical 5 a Seco e o duo Pedros, ele lançou em 2024 seu single mais recente, "Medos Não Fazem Fogueira", com produção musical de Rafa Barreto.
Me deixa ser o seu parceiro, com Celso e Pedro Viáfora
Data: dias 18 e 19 de fevereiro de 2025 (terça e quarta-feira)
Horário: 19 horas
Local: Sala Adoniran Barbosa - CCSP - Rua Vergueiro, 1000 - Liberdade - São Paulo (SP)
Ingressos: gratuitos, disponíveis 2 horas antes da programação na bilheteria física do CCSP
Comments