Segundo o dicionário Michaelis, a palavra assembleia significa uma "reunião de pessoas que têm algum interesse em comum". Dessa maneira, diversos indivíduos se reúnem para discutir e/ou deliberar sobre temas determinados. Aliás, assembleias extraordinárias são criadas o tempo todo na política, no trabalho, em condomínios e na música. Utilizando este termo para o seu segundo álbum, Rod Krieger convida todos a participarem de uma narrativa por vezes introspectiva, porém quase sempre irônica.
Produzido de forma solitária na pequena aldeia de Sobral do Pavilhão, no interior de Portugal, A Assembleia Extraordinária (Café8 Music) é um disco que narra os dias pandêmicos vividos por quase três anos em companhia da psicodelia que sempre acompanhou o músico. Definitivamente é um disco sobre o tempo, divididos em dois momentos: durante a criação solitária, onde Rod tocou quase todos os instrumentos - com exceção do piano e a flauta de "Cai o Sol e Sobe a Lua", respectivamente assinados por João Nogueira e João Mello, do sitar de "Cabelos Longos" e da tampura de "O Fluxo das Coisas", ambos por Fabio Kidesh, que também está nas vocalizações da faixa-título do disco - e a onipresença dos moradores da vila que acolheram o músico.
Por mais que a capa de A Assembleia Extraordinária traga Rod só e pensativo, ele nunca esteve sozinho. Ao chegar em Portugal, começou a ouvir o máximo de música portuguesa, com o intuito de compreender o país. "Quando cheguei em Portugal tentei escutar o máximo de música portuguesa possível e achei que a melhor maneira seria vir de trás pra frente. Peguei os primeiros discos dos cantores clássicos como José Cid, Sérgio Godinho, entre outros, e quis entender um pouco da cena musical do país. Um disco, aliás, dois, que me chamaram muito a atenção foram os dois primeiros discos de Jorge Palma - Como uma Viagem na Palma da Mão (1975) e Té Já (1977). Acho eles sensacionais e escuto frequentemente, tanto que acabaram entrando para a minha lista de álbuns favoritos da vida e, com certeza, eles tiveram uma atuação forte em mim que acabou influenciando também o A Assembleia Extraordinária", conta Krieger.
Leia também:
Para aproveitar a viagem do disco é necessário prestar atenção nos mínimos detalhes, assim como em uma reunião, o disco possui alguns símbolos que se transformam em imagens (e vice-versa) quando são tocadas. O título das nove faixas introduz o que acontecerá quando o ouvinte apertar o play.
Abrindo o álbum, "A Assembleia Extraordinária" dá o tom do disco ao iniciar a viagem psicodélica do álbum. Em "Cai o Sol e Sobe a Lua", Rod traz a influência da aldeia em sua música, revisitando memórias por meio de fragmentos nostálgicos, enquanto "Era" traz a sonoridade que o artista já estava trabalhando há tempos, misturando os pensamentos em conflitos ("Eu não consigo ficar parado / Estou andando desligado").
"Em Qualquer Lugar que Existir" pode ser lida de duas maneiras: uma canção de amor ou despedida - ao cantar "Vamos recomeçar em qualquer lugar aí" passamos por uma viagem astral onde duas almas buscam se encontrar. Em "Cabelos Longos", Rod dá uma nova versão folk à música de Alceu Valença; já em "O Fluxo das Coisas" o cantor reflete e questiona sobre a passagem do tempo na vida moderna. Não é necessário cartas para entender a situação, Krieger já dá a resposta: "É hora de responder a mamãe natureza e ver o que você vai aprender".
Após guitarras, bateria, sintetizadores, piano e demais instrumentos utilizados em A Assembleia Extraordinária, "Transmimento" é um convite ao ouvinte parar por um momento e refletir sobre os temas abordados por Rod até agora na reunião. O instrumental segue em "Este Comboio Não Para em Arroios" - o título é falada (e repetida) no final da canção, relembrando os tempos que o metrô passava pela estação de Arroios, em Lisboa. Por fim, "A Loucura do Habitual" fecha o disco de forma alucinada, concluindo a nova fase do artista.
A Assembleia Extraordinária além da música
A assinatura de Rod Krieger pode ser conferida não somente nas músicas, mas também nos vídeos que vão compor o filme do álbum que será lançado ano que vem. Foi ele quem roteirizou, filmou, editou, finalizou. Para somar, imagens do fotógrafo Daryan Dornelles captadas em diferentes lugares e situações fecham a narrativa proposta.
Para o filme, ainda serão captados também registros documentais na turnê do álbum, que já tem datas em Portugal - dia 11 de Outubro em Leiria, no Texas Club, 18 em Caldas da Rainha, no Festival Impulso, 19 no Porto, no Socorro e fecha em Lisboa, dia 25, na Fábrica Braço de Prata - e no Brasil, sendo dia 11 de Dezembro no Rio de Janeiro, no Audio Rebel, e 14 em São Paulo, no Bar Alto.
Ficha técnica de A Assembleia Extraordinária
Todos os Instrumentos foram gravados por Rod Krieger, exceto:
João Nogueira: piano em Cai o Sol e Sobe a Lua
João Mello: flauta em Cai o Sol e Sobe a Lua
Fabio Kidesh: sitar em Cabelos Longos e tampura no Fluxo das Coisas e vozes em A Assembleia Extraordinária.
Produção por Rod Krieger
Mixagem por Nikolas Gomes
Masterização por Isadora Nocchi Martins
Estúdio - Mate Audio
Distribuição digital por Believe
Comments